quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Desafio Literário: Capitães da Areia - Jorge Amado

O tema do Desafio Literário para o mês de setembro foi ler um livro de autores regionais. Imediatamente escolhi Jorge amado, o escritor que fala sobre a Bahia. Li o livro "Capitães da Areia". Eu, achando que poderia armar uma rede, tomar uma água de coco e sentir-me como se estivesse em Itapuã, ledo engano, "Capitães da Areia" não é "Gabriela, cravo e canela", muito menos "Dona Flor e seus dois maridos", a coisa é um pouco mais tensa e não dá para entrar no clima da Bahia. Narra a história de crianças de rua, sem famílias que se juntam para cometer crimes, os pequenos delinquentes que vivem em trapiches, não têm nomes, apenas apelidos como: Sem-Pernas, Pedro Bala, João Grande, Gato, Boa-Vida, Professor, Zé-Fuinha, Pirulito, Volta-Seca, entre outros. O livro fala de desigualdade social, da intolerância do governo e da sociedade em relação à pobreza e à vida destes jovens.
Este livro foi um dos apreendidos e queimados em praça pública por autoridades da ditadura, pois segundo eles, fazia apologia ao credo comunista. O livro começa com uma reportagem do jornal denunciando o bando de crianças ladronas, em seguida, mostra as cartas para a redação do chefe de polícia, do juiz de menores, do padre, do diretor do reformatório e da mãe de um menor que ficou no reformatório e sofreu maus tratos. O Padre José Pedro e a mãe-de-santo Don'Aninha eram as únicas pessoas que os meninos confiavam, pois tratavam-os bem, ajudavam em momentos de dificuldade ou doença. Não posso deixar de mencionar a Dora, a única menina que fez parte do bando, segundo Pedro-Bala, ela foi mãe, irmã, foi noiva e esposa e como toda mulher valente, ela viraria uma santa no candomblé. Nunca existiu mulher coo Dora, que era uma menina.
Narra a história até a adolescência deles, mostra o fracasso do estado em lidar com a situação, a arrogância da igreja em boicotar o padre que quer se dedicar às crianças pobres, na forma brutal e violenta que esses jovens são tratados nos reformatórios. Embora o livro seja de 1934 o assunto ainda é bem atual e nada mudou. Vamos relembrar dos 7 meninos da Candelária-RJ que foram mortos a sangue frio e um dos sobreviventes era o Sandro que sequestrou do ônibus 174, recomendo que vejam o documentário "Ônibus 174", feito pelo José Padilha (diretor de Tropa de Elite), mostra a vida do Sandro que viu a mãe morrer a facadas no bar em que ela trabalhava, ele teve uma vida dura, de desprezo e incompreensão. A coisa não acontece só na terra brasilis não, mais recentemente teve os protestos em Londres, tudo começou quando a polícia inglesa atirou em um jovem dentro de um taxi, conhecemos bem a polícia inglesa, a mesma que matou o brasileiro Jean Charles suspeitando que ele fosse um terrorista, os jovens fizeram uma manifestação, no começo pacífica, depois começaram a saquear, a queimar e transformar aquele país em um caos, são jovens que não conseguem emprego e nem estudo, muitos são migrantes e pobres, não tão pobre quanto os meninos da Candelária ou os Capitães da Areia. A sociedade ficou indignada ao saber que eles não saqueavam comida, queriam eletrônicos, iPad e todos os outros i's da Apple ou video-games, etc. Agora cá entre nós, em um país capitalista, onde ter é mais importante que ser, claro que a juventude vai querer ter para se sentir realizada ou aceita na sociedade, a melhor resposta para esta questão, foi dada pelo Mr. Dowe, um senhor que está lá há mais de 50 anos, como ele disse, o que aconteceu não foi uma revolta, foi uma insurreição popular, vejam o vídeo:
Quando postei este vídeo no Facebook, coloquei  um verso do Augusto dos Anjos, do poema "Versos Íntimos"
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
 Enquanto estes meninos forem tratados como feras, enjaulados, sofrendo todo mau trato do mundo, eles vão responder do mesmo modo, como feras, não terão piedade se precisar matar alguém, não terão pena porque ninguém teve pena deles, não sabe o que é ser amado ou compreendido. A âncora deste maldito jornal vai perceber um dia que o tratamento que os policiais dão a esses jovens, vai ser o tratamento que os jovens vão dar à sociedade, é o efeito boomerang.

Para terminar: Adorei a leitura, fez meu sangue fervilhar por causa das injustiças.256 péginas, 104ª Edição, Editora Record. Jorge Amado rocks!

Um comentário:

  1. Ah, li esse livro para fazer um trabalho escolar. Era bem novinha. Não compreendi nada e fiquei traumatizada com Amado. Bjs

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