sexta-feira, 22 de junho de 2012

ma nouvelle vie, ma nouvelle ville

"Não sei de tudo que está por vir, mas seja o que for, vou fazer dando risada" Stubb, em Moby Dick
Comecei a vida do zero, ainda estou com a mesma impressão de um turista sobre a cidade, estou meio deslumbrada, não caiu a ficha que passarei um bom tempo da minha vida por aqui, tb estou assustada, tenho que resolver muitas coisas importantes em um outro idioma, entrar na vibe do povo, saber o que se come, como se pega ônibus, matricular filho na escola, alugar um apê, etc.
Quando saí do Brasil, a frase que mais ouvi foi: "Você é muito corajosa!" Eu não acho, corajoso é quem vai pro Iraque ou Afeganistão, pro Canadá é fácil, só que dá muito trabalho, tem que passar na experiência Gattaca como falei no outro post. Eu sou estranha, tenho coragem para coisas difíceis e me perco nas coisas fáceis. Não sei definir coragem, depende da pressão que a vida impõe e você precisa decidir que rumo tomar. Eu sempre escolho o mais difícil, o que dá mais trabalho, o que requer mais esforço, parece que o rumo mais difícil acaba sendo mais fácil porque a maioria desiste e o caminho livre fica só para você, mas quando o caminho é só seu, é sinal de solidão, não tem quem te acompanha, é o preço que se paga pela ambição. Não sou inteligente, mas sou esforçada e antenada com tudo, meto as caras, conheço gente com high level de QI, mas não fez metade que eu já fiz, nunca tive os dois QIs ("quociente de inteligência" significante e nem o "quem indica"), segundo Darwin, na seleção natural da espécie, não são os bonitos, nem os fortes, nem os inteligentes que sobrevivem, são os mais adaptados, pelo menos nessa última eu me sobressaio melhor que nos adjetivos anteriores. Quando eu projeto algo para minha vida, eu realizo e com 30 e poucos anos já passei por cada uma que até deus duvida, para chegar aqui tive que reagir, por questão de sobrevivência, minha vida foi bem barra, como diz na música do Martinho da Vila:
E depois de tantos anos
Só decepções, desenganos
Dizem que sou um burguês
Muito privilegiado
Mas burgueses são vocês
Eu não passo
De um pobre coitado
E quem quiser ser como eu
Vai ter é que penar um bocado
Um bom bocado!
Lembro como se fosse hoje, quando ganhei um panfletinho no escritório de imigração e eu lia quase que diariamente, estava meio cansada de tudo e lendo isso me dava um certo ânimo, parecia a descrição do céu. Vejam vocês se não tenho razão:

Uma cidadezinha com um pouco mais de 500 mil habitantes, com cara de europeia, mas é na América, a 7ª mais romântica, tem um monte de evento cultural e esportivo, acesso à saúde e à educação, é segura para crianças, menor taxa de desemprego, etc. Simplesmente não resisti, tive que dar essa chance ao meu filho, por mim eu ficaria no Brasil, já estava acostumada ao caos da pauliceia desvairada, mas mãe é um bicho esquisito, só pensa no bem-estar e no futuro da cria, porque eu já 'tô véia', ngm me ama, ngm me quer, sem futuro, jogada na vida, sem nada a perder, a Deus-dará, tudo isso sem perder a dramaticidade de novela mexicana, claro!
Meu filho sofreu uma tentativa de assalto no Brasil, sorte que ele só tinha um celular bem velho, o ladrão ainda disse para ele. "Pô, moleque, você está pior do que eu!" Eu não o deixo andar com camisa de time, nem sair com tênis, boné ou qualquer outro acessório de marca, se alguma coisa acontecer com ele, sentiria muito culpada, esse ladrão ainda tinha senso de humor, já pensou se fosse outro mais violento? Super protetora eu??? Maybe. Aqui não é o céu, nem o Nirvana, mas no índice de Paz Global que mede nos países o nº de homicídios, população carcerária, acesso à armas, segurança, etc. Mostra o Canadá  em 4º lugar entre os mais seguros de 158 países, enquanto o Brasil está em 83º, a Argentina em 43º (só para comparar com los hermanos e mostrar o quanto estão melhor que a gente em segurança e qualidade de vida).

Agora estou aqui, tenho que me virar nos 30, é um sentimento de um vazio, de uma solidão e um medo das coisas não sairem como o esperado, não sinto meus pés no chão, nem sei se esse sentimento tem algum nome, é uma insegurança momentânea, no começo é assim, como diz a música do Black Sabath "Changes", I'm going through changes... Até eu me adaptar e relaxar vai levar um tempinho. Eu não estou aqui com pretensão de ficar rica, ser bem-sucedida, eu só quero paz, tranquilidade, qualidade de vida, beijar muito e fazer amor todos os dias (com a mesma pessoa antes que pensem que vim para cá virar quenga, brasileira no exterior leva essa fama sempre rsrs), quero parar de fumar, fazer exercícios, ter vidinha de hiponga, ganhar uns trocados para o essencial. (daqui um ano vcs verão que não vai ser bem asssim, essa sou eu viajando na maionese). Chegar aqui não é o fim, é o começo, é correria daqui pra frente.
Enquanto isso, vejam o vídeo da Ville de Quebec, o prefeito começa falando em francês, mas depois aparece a vista panorâmica do local.

3 comentários:

  1. Em gratidão a esse gentil desabafo, mando meu incentivo e as mais sinceras vibrações de felicidade, sucesso & saúde. Sua escolha foi perfeita: Ville de Québec é Olimpo...rs! Bjo grande

    "Quando nasci um anjo esbelto,
    desses que tocam trombeta, anunciou:
    vai carregar bandeira.
    Cargo muito pesado pra mulher,
    esta espécie ainda envergonhada.
    Aceito os subterfúgios que me cabem,
    sem precisar mentir.
    Não sou tão feia que não possa casar,
    acho o Rio de Janeiro uma beleza e
    ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
    Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
    Inauguro linhagens, fundo reinos
    – dor não é amargura.
    Minha tristeza não tem pedigree,
    já a minha vontade de alegria,
    sua raiz vai ao meu mil avô.
    Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
    Mulher é desdobrável. Eu sou" (Adelia Prado)

    Nilian
    brazucoise.wordpress.com

    ResponderExcluir
  2. Lindo desabafo, Ana.
    Québec é linda demais, apesar de ter escolhido Montréal o meu coração vibra pela Capitale Nationale... =) Quem um dia, mais pra frente?
    Beijos,
    Lidia.

    ResponderExcluir