sábado, 26 de março de 2016

Leitura: O Despertar, de Kate Chopin

Ja aconteceu de você nao escolher o livro, mas ele escolher você? Foi o que aconteceu com esse da Kate Chopin. Estava eu à toa na vida e resolvi fazer o quiz do Buzzfeed: Qual autora classica você é? Eis o resultado:

Apos o resultado do teste, resolvi procurar saber mais sobre a autora e descobri o livro "O Despertar" que foi um escândalo na época, foi até boicotada por causa disso. O livro ja esta em dominio publico e pode ser baixado gratuitamente aqui (em inglês). E a surpresa nao para por ai, ele foi o escolhido do mês de março no Clube dos Classicos Vivos. Ou seja, no excuses para nao lê-lo, o universo conspirou a meu favor. 
Quem sou eu para ser Kate Chopin, né BuzzFeed? Seria uma honra, pois se eu fosse boa na escrita, também preferiria tocar na ferida da sociedade e causar escândalo, mas nao passo de uma simples leitora e prefiro continuar sendo, afinal o que seria dos escritores sem os leitores, nao é mesmo?

Kate Chopin é americana de origem crioula francesa, leia a definiçao do que isso significa, pois é importante para entender os personagens do livro e para se situar geograficamente e culturalmente. 
Kate também é uma das precursoras da literatura feminista do século XX nos EUA. Apos sofrer uma crise depressiva, o médico aconselhou-a a escrever como terapia, mas ela nunca conseguiu viver financeiramente da escrita e traduçao, paralelamente trabalhava com plantaçao de algodao. Foi casada, teve 6 filhos e morreu aos 54 anos de hemorragia cerebral.

O primeiro titulo do livro foi "Alma Solitaria" (Solitary Soul), em seguida foi trocado para "O Despertar". Publicado em 1899, boicotado e republicado 50 anos depois, narra a historia de Edna Pontellier, uma mulher adultera, assim como Madame Bovary e Ana Karênina que buscavam um sentido para vida e também a liberdade para se expressar. O despertar aconteceu quando imaginou que seria possivel viver sua propria vida, descobriu que era criativa (gostava de pintura e de musica), descobriu o seu corpo e o que podia fazer com ele, mas uma mulher daquela época nao poderia ter esses tipos de pensamentos, a mulher saia da casa do pai para casa do marido e o seu destino era parir o maximo de filhos que podia e anular-se completamente. 
Casamento e maternidade nao eram uma opçao e sim uma obrigaçao, mulheres que se opunham a isso eram consideradas histéricas ou outras doenças mentais criadas por homens para controlar a mulher. Isso foi tema de varios outros livros como "O papel de parede amarelo", da Charlotte Perkins Gilman, publicado em 1891, "Um quarto so Seu", de Virginia Woolf, "Mulheres que lêem sao perigosas", de Laurie Adler e Stefan Bollmann, entre outros.

Edna so casou com Léonce porque ele apaixonou-se por ela. Porém, esse casamento foi um escândalo na familia dela, pois Léonce era crioulo e catolico e ela era presbiteriana, mas so "de fachada", porque ela nem sequer se interessava por religiao. Achava que casando com um homem bom e respeitavel teria uma certa dignidade e fecharia para sempre os portais do romance e dos sonhos. Ele amava pelos dois, trabalhava o tempo inteiro fora e compensava sua ausência com presentes e guloseimas.

Edna também nao era maternal, tinha dois filhos, mas eles nao corriam para ela chorando quando se machucavam. Quando as crianças iam passar férias na casa da avo, ela nao sentia falta deles, sentia felicidade e alivio, mesmo nao admitindo isso nem para si propria. Achava estranho as maternais que idolatravam suas crianças e maridos como se fosse um santo privilégio se anularem como individuos e crescerem como anjos cuidadores.

Edna era uma pessoa ma? Nao. Ela nao tinha escolha, ela era o que nao queria ser, por isso o casamento e a maternidade era uma tarefa ardua, vivia numa sociedade opressora com regras crueis para as mulheres, por isso sentia-se solitaria e começou pouco a pouco a quebrar as regras.
O passado nao significou nada e nem ensinou nada, o futuro era um mistério e o presente era uma tortura:
"The past was nothing to her; offered no lesson which she was willing to heed. The future was a mystery which she never attempted to penetrate. The present alone was significant; was hers, to torture her as it was doing then with the biting conviction that she had lost that which she had held, that she had been denied that which her impassioned, newly awakened being demanded".
Léonce preocupa-se com a saude mental de Edna, acha que ela ja nao era mais a mesma pessoa, mas nao podia ver que ela estava tornando-se no que realmente era, sem mascaras, afinal era a primeira vez que ela nao estava atuando.
"It sometimes entered Mr. Pontellier's mind to wonder if his wife were not growing a little unbalanced mentally. He could see plainly that she was not herself. That is, he could not see that she was becoming herself and daily casting aside that fictitious self which we assume like a garment with which to appear before the world".
Ela começou a pintar e as pessoas desacreditavam, debochavam e desencorajavam-na:
"What are you doing?"
"Painting!" laughed Edna. "I am becoming an artist. Think of it!"
"Ah! an artist! You have pretensions, Madame."
"Why pretensions? Do you think I could not become an artist?"
"I do not know you well enough to say. I do not know your talent or your temperament. To be an artist includes much; one must possess many gifts—absolute gifts—which have not been acquired by one's own effort. And, moreover, to succeed, the artist must possess the courageous soul."
"What do you mean by the courageous soul?"
"Courageous, ma foi! The brave soul. The soul that dares and defies".
Léonce vai buscar conselhos com um médico, pois as atitudes de sua esposa estavam incomodando-o, principalmente essa noçao de direito das mulheres que ela andava falando por ai.

Her whole attitude—toward me and everybody and everything—has changed. You know I have a quick temper, but I don't want to quarrel or be rude to a woman, especially my wife; yet I'm driven to it, and feel like ten thousand devils after I've made a fool of myself. She's making it devilishly uncomfortable for me," he went on nervously. "She's got some sort of notion in her head concerning the eternal rights of women.

O médico pergunta se ela nao esta envolvida com o "circulo de mulheres pseudo-intelectuais-seres superiores super espirituais", mas Léonce diz que ela nao faz parte de nenhum grupo, é tudo da cabeça dela.
"Has she," asked the Doctor, with a smile, "has she been associating of late with a circle of pseudo-intellectual women—super-spiritual superior beings? My wife has been telling me about them."
"That's the trouble," broke in Mr. Pontellier, "she hasn't been associating with any one. She has abandoned her Tuesdays at home, has thrown over all her acquaintances, and goes tramping about by herself, moping in the street-cars, getting in after dark. I tell you she's peculiar. I don't like it; I feel a little worried over it."
Ela nao queria ir ao casamento da irma porque para ela, casamento é um dos espetaculos mais lamentaveis da terra.
She won't go to the marriage. She says a wedding is one of the most lamentable spectacles on earth.
Também pensava em ter uma casa so dela onde poderia pintar e ser ela mesma. Gostava de solidao, e de passear sozinha para refletir.

Nem comentei o livro em sua totalidade porque na internet ja tem resenhas aos montes, apenas apresentei minhas anotaçoes, pois tratam-se mais do lado emocional de Edna e da condiçao da mulher no começo do séc. XX. Também nao comentei o final por motivos de spoilers, mas era so daquele jeito mesmo para se libertar da opressao e das cobranças, infelizmente.
Fiquei bem surpresa com este livro. Quem lê hoje em dia nao vai achar nada demais, mas tente fazer sua mente voltar no tempo e coloque-se no lugar das mulheres daquela época para perceber que Kate Chopin foi bem audaciosa em falar de assuntos tabus como: a negaçao da religiao, do casamento, da maternidade, da anulaçao da mulher na sociedade, da solidao, da depressao e de adultério. Se ja era condenavel um homem falar disso, como foi no caso de Flaubert, imagine para uma mulher na sociedade sulista americana... 

Até hoje quando uma mulher diz que nao quer casar ou ter filhos as pessoas estranham. A procriaçao ainda é quase uma regra, mesmo tendo mais de 7 bilhoes de individuos no planeta.
Naquela época era impensavel querer ser artista ou escritora ao inves de ser esposa-mae, quem ousava pensar, so podia estar louca, afinal ser esposa-mae era o unico papel que a mulher desempenhava na sociedade. Declarar-se lesbica por exemplo, essa possibilidade nem existia, seria internada e lobotomizada. O unico jeito de evitar um casamento era entrando para vida religiosa, isso se era catolica, a unica religiao monoteista que permite a reclusao da mulher de alguma forma, o que ja nao acontece no meio protestante, islâmico e judaico.

O assunto nao acaba por aqui, nos proximos dias falarei do livro que citei acima, "O papel de parede amarelo", da Charlotte Perkins Gilman, sobre a "loucura feminina/ histeria"; também falarei de "Orlando", da Virginia Woolf, sobre identidade e gênero e do livro "Uma China sem mulheres?", sobre a vida das chinesas e o feminicidio. Sabe o que é pior? Pouca coisa mudou desde entao. Embora haja uma melhoria consideravel da condicao feminina nos paises de primeiro mundo e um despertar feminista tardio nos paises ocidentais em desenvolvimento, a maioria das mulheres dos paises pobres que também é a maioria das mulheres do mundo, vivem em condiçoes de pobreza e submissao, sem acesso à educaçao, ao mercado de trabalho, sao vitimas de casamentos arranjados, sao controladas pela familia, pelo estado e por religioes fundamentalistas, isso representa 2/3 da populaçao feminina. Sinto-me privilegiada por fazer parte de 1/3 das que tiveram acesso à educaçao, ao mercado de trabalho e pude casar por livre e espontanea vontade e nao por arranjamento ou imposiçao. Mesmo tendo privilégios, serei sempre feminista, porque a maioria nao tem acesso aos direitos basicos, muito menos tratamento igualitario entre gêneros. 
Na maioria dos paises, mesmo os ricos, o estado e as religioes impoem regras sobre o que a mulher pode ou nao fazer com o proprio corpo, enquanto que para homens nao existe nenhuma. Enquanto houver disparidades, estarei na luta. Talvez nos anos 2100 ou 2200 seja um tempo melhor para nascer mulher, se o planeta durar até la. É isso!

Meu teclado nao tem a acentuaçao do português e nao sei como colocar, desculpe-me pela falta de alguns acentos no texto.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Leitura: Sejamos todos feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie

Li "Sejamos todos feministas", de Chimamanda Ngozi Adichie. O texto é uma versao modificada da palestra que ela deu no TEDxEuston, em que propoe desmistificar o feminismo, pois acha que uma discussao saudavel sobre a situaçao das mulheres é extremamente necessaria.
A primeira vez que alguém a chamou de feminista, ela tinha 14 anos, nem sabia o que era isso e foi procurar no dicionario. Agora imagine declarar feminista no pais do Boko Haram, grupo terrorista que sequestrou, estuprou, engravidou e até matou as meninas de uma escola, tem que ser corajosa. Eis as partes do livro que grifei:
Okolomo olhou para mim e disse: “Sabe de uma coisa? Você é feminista!” Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele — era como se dissesse: “Você apoia o terrorismo!”.
Decidi me tornar uma “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”. 
A  palavra “feminista” tem um peso negativo: a feminista odeia os homens, odeia sutiã, odeia a cultura africana, acha que as mulheres devem mandar nos homens; ela não se pinta, não se depila, está sempre zangada, não tem senso de humor, não usa desodorante. 
Homens e mulheres são diferentes. Temos hormônios em quantidades diferentes, órgãos sexuais diferentes e atributos biológicos diferentes — as mulheres podem ter filhos, os homens não. Os homens têm mais testosterona e em geral são fisicamente mais fortes do que as mulheres. Existem mais mulheres do que homens no mundo — 52% da população mundial é feminina, mas os cargos de poder e prestígio são ocupados pelos homens.
Então, de uma forma literal, os homens governam o mundo. Isso fazia sentido há mil anos. Os seres humanos viviam num mundo onde a força física era o atributo mais importante para a sobrevivência; quanto mais forte a pessoa, mais chances ela tinha de liderar. E os homens, de uma maneira geral, são fisicamente mais fortes. Hoje, vivemos num mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa, a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atributos. Tanto um homem como uma mulher podem ser inteligentes, inovadores, criativos. Nós evoluímos. Mas nossas ideias de gênero ainda deixam a desejar.
Uma mulher não deve expressar raiva, porque a raiva ameaça. 
Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece. Não ensinamos os meninos a se preocupar em ser “benquistos”. Se, por um lado, perdemos muito tempo dizendo às meninas que elas não podem sentir raiva ou ser agressivas ou duras, por outro, elogiamos ou perdoamos os meninos pelas mesmas razões. Em todos os lugares do mundo, existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não devem ser para atrair e agradar os homens. Livros sobre como os homens devem agradar as mulheres são poucos. 
Quanto mais duro um homem acha que deve ser, mais fraco será seu ego. E criamos as meninas de uma maneira bastante perniciosa, porque as ensinamos a cuidar do ego frágil do sexo masculino. Ensinamos as meninas a se encolher, a se diminuir, dizendo-lhes: “Você pode ter ambição, mas não muita. Deve almejar o sucesso, mas não muito. Senão você ameaça o homem. Se você é a provedora da família, finja que não é, sobretudo em público. Senão você estará emasculando o homem.” Por que, então, não questionar essa premissa? Por que o sucesso da mulher ameaça o homem? Bastaria descartar a palavra — e não sei se existe outra palavra em inglês de que eu desgoste tanto — “emasculação”.
Ensinamos as meninas a sentir vergonha. “Fecha as pernas, olha o decote.” Nós as fazemos sentir vergonha da condição feminina, elas já nascem culpadas. Elas crescem e se transformam em mulheres que não podem externar seus desejos. Elas se calam, não podem dizer o que realmente pensam, fazem do fingimento uma arte.  
O ato de cozinhar, por exemplo. Ainda hoje, as mulheres tendem a fazer mais tarefas de casa do que os homens — elas cozinham e limpam a casa. Mas por que é assim? Será que elas nascem com um gene a mais para cozinhar ou será que, ao longo do tempo, elas foram condicionadas a entender que seu papel é cozinhar? Cheguei a pensar que talvez as mulheres de fato houvessem nascido com o tal gene, mas aí lembrei que os cozinheiros mais famosos do mundo — que recebem o título pomposo de “chef” — são, em sua maioria, homens. 
A verdade é que, quando se trata de aparência, nosso paradigma é masculino. Muitos acreditam que quanto menos feminina for a aparência de uma mulher, mais chances ela terá de ser ouvida. Quando um homem vai a uma reunião de negócios, não lhe passa pela cabeça se será levado a sério ou não dependendo da roupa que vestir — mas a mulher pondera. 
Algumas pessoas me perguntam: “Por que usar a palavra ‘feminista’? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?” Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral — mas escolher uma expressão vaga como “direitos humanos” é negar a especificidade e particularidade do problema de gênero. Seria uma maneira de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo dos séculos. Seria negar que a questão de gênero tem como alvo as mulheres. Que o problema não é ser humano, mas especificamente um ser humano do sexo feminino. Por séculos, os seres humanos eram divididos em dois grupos, um dos quais excluía e oprimia o outro. É no mínimo justo que a solução para esse problema esteja no reconhecimento desse fato.
Alguns homens se sentem ameaçados pela ideia de feminismo. Acredito que essa ameaça tenha origem na insegurança que eles sentem.  

Musica

A Beyoncé usou parte deste discurso no clipe Flawless


Interessante o inicio e o fim deste clipe, mostra ela e suas colegas competindo em um show de calouros, de um lado, elas, negras, cantando hip hop e do outro um grupo de meninos brancos, adivinhe quem ganhou? Mas o mundo da voltas, nao desanimem, meninas!

Leitura: "All About Love: New Visions", de bell hooks

Para o mês de março, a leitura do grupo "Our Shared Shelf" foi "All About Love: New Visions", (sem traduçao oficial para o português, mas em traduçao livre  seria "Tudo sobre o amor: novas visoes"), de bell hooks (é seu pseudônimo, escrito com letras minusculas assim mesmo).

bell hooks quando jovem
Olhe as estatisticas do Goodreads do livro antes e depois que entrou na leitura do grupo:

O grafico foi de quase 0 a quase 600 e a cada dia aumenta mais. Isso porque nao tem traduçao para o francês, nem português, nem espanhol. Todo mundo se esforçando para ler em inglês. Parabéns a todos os envolvidos! Como nao tem a versao em audiobook, algumas meninas estao gravando para repassar para quem tem problemas de visao ou de dislexia. Ainda me resta um tiquinho de fé na humanidade depois dessa.

Colocarei as citaçoes em inglês, idioma do livro, para consulta-las posteriormente, pois precisarei para meus estudos, mas fiz pequenos resumos em português de cada capitulo, para nao deixar os raros leitores daqui boiando.



O livro nos convida a repensar o amor, é divido em treze capitulos, sao eles:

Introduçao - Graça: tocados pelo amor

Ela narra que todas as vezes que tentou falar de amor no meio acadêmico ou no meio intelectual, as pessoas viam-na como uma mulher solteira, com mais de 40 anos e "desesperada", pois para eles, mulher quer falar de amor apenas para conseguir relacionar-se com alguém. So é levado à sério os livros de homens que abordam este assunto. Reza a lenda que homens falam com racionalidade e mulheres tendem a ser mais emotivas e a levarem para o lado pessoal. Porém, ela quer mostrar que nao é bem assim, mulher pode falar de amor de forma racional.


Capitulo 1 - Clareza: Dê palavras ao amor

A definiçao de amor na sociedade é mal explicada, muitas vezes confundida com fraqueza, com romantismo, atraçao sexual, possessao, poder ou obscenidades. O verdadeiro amor é uma mistura de varios ingredientes: cuidado, afeiçao, reconhecimento, respeito, compromisso, verdade, honestidade e comunicaçao aberta.


Capitulo 2 - Justiça: liçoes de amor na infância


Pai que castiga ou humilha os filhos e a mulher, achando que o melhor método de conseguir respeito e amor é impondo regras absurdas. Abuso, castigo e amor nao podem coexistir e disciplina é algo bem diferente de puniçao.


Capitulo 3 - Honestidade: seja verdadeiro para amar


Hoje temos medo da verdade, contamos pequenas mentiras para nos livrar de situaçoes embaraçosas, ensinamos os filhos a mentir para evitar maiores problemas, mentimos para nao machucar uma pessoa fragil que nao saberia lidar com a verdade. Somos bombardeados com propagandas e marketing que nada mais é que uma mentira para fortalecer a economia de mercado. A falta de amor é essencial para o consumo, a pessoa sente-se vazia e acha que tendo coisas, ela se sentira melhor ou até mesmo amada.



Capitulo 4 - Comprometimento: Deixe o amor ser amor em mim

Este capitulo foi dolorido para mim, pois preciso aprender a lidar melhor com isso. Fala de amor proprio, auto-aceitaçao, auto-estima, negatividade x positividade e egoismo x comunidade. 
"Nos aprendemos que negatividade é mais realista que qualquer voz positiva". 

Capitulo 5 - Espiritualidade: amor divino

Este é outro capitulo que tenho que foi dificil de lidar porque sou cética por natureza e nao foi por falta de esforço nao, ja tentei encaixar-me nao so em religioes cristãs, mas em religioes orientais, porém nao tenho disciplina para isso. 
Além de espiritualidade, ela fala dos conceitos errados sobre o amor em algumas religioes: "Fundamentalistas moldam e interpretam o pensamento religioso para legitimar o status quo conservador. Fundamentalistas usam a religiao para justificar o apoio ao imperialismo, militarismo, sexismo, racismo e homofobia. Eles negam a mensagem unificada de amor que é a alma da maioria das religioes tradicionais". Concordo 100%

Aqui ela diz que a pratica espiritual, nao precisa necessariamente estar ligada a uma religiao. Ha pessoas que ao servir o proximo expressa o amor e é uma pratica espiritual afirmativa.

Capitulo 6 - Valores: vivendo pela ética do amor

Neste capitulo fala de relaçao amor x poder, ninguém apoia a violência doméstica, mas na hora de assumir que homens têm mais direitos e privilégios o apoio cessa, porque o poder fala mais alto que a igualdade de direitos.

Fala também da falta de comunicaçao entre os parceiros que se jogam na cama sem ao menos discutir sobre seus corpos, suas necessidades, seus desejos, do que gosta e do que nao gosta. A a mensagem recebida através da midia é que o conhecimento torna o amor menos atraente.


Capitulo 7 - Ganância: simplesmente amor

Este capitulo fala de isolamento, solidao, depressao, desespero. A cultura de que ter é mais importante que ser, fala também do narcisismo. Tudo isso impede o amor de florescer.


Capitulo 8 - Comunidade: amor comunal

Este capitulo é sobre estruturas de dominaçao (capitalismo e patriarcado), abuso de poder na estrutura familiar

Também fala do serviço doméstico feito por mulheres, os sacrificios que elas fazem pelos outros, como se elas decidissem servir por escolha, como se fosse o destino biologico e nao sua propria vontade. Ha muitas mulheres que nao estao interessadas em servir e nem por isso sao "menos mulher".


Capitulo 9 - Reciprocidade: o coraçao do amor

Muito do desespero que juventude sente a respeito do amor, vem da crença que eles estao fazendo tudo certo, mas o amor ainda nao aconteceu. O esforço para amar e ser amado produz estresse, conflito e descontentamento perpetuo.

 Falsas noçoes de amor nos ensina que o amor é um lugar onde nao sentimos nenhuma dor, onde estaremos em um estado felicidade constante. Temos que aceitar a realidade, sofrimento e dor nao termina quando começamos a amar.

Capitulo 10 - Romance: Sweet Love

Romantismo, paixao e atraçao sexual nao sao sinônimos de amor. O desejo de amar nao é o proprio amor.
A paixao perfeita acontece quando aparece alguém que tem tudo o que queriamos encontrar em um parceiro. Eu digo "aparece" porque a intensidade da nossa conexao habitualmente nos cega. Vemos o que queremos ver.

Podemos mover da paixao perfeita para o amor perfeito quando as ilusoes passam. Paixao perfeita sempre termina quando acordamos do nosso encantamento. Torna-se amor verdadeiro quando podemos encarar a realidade e entender nossa propria verdade

O verdadeiro amor aparece quando nosso coraçao esta preparado

Capitulo 11 - Perda: amando além da vida e da morte

Violência nas midias, sensacionalismo, apatia em relaçao à morte, supremacia patriarcal branca que mata em defesa da propriedade privada, o medo da morte, o capitalismo, etc.

Capitulo 12  - Cura: amor redentor

Compaixao, empatia pelo proximo sem julgamento.
Julgar os outros aumenta a alienaçao, quando julgamos estamos menos propricios a perdoar.



Capitulo 13 - Destino: Quando os anjos falam de amor

Achei esse capitulo meio esquisito, viajei, é meio mistico-espiritual, mas gostei da parte que fala da forma que a mae de um homem é tratada por ele.


Consideraçoes finais:

Este livro é uma reflexao da autora sobre o amor, nao é a verdade absoluta e nem uma cartilha a ser seguida. Concordei com muitas coisas, aprendi outras que nunca tinha parado para pensar até entao, outras nao me identifiquei, pois tem mais a ver com a cultura americana e outras fiquei com pé atras, achei meio mistico/espiritual, com doses de auto-ajuda, motivaçao e otimismo. É muita informaçao e muitas citaçoes, muitas vezes parece que o assunto tratado foge do que foi anunciado no titulo do capitulo. Porém acho a discussao super valida e ha algumas liçoes que pretendo levar para vida.

Ela citou varios outros autores e livros que falam de alguns assuntos que me interessou, sao três livros que ja coloquei na minha lista "para ler":
Letters to a Young Poet, do Rainer Maria Rilke
Are You Somebody?: The Accidental Memoir of a Dublin Woman, da Nuala O'Faolain
Strength to Love, do Martin Luther King Jr.

É isso!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Hip Hop Girl: Shadia Mansour (Palestina)

Conhecida com a primeira mulher do Hip Hop Arabe, Shadia, 31 anos, é de origem Palestina, refugiada na Inglaterra. Suas musicas sao de protesto contra a islamofobia, as desigualdades sociais, a austeridade dos paises de Primeiro Mundo. Sua maior luta é que a Palestina seja livre.









terça-feira, 22 de março de 2016

O estranho mundo do LinkedIn (parte 2)

Dando continuidade ao assunto que comecei aqui, irei analisar mais alguns posts que surgiram na timeline do LinkedIn-da-depressao que esta parecendo mais o muro das lamentaçoes virtual, conhecido como Facebook. Vamos às ultimas:

Nao é so no BR que a situaçao politica esta problematica. Nos EUA tb, todo mundo aterrorizado com a possivel vitoria deste senhor da foto que me recuso falar o nome. So que ai as pessoas querem discutir isso no LinkedIn, a guerra dos imigrantes x os colonizadores americanos, estes ultimos mandando os primeiros para Cuba e ainda dizem que se os indios ainda fossem os donos do solo americano, hoje o mundo estaria falando as linguas do eixo do mal: japonês e alemao kkkkkkkkkkk. Tudo a ver colonizaçao com Segunda Guerra, né? Burrice nao tem limites mesmo. Imagine o RH vendo o cara lançando uma dessas na web, depois perde o trampo e nao sabe o porquê. Vai culpar o Obama.
Brasil em crise e oportunistas agindo de ma fé, como se imigraçao fosse facil. Olha o monte de curtidas de gente que acredita na balela. Eu, imigrante, posso vos garantir que nada é tao facil e de mao beijada assim. Isso que é para o pais daquele senhor que citei acima, que quer dar um chega pra la na imigraçao.
Quero um trampo de manager, cansei de ser José
Listas, listas, listas: faça isso, faça aquilo. Eu hein! Parece minha mae, sai pra la...
Paris Saint-Germain é hexacampeao na França. Acrescentou e muito na minha vida profissional essa informaçao.
Ah, os velhos e bons tempos que nao voltam mais! Saudade de uma época que nunca vivi. Devia ser bom morrer aos 30 anos quando nao existia vacina, as mulheres nem trabalhavam fora. Continuo lendo livros no e-reader e ignorando as pessoas, nao preciso estar no passado para fazer isso. Fica a dica!
Own, que cute seu cachorrinho! Acho que no Feice vc vai ganhar mais curtidas, honey!
"Eu tenho 20 anos e 30 anos de experiência" Boa! So nao curti para nao parecer curtidora-de-piada-sem-graça do Linkedjim, vai que um recrutador queira me contactar e desiste depois dessa...

Jura que so gênio responde essa? Até eu que sou de humanas sei...
"Responda se nao for retardado" seria o titulo mais coerente.
Até sei programar, mas estou na empresa pelo café e para mostrar minha caneca cool. Confundi com Instagram
Saber o niver do Michael Cane é essencial para o meu CV.
Abaixe a arma, homi.

Sim, senhora, gerente de erreaga-especialista-pos-graduada-mamae. Parei!


domingo, 20 de março de 2016

Balanço de fev/mar: livros, instagram, musica, youtube, links

Leituras concluidas:

  • Razao e Sensibilidade (ou Sentimento), da Jane Austen;
  • All About Love: new visions, da bell hooks
  • Sejamos todos feministas, da Chimamanda Ngozi Adichie;
  • Une Chine sans femmes?, de Isabelle Atané (nao-ficçao)
  • How to build a girl, de Caitlin Moran
  • Nancy is happy, de Ernie Bushmiller (HQ)
  • O Despertar, de Kate Chopin.

Leituras em andamento:

  • Alice et autres nouvelles, de Anais Nin;
  • Les plus belles lettres de femmes, de Laure Adler e Stefan Bollmann;
  • Continuo firme e forte com Dom Quixote de la Mancha, sem pressa para acabar.


Noticias literarias

Um artigo bem interessante do jornal The Guardian, sobre a traduçao de livros escritos por mulheres. Se ja é dificil para muitas de serem publicadas, mais dificil ainda é serem traduzidas para outro idioma "Translated fiction by women must stop being a minority in a minority".
Estamos presenciando isso no Grupo do Goodreads que tem gente do mundo inteiro, dois livros que foram sugeridos, sao dificeis de encontrar em outro idioma que nao seja o inglês.

Blog literario/ culinario

A Kate tem um blog de receitas inspiradas da literatura, The Little Library Café. Deve ser legal a sensaçao de comer a mesma comida do personagem. Visite tb o Instagram dela (em inglês)


Mulheres viajantes

No livro "On the Road", da Gloria Steinem, ela fala da dificuldade da mulher em sair para viajar

Um fato muito triste ocorreu com duas argentinas que faziam mochilao na América do Sul e foram mortas. Deixo dois links interessantes sobre o assunto:
A sina das mulheres que  ousaram viajar sozinhas;
Nós, mulheres, vamos continuar viajando

Arquivos no Instagram

Como sou arquivista, adorei esse perfil Veteranas and Rucas que mostra a cultura chicana/latina nos EUA, nos anos 90.


Youtube

No mês das mulheres, a Jout Jout foi convidada para coordenar uma série de videos sobre mulheres criadoras de conteudo. Veja a playlist com todas as convidadas:



A Rowan fez um video mostrando o que acontece com as mulheres bissexuais ou lesbicas nas séries americanas. Fuerte e triste!


A Savannah Brown fez um poema "Hi, I'm a slut"


Esse é para rir um pouco, vida de marido de Instagrammer hahaha


Musica

Adoro esse clipe de fundo de poço, morbido. A coreografia e o som sao bem maneiros


sábado, 19 de março de 2016

Livro + filme: A Cor Purpura, de Alice Walker

Este livro ja estava na minha lista "Literatura na sétima arte" e também foi o escolhido para o mês de fevereiro no grupo de leituras feministas "Our Shared Shelf", do Goodreads (ja somos mais de 120.000 no mundo inteiro, yeah!)

Alice Walker
"A Cor Purpura" é um romance epistolar que sempre entra na lista dos 100 livros mais censurados dos EUA por causa da linguagem "nao-apropriada", da violência e da sexualidade explicita retratada.

A historia é situada no interior da Georgia (EUA), acompanha a vida de Celie, uma jovem negra, pobre e sem acesso à educaçao, entre os anos 1900 a 1930. Aos 14 anos ela foi estuprada pelo homem que ela considerava ser o pai (ela chamava-o de Pa) e teve dois filhos com ele. Porém os filhos foram retirados dela. Por volta dos 20 anos, casa contra sua vontade com um homem violento, Albert Johnson, que estava interessado na sua irma mais nova Nettie. Ela nem sabia o nome dele, chama-o de Mr. (senhor), é espancada, estuprada e nao passa de uma empregada doméstica na casa, cuidando dos filhos do primeiro casamento dele.
Nettie gosta de estudar e apos ser expulsa da casa do Mr., vai acompanhar uma familia missionarios que estavam indo para Africa. Nettie prometeu a Celie que sempre escreveria cartas para ela, porém o Mr. nunca as entregou para Celie. Como nao podia escrever para sua irma, ela passa a escrever para Deus, mas depois questionou isso:
"O Deus a quem eu rezava e escrevia é um homem. E faz tudo o que fazem os outros homens que eu conheço. Engana, faz-se esquecido e não é honesto. 
Deus era branco e homem, perdi o interesse."
Com o passar do tempo, chega na casa do Mr. sua ex-amante, Shug Avery, uma mulher que ele sempre amou e respeita, ela é cantora e livre, faz o que quer. Ao conhecer Celie, elas passam a ser boas amigas, confidentes e Shug começa a empoderar Celie que até entao sempre sofreu tudo calada, sempre foi obediente. 
"Eu nao sei lutar, apenas sei manter-me viva".
Outra personagem feminina forte é a Sofia, esposa do filho do Mr. Ela nao leva desaforo para casa, nunca apanhou sem revidar, batia até em homens, de igual para igual.

É um livro sobre a condiçao da mulher negra nos EUA, sobre sororidade, sobre como cada mulher tinha sua maneira de sobreviver, sobre sexualidade feminina, violência doméstica, desigualdades sociais, colonizaçao na Africa, etc. É muito bom! Dei nota 5/5, no Goodreads. 
Uma dica: Se você lê em inglês é melhor, pois é escrito do jeito que os negros sulistas falavam na época e lido em outro idioma, perde-se essa riqueza literaria.

O Filme

O filme homonimo, de 1985, foi dirigido por Steven Spielberg, tendo a Whoopi Goldberg no papel de Celie, a Oprah no papel de Sofia e o Danny Glover foi o Mr. Johnson.
O livro é mais profundo, nos leva à reflexao, temos um sentimento de revolta. Ja o filme é mais melodramatico, nos leva às lagrimas, coisa que Spielberg sabe fazer muito bem. Resumindo: os dois sao otimos, cada um à sua maneira.


Shug e Celie ♥