quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O círculo


Assisti ao filme O Círculo, do iraniano Jafar Pahani, como na própria descrição diz: Seu único crime é ser uma mulher.
O filme começa com uma cena na maternidade em que a avó fica sabendo que nasceu uma menina de sua filha, ela não acredita, insiste com as enfermeiras que no ultrassom tinha dado como menino, não sabia como avisar à família e se sente totalmente constrangida.
Em seguida mostra duas mulheres que sairam da prisão e tentam sobreviver, mas sem muito sucesso, afinal se você não tem documento, não tem autorização ou não está acompanhada de um homem vc não consegue quase nada, nem comprar uma passagem de ônibus.
O pior é uma das mulheres que estava presa, o marido foi executado e ela está grávida de 4 meses, pede ajuda para fazer um aborto a uma conhecida que é enfermeira, sem sucesso.
A mãe, que por ser sozinha abandona a filha no meio da rua porque acha que com a assistência social a menina sobrevive melhor que com ela.
Eu fico comovida com a dificuldades que as mulheres encontram para sobreviver nesse mundo machista, embora na sociedade ocidental a mulher já tenha conquistado muito (exceto salários iguais aos homens, direito ao aborto, etc), a maioria das mulheres do mundo (África e Ásia e América Latina) ainda sofrem humilhações, não tem direito a nada, são submissas ao governo, à religião e aos homens, se são estupradas a culpa são delas, africanas tem seu clitoris mutilado para não ter direito ao prazer, Na China mulher é minoria, tanto que os homens estão com dificuldades de encontrar uma companheira, na Índia muitos casamentos são arranjados e as mulheres não podem questionar.
Há um árduo caminho a ser seguido, o futuro depende de nós, do cineasta que denuncia, dos blogueiros, das mídias em geral. Temos que incomodar os que estão no poder.

Mephisto


Mephisto é um filme muito interessante e uma reflexão sobre o que é mais importante, o amor à profissão ou os seus valores morais, politicos e sociais?
Hendrik Höfgen é um ator que ama muito sua profissão, para ele não são importantes os acontecimentos políticos, o importante é atuar, ele se torna um grande ator, faz teatro comunista, representa Fausto, de Goethe; Hamlet, de Shakespeare até que os nazistas tomam o poder, seus amigos vão para o exílio, outros morrem e ele acha que sua profissão está acima disso tudo e aceita ser diretor do teatro, convite feito pelo primeiro ministro nazista. Mantêm-se firme em suas convicções, defende sua carreira.
Hoje em dia é muito comum nas empresas as pessoas "vestirem a camisa", tentar o sucesso a todo custo, sem se preocupar se a empresa sonega impostos, se os funcionários são vítimas de assédio moral ou sexual, o importante é defender o seu lado e os outros que se explodam.
Mefistóteles é o demônio que Fausto faz um pacto que o enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.
Temos que fazer o que gostamos sim, mas sem perder nossa essência e nossa dignidade.
Como diz um versículo bíblico (Marcos 8:36): Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Assim falou Zaratustra - Nietzsche

Terminei finalmente a leitura desse livro, já tinha começado a lê-lo umas três vezes e nunca terminava, dessa vez terminei.
Vou começar com uma frase do livro que combina com o título do meu blog:

Eu vo-lo digo: é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.
Eu vo-lo digo: tendes ainda um caos dentro de vós outros.
Eu quero organizar o caos e ele diz que é preciso ter caos dentro de si, ai, ai... Assim eu entro em crise existencial.

Mas vamos aos fragmentos do livro:

O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
O grande do homem é ele ser uma ponte, e não uma meta; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento.

Dez vezes ao dia deves saber vencer-te a ti mesmo; isto cria uma fadiga considerável, e esta é a dormideira da alma.

O que anda em redor da chama dos ciúmes, acaba qual escorpião, por voltar contra si mesmo o aguilhão envenenado.

Uma coisa, porém, é o pensamento, outra a ação, outra a imagem da ação. A roda da causalidade não gira entre elas.

“Se eu quisesse sacudir esta árvore com as minhas mãos não poderia; mas o vento, que não vemos,açoita-a e dobra-a como lhe apraz. Também a nós outros, mãos invisíveis nos açoitam e dobram rudemente.”

“A vida não é mais do que sofrimento”, dizem outros, e não mentem.

E vós outros também, vós que levais uma vida de inquietação e de trabalho furioso, não estais cansadíssimos da vida? Não estais bastante sazonados para a pregação da morte?
Vós todos que amais o trabalho furioso e tudo o que é rápido, novo, singular, suportai-vos mal a vós mesmos: a vossa atividade é fuga e desejo de vos esquecerdes de vós mesmos.
Se tivésseis mais fé na vida, não vos entregaríeis tanto ao momento corrente; mas não tendes fundo suficiente para esperar nem tão pouco para a preguiça.

A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo.

O Estado mente em todas as línguas do bem e do mal, e em tudo quanto diz mente, tudo quanto tem roubou-o.Tudo nele é falso; morde com dentes roubados. Até as suas entranhas são falsas.

Vêm ao mundo homens demais, para os supérfluos inventou-se o Estado!

Não vale mais cair nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher ardente?

Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade; apenas conhece o amor.

Nunca um vizinho compreendeu o outro; sempre a sua alma se assombrou da loucura e da maldade do vizinho.

Não vos suportais a vós mesmos e não vos quereis bastante; desejaríeis seduzir o próximo por vosso amor e dourar-vos com a sua ilusão.

O pior inimigo, todavia, que podes encontrar, és tu mesmo; lança-te a ti próprio nas cavernas e nos bosques.
Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E o teu caminho passa por diante de ti e dos teus sete demônios.

A mulher compreende melhor do que o homem as crianças: mas o homem é mais infantil que a mulher.

A felicidade do homem é: eu quero; a felicidade da mulher é: ele quer.

Inventai-me a justiça que absolve todos, exceto aquele que julga!

O homem que reflexiona não só deve amar os seus inimigos, mas também odiar os seus amigos.
Com estes pregadores da igualdade é que eu não quero ser misturado nem confundido. Porque a justiça me fala assim: “Os homens não são iguais”.

Mandar é mais difícil do que obedecer; porque aquele que manda suporta o peso de todos os que obedecem, e essa carga facilmente o derruba.
Mandar parece-me um perigo e um risco. E quando manda, o vivo sempre se arrisca.
E quando se manda a si próprio também tem que expiar a sua autoridade, tem que ser juiz, vingador e vítima das suas próprias leis.

Todos os meus sentimentos sofrem em mim e estão aprisionados; mas o meu querer chega sempre como libertador e mensageiro de alegria.
“Querer, libertar”: é essa a verdadeira doutrina da vontade e da liberdade; tal é a que ensina Zaratustra.
Não querer mais, não estimar mais e não criar mais! Ó! fique sempre longe de mim, esse grande desfalecimento.

É preciso conter o coração: porque, se o deixamos livre, depressa perdemos a cabeça!

“A ordem moral das coisas repousa no direito e no castigo. Ai! Como livrarmo-nos da corrente das coisas e do castigo da ‘existência’? Assim se proclamou a loucura.

“Não é a altura que aterroriza; o que aterroriza é o declive!
O declive donde o olhar se precipita para o fundo, e a mão se estende para o cume. É aqui que se apodera do coração a vertigem da sua dupla vontade.

Os homens bons nunca dizem a verdade: ser bom de tal maneira é uma enfermidade para o
espírito.

Eis o que me disse uma mulher: “É verdade que quebrei os laços do matrimônio, mas os laços do matrimônio tinham-me quebrado a mim”.
Pois de que nos queremos nós livrar senão dos “bons costumes” da nossa “boa sociedade?”

Tem gente que diz que não, mas claro que essas frases abaixo são anti-semitas, inclusive Hitler gostava de Nietzsche, da ideia da superioridade e a irmã dele apoiou o Nazismo.

Não roubarás! Não matarás!” Estas palavras chamavam-se santas noutro tempo; perante elas dobrava agente os joelhos e a cabeça, e descalçava-se.Quebrai-me as antigas tábuas.

Nem tampouco em que um espírito a que chamam santo conduziu os vossos ascendentes a terras
prometidas, que eu não elogio; porque no país onde brotou a pior das árvores – a cruz – nada há a elogiar!

Deveis ser expulsos de todas as pátrias e de todos os países dos vossos ascendentes.
Os bons ensinaram-vos coisas enganadoras e falsas seguranças: tínheis nascido entre as mentiras dos bons e havíeis-vos refugiado nelas.

É isso, ainda vou escolher o próximo livro para ler.