quarta-feira, 31 de março de 2010

Metamorphosis

"Quando Gregor Samsa despertou uma manhã na sua cama de sonhos inquietos, viu-se metamorfoseado num monstruoso inseto".

Esse filme foi dirigido pelo diretor teatral russo Valeri Fokin, Metamorfose é baseado na obra de Franz Kafka, narra a história do Gregor Samsa que se transformou em um inseto repugnante.
Como os atores e diretor são de teatro, é um show de interpretação, se fosse em hollywood, a metamorfose teria efeitos especiais, mas o ator se arrastando, transformando em bicho, é tudo de lindo nas artes cênicas, um belo trabalho de expressão corporal.
Eu já tinha lido há um tempo o livro e esse assunto é bem complicado, é necessário um pouco de conhecimento em psicologia e sociologia.
O interessante é a temática da transformação, você vira uma coisa  diante dos olhos dos familiares e conhecidos, quando você vira um bicho que ninguém te reconhece, vira ovelha negra da família, um ser incomprendido, intolerável, as pessoas tem que te engolir por formalidade social.
O dicionário interpreta a palavra metamorfose como mudança de forma física ou moral, além de mudança de forma e estrutura, pela qual passam certos animais, como os insetos, do estado larvar para a fase adulta.
 E você, alguma vez virou um bicho? Transformou-se em uma metamorfose ambulante? Ou prefere ter aquela velha opinião formada sobre tudo, como cantava Raul?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Desprender-se

Sabe esse senhor da foto? Parece um mendigo dentro do metrô, não sei ao certo o que é mito o que é verdade, uns dizem que ele é o cara mais inteligente do século, vive isolado, não tem emprego, mora em um cortiço, não toma banho, etc.
O nome dele é Grigori Perelman, matemático russo e bastante excêntrico, recusou a fazer teste de QI e declarou que isso é coisa de arrogante que carece de elogio, recusou a Medalha Fields (uma espécie de Nobel da matemática) e nem ao menos compareceu ao evento, e por último, recusou um prêmio de 1 milhão de dólares por ter resolvido  e consequentemente comprovado, a Conjectura de Poincaré (não me pergunte que raios venha a ser isso).
Ele conseguiu chamar a atenção da sociedade científica, mas também chamou das pessoas comuns que não entenderam o motivo de seu desprendimento pelo reconhecimento e pelo dinheiro, ele ama o que faz e não faz disso mercadoria. Isso me lembra uma corrente de filósofos gregos, os cínicos (não tem nada a ver c/ o significado que damos hoje a essa palavra). Os cínicos diziam que a verdadeira felicidade não depende de fatores externos como o luxo, o poder político e boa saúde. Para eles, a verdadeira felicidade em se libertar dessas coisas casuais e efêmeras.
O mais importante representante dessa corrente foi  Diógenes. Ele vivia dentro de um barril e possuía apenas sua túnica, um cajado e um embornal de pão. Conta-se que um dia Alexandre Magno parou em frente ao filósofo e ofereceu-lhe, como uma prova do respeito que nutria por ele, a realização de um desejo, qualquer que fosse, caso tivesse algum. Diógenes respondeu: "Desejo apenas que te afastes do meu Sol". Essa resposta ilustra bem o pensamento cínico: Diógenes não desejava nada a mais do que tinha e estava feliz assim.
E nós, pobres mortais que vendemos a nossa alma ao diabo todos os dias, por bem menos de 1 milhão, acabam com nossa força física, intelectual em troca de uns contos de réis.

sábado, 27 de março de 2010

Renato Russo


Se Renato estivesse vivo, hoje ele faria 50 anos. Eu sou das antigas, embora as músicas do Legião estejam saturadas nas rodinhas de violões, eu ainda prefiro ouvi-las a ouvir as coisas de hoje que tocam por aí.
Legião, Raul Seixas, Plebe Rude, Cazuza fazem parte da minha infância nos anos 80. Na época, talvez eu não entendesse o significado das letras, mas com o passar do tempo, quanto mais leio uma letra, mais me apaixono.
As músicas do Legião tem temática de relacionamento, como "Eduardo e Mônica", eles se conheceram, ela era mais experiente em tudo, já tinha visto Godard, sabia alemão e ele ainda estava prestando vestibular e nas aulinhas de inglês e há toda uma descrição da vida familiar, a chegada dos filhos, etc.
"Ainda é cedo", narra a imaturidade de um cara em não conseguir valorizar a garota que tinha ensinado tudo o que ele sabia, tratava-o como rei, mas ele era egoísta, ela acabou terminando o que ele nem começou.
"Pais e filhos" narra o que os pais esperam e planejam para os filhos e qual o retorno eles tem disso, a questão do divórcio, sobre a impaciência e até intolerância dos filhos para com os pais:
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?
 Em "Meninos e meninas" aborda a questão da bissexualidade e a dúvida em relação a opção sexual.
.
Na temática ecologia, na música "Angra dos Reis", ele denuncia o perigo da usina, embora o governo dizia que não tinha problema:
Mesmo se as estrelas
Começassem a cair
A luz queimasse tudo ao redor
E fosse o fim chegando cedo
Você visse o nosso corpo
Em chamas!
Deixa, pra lá...


Quando as estrelas
Começarem a cair
Me diz, me diz
Pr'onde é
Que a gente vai fugir?
A injustiça social é representada em "Índios", a maldade do homem branco com a inocência do índio diante das "modernidades", o escambo, a imposição da religião, etc.
A injustiça aparece também na música "Faroeste Caboclo", o Jeremias que sai para trabalhar na construção de Brasília e se envolve com o crime:
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...
 Outra música de grande repercussão social é "Que país é esse?"
Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?

A música "Perfeição" é a descrição perfeita do nosso país e suas injustiças

"Geração Coca-cola" denuncia o imperialismo americano e a sociedade de consumo influenciada pelos EUA.

intertextualidade em "Monte Castelo", ele utilizou o poema mais famoso sobre o amor, de "Camões" e a definição do amor feita por São Paulo em I Coríntios 13 e fez a música.
"A tempestade", além de ser o título da música é o nome da última peça escrita por Shakespeare, a letra da  música tem tudo a ver com a peça.
"As flores do mal" é o título do livro de Charles Baudelaire, que foi considerado do babado na época em que foi lançado. A música também carrega toda a decadência, o erotismo e o tédio presentes no livro.

Minhas preferidas:
As minhas músicas preferidas são: "Quando o sol bater na janela do meu quarto"
A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance,
O sol nasce pra todos,
Só não sabe quem não quer,

(...)
Até bem pouco tempo atrás,
Poderíamos mudar o mundo,
Quem roubou nossa coragem?
Tudo é dor,
E toda dor vem do desejo,
De não sentimos dor...
Vento no litoral
Agora está tão longe
ver a linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção
Aonde está você agora
Alem de aqui dentro de mim..
.

Quase sem querer
Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém
 Por enquanto
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era prá sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba...

Vou ter que parar aqui, por mim, falaria desse assunto o dia inteiro. Deixo minha homenagem ao Renato Russo que tanto contribuiu com a música brasileira, com letras cheias de denúncias, esperanças, tédio, amor, ódio, incertezas, etc. E aquela dancinha desengonçada que ele fazia? Adoooro!
Um dos momentos mais marcantes foi quando o Samuca colocou por vontade própria o CD do Legião para ouvir, fiquei feliz em saber que transmiti a ele algo que ele achou interessante, sem nenhuma imposição, jamais faço isso! Parece que aqui em casa, Renato nunca vai morrer.

terça-feira, 9 de março de 2010

Pintar ou fazer amor


Pintar ou fazer amor é uma comédia muito legal, eu já comentei por aqui que os filmes franceses falam de menage à trois, triangle amoreux, trahison, swing de uma forma tão light que você quase nem tchum, quando você percebe já foi e nem doeu rsrs.
Esse filme narra a história de William (Daniel Auteil, mon acteur chouchou), um recém aposentado, sua esposa é pintora, ela vai ao campo e conhece Adam, o prefeito do lugar que é cego, ele mostra uma casinha bem aconchegante e bucólica, ela adora e conta para o marido que vai lá e compra. Eles têm uma filha que namora um brasileiro. Por ser um lugar afastado de tudo, eles começam a receber a visita de Adam e de sua esposa, Eva. Os quatro começam a ficar juntos até demais. Adam e Eva mudam para uma ilha, William e sua esposa continuam rebendo visitas de outros casais. Resumindo: como ser swingeiro discreto. É bem engraçado!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulher, o ser enigmático


Resgatei minha bíblia feminista que é o livro "O segundo sexo - Fatos e mitos", de Simone de Beauvoir (super recomendo a leitura, é muito bom!). Tinha sublinhado uns trechos que são o cúmulo do absurdo, frases ou estudos feitos por grandes filósofos, pensadores, escritores, poetas e religiosos sobre a mulher, ao longo da história da vida humana.


Oração judaica: "Bendito seja Deus nosso Senhor e o Senhor de todos os mundos por não ter me feito mulher"

Platão agradecia aos deuses por ter sido criado livre e não escravo, de ter nascido homem e não mulher.

Sócrates: "Há um príncipio bom que criou a ordem, a luz e o homem e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher"

Aristóteles: "A fêmea é fêmea em virtude de certas carências de qualidades. Devemos considerar o caráter das mulheres como sofrendo de certas deficiência natural".

São Tomás de Aquino: "A mulher é um homem incompleto, um ser ocasional.

Michelet: "A mulher, um ser relativo"

Santo Agostinho: "A mulher é um animal que não é nem firme nem estável"

São Paulo, Hegel, Nietzche e Lenin do alto da grandeza deles considera com desdém o rebanho de mulheres que ousam falar-lhe em pé de igualdade

Nietzche, além de precursor do nazismo era misógino: A mulher foi o segundo erro de Deus. – “A mulher, por natureza, é uma serpente: Eva” – todo padre sabe disso; “da mulher vem todo o mal do mundo” – todo padre sabe disso também. Logo, igualmente cabe a ela a culpa pela ciência... Foi devido à mulher que o homem provou da árvore do conhecimento.

Depois dos comentários "desses seres superiores", tenho que concordar que o livro mais fino do mundo é "O que os homens sabem sobre as mulheres", até os "intelectuais" se mostraram um desastre ao tentarem decifrar o enigma de quem somos.

domingo, 7 de março de 2010

Dia da mulher com Ladainha

Flowers, cá estou eu celebrando o Dia Internacional da Mulher, esse bicho que sangra todo mês, bichinho cheio de amor, de proteção, de sonhos. As guerreiras que tem jornadas duplas ou triplas de trabalho. Quem dera fosse que esse dia fosse todos os dias...



Ladainha

Composição: Alzira Espíndola, Estrela Ruiz Leminski e Alice Ruiz

Era uma vez uma mulher
Que via um futuro grandioso
Para cada homem que a tocava
Um dia
Ela se tocou...

Eu pensava que o amor
Me faria uma rainha
E quando você chegasse
Não seria mais sozinha

Você chega da gandaia
Só pensando numazinha
Seu amor é pouca palha
Para minha fogueirinha

O que você jogou fora
É para poucos
O meu mal foi jogar
Pérolas aos porcos

Eu não sou da sua laia
Não quero sua ladainha
Pra ser mal acompanhada
Prefiro ficar na minha

terça-feira, 2 de março de 2010

Solaris- Andrei Tarkovski


Pago mó pau para esse cineasta russo, ele fala sobre temas difíceis tais como: guerra, violência, tecnologia e humanidade, mas com toques poéticos. Esse filme lembra um pouco Lost ou Lost lembra esse filme,o  que é  mais provável, claro que o filme tem bem mais conteúdo intelectual.
Tudo gira em torno do oceano solaris, acontece um monte de coisas incomuns, mas os cientistas não querem divulgar esses eventos. Um dos pilotos tenta contar tudo o que aconteceu por lá, mas disseram a ele que estava sob pressão, impressionado e isso acarretou em imaginações e visões distorcidas da realidade ou alucinações.
Kelvin, um psicólogo é mandado para Solarys para ver a situação de três cientistas que vivem lá, ao chegar, ele estranha o comportamento dos cientistas, um acaba se suicidando após um período de depressão e os outros dois tentam fingir que coisas esquisitas não acontecem.

Se ver alguma coisa estranha, alguém que não eu ou Sartorius, tente não perder a cabeça.
- Se eu ver o quê?
- Isso depende do senhor.
- Alucinações?
- Não... mas não se esqueça que...
- Esquecer o que?
- Que não estamos na Terra.

O psicólogo começa a ver "os convidados", ou seja, gente estranha ao recinto, até que encontra sua mulher, que morreu há uns anos e que ele amava muito.
Eles vão à biblioteca para comemorar o aniversário de outro que já está descrente com a ciência:

Ciência? Tolice!
Na nossa situação, o gênio e a mediocridade seriam por igual impotentes. Dizemos que pretendemos conquistar o Cosmos. Na realidade, só queremos aproximar a Terra das fronteiras dele. Não nos importam outros mundos. Queremos é um espelho. Procuramos afincadamente um contato, mas nunca o encontraremos. Estamos na situação idiota de quem aspira a um objetivo que teme e que não necessita. O homem precisa do homem!

O tempo vai passando e a mulher se torna cada vez mais humana, pois tem a capacidade de regeneração, então, um dos cientistas alerta o psicólogo:
Não convertas em história de amor um problema científico.

Outras falas legais do filme:
O amor é um sentimento que tem de ser vivido, mas não explicado. Só pode apenas explicar a idéia. E o homem ama o que pode perder, a ele próprio, à mulher, à Pátria... Até hoje, a Humanidade e a Terra estiveram fora do alcance do amor. Somos tão poucos! Talvez a razão porque estamos aqui, é ver a Humanidade, pela primeira vez como alvo do amor.

Quando um homem é feliz, o significado da vida e outros assuntos da eternidade, raramente o interessam.
Essas questões só deveriam ser perguntadas no fim da vida. Não sabemos quando nossa vida vai acabar, por isso vivemos tão apressadamente.
As pessoas mais felizes são aquelas que nunca se importaram com essas questões malditas.
Nós questionamos a vida, a procura de algum significado. Para preservar as simples verdades humanas, precisamos de mistérios. O mistério da felicidade, da morte, do amor. Até podes ter razão, mas procure não pensar nisso. Pensar nisso seria a mesma coisa que saber o dia da morte. Entretanto, o desconhecimento deste dia torna-nos, no fundo, imortais.

Já falei do filme Stalker que é do mesmo diretor aqui e aqui.
Outros filmes que confronta o tema humanidade e ciência é o Alphavile, de Godard que também já falei aqui e o Le diable probablement, de Robert Bresson, sobre um estudante que tira notas altas, ajuda seus companheiros, mas não vê sentido na vida ou no trabalho, postei a fala dele com psiquiatra aqui.

Os cineastas, escritores, poetas e profetas não veem a ciência com bons olhos porque acham os cientistas são sempre frios e calculistas que aspiram grandeza, querem conquistar o universo, calcular a distância daqui ao sol, mas não tem sensibilidade de curtir o que está bem pertinho, de sentir o gosto de uma fruta suculenta bem devagar, de brincar com uma criança, de amar uma mulher sem o interesse de fazê-la mais um número em sua vida, mas porque ela faz com que ele tenha mariposas no estômago e por aí vai. Nós precisamos de humanidade...