sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Desafio Literário 2013




Depois de abandonar na metade do ano o Desafio de 2012, por motivos de mudança de país, tendo que superar a fase de adaptação, de estudar em um novo idioma, etc. Agora que as coisas estão mais ou menos no esquema, retornarei aos poucos a ser mais participativa nas blogagens coletivas e nos desafios.

Para nossa alegria, já foram divulgados os temas de cada mês no blog oficial do Desafio Literário, confiram lá e participem também.

JANEIRO - TEMA LIVRE
"Esboço para uma teoria das emoções", de Jean-Paul Sartre.

FEVEREIRO - LIVROS QUE NOS FAÇAM RIR
Cuca Fundida - Woody Allen

MARÇO - ANIMAIS PROTAGONISTAS
A Revolução dos bichos - George Orwell

ABRIL - UMA OU MAIS DAS QUATRO ESTAÇÕES NO TÍTULO
Conto de Inverno - William Shakespeare

MAIO - LIVROS CITADOS EM FILMES
O filme "O leitor" que indica ótimos livros.Escolhi A metamorfose - Franz Kafka

JUNHO - ROMANCE PSICOLÓGICO
Dom Casmurro - Machado de Assis

JULHO - COR OU CORES NO TÍTULO
O Vermelho e o negro - Stendhal

AGOSTO - VINGANÇA
Ainda estou pensando

SETEMBRO - AUTORES PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS
As intermitências da morte - José Saramago

OUTUBRO - HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO
Feliz ano velho - Marcelo Rubens Paiva

NOVEMBRO - LIVROS QUE FORAM BANIDOS
Ainda estou pensando

DEZEMBRO - NATAL
Missa do Galo - Machado de Assis

Então é isso! Até janeirao com o tema livre.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Dia da pátria

Dia da Pátria: Mas o que é a pátria para uma expatriada? Nada mais que um sonho bem distante... Oh, pátria amada! Entre outras mil, tu és só mais uma. Quando estou em teu seio quero sair, quando estou fora, quero retornar. Em teu solo criei raízes, mas fora criei asas. Em ti, tenho os mais belos sentimentos do mundo, mas fora sou só razão. Verás que sou mais uma filha que foge à luta, a que rebela dentro de casa, mas fora te defende como se tu fosses a melhor mãe. É difícil lidar com esse amor que ora me atrai, ora me afugenta que me desintegra e me desorienta, nao sei se quero voltar para ti, mas se eu voltar, acolha-me em teus braços para que eu nao fuja novamente, mesmo eu declarando independência, sinto-me dependente de ti, isso aprendi contigo, independência dependente, a desordem ordenada e o regresso progressivo.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Desafio literário: Olalla

O tema do Desafio literário do mês de agosto é terror: Li o conto "Olalla", de Robert Louis Stevenson. Classificado como conto gótico ou de terror, ou ainda, como dizem os franceses, conte noir. Narra a história de uma jovem que sacrifica seu amor para não perpetuar sua herança genética maldita e degenerada. Embora em nenhum momento seja usado o termo "vampiro", fica nítido o clima vampiresco no comportamento da família. A loucura, a histeria e um possível incesto entre a mãe e o avô/pai de Olalla, já que ninguém sabe ao certo quem é o pai das crianças.  São temas "tabus", mas que foram acoplados na obra de forma sutil. Vamos ao resumo:
O médico aconselha um jovem soldado a passar dois meses no campo, lugar de ar puro e tranquilidade. Com a ajuda de um pároco local, o soldado arruma hospedagem na casa de uma família espanhola importante (mãe, filho e filha), porém na beira da ruína.
Médico: "O ar dessas montanhas renovar-lhe-á certamente o sangue."
Sobre a mãe:
A mãe é a última representante de um estirpe principesca que degenerou tanto no seu aspecto humano como na sua fortuna.
O pai era louco, ela casou-se sabe lá Deus com quem e teve Felipe, um patego, tosco, rústico e simplório. Se fosse definir uma psicopatologia para ele, seria um retardado mental. Já a filha Olalla era dotada de uma beleza e inteligência fora dos padrões de sua família.
A mãe tinha repulsa pelo filho, conforme consta no texto, tratava a filha com um certo desdém, era meio apática, meio preguiçosa, mas era sensual e sedutora.
Sobre a histeria da mãe na visão do soldado:
Saltei da cama pensando estar sonhando, mas os gritos continuavam a encher a casa. Gritos de dor, pensei, mas também de raiva, tão selvagens e dissonantes que me despedaçava o coração. Não se tratava de uma ilusão, algum ser vivo, algum louco ou animal selvagem estava sendo torturado.
Sobre Olalla quando o soldado a viu pela primeira vez:
A emoção da sua jovem vida que que vibrava como a de um animal selvagem tinha entrado em mim. A força de sua alma que lhe havia assomado aos olhos, tinha conquistado a minha, envolvendo o meu coração, fazendo brotar uma canção dos meus lábios. Tinha-se metido no meu sangue, fazendo dois um todo único.
 Provável herança genética de histeria: 
Quando adverti para o fato de Eulália parecer silenciosa, a única coisa que fez foi rir-se-me na minha cara. 
Vampirismo da mãe:
 Cortei-me, um golpe bastante profundo. Olhe - e levantei a mão ferida sempre a gotejar. Era como se um véu lhe caísse do rosto, deixando-o fortemente expressivo, e no entanto, insondável. Quando ainda me encontrava surpreendido pela sua agitação, curvou-se sobre mim, dobrou-se sobre a minha mão e pegou nela. Um instante depois, levava-a à boca e mordia até o osso. Afastei-a fortemente, mas ela voltou a lançar-se sobre mim dando gritos bestiais.
 Quem gosta deste tipo de literatura, vai adorar ler para saber o final deste conto e ainda por cima, ler outros do mesmo autor. O próximo post será de uma outra obra dele, "O médico e o monstro".
 O livro que li é uma edição de Portugal: O médico e o monstro; Olalla; O tesouro de Franchard. 207 págs. Ed. Amadora Ediclube. Tradução: Jorge Pinheiro

domingo, 5 de agosto de 2012

Haïku quebecois


Hoje, vou apresentar à vocês, um pouco da poesia haikai quebequense. Estava na biblioteca e vi o título Quelle heure est-il? (Que horas são?), de Jean Dorval. Eu, que ando ansiosamente preocupada com o tempo, fiquei curiosa, fui xeretar e para minha felicidade, era de haikai. Fiz a tradução livre de alguns, só para vocês terem uma ideia, espero que gostem.


Épilée,
jusqu'a la page blanche
sa peau

depilada
até a página branca
sua pele


en quelques mots fous
là-bas un poète remet
le monde à l'endroit
em algumas palavras loucas
lá o poeta coloca
o mundo do lado certo

rêves
de l'autre côté du miroir
les miens
sonhos
do outro lado do espelho
os meus

paquebot sur son sein
mes doigts sombrent
dans son t-shirt
navio sobre seu seio
meus dedos naufragam
na sua camiseta

après ton depart
les jours rallongent
sur le web
após sua partida
os dias aumentam
na web

couloirs gris
personne ne parle
fumées cosmopolites
corredores cinzas
ninguém fala
fumaças cosmopolitas


lune jaune
à travers les branches
capteur de rêves
lua amarela
através dos ramos
captador de sonhos.

Venus
remet le ciel
au matin
Vênus
entrega o céu
de manha

le vent tourne
les feuilles entrent
en scène
o vento gira
as folhas entram
em cena

En elle
le plis de vague
lit d'eau
Nela
a ondulaçao da onda
cama de água

soir d'automne
au fond du foyer
ce qui brûle en toi
noite de outono
no fundo da lareira
o que queima em você

errante chenille
probablement
parent du monarque
errante lagarta
provavelmente
parente do monarca

des fruits
sur le comptoir
e des pilules
as frutas
sobre o balcao
e as pílulas

bougie
dans le placard
grand brûlé
vela
no armário
grande incêndio

les clés
font la paire
l'adresse est invisible
as chaves
fazem o par
o endereço é invisivel

quelques secondes
jusq'au désir
son parfum
alguns segundos
até o desejo
seu perfume

traces de vin
la maison est vide
les verres traînent
traços de vinho
a casa está vazia
os copos espalham

echo
instrument
d'une voix
eco
instrumento
de uma voz

raconte ce désir
entre les lignes
mille et une nuits
conte este desejo
entre as linhas
mil e uma noites

cycliste
en cuissard noir et blanc
yin yang
ciclista
com bermuda preta e branca
yin yang

doigts de fée
grains de beauté
rosaire
dedos de fada
pintas
rosário

Ja falei de haikai do Paulo Leminski aqui

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Asilo Arkham

clique na imagem para ampliar
"O Asilo Arkham e a Psicopatologia dos vilões de Gotham City", de Francisco B. Assumpção Jr. Professor da Faculdade de Medicina e do Instituto de Psicologia da USP. 204 págs.
O livro foi escrito de maneira leve e simples que amplia o assunto não só para o meio acadêmico, na área de psicologia, mas também aos fãs do Batman de forma que eles entendam essas psicopatologias sem tornar o assunto muito técnico ou específico.

É divido em 10 capítulos. O 1º fala sobre o Asilo Arkham que é mais que um manicômio judiciário, é habitado por personalidades doentias, psicopáticas e deformadas onde são isolados e presos por fugirem da normalidade e que não podem conviver na sociedade. Arkam é um modelo asilar bastante antigo, tem-se uma visão simplista e antiquada do que seria um hospital psiquiátrico real, permanecendo no imaginário popular que o sistema não se modificou muito nos últimos duzentos anos.
No 2º capítulo, mostra o transtorno bipolar do Coringa, são mudanças de humor que alternam entre a euforia ou mania e a depressão, os quadros de mania são, muitas vezes, extremamente exagerados, a pessoa pode tornar-se psicótica, violenta, cometer delitos, achar-se poderoso e intocável. Já na fase de depressão, a pessoa pode até suicidar-se.
(...) "Assim, quando você se dá conta que tua mente viaja sobre um binário angustiante, diretamente do teu passado onde a tua alma grita de maneira insuportável, lembra sempre que a loucura é a saída de emergência". (Coringa)
No 3º capítulo fala do Duas-Caras, um promotor público correto e implacável, mas enlouquece após ter a cara desfigurada por ácido. Esquizofrenia (esquizo=dividida e frenia=mente), com seus sintomas principais sendo caracterizados pelo autismo, como pensamento interiorizado e perda do contato com a realidade. Sua bizarrice e impossibilidade de previsão se expressam exatamente em sua própria consciência do "Eu", cindida em duas partes importantes, uma boa e outra má. A consciência clara e a capacidade intelectual estão usualmente mantidas, embora certos déficits cognitivos possam surgir no curso do tempo.
No 6º capítulo fala do Espantalho, era Psiquiatra e Professor de Psicologia na Universidade de Gotham, especialista em Psicologia do Medo, sofreu bullying na infância, buscando vingança destes abusos, utiliza um gás que provoca medo em quem o inala, matando todos os responsáveis pelo seu sofrimento. Assume então a vida criminosa utilizando seus conhecimentos sobre Psicologia, bem como seus gases inalantes.
Eu assisto a todos os filmes do Batman, sempre sou estranhamente atraída pela história de vida, tanto dele quanto de seus vilões, ele tem transtornos de personalidade, vive mascarado, meio dark, quer fazer justiça com as próprias mãos, vive em uma cidade doente, com gente doente. Seus vilões são inteligentes, tem profissões respeitadas, mas utilizam-nas para o mal, são vítimas do sistema, todos têm algum trauma de infância, conflitos familiares, dificuldade de relacionamentos. Não mencionei todos os personagens, principalmente os femininos que são bem bacanas, são mulheres inteligentes, se fosse comentar, escreveria outro livro em cima desse. Indico para quem gosta de psicologia e para quem é fã desta HQ. Não deixem de ler.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O segredo

Antes, quando as pessoas tinham segredos que não queriam compartilhar, elas subiam em uma montanha, procuravam uma árvore, faziam um furo e sussurravam o segredo nessa abertura, depois tapavam com barro. Desse modo, jamais alguém descobriria o segredo.
[2046 -Filme dirigido por Won Kar Wai - China]


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Circunstância


cir.cuns.tân.cia
sf (lat circumstantia) 1 Acidente de lugar, modo, tempo etc. que acompanha um fato. 2 Dir Motivo ou fato que, acompanhando, seguindo ou precedendo um crime ou delito, o agrava ou atenua. 3 Condição, requisito. 4 Causa, motivo. 5 Estado das coisas, em determinado momento. 6 Relação, situação. 7 Importância ou destaque social. Estar em más circunstâncias: estar em perigo ou má situação financeira.
[definição do Dicionário Michaelis]

No fim de semana, assisti ao filme iraniano "Circumstance", dirigido pela Maryam Keshavarz. O filme narra a história de duas garotas que se apaixonam, além da trama homossexual, mostra também como os jovens são reprimidos o tempo inteiro e quão terrível é um país fundamentalista em que não se distingue a política da religião. As personagens principais são a Atafeh e Shirren. Atafeh tem um irmão que de uma hora para outra vira um fanático religioso e começa a controlar a família espalhando câmeras pela casa e denunciando para polícia da moralidade tudo o que ele acha que é inconveniente. WTF polícia da moralidade? Fiquei passada em saber que isso existe.
A gente nunca valoriza a liberdade que temos, não é? O estado laico é um privilégio, embora haja muitos religiosos candidatando-se para brecar os direitos que algumas minorias lutam para conquistar. Caraca, nunca parei para pensar que se eu quisesse namorar uma pessoa do mesmo sexo, eu posso, sou livre para isso, hoje posso até casar se fosse o caso, o estado me daria cobertura.
Eu posso escolher marido, não sou forçada a um casamento arranjado pela família. Se o casamento não dá certo, eu posso divorciar.
Atafeh e Shirren

Eu poderia ir a uma balada se eu gostasse. Lá rola uma baladas clandestinas que os jovens fazem para fumar, beber, usar roupas do ocidente, ouvir música do ocidente e dar umas pegadas. A gente pode fazer tudo isso, sem ter a polícia da moralidade por perto.
Cinema americano, só consegue cópia pirata no mercado negro. Poucas coisas aproveito do besteirol do cinema americano, hip hop, funk e um monte de música não faz o meu estilo, posso escolher não ouvir, mas quem gosta, pode ouvir livremente. É melhor ter Michel Teló e Restart a ser obrigado a ouvir só música religiosa.
praia
Eu posso ir à praia de biquíni, apesar de não curtir praia, gosto só depois das 18h e raramente entro na água, mas eu posso, saca? Olha nesta foto, as mulheres vestidas até o pé e enrolada de lenço na cabeça enquanto os homens desfilam de sunguinha para todo lado.
O mundo é mesmo injusto, eu não aproveito nada da liberdade que me é concedida, mas fico feliz em saber que quando quiser aproveitar não terei nenhum empecilho. Se eu pudesse doar as coisas que não aproveito para quem aproveitaria melhor, eu doaria minha cota de balada, de direitos homossexuais, de praia, de filmes e de alguns estilos de música, se não gosto ou não aproveito deve haver quem goste.
O filme é excelente, super indico. Aprendi a valorizar bem mais as coisas que tenho direito e sei que apesar do lixo e do excesso de informação que vem junto com a liberdade, eu posso escolher o que posso aproveitar ou não, tem gente que nem isso pode. Queria falar de muitas coisas do filme, mas aí seria spoiler, para não estragar, indico que assistam!
Vamos lutar sempre pelo estado laico e evitar ao máximo o escravismo religioso.

Para acabar em samba:
Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz