sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Desafio literário: Olalla

O tema do Desafio literário do mês de agosto é terror: Li o conto "Olalla", de Robert Louis Stevenson. Classificado como conto gótico ou de terror, ou ainda, como dizem os franceses, conte noir. Narra a história de uma jovem que sacrifica seu amor para não perpetuar sua herança genética maldita e degenerada. Embora em nenhum momento seja usado o termo "vampiro", fica nítido o clima vampiresco no comportamento da família. A loucura, a histeria e um possível incesto entre a mãe e o avô/pai de Olalla, já que ninguém sabe ao certo quem é o pai das crianças.  São temas "tabus", mas que foram acoplados na obra de forma sutil. Vamos ao resumo:
O médico aconselha um jovem soldado a passar dois meses no campo, lugar de ar puro e tranquilidade. Com a ajuda de um pároco local, o soldado arruma hospedagem na casa de uma família espanhola importante (mãe, filho e filha), porém na beira da ruína.
Médico: "O ar dessas montanhas renovar-lhe-á certamente o sangue."
Sobre a mãe:
A mãe é a última representante de um estirpe principesca que degenerou tanto no seu aspecto humano como na sua fortuna.
O pai era louco, ela casou-se sabe lá Deus com quem e teve Felipe, um patego, tosco, rústico e simplório. Se fosse definir uma psicopatologia para ele, seria um retardado mental. Já a filha Olalla era dotada de uma beleza e inteligência fora dos padrões de sua família.
A mãe tinha repulsa pelo filho, conforme consta no texto, tratava a filha com um certo desdém, era meio apática, meio preguiçosa, mas era sensual e sedutora.
Sobre a histeria da mãe na visão do soldado:
Saltei da cama pensando estar sonhando, mas os gritos continuavam a encher a casa. Gritos de dor, pensei, mas também de raiva, tão selvagens e dissonantes que me despedaçava o coração. Não se tratava de uma ilusão, algum ser vivo, algum louco ou animal selvagem estava sendo torturado.
Sobre Olalla quando o soldado a viu pela primeira vez:
A emoção da sua jovem vida que que vibrava como a de um animal selvagem tinha entrado em mim. A força de sua alma que lhe havia assomado aos olhos, tinha conquistado a minha, envolvendo o meu coração, fazendo brotar uma canção dos meus lábios. Tinha-se metido no meu sangue, fazendo dois um todo único.
 Provável herança genética de histeria: 
Quando adverti para o fato de Eulália parecer silenciosa, a única coisa que fez foi rir-se-me na minha cara. 
Vampirismo da mãe:
 Cortei-me, um golpe bastante profundo. Olhe - e levantei a mão ferida sempre a gotejar. Era como se um véu lhe caísse do rosto, deixando-o fortemente expressivo, e no entanto, insondável. Quando ainda me encontrava surpreendido pela sua agitação, curvou-se sobre mim, dobrou-se sobre a minha mão e pegou nela. Um instante depois, levava-a à boca e mordia até o osso. Afastei-a fortemente, mas ela voltou a lançar-se sobre mim dando gritos bestiais.
 Quem gosta deste tipo de literatura, vai adorar ler para saber o final deste conto e ainda por cima, ler outros do mesmo autor. O próximo post será de uma outra obra dele, "O médico e o monstro".
 O livro que li é uma edição de Portugal: O médico e o monstro; Olalla; O tesouro de Franchard. 207 págs. Ed. Amadora Ediclube. Tradução: Jorge Pinheiro

domingo, 5 de agosto de 2012

Haïku quebecois


Hoje, vou apresentar à vocês, um pouco da poesia haikai quebequense. Estava na biblioteca e vi o título Quelle heure est-il? (Que horas são?), de Jean Dorval. Eu, que ando ansiosamente preocupada com o tempo, fiquei curiosa, fui xeretar e para minha felicidade, era de haikai. Fiz a tradução livre de alguns, só para vocês terem uma ideia, espero que gostem.


Épilée,
jusqu'a la page blanche
sa peau

depilada
até a página branca
sua pele


en quelques mots fous
là-bas un poète remet
le monde à l'endroit
em algumas palavras loucas
lá o poeta coloca
o mundo do lado certo

rêves
de l'autre côté du miroir
les miens
sonhos
do outro lado do espelho
os meus

paquebot sur son sein
mes doigts sombrent
dans son t-shirt
navio sobre seu seio
meus dedos naufragam
na sua camiseta

après ton depart
les jours rallongent
sur le web
após sua partida
os dias aumentam
na web

couloirs gris
personne ne parle
fumées cosmopolites
corredores cinzas
ninguém fala
fumaças cosmopolitas


lune jaune
à travers les branches
capteur de rêves
lua amarela
através dos ramos
captador de sonhos.

Venus
remet le ciel
au matin
Vênus
entrega o céu
de manha

le vent tourne
les feuilles entrent
en scène
o vento gira
as folhas entram
em cena

En elle
le plis de vague
lit d'eau
Nela
a ondulaçao da onda
cama de água

soir d'automne
au fond du foyer
ce qui brûle en toi
noite de outono
no fundo da lareira
o que queima em você

errante chenille
probablement
parent du monarque
errante lagarta
provavelmente
parente do monarca

des fruits
sur le comptoir
e des pilules
as frutas
sobre o balcao
e as pílulas

bougie
dans le placard
grand brûlé
vela
no armário
grande incêndio

les clés
font la paire
l'adresse est invisible
as chaves
fazem o par
o endereço é invisivel

quelques secondes
jusq'au désir
son parfum
alguns segundos
até o desejo
seu perfume

traces de vin
la maison est vide
les verres traînent
traços de vinho
a casa está vazia
os copos espalham

echo
instrument
d'une voix
eco
instrumento
de uma voz

raconte ce désir
entre les lignes
mille et une nuits
conte este desejo
entre as linhas
mil e uma noites

cycliste
en cuissard noir et blanc
yin yang
ciclista
com bermuda preta e branca
yin yang

doigts de fée
grains de beauté
rosaire
dedos de fada
pintas
rosário

Ja falei de haikai do Paulo Leminski aqui