quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Lecture: Bonheur d’occasion - Gabrielle Roy

Le premier paragraphe :
image
Fragments:
Florentine
Florentine… Florentine Lacasse…, moitié peuple, moitié chanson,  moitié printemps, moitié misère…
Une Florentine détestant servir, détestant chaque minute de son assujettissement à la vie et, cependant, donnant ses payes presque en entier à sa famille. Une jeune fille que consumaient le dégoût du travail quotidien et aussi le dévouement aux siens. Une Florentine inconnue!
Sur la guerre
Nous autres, on nous dit que l’Allemagne veut nous détruire. Mais en Allemagne, à l’heure qui est, du monde tranquille comme nous autres, pas plus méchant que nous autres, se laisse monter la tête avec la même histoire; à ce qu’on leur dit, on veut les tenir enfermés dans un pays trop petit, on veut les empêcher de vivre. Mais moi, j’ai pas envie d’Aller tuer un gars qui m’a jamais fait du mal et qui peut pas faire autrement que de se laisser mener par ses dirigeants. J’ai rien contre lui, ce pauvre gars là. Pourquoi ce que j’irais y passer une baïonnette dans le corps? Il a envie de vivre comme moi. Il tient à la vie autant que moi. 
Je m’en vas vous dire une chose, moi… La société s’occupe pas de nous autres, pendant quinze ans, pendant vingt ans. A nous dit: « Arrangez-vous, débrouillez-vous comme vous pourrez.» Pis arrive un bon jour qu’a s’aperçoit de nous autres. A besoin de nous autres tout d’un coup. «Venez me défendre, qu’a nous crie. Venez me défendre»
Qu’est-ce qu’a nous a donné à nous autres, la société? Rien
Société de consommation
Qu’est-ce que vous voyez-t-y pas sur la rue Sainte-Catherine? Des meubles, des chambres à coucher. Pis de magasins de sport, des cannes de golf, des raquettes de tennis, des skis, des lignes de pêche. S’y a quelqu’un au monde qu’aurait le temps de s’amuser avec toutes ces affaires-là, c’est en nous autres, hein?
Mais le seul fun qu’on a, c’Est de les regarder. Pis la mangeaille à c’te heure! Je sais pas si vous avez déjà eu le ventre creux et que vous passés par un restaurant d’iousque qu’y a des volailles qui rôtissent à petit feu su une broche? Mais ça c’est pas toute, mes amis. La société nous met toute sous les yeux; tout ce qu’y a de beaux sous les yeux. Mais allez pas croire qu’a fait rien que nous le mette sous les yeux!
Ah, non, a nous conseille d’acheter aussi. On dirait qu’a peur qu’on soyez pas si tenté.
Oui, des tentations, c’est que la société nous a donné. Des tentations d’un boutte à l’autre.
La paix a été aussi mauvaise que la guerre. La paix a tué autant d’hommes que la guerre. La paix es aussi mauvaise… aussi mauvaise…

Fragmentos da novela “Axelrod”, da Hilda Hilst

Ainda que se mova o trem tu nao te moves de ti
Agrido-me como se fosse dono da verdade, como um cristao, como todo os cristaos que até hoje carregam o monopolio da luz como se o caminho fosse um so, Eu sou a Verdade, eu nao o sou.
A Historia me chupa inteiro, a lingua porejando sangue goza filhinho, sim dona Historia, vou indo, estou cheio de ideias, tenho duvidas, tenho gozo rapidos e agudos, vou te apalpando agora, o povo me olha, o povo quer muito de mim, gosto do povo, devo ser o povo, devo ser um unico e harmonico povo-ovo, devo morrer pelo povo, adentrado nele, devo rugir e ser um so com o povo, Axelrod-povo, Axelroad-coesao, virulência, Axelroad-filho do povo, HISTORIA-POVO, janto com meus pais, sopa de proletariado, paezinhos mencheviques, engulo o monopolio, emocionado bebo a revoluçao, lendo vou dirigindo o intelecto, mas estou faminto, estarei sempre faminto, cago o capitalismo, o lucro, a bolsa de titulos, e ainda estou faminto, ô meu deus, eu me quero a mim, o ossudo seco, eu.
Aos vinte temos muitas certezas e depois so duvidas, certeza de nada eu tenho exceçao. Aos vinte pontifiquei, tinha orgulho danado, um visual pretensamento sabio
como?
discorria claro sobre as coisas, pensava que via

“A obscena senhora D.”, da Hilda Hilst

Fragmentos da novela “A obscena senhora D.”, da Hilda Hilst
D. de derreliçao que quer dizer desamparo, abandono…
Ehud, por favor, queria te falar da morte de Ivan Ilitch, da solidao desse homem, desses nadas do dia a dia que vao consumindo a melhor parte de nos, queria te falar do fardo quando envelhecemos, do desaparecimento dessa coisa que nao existe mas é crua, é viva. o Tempo.
Nada me entra na alma, palavras grudadas à página, nenhuma se solta para agarrar meu coraçao, tantos livros e nada no meu peito, tantas verdades e nenhuma em mim, o ouro das verdades onde está? Que coisas procurei?
Ter sido. E nao poder esquecer. Ter sido. E nao mais lembrar. Ser. E perder-se. Repeti gestos, palavras passos. Cruzei com tantos rostos…

Fragments de la nouvelle “L’obsène Madame D.”, de Hilda Hilst
D. de Déréliction qui signifie abandon, détresse…
Ehud, je t’en prie, je voudrais te parler de la mort d’Ivan Ilitch, de la solitude de cet homme, de ces multiples riens du quotidien qui vont consumant la meilleure part en nous, je voudrais te parler du fardeau lorsque vient la vieillesse, de la disparition de cette chose que n’existe pas mais qui est crue, qui est vivante, le Temps.
Rien ne me pénètre l’âme, des mots collés sur chaque page et pas un qui se soit libéré pour retenir mon cœur, tant de livres et rien dans ma poitrine, tant de vérités et pas une établie pour moi, l’or de vérités où est-il? Qu’ai-je tant cherché?
Avoir été. Et ne pouvoir oublier. Avoir été. Et ne plus se souvenir. Être. Et se perdre. J’ai répété des paroles, des pas, reproduit des gestes, croisé tant des visages…

quarta-feira, 5 de março de 2014

As mulheres que leem sao perigosas

"As mulheres que leem sao perigosas", de Laurie Adler e Stefan Bollmann, 153 págs, ediçao Flammarion (versao em francês), nao sei se vende no Brasil. É um livro de história e também um livro de arte, mostra as principais pinturas e fotos que retratam mulheres lendo desde o séc XIII até o séc XXI.
Vou começar pelo lado estético do livro: Esta versao é de capa dura, as folhas têm uma gramatura mais firme, deve ser um papel couché com brilho, de no mínimo 120g. Gostei muito da utilizaçao dos tons pastéis, parece com os filmes da Sofia Coppola.



páginas em tons pastéis
O livro começa passando algumas informaçoes e curiosidades sobre a mulher leitora e a sociedade na qual ela está inserida. Cara colega, se você tem a liberdade de pegar um livro hoje e lê-lo, aproveite esse privilégio, isso já foi considerado uma heresia, uma afronta, motivos de discórdias nas famílias, tema de pesquisa médica, causou revolta nos religiosos, etc. Prestem atençao nos fragmentos:

"Coletânea de tratamentos e medicamentos publicada em 1836 e reeditada 9 vezes até 1877:
De fato, a leitura tornou-se uma ocupaçao permanente. As leitoras se multiplicam e a histeria aumenta. Mulheres-livros-histeria: trio infernal. As histéricas estao deixando os médicos cada vez mais obcecados, eles escrevem tratados nao para compreendê-las, mas para tentar domesticá-las, como as bestas-feras, elas estao presas às paixoes mais obscenas. A histeria perturba, a histeria está exagerada. A histeria desconstrói a ordem da família, mas também da sociedade". (pág 17)

A histeria é um diagnóstico criado por médicos homens para rotular a mulher que se impunha, que lia, que lutava pelos seus direitos. Até nos dias de hoje, uma mulher que fala mais alto é chamada de histérica.
As mulheres histéricas eram também chamadas de bovaristas, termo baseado na personagem Madame Bovary, de Flaubert. Emma Bovary lia muito, portanto os médicos afirmavam que toda a perturbaçao e desejo sexual que ela tinha era por causa do excesso de leitura e tentavam convencer as mulheres a nao se igualarem a ela.

"Demoníacas as mulheres que leem? Sim, certamente, cada vez mais perigosas e por muito tempo ainda. Pois ao longo do tempo nao distinguimos mais o sexo feminino do masculino. O texto feminino e o texto feminista permitiram a construçao de uma nova esperança vital e libertária: as mulheres nao se escondem mais atrás de identidades secretas, sob pseudônimos, elas nao se contentam em parecer com as heroínas inventadas, elas fazem uso da palavra, elas dizem "eu", elas escrevem "eu", elas produzem textos, textos téoricos e ficcional, texto sobre incestos, sobre homossexualismo, sobre sexo. As leitoras sao hoje autoras, elas escrevem, escrevem e leem ao mesmo tempo. As mulheres que leem acham em seus textos fontes secretas do desejo".
"Senhores conhecedores dos movimentos da alma e da psiquê, ler dá às mulheres idéias. Sacrilégio! É necessário higienizar, colocar ordem, canalizar e limpar. Leiam leituras de piedade (bíblia), poemas de cavalaria, leiam pouco, mas leiam bem, leiam e releiam, disse um médico e teórico da leitura como arte da tentaçao, Parent-Duchatelet".

Outras curiosidades: A leitura era, na maior parte da história, privilégio da nobreza e depois também da burguesia. Com a reforma protestante, os países que aderiram a essa religiao ensinaram às mulheres de todas as classes sociais a lerem para que elas tivessem acesso à biblia, só que a populaçao nao se contentou apenas com leituras religiosas e passaram a se interessar também por leituras profanas. Saber ler ajudou as mulheres a se informarem sobre cuidados sanitários, como evitar doenças, houve uma diminuiçao considerável da mortalidade infantil na Suécia e até hoje este país é um dos mais avançados na área da educaçao e de conquistas femininas.
Ler era um ato de anarquia (pág. 30), a mulher desobedecia as ordens dos homens e da sociedade.
Ler na cama (pág.33): O hábito de ler na cama é tipicamente feminino, elas "furtavam" os livros da biblioteca dos pais ou dos maridos, escondiam debaixo do travesseiro e liam quando eles nao estavam presentes.
Nos quadros, as mulheres aparecem lendo enquanto os homens aparecem escrevendo.

Pieter Janssens Elinga (1623-1682) - Reading woman
Neste quadro do Pieter, mostra uma empregada que aproveita a ausência da patroa para ler, ela aproveita a claridade dos raios de sol na janela, enquanto isso tem sapatos espalhados no recinto, bacias de frutas em cima de uma cadeira.

Anselm Feuerbach - Paolo e Francesca
No quadro de Anselm, encontra-se dois personagens do livro A divina comédia, de Dante. Eles foram culpados por adultério, pego em flagrante pelo marido de Francesca. Ela está atenta à história do livro, ignorando a presença do amante.

Esta foto representa duas mulheres muito importantes: a fotógrafa e a fotografada. A fotógrafa foi uma das pessoas que revolucionou o mundo da fotografia, Julia Margaret Cameron começou sua carreira bem tardiamente, ela tinha 45 anos quando ganhou a máquina de presente e já era mae de seis filhos, ela fotografava as celebridades de sua época. A fotografada é a Alice Liddell, com 18 anos e lendo, mais conhecida como Alice no País das Maravilhas, a menina que motivou Lewis Carroll a escrever alguns livros.

Duncan Grant (1885-1978) - Le poêle
A história é complicada: Duncan Grant foi o terceiro marido da irma da Virginia Woolf, a Vanessa Bell, eles tiveram uma filha chamada Angélica que é a moça representada nesse quadro. A Angélica casou-se com um amante do pai dela, o David Garnett e tiveram quatro filhas.

Vanessa Bell (1952), Amaryllis et Henrietta
A Vanessa Bell, irma da Virginia, esposa do Duncan, mae da Angélica, sogra do David, o ex-amante do seu marido, era também pintora, neste quadro ela pintou duas de suas netas, filhas da Angélica, lendo.

Alexander Alexandrowitsch Deineka (1934) Jeune femme au livre
Este quadro mostra uma mulher lendo na Rússia, após a Revoluçao de outubro de 1917, em que as mulheres conquistaram os mesmos direitos dos homens para trabalhar, estudar, praticar esportes, música e artes em geral.

Tem muito mais, isso foi só um tira gosto, nem coloquei as pinturas mais lindas para nao estragar a surpresa do livro, sugiro que vocês leiam e se apaixonem, é muito interessante, às vezes revoltante por causa do machismo, mas é lindo. E agora tem o volume 2, "As mulheres que leem muito sao mais perigosas ainda", só que nao chegou aqui no Canada, deve ter só na Europa por enquanto, tudo que depende da traduçao do alemao para um outro idioma demora...Aguardo ansiosa. O que vocês acharam desta amostrinha que vocês viram?

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

BC Musical: cover

A atriz cantora/ atriz portuguesa Maria de Medeiros cantando com sotaque brasileiro "Sentimental", do Chico Buarque e declamando a letra em francês. Belíssima interpretaçao! Ela parece aquelas bonequinhas bailarinas de caixa de música.



Nacho Mañó y Gisela Renes cantando Chique Buarque em espanhol, fico com ciuminho quando os artistas internacionais aproveitam mais da nossa cultura do que nós mesmos, nossos meninos músicos do samba, se nao fazem sucesso em casa, tem mais é que partir pro mundao mesmo porque tem quem gosta e valoriza, né?



Axl Rose, te humilharam nessa, mô bem...Melhor versao de Sweet child o'mine




O grupo Nossa, cantando Sérgio Mendes. É dificil ter a nossa lindeza, nossa alegria e nossa ginga brasileira porque tá no nosso DNA, mas valeu pelo esforço, meninas. Quem nao tem Pelourinho grava em Portugal mesmo. E o bofe com esse bronzeado artificial alaranjado querendo bancar o menino do Rio? 'Tamo' de olho nessa zoeira....Nao vao pensando que é tao fácil assim ser brasileiro. rsrsrs





Essa Blogagem Coletiva musical é uma iniciativa da Dani Moreno, confira lá as músicas escolhidas por outras participantes