Jane Eyre é um classico do século XIX, escrito por Charlotte Bronte. Quando foi publicado pela primeira vez, ela usou o pseudônimo masculino Currer Bell, visto que nao era comum e nem rentavel usar seu proprio nome, porque nao se consumia literatura escrita por mulheres.
Li este livro muito rapido, foi amor à primeira vista. Nao vou me ater a fazer uma resenha porque ja tem aos montes na internet e todo mundo conhece mais ou menos a historia.
Vou fazer apenas algumas consideraçoes do que mais me chamou a atençao: A condiçao da mulher daquela época, as que tinham acesso à educaçao, aprendiam idiomas, musica, literatura, a costurar, a bordar ou seja eram muito educadas e prendadas, mas so tinham como alternativa serem esposas, professoras, esposas de missionarios, baba de criança rica ou empregada doméstica.
Jane Eyre é uma anti-heroina porque ela nao era nada do que se esperava em uma mulher, orfã, rejeitada, nao era bonita, nem simpatica, era bem sem-graça, direta em dar respostas super sinceras, mas era inteligente e tinha o espirito livre, nao aceitava a condiçao a qual estava predestinada e também questionava os costumes sociais, religiosos e morais.
Sobre sua aparência fisica:
"amanhã, coloque o espelho na sua frente e desenhe o seu próprio retrato, fielmente, sem suavizar qualquer defeito. Não omita as linhas mais rudes, nem disfarce alguma desproporção desagradável. Abaixo dele escreva: Retrato de uma Governanta, pobre, simples e sem família".
Seus sentimentos:
Muitos, sem dúvida, e me chamariam de descontente. Mas eu não podia evitar: a inquietação estava na minha natureza e às vezes arrastava-me ao sofrimento.
Idéias feministas:
É inútil dizer que os seres humanos devem contentar-se com a tranquilidade. Eles precisam de ação. E tem que buscá-la, se ela não vier ao seu encontro. Milhões são condenados a uma vida mais pacata do que a minha, e milhões se revoltam em silêncio contra a sorte. Ninguém sabe quantas rebeliões, além das políticas, fermentam nas massas de homens ao redor da terra. Supõe-se que as mulheres devem ser bem calmas, geralmente, mas elas sentem o mesmo que os homens. Precisam de exercício para suas faculdades mentais, e campo para os seus esforços, tanto quanto seus irmãos. Sofrem com restrições muito rígidas, com a estagnação absoluta, exatamente como os homens devem sofrer na mesma situação. E é uma estreiteza de mente de seus companheiros mais privilegiados dizer que elas devem ficar limitadas a fazer pudins, tricotar meias, tocar piano e bordar bolsas. É insensatez condená-las, ou rir delas, se procurarem fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou que é necessário ao seu sexo.
Acho que o seu amor vai se extinguir em seis meses, no máximo. Nos livros escritos por homens tenho observado que este é o tempo máximo que dura o ardor de um marido.
Odiava ser adulada, nao ligava para bens materiais, so queria ser ela mesma:
Vestirei minha Jane de cetim e rendas, e colocarei flores nos seus cabelos. Cobrirei essa cabeça que tanto amo com um véu de valor incalculável.– E então não me reconhecerá mais, senhor. Não serei mais a sua Jane Eyre, mas um macaco numa jaqueta de arlequim. Um pavão em plumas emprestadas. Prefiro ver o senhor, Mr. Rochester, adornado em roupas teatrais do que a mim mesma num vestido de dama da corte. Eu não lhe digo que é bonito, senhor, embora o ame ternamente. Amo-o demais para adulá-lo, portanto, não me adule também.
Nao era nenhum anjo, nao queria ser colocada num pedestal:
Não sou um anjo – afirmei – e nunca serei enquanto viver. Sempre serei eu mesma. Mr. Rochester, não deve esperar nem exigir nada de angelical da minha parte. Não vai consegui-lo, assim como não o conseguirei do senhor.
Prefiro ser uma coisa a ser um anjo.
Blasfemava:
– E os Salmos? Imagino que goste deles?– Não, senhor.– Não? Estou chocado!– Os Salmos não são interessantes – observei. – Isso prova que você tem um coração malvado. E deve rezar e pedir a Deus que mude isso: que lhe dê um coração novo e limpo. Que leve seu coração de pedra e lhe dê um de carne.
Nada é pior que uma criança malcriada – ele começou – especialmente uma menina. Você sabe para onde vão os maus depois que morrem?– Vão para o inferno – foi minha pronta e convencional resposta.– E o que é o inferno? Pode me dizer?– É uma cova cheia de fogo.– E você gostaria de cair nessa cova e ficar queimando para sempre?– Não, senhor.– E o que deve fazer para evitar isso? Pensei por um momento. Minha resposta, quando veio, era questionável.– Devo manter minha boa saúde e não morrer. (ahaha, melhor resposta, ser imortal evita de ir para o inferno)
Ele se interpunha entre mim e os meus princípios religiosos, como o eclipse se interpõe entre o homem e a plenitude do sol. Naqueles dias, eu não podia ver Deus na sua criatura, pois havia feito dela um ídolo.
Se nao bastasse, ainda se apaixona por um homem igualmente feio, sem graça, triste, atormentado, excêntrico, 20 anos mais velho, de uma classe social diferente da dela e com outros problemas que nao falaremos para evitar spoiler.
As damas o adoram, embora não tenha uma aparência que o recomende muito aos olhos delas. Mas acho que suas habilidades e talentos, e talvez a riqueza e o sangue nobre compensem qualquer defeito na aparência.
E será que Mr. Rochester ainda era feio aos meus olhos? Não, leitor. A gratidão e muitos outros sentimentos associados a ela, todos prazerosos e cordiais, tornaram seu rosto a coisa que eu mais gostava de ver. Sua presença numa sala era mais acolhedora que o fogo mais vivo. Ainda assim não esqueci seus defeitos. Não podia esquecer, de fato, pois ele constantemente os mencionava para mim. Ele era orgulhoso, sardônico, e duro com a inferioridade de qualquer espécie. No fundo da alma eu sabia que sua grande bondade para comigo era contrabalançada por uma injusta severidade em relação a vários outros. Ele era mal-humorado também, e enigmático. Mais de uma vez, quando chamada para ler para ele, encontrei-o sentado sozinho na biblioteca, com a cabeça sobre os braços cruzados. E quando levantava o olhar, uma carranca sombria, quase maligna, anuviava-lhe as feições. Mas eu acreditava que seu mau humor, sua dureza, e seus antigos erros morais (digo antigos, pois agora ele parece que os corrigiu) tinham origem em alguma crueldade do destino. Acreditava que ele era naturalmente dotado de boas intenções, altos princípios e gostos mais puros do que aqueles que as circunstâncias desenvolveram, a educação instilou e o destino encorajou. Sentia que possuía em si um material excelente, embora naquele momento estivesse um tanto emaranhado e confuso. Não posso negar que a tristeza dele me entristecia, fosse qual fosse, e eu daria tudo para aplacá-la.
Mais verdadeiro ainda é o ditado que diz que “a beleza está nos olhos de quem vê”. Aquele rosto do meu patrão – a face morena e pálida, a fronte quadrada e maciça, as sobrancelhas cerradas, os olhos profundos, as feições marcantes, o queixo firme e cruel, tudo energia, decisão, vontade – não eram traços bonitos de acordo com o gosto comum.
Mr. Rochester um homem de traços rudes e olhar melancólico.
Jane Eyre estava muito a frente do seu tempo, questionava demais, era determinada, sabia o que queria, sabia se defender, denunciava os maus-tratos e as injustiças. Nem preciso dizer adorei, dei 5 estrelas no Goodreads e super recomendo a leitura.
Os filmes
Assisti a quatro filmes baseados no livro, dirigidos por Cary Jogi Fukunaga (2011), Robert Young (p/ tv 1997), Franco Zeffirelli (1996) e Robert Stevenson (1943). O cinema nao tem a pretensao de ser fiel à literatura, ele se expressa de maneira diferente, mas convenhamos que ainda nao houve um filme que tivesse atores feios, rebeldes e sombrios como descritos no livro. Os filmes sao romanceados demais e deixam de fora a verdadeira essência dos personagens.
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Jane Eyre, 2011, com Mia Wasikowska (Jane Eyre) e Michael Fassbender (Mr. Rochester) |
Este é o filme mais lindo de todos, tem uma fotografia magnifica, um otimo elenco, uma otima direçao. Ele nao segue a ordem cronologica do livro, começa quando Jane Eyre foge de Thornfield e o começo da historia vem em forma de flashbacks. Tem a melhor Mrs. Fairfax (Judi Dench) e a melhor a Adele, que fala francês perfeitamente. So tem um probleminha: é muito lindo visualmente, inclusive os Mr. Rochester e a Jane sao muito bonitos, isso foge completamente da ideia principal do livro, a confrontaçao e o desprezo pela estética e beleza.
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Jane Eyre 2007, adaptaçao para TV, com Samanta Morton (Jane) e Ciarán Hinds (Rochester) |
Gostei bastante desta adaptaçao, tem o segundo melhor Rochester, é temperamental, moreno, com traços mais rusticos. A Jane também esta bem proxima da do livro.
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Jane Eyre 2006, com Charlotte Gainsbourg (Jane) e William Hurt (Rochester) |
Este filme tem um otimo elenco, um otimo diretor (Zefirelli), tem a melhor Jane criança (Anna Paquin) e a melhor Jane adulta (Charlotte Gainsbourg). A Charlotte consegue fazer o papel da Jane sem graça e sem beleza, fala francês e inglês perfeitamente e é excêntrica. Por um outro lado, tem o Rochester muito branco, traços leves e bonzinho, assim como o Fassbinder do filme de 2011.
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Jane Eyre 1943, com Joan Fontaine (Jane) e Orson Welles (Rochester) |
O elenco é otimo, tem a melhor Helen Burns (Elizabeth Taylor), a escola mais sombria e autoritaria e a mansao de Thornfield também é mais sombria. Tem o melhor Rochester de todos, Orson Welles bate exatamente com a descriçao do livro. Porém a Jane (Joan Fontaine) é a mais linda e a mais fragil de todas.
Fica a dica, Hollywood! Eis aqui minha lista de candidatos para interpretar o Rochester.
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Benicio del Toro, Javier Bardem e Russel Brand. Sao morenos e tem traços fortes |
Para ser Jane Eyre, escolheria Maisie Williams ( a Arya Stark de Game of Thrones):
Dica de diretor de filmes sombrios: Tim Burton. Imagine um filme Jane Eyre com aquela atmosfera do filme "A lenda do cavaleiro sem cabeça", sombria e aterrorizante.
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Tim Burton, salve a Jane Eyre, please! |
Vocês estao de acordo com esse elenco? Assistiriam ao meu filme? rsrssr