quinta-feira, 3 de novembro de 2011

L'histoire d'Adèle H.

Contemplação da 7ª Arte: A história de Adèle H.
Esta coisa incrível, de que uma jovem deva atravessar o oceano, passar do velho mundo para o novo e se juntar ao seu amante isso eu cumprirei.
É lindo ver a história da Adèle H. representada pela belle Isabelle Adjani que fala inglês e francês com a maior naturalidade, no filme dirigido por Truffaut.
A Adèle que não queria apenas ser filha de poeta, mas tentou sair da teoria e colocar na prática o significado do amor, transformar a poesia em vivência, cruzou o oceano até chegar em Halifax, em busca do tenente que disse que a amava.
Mesmo que você não me ame,
deixe que eu te ame.
Só que o amor dela não exigia nada em troca, nem fidelidade, nem mudanças de hábito. Esqueceu-se de quem era filha, seu amor passou a ser obsessão e loucura, começou a seguir os passos do amado onde quer que ele fosse, indo longe, chegou à Barbados.
Eu tenho a religião do amor: Não dou meu corpo sem minha alma, nem minha alma sem meu corpo.
Sempre escrevendo cartas, diários, compulsivamente, vivendo na pele o que seu pai colocava nos livros, o amor teórico não é amor de verdade, é necessário sentir, chorar, suar, desesperar-se. Ah, se o poeta soubesse quão terrível era o amor para as suas filhas, talvez renegasse sua poesia! Se soubesse que o amor nem sempre é correspondido, que as desilusões são arrebatadoras para alma. teria protegido suas filhas de tamanho sofrimento.
Já dizia seu pai, em "Les miserables": "O futuro pertence ainda mais aos corações do que aos espíritos.
Amar é a única coisa que pode ocupar a eternidade.
Ao infinito é necessário o inesgotável"
.
E para terminar, vou colocar dois vídeos da outra Adèle, a inglesa, que canta tão melancolicamente o amor, começa com "Someone like you" e termina com "Set fire to the rain". Cantora rara hoje em dia, não precisa ter um corpo escultural, nem dançarinos fazendo striptease, nem iluminação e cenários exagerados, ela só precisa ter a voz para cantar lindamente.



Never mind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you, too
Don't forget me, I beg, I remember you said
Sometimes it lasts in love
But sometimes it hurts instead



When I lay, with you, I could stay there,
Close my eyes, feel you here forever,
You and me together, nothing is better!
Cause there's a side, to you, that I never knew, never knew.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Melancolia

me.lan.co.li.a sf (gr melagkholía) 1 Psicose maníaco-depressiva. 2 Estado de humor caracterizado por uma tristeza vaga e persistente. 3 pop O mesmo que vitiligem. [Dicionário Michaelis]

É um filme apocalyptico-dramatique*, do diretor dinamarquês Lars Von Trier .O planeta Melancolia está prestes a invadir a Terra. Narra os últimos momentos vivido por uma família, no dia do casamento da Justine (Kirsten Dunst). Um noivo lindo, simpático e super atencioso, a festa super organizada pela irmã e paga pelo cunhado, um emprego bem-sucedido na área da publicidade, ainda ganha uma promoção do patrão como presente. Parece uma vida perfeita, um conto de fadas, não? Afinal, tanta mulher sonha com um momento desses... Só que Justine se sente culpada por não conseguir estar contente, nada vai estar bom o suficiente para ela, porque como diz na descrição do dicionário, é um estado de humor caracterizada de uma tristeza vaga e persistente.
A melancolia pode ser o mal do século, o motivo que levará o homem ao apocalipse (fim de todas as coisas), o ser humano não vê mais prazer em nada, na há tato, não há feeling, as pessoas querem se odiar, enclausurar-se, cortar os relacionamentos, ninguém consegue ficar mais junto, ninguém tem paciência com ninguém. Já dizia Sartre, um melancólico declarado: "O inferno são os outros"! Sim, parece que os outros nasceram só para nos infernizar.

O ELO ENTRE IRMÃS
Justine. Significa "A justa"
Claire. Significa "Alva, brilhante, iluminada"
A origem dos dois nomes é francesa.

A Justine, a ovelha negra da família, que conseguiu constranger a todos no dia do casamento, era sincera, realista beirando ao pessimismo, estava conformada com o fim do mundo, como ela mesma diz: Eu sei de tudo. Para ela, não adianta fantasiar, a verdade é nua e crua, não tem escapatória, sem esse negócio de fazer média. Levava a vida se arrastando, como se estivesse presa e enraizada (uma das cenas mais lindas!), mas no fim do mundo estava tranquila e serena, como se estivesse esperando por este momento a vida inteira.
A Claire (Charlotte Gainsbourg), a irmã bondosa, sonhadora, tentava controlar a situação, via sempre o lado bom das pessoas, tinha medo do fim do mundo, desesperava-se por causa disso, ela fantasiava demais, tentava criar um cenário de normalidade, mesmo tudo estando caótico. Era casada com um cientista que fez muitos cálculos para prever se o planeta iria atingir a Terra, mas de que vale cálculos na hora que o mundo está acabando, não é mesmo? Claire, mesmo morrendo de medo, correndo desesperada de um lado para o outro, tendo que lidar com a irmã maluquete e o marido, quer proteger o filho, tentando encontrar uma forma de poupá-lo de ver a catástrofe, não quer que ele seja invadido pela melancolia.
Apesar de serem tão diferentes, a cumplicidade das duas irmãs era o que dava forças uma para outra, Justine sabia que sempre podia contar com a Claire e vice-versa.
Lá em casa somos em duas irmãs, somos muito grudadas, eu sou a mais realista e minha irmã mais fantasiosa, explorar o relacionamento fraterno é o que me comoveu muito.

O PLANETA AZUL

Eu queria falar mais sobre o fim do mundo, sobre a mãe das meninas, tão desgostosa da vida, sobre o planeta azul, em inglês, "blue" pode ser azul ou tristeza, sobre a melancolia que nos invade de vez em quando, de não ter contentamento, já que nada nos empolga, tanto que estou sem empolgação para postar, embora tenha adorado o filme, levei quase um semana com esse texto no rascunho do blog. A trilha sonora é bem legal, principalmente a "Tristão e Isolda", de Wagner, tem tudo a ver.
Ainda assisti a outro filme meio down com a Charlotte, "The Cement Garden", rola umas relações incestuosas, o filme é meio tenso, ou seja, fui invadida pelo planeta melancolia.
Chega por hoje! Amanhã estarei feliz

apocalyptico-dramatique* é o nome da música da banda francesa Tryo, escute aqui.

sábado, 17 de setembro de 2011

Um pouco de Augusto dos Anjos

Minha sombra
Monólogo de uma sombra

Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras...
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!
[...]

Idealismo

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

Eterna mágoa

O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!

Queixas noturnas

[...]
Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde.
[...]
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.
[...]
Melancolia! Estende-me a tu’asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa!

Suprême convulsion

[...]
Sonho, - libertação do homem cativo -
Ruptura do equilíbrio subjetivo,
Ah! foi teu beijo convulsionador
Que produziu este contraste fundo
Entre a abundância do que eu sou, no Mundo,
E a nada do meu homem interior!

Homo Infimus

Homem, carne sem luz, criatura cega,
Realidade geográfica infeliz,
O Universo calado te renega
E a tua própria boca te maldiz!
[...]
Deixa a tua alegria aos seres brutos,
Porque, na superfície do planeta,
Tu só tens um direito: - o de chorar!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

filmes da semana



Kontakt. Macedônia. Um ex-presidiário, sai da prisão e vai trabalhar na casa de uma mulher que estava internada em um hospital psiquiátrico. Um romance às avessas. Gostosinho de assistir, é cômico e sensível.
♥♥♥
Barney's version. EUA. Sou fã do ator Paul Giamatti, ele é ótimo, este filme narra a versão do amor do personagem dele. Ele só se metia em enrascada, até que conheceu a mulher da sua vida no dia do seu próprio casamento com outra pessoa (doideira! rsrs). Aí começa a aventura, o que a gente não faz por amor, não é? A gente se declara, se humilha, entra na 'mó' deprê. rsrs ♥♥♥

The Human Resources Manager. Israel. É um filme que mostra a alienação nas empresas, o setor de Recursos Humanos que deveria conhecer e ter controle do pessoal, mas nem isso. Morre uma funcionária romena em um atentado suicida, ninguém reclama o corpo até que descobrem onde ele trabalhava, na verdade ela já tinha saído, mas recebia um dinheiro. Um jornalista pedante disse que iria denunciar no jornal a empresa panificadora se o gerente não tomasse as providências do reconhecimento do corpo, do traslado para Romênia, do enterro e de toda parte burocrática. Lá vai o tal do gerente para via crucis, nesta viagem ele conhece a vida da funcionária, a família dela, as dificuldades que ela enfrentava. Bem bacana! É, minha gente, dependendo de onde a gente trabalha, lá tem é Recursos (Des)umanos. Abafa o caso! ♥♥♥♥

O grande chefe. Dinamarca. Uma comédia de humor negro, do diretor Lars von Trier. Um empresário não quer dizer que é dono da empresa, então inventa um presidente fictício, depois de um tempo, ele contrata um ator desempregado para assumir o papel do presidente e ouvir as reclamações dos funcionários, aos poucos o ator se envolve com a situação e se perde entre a atuação e a realidade, tenta interferir, ajudar, escutar, mesmo não entendendo patavinas do que os gerentes dizem. O filme é uma denúncia sobre trabalhos para empresas e trabalhos para arte. O artista, mesmo tendo talento, tem que se vender para as empresas
Aqui temos um ator eficiente e desempregado que miraculosamente conseguiu um trabalho.
O ator segue a linha do dramaturgo Gambini (fui pesquisar p/ ver se existia ,já que nunca tinha ouvido falar, mas Antonio Stavro Gambini  é fictício, segundo Lars von Trier, foi  inspirado no Ibsen). Adorei  "O monólogo dos limpadores de chaminés", da peça "A cidade sem chaminés",  e "O gato enforcado" de Gambini. Ser um limpador de chaminé em uma cidade sem chaminés, é a mesma coisa de ser ator em uma cidade sem teatro, sem incentivo à cultura (minha opinião!).
Também tem uma rixa entre islandeses e dinamarqueses, um quer se mostrar melhor que o outro, os islandeses acham os dinamarqueses sem graça, emotivos demais, enrolam e fazem piada com tudo. Tanto que o islandês diz:
Aquele que negocia com homens sem caráter negocia com ninguém.
Achei interessante quando ele fala do cinema dentro do cinema, na literatura a gente fala intertextualidade para texto dentro de outro texto, desconheço a palavra para o cinema. Ele mencionou o Dogma 95, movimento cinematográfico que ele ajudou a criar. A frase é do ator/presidente no ambiente de trabalho.

A vida é como um filme de Dogma. É difícil escutar o que eles dizem, mas as palavras continuam importante.

Sou suspeita para falar do cinema do Lars, sempre que vejo um filme dele, sou instigada a fazer pesquisas, ler sobre determinado assunto abordado no roteiro, sempre me deixa pensando por horas a fio.
Não, ainda não vi Melancolia, vou tentar ver esta semana, estava muito melancólica semana passada, poderia cometer um suicídio se eu fosse vê-lo (brincadeira, não me internem! rsrs). ♥♥♥♥



*   ♥ gosto pouco | ♥♥ gosto +/- | ♥♥♥ é bom! | ♥♥♥♥ é muito bom!  | ♥♥♥♥♥ maravilhoso!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Desafio Literário: Memórias Póstumas de Brás Cubas

Para o Desafio Literário, o tema de agosto era ler um clássico da Literatura brasileira, escolhi "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, li a primeira vez aos 14 ou 15 anos, meu livro está até amareladinho de tão velho, eu grifava as palavras que eu não entendia e depois procurava no dicionário.
Este livro é um marco do "Realismo", mostra o interior dos personagens, suas contradições e problemáticas existenciais. Foi escrito sob forma de um epitáfio, é um defundo autor que tinha morrido de pneumonia, contando detalhes do seu funeral:
"E foi assim que cheguei a cláusula dos meus dias, pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido."
Antes de morrer estava inventando um medicamento sublime, o Emplasto Brás Cubas
"Emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar nossa melancólica humanidade".
Em seguida narra sua vida desde a infância, moleque serelepe, judiava do escravo, fazia o que queria. Sua primeira paixão foi Marcela, gastou uma grana preta comprando joias para adorná-la:
"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis."
É mandado para estudar em Coimbra - Portugal, a contra gosto. Volta e enamora de Eugênia, a coxa de nascença:
"Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza às vezes é um tremendo escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?"
O pai dele tenta arranjar um casamento com a filha de um político, a Virgília. No entanto, ela casa com um político mais influente e bem-sucedido e torna-se amante de Brás Cubas.
Ele reencontra Quincas Borba, colega dos tempos de escola, tinha virado mendigo, depois retorna como grande pensador que apresenta uma doutrina filosófica que criara, o Humanitismo. Quincas enlouquece e morre.
Briga com a irmã Sabina por causa de herança, mas depois fazem as pazes.
Tentou mais uma vez casar, agora com Eulália que faleceu aos 19 anos.
O resumo deste livro, encontra-se no último capítulo "Das negativas":
"Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não conheci o casamento. Coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto.
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria".
O interessante deste livro também é o recurso da metalinguagem, o autor interage com o leitor. Também usa muito de ironia e gosta de quebrar o gelo entre um capítulo e outro, como mostra o capítulo da foto, "Inutilidade" e em seguida, o capítulo "Parentesis"

Este livro é casto, ao menos na intenção [M.de A.]
Capítulo 119: Parêntesis
Suporta-se com paciência a cólica do próximo.
Crê em ti; mas nem sempre duvide dos outros.
Não te irrites se te pagarem mal um benefício, antes cair das nuvens que de um terceiro andar.

As virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o deficit.

Curiosidade: O Woody Allen disse que este livro está entre um dos seus preferidos, leia aqui.

PS: Machado de Assis é um dos orgulhos que tenho em ser brasileira! Ah, se esse país estimulasse a leitura e a escrita, talvez teríamos muitos Machados por aí.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O pagador de promessas - Dias Gomes

Como notaram, estou super empolgada com o tema do Desafio Literário. Peças teatrais são textos curtos, por isso dá para ler bastante, tenho várias peças em casa, mas só lia Shakespeare e Samuel Beckett, estou 'desenterrando' as outras, além de Brecht, estou consumindo a dramaturgia brasileira: Nelson Rodrigues, Chico de Assis, Dias Gomes e na próxima semana, Plínio Marcos. O que falta para os brasileiros descobrir o Brasil? Incentivo, porque estes textos tem em qualquer livraria, estão lá empoeirados, mas não temos professores ou pais motivados que incentivam os alunos/ filhos a terem acesso a esta arte. Sempre digo, se alguns de nossos autores tivessem nascido na Europa, as obras seriam melhor difundidas. Por isso faço questão, se conseguir convencer poucas pessoas que leem este blog a levar a obra destes autores adiante, já fiz a minha parte.

O pagador de promessas é um espetáculo que virou filme, o primeiro filme brasileiro que concorreu ao Oscar e ganhou o prêmio no Festival de Cannes.
O pagador de promessas é, talvez a mais importante obra do saudoso Dias Gomes. Não é simplesmente o aspecto da intolerância religiosa que importa, nem tampouco o dogmatismo religioso. Num país como o nosso, onde o sincretismo das religiões convive cotidianamente em quase todas as atividades, a simbologia do Zé do Burro é um grito contra a engrenagem desumana que sufoca que sufoca e limita anseios de liberdade [José Renato - Diretor teatral]
Principais personagens:
Zé do Burro: o homem que faz uma promessa a Santa Bárbara, se ele alcançasse a graça, daria metade de sua propriedade aos pobres e levaria uma cruz até o altar da igreja de Santa Bárbara que fica a 42 km, trajeto que ele e sua esposa fizeram a pé. Ele além de ser religioso, é supersticioso, procura o santo que possa ajudá-lo, independente de ser fiel apenas ao catolicismo.
Rosa: Esposa do Zé do Burro, uma mulher bonita, sexy e que de uma certa forma sente-se enclausurada e sem perspectiva de ser feliz.
Bonitão: Um cafetão que vê o casal chegando de madrugada na porta da igreja e propõe a Rosa que vá descansar em um hotel, pois o Zé, obcecado pela promessa, não arreda o pé enquanto a igreja não abrir.
Padre: O padre é um homem bem austero, não aceita que o Zé entre na igreja para cumprir a promessa, primeiro que a promessa era para que seu burro fosse curado, ele não concordava com isso. Segundo, a promessa foi feita a Iansã, no Candomblé; mas Iansã e Santa Bárbara tem a mesma função, são a mesma pessoa. O padre proibe a entrada do Zé com a cruz na igreja, isso causou burburinho na cidade.
Repórter: Em busca de uma boa pauta para o jornal, ele conta a história do Zé de uma forma totalmente distorcida, Zé nem entende o que o repórter está dizendo, mas coopera e tira até fotos para a matéria do jornal.
Zé na sua ingenuidade falando com o padre sobre fazer uma promessa pelo burro:
Nicolau não é um burro como os outros. É um burro com alma de gente. E faz isso por amizade, por dedicação. Eu nunca monto nele, prefiro andar a pé ou a cavalo. Mas de um modo ou de outro ele vem atrás. Se eu entrar numa casa e demorar duas horas, duas horas ele espera por mim, plantado na porta. Um burro desses, seu padre, não vale uma promessa?
[Padre] A igreja é de Deus, candomblé é do diabo
Repórter com suas perguntas comprometedoras e capiciosas.
Repartir o sítio... diga-me, o senhor é a favor da reforma agrária?
[Zé] Reforma agrária? O que é isso?
[Repórter] É o que o senhor acaba de fazer em seu sítio. Redistribuição de terras entre aqueles que não as possuem..
É contra a exploração do homem pelo homem. O senhor pertence a algum partido político?
Notícia publicada na gazeta:
O novo Messias prega a revolução
Sete léguas carregando uma cruz, pela reforma agrária e contra a exploração do homem pelo homem. Para o vigário da paróquia de Santa Bárbara, é satanás disfarçado. Quem será afinal Zé do Burro? Um místico ou um agitador?
[Rosa] Não entendi muito bem o que botaram na gazeta, mas uma coisa me diz que isso não é bom.

Depois de um tempo, a polícia já estava no caso, por fim, o homem que só queria pagar uma promessa, já era acusado de ser líder comunista, terrorista, de ter ameçado o padre e querendo invadir a igreja. Fim de gente assim, morte em praça pública. Virou mártir
Assim termina a história de Zé, um zé-ninguém que virou ameaça para políticos e religiosos. Parece absurdo? Não, há muitos que sofrem injustiças, não são compreendidos, a imprensa deturpa as informações, o marketing político e religioso oprimem as mentes, mas estamos muito ocupados e cegos para dar conta de tudo isso.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A peça didática de Baden-Baden sobre o acordo - Brecht

"A peça didática de Baden-Baden sobre o acordo" é como uma continuidade do "Voo sobre o oceano", por isso recomendo, para quem não acompanha o blog e não leu, vai lá ler primeiro o "Voo"  e depois volta para cá.
Para quem já leu, continuemos então:
São três mecânicos e um aviador acidentados, eles estão contentes em saber que os aviões estão melhores, apesar dos acidentes que acontecem de vez em quando, eles não querem morrer, mas ninguém está preocupado com eles e sim com a continuação em criar máquinas ainda mais potentes e seguras.

INQUÉRITO PARA SABER SE O HOMEM AJUDA O HOMEM

Primeiro inquérito

O lider do coro se adianta - Um de nós atravessou o mar e descobriu um novo continente, mas muitos depois dele. Lá construíram grandes cidades com muito esforço e inteligência.
Coro retruca - Nem por isso o pão ficou mais barato.
O lider do coro - Muitos de nós meditaram sobre o movimento da Terra ao redor do Sol, sobre o mais íntimo do homem, as leis gerais, a composição do ar e sobre os peixes abissais. E descobriram grandes coisas.
Coro retruca - Nem por isso o pão ficou mais barato. Pelo contrário, a miséria aumentou em nossas cidades, e já há muito tempo ninguém sabe o que é um homem. Por exemplo: Enquanto vocês voavam, rastejava pelo chão algo semelhante a vocês, não como um homem!
O lider do coro dirigindo-se à multidão - Então o homem não ajuda o homem?
A multidão responde - Não!


A RECUSA DA AJUDA



Multidão lê para si mesmo - Certamente vocês já observaram a ajuda em mais de um lugar, sob diferentes formas, gerada por um estado de coisas que ainda não conseguimos dispensar: A violência. Contudo, nós aconselhamos a enfrentar a cruel realidade com uma crueldade ainda maior. E, abandonando o estado de coisas que gera a necessidade, abandone a necessidade. Portanto, não contem com ajuda: Recusar a ajuda supõe violência. Enquanto a violência impera, a ajuda poderá ser recusada. Quando não mais imperar a violância, a ajuda não será mais necessária. Por isso, em vez de reclamar ajuda, é preciso abolir a violência. Ajuda e violência constituem um todo, e é este todo que é preciso transformar.

O ACORDO
O coro dirigindo- se aos três mecânicos acidentados - Morram sua morte como têm realizado seu trabalho, revolucionando uma revolução. Morrendo, não se preocupe com a morte, mas recebam de nós a tarefa de reconstruir nosso avião. Comecem! A fim de voarem para nós, aonde precisarmos de vocês e no momento em que for necessário.
E lhe pedimos: Transformem o nosso motor e aperfeiçoem-no, façam aumentar a segurança e a velocidade.

Como mencionado no comentário que fiz sobre a peça "Voo sobre o oceano", o homem não se preocupa com o homem, se os mecânicos estão acidentados, quem se importa? O importante é saber se o voo vai continuar com mais segurança. É muito visível nos dias de hoje, se um trem descarrilha, ninguém quer saber se tem pessoas feridas, começam a xingar porque o próximo trem não virá, a pessoa terá que procurar outro meio de transporte. A vida hoje não vale um tostão, o imediatismo está em se orgulhar do progresso, da rapidez, do valorizar as coisas e humilhar as pessoas. talvez Brecht quisesse que seus textos fossem um meio de reflexão e mudança, mas infelizmente tenho uma má notícia, não tenho esperança de ver a valorização da raça humana, pelo contrário, a cada dia as pessoas estão mais egoístas, intolerantes e solitárias. Já cantava Lulu Santos:
Assim caminha a humanidade
Com passos de formiga
E sem vontade...

sábado, 18 de junho de 2011

O voo sobre o oceano - Bertold Brecht

Escolhi mais uma peça de Brecht para o Desafio Literário, "Voo sobre o oceano" é uma peça radiofônica, baseada no voo de Lindbergh, um fascista que manteve estreitas relações com os nazistas e desempenhou um papel bastante ambíguo nos EUA. Brecht omitiu o nome de Lindbergh por: "Meu nome não interessa", pois ele queria mesmo mostrar o homem alcançando alturas, construindo máquinas potentes e esquecendo de olhar para o próximo que está rastejando.



IDEOLOGIA

Os aviadores

Muitos dizem que os tempos são velhos, mas eu sempre soube que vivemos num tempo novo. [...]
Corre a notícia: o imenso e temível oceano não passa de um pequeno lago.
Agora sou o primeiro a sobrevoar o Atlântico, mas estou convencido que amanhã mesmo vocês rirão do meu voo.

mas esta é uma batalha contra o que é primitivo e um esforço para melhorar o planeta, semelhante à economia dialética que transformará o mundo desde sua base. Portanto, lutemos contra a natureza até nos tornarmos naturais.

[...] Pois a humanidade se divide em duas: Exploração e Ignorância [...]

Mesmo nas cidades melhoradas ainda prevalece a desordem, que nasce da ignorância e se parece com Deus. Porém, as máquinas e os operários a combaterão. E vocês devem participar da luta contra o que é primitivo.

DURANTE O VOO OS JORNAIS AMERICANOS NÃO CESSAM DE FALAR SOBRE A SORTE DOS AVIADORES

Quando aquele que tem sorte sobrevoa o mar, as tempestades se retraem,
se as tempestades não se retraem, o motor aguenta,
se o motor não aguenta, o homem aguenta,
se o homem não aguenta, a sorte aguenta.
Por isso acreditamos que o homem de sorte chegará

Quem espera alguém?
E mesmo aquele que ninguém espera precisa chegar. A coragem não é nada, chegar é tudo.

RELATÓRIO SOBRE O QUE AINDA NÃO FOI ALCANÇADO

RÁDIO E AVIADORES - No tempo que a humanidade começava a se conhecer, nós construímos veículos com madeira, ferro e vidro, e atravessamos os ares voando. Por sinal, a uma velocidade superior em mais de um dobro de um furacão. E na verdade, os nossos motores eram mais fortes que cem cavalos, mas menores que cada um deles.
Durante mil anos, tudo caiu de cima para baixo, com exceção dos pássaros. Nem mesmo nas antigas pedras encontramos qualquer indício de algum homem tenha atravessado os ares voando, mas nós erguemos, próximo ao fim do 3º milênio de nossa era, ergue-se ingenuidade de aço, mostrando o que é possivel, sem nos deixar esquecer: O QUE AINDA NÃO FOI ALCANÇADO.  A isto dedico este relato.

PS: Depois do voo sobre o oceano, o homem já foi à lua, conquistou o universo, os voos estão mais longínquos e ainda estamos nos esquecemos do que precisa ser alcançado, a igualdade, a fraternidade, a tolerância, a igualdade social. A ciência evolui  a passos tão rápidos quanto a velocidade da luz, mas ainda o homem não entende o homem, o homem massacra o homem, o homem odeia o homem. Gasta-se milhões para descobrir o que há espaço sideral, milhões para financiar guerras, mas nunca tem dinheiro para matar a fome da criança, erradicar doenças curáveis, salvar o meio ambiente da destruição. Se o governo propõe ajuda financeira aos miseráveis, os pagadores de impostos não se conformam, quer mais que o miserável morra, investir em estradas, carros, trens, meios que transportam o homem mais rápido para onde ele nem sabe se quer ir, isso sim é levado em consideração.

domingo, 5 de junho de 2011

Desafio literário: Peça teatral - Missa Leiga - Chico de Assis

Escolhi essa peça porque admiro profundamente o Chico de Assis, sagitariano, rebelde, de esquerda, alguém que quando abre a boca, te hipnotiza, fiz aulas de dramaturgia com ele no Teatro Sérgio Cardoso, não tinha pretensão de escrever para teatro, mas adorava as aulas só para ouvir "os causos" do grande mestre. Para mim, ele é um grande gênio brasileiro que o Brasil não reconhece, pois não não valoriza o teatro, muito menos quem escreve para teatro.
Missa Leiga, nas palavras do Chico, é uma oração pelo destino do homem e do mundo. Entre conhecer o homem e Deus, temos mais oportunidade de conhecer a humanidade. Eu assisti à peça, mas não tinha lido o texto ainda. Segue abaixo alguns fragmentos que me deu preguiça de digitar, mas valeu a pena.

Cena 4: Despojamento 
Corifeu
É possivel que o homem fosse criado para ser abandonado?
É possivel que o criador deixasse o homem de lado por causa do pecado?
É possível que o sofrimento esteja nos planos de Deus?
É possivel que a angústia seja um mandado divino?
É possível que a violência seja um acordo entre Jeová, Senhor dos exércitos, e a humilde condição humana?
É possivel que a dor e a fome sejam um legado da onipotência?

Cena 5: O sacrifício
Ator 1: Quem está disposto a ser traído? Não por um estranho, mas pelo seu melhor amigo?

Cena 20: Encerramento

Corifeu
Sermão secular e leigo que procede o encerramento dessa missa. Nos acostumamos à morte e ao genocídio como adquirimos vícios gerais, como fumar e beber. Estamos resistentes e intoxicados a qualquer notícia. Esperamos, como num jogo, ser personagem da tragédia. Aí então, nos desesperamos e tomamos providências. Aí então, gritamos, mas ninguém nos ouve porque o ar está poluído de berros lancinantes. Aí então, tentamos explicar o mal do mundo, mas ninguém nos ouve, ninguém tem ouvido para essas coisas.
Somos vítimas sintomáticas do nosso desinteresse pela vida, pela nossa apropriação sôfrega das migalhas e farrapos da alegria, sobradas do contínuo festim da violência.
A solidariedade humana é uma doutrina de condenados à morte, imediatos. O amor é o privilégio dos que vivem sob o risco da vida, nos andaimes do mundo, sob a marca da fatalidade planejada, marginal, debaixo das ordem de guerra e destruição. Quem entende de perigos é o equilibrista.
Quem sabe da felicidade é o recem-afogado no mar. Certas facilidades de sobreviência egoístas e pessoais castram no homem sua sensibilidade geral. A notícia do mundo é tão tragicamente forte que a humanidade devia chorar e se afogar num antidilúvio de lágrimas ou então refletir em formas de tortura, repensar as várias modalidades de assassinato, mastigar a fome e engolí-la sem água. O homem está calmo e feliz à esperam que invadam a sua casa, atirem sobre seu filho e violentem sua mulher.
Isso já aconteceu, só falta perceber esta humanidade contraditória, esta procura por seres abandonados à sua própria sorte por entre pedaços de corpos. Vamos escolhendo veredas que nos levem a todos, ao encontro do melhor lugar, onde será feita a nossa seara de sangue. É preciso começar alguma coisa que liberte a vida, que não limite o conhecimento pelas grades dos sentidos: olhos, ouvidos, olfato, tato e sonho.
Só uma consciência em cacos entende um mundo despedaçado. Só um ser inacabado e abandonado tem terror do finito e do infinito. É preciso seres desiguais e concordantes ao invés de iguais e discordantes. E isso já basta para uma nova forma de amor.

Corifeu
Deixa que eu seja como a flor do mato, semeada pelo vento ao sabor do acaso, Senhor!
Deixa que eu seja como o riacho louco que desenha em curvas inúteis sua própria estrada, Senhor!
Deixa que eu seja como a ave que acaba de aprender a usar as asas, mas não sabe para onde voar, apenas voa, Senhor!
Deixa que eu viva em constante amor sem poder saber nunca o que é o amor.

GRUPO 1: Vamos afastar do altar divino
GRUPO 2: Com as mãos limpas e lavadas e no rosto uma aparência de paz!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Desafio Literário: 1984 - George Orwell

Para o Desafio Literário do mês de abril, escolhi a leitura do livro 1984. de George Orwell. Não sei o por quê ainda não tinha lido esse livro, é muito bom! Tem que constar no top 10 you must read. Já tinha lido o "A Revolução dos bichos" do mesmo autor e gostado bastante, mas esse superou minhas expectativas.
O cartaz acima: "Big Brother is watching you", estava espalhado por toda parte. Local: Londres. Ano: talvez em 1984. O helicóptero da Patrulha da Polícia descia beirando os telhados, espiando  as janelas do povo, mas eles não eram dos males o pior, pois tinha a Polícia do Pensamento. Idioma: Novilíngua. Lema do Partido: "Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância e força". Winston (personagem principal) apaixona-se por Júlia, ela fazia parte de Liga Juvenil Anti-sexo. Obs: Era proibido apaixonar-se ou casar por amor, fazer sexo era apenas com intuito de procriação.
É um livro distopico, político, existencialista, provocador, reflete sobre direitos humanos, direito do indivíduo, abuso de poder, repressão, lavagem cerebral, torturas e poder da mídia.

Fragmentos do livro:

Eram as sedes dos quatro Ministérios que entre si dividiam todas as funções do governo: o Ministério da Verdade, que se ocupava das notícias, diversões, instrução e belas artes; o Ministério da Paz, que se ocupava da guerra; o Ministério do Amor, que mantinha a lei e a ordem; e o Ministério da Fartura, que acudia às atividades econômicas. Seus nomes, em Novilíngua: Miniver, Minipaz, Miniamo e Minifarto.

Quase todas as crianças eram horríveis. O pior de tudo é que, com auxílio de organizações tais como os Espiões, eram sistematicamente transformadas em pequenos selvagens incontroláveis, e no entanto nelas não se produzia qualquer tendência de se rebelar contra a disciplina do Partido. Ao contrário, adoravam o Partido, e tudo quanto tinha ligação com ele. As canções, as procissões, as bandeiras, as caminhadas, a ordem unida com fuzis de madeira, berrar palavras de ordem, adorar o Grande Irmão - era para elas uma espécie de jogo formidável. Toda sua ferocidade era posta para fora, dirigida contra os inimigos do Estado, contra os forasteiros, traidores, sabotadores, ideocriminosos. Era quase normal que as pessoas de mais de trinta tivessem medo dos próprios filhos. E com fartos motivos, pois rara era a semana em que o Times não publicasse um tópico contando como um pequeno salafrário - "herói infantil" era a expressão usada- ouvira alguma observação comprometedora e denunciara os pais à Polícia do Pensamento.

Havia toda uma série de departamentos autônomos que tratavam de literatura, música, teatro e divertimentos proletários em geral. Neles eram produzidos jornalecos ordinários que continham pouca coisa mais que notícias de esporte, polícia e astrologia, sensacionais noveletas de cinco centavos, filmes transbordando de sexo, e cançonetas sentimentais compostas inteiramente por meios mecânicos numa espécie de caleidoscópio especial denominado versificador. Havia até uma sub-seção inteira - a Pornosec, como a chamavam em Novilíngua - dedicada à produção da pornografia mais reles, embalada em envelopes fechados, e que nenhum membro do Partido, além dos que nela trabalhavam, tinha licença de ver.

- Os proles não são seres humanos, - disse ele, descuidado. - Por volta de 2050, ou antes, todo o conhecimento da Antiglíngua terá desaparecido. A literatura do passado terá sido destruida, inteirinha. Chaucer, Shakespeare, Milton, Byron - só existirão em versões Novilíngua, não apenas transformados em algo diferente, como transformados em obras contraditórias do que eram.
Até a literatura do Partido mudará. Mudarão as palavras de ordem. Como será possível dizer "liberdade é escravidão" se for abolido o conceito de liberdade?
Todo o mecanismo do pensamento será diferente. Com efeito, não haverá pensamento, como hoje o entendemos. Ortodoxia quer dizer não pensar... não precisar pensar. Ortodoxia é inconsciência.

Nosso pior inimigo, refletiu, é o sistema nervoso. A qualquer momento a tensão que há dentro da gente pode-se traduzir num sintoma visível.

Todas as crianças deveriam nascer por inseminação artificial (insemart) e educadas em instituições públicas. Isto, Winston sabia, não era para se levar de todo a sério, mas de certo modo se encaixava na ideologia geral do Partido. O Partido estava tentando matar o instinto sexual, ou, se não fosse possível matá-lo, torcê-lo e torná-lo indecente. Ele não sabia o porque dessa conduta, mas assim era, e lhe parecia natural que assim fosse.

Winston escreveu em seu diário secreto: Não se revoltarão enquanto não se tornarem conscientes, e não se tornarão conscientes enquanto não se rebelarem.

O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Desafio literário de fevereiro: Biografia ou memórias

 Esta música é feita daquilo que desfaz o músico [Christian David]

Para o Desafio escolhi a biografia da Clara Schumann. Estava assistindo o canal "Film & Arts" e teve um especial "Mulheres na música clássica", uma dessas mulheres homenageada foi a Clara e achei muito linda as composições dela e depois procurando na internet, vi que tinha uma biografia dela escrita por Catherine Lépront, fazia parte da coleção "Uma mulher", lançada pela Editora Martins Fontes, nessa coleção, além da Clara, tem da Frida Kahlo, Camille Claudel, Anita Garibaldi, Marie Cure, entre outras.

A saga para achar o livro:

Não achei em nenhuma livraria, nem sebo, nem e-books, entrei em contato com a Martins Fontes e eles pararam de distribuir, aí fui para internet, no Mercado Livre estava esgotado, no Amazon não tinha em português, sabe onde achei? Nas americanas(dot)com, fiquei muito feliz, o livro chegou em 2 dias, veio amarelado, como se tivesse estocado por muito tempo, mas eu consegui e não me arrependi.

Infância
O pai de Clara era professor de música, um dos mais respeitados da época, a mãe não suportava aquela música o dia inteiro na casa, abandonou o marido e os três filhos. Clara aprendeu música antes mesmo de ser alfabetizada e aos 7 anos iniciou sua carreira. Todos ficavam surpreendidos com a menina prodígio, ela tocou até para Goethe. Aos 9 anos, chegou em sua casa um jovem músico bem promissor interessado em fazer aulas com pai dela, na época com 18 anos, seu nome era Robert Schumann, as crianças gostavam dele pois contava histórias de dar medo. Clara, aos 15 anos, recebeu sua 1ª declaração de amor vinda de Robert que estava noivo de outra, mas terminou o namoro. O pai de Clara, após descobrir o caso dos dois, proibiu-a de encontrar, e até trocar cartas com Robert.
Robert e Clara

Casamento
Robert e Clara continuaram suas carreiras e ficaram anos sem se ver, mas mantiveram a promessa de amor e de se casar assim que ela fizesse 21 anos. Hoje em dia não existe amor assim. Eles moveram montanhas para ficarem juntos, o pai dela ameaçou tirar tudo dela, eles só casaram em juízo, depois de processos na justiça de Robert contra o pai e vice-versa, ela sacrificou a seu amor pela família por amor a Robert.
Casaram e Robert tornou-se obsessivo pelo trabalho, passava horas ao piano e Clara passava muito tempo só, mas apoiava o marido, o homem que ela amou, venerou, lutou.

Filhos
Clara teve no total, 8 filhos, o 4º filho e único menino até então, morreu com menos de 2 anos, foi um choque que deixou o casal muito abalado, mas mesmo assim continuaram lutando por manter a família e as carreiras.
Depois, sua filha Julie morreu aos 28 anos de tuberculose, deixando três filhos. Seu filho Ferdinand foi para guerra e voltou com a mesma doença herdada pela mãe, o reumatismo. Esta doença manteve Clara muitas vezes fora dos palcos e agora fez seu filho dependente de morfina por não suportar as dores crônicas.
Não só Clara tinha uma doença grave, Robert enlouqueceu, passou os últimos 3 anos de sua vida internado numa clínica, infelizmente um dos filhos, o Ludwig também herdou os problemas psiquiátricos do pai e passou a vida internado, Felix também estava com tuberculose.

Carreira
Com Robert internado e com 7 filhos para criar, ela voltou ao trabalho, teve uma carreira de sucesso, tinha grandes amigos como: Mendelsson, Liszt, Josef Joachim e o Brahms. Ela odiava o antissemita Wagner.

Johannes Brahms
Brahms
Jovem, chegou com 20 anos na casa dos Schumann, Robert viu nele uma genialidade, viraram amigos. Depois que Robert foi internado, Brahms nunca abandonou Clara, ele arrumava umas noivas, mas nunca se casou porque nunca encontrou uma mulher como ela. Não se sabe ao certo o tipo de relação dos dois, trocavam cartas muito informais, cheias de demonstrações de carinho, ela o chamava de "anjo consolador", ele, após criar uma composição, pedia primeiramente o aval dela, os dois eram muito confidentes.

Velhice
Clara demonstrava muito carinho e admiração por Robert, mesmo depois de morto, ela não se casou de novo, além do reumatismo ela passou a ter problemas de surdez. Seu trabalho foi comparado ao de Liszt,  mas, por ser mulher, não teve tanto reconhecimento na história, ficou meio à sombra do marido, mas foi guerreira, enfrentou o próprio pai, lutou por seu amor, pela maternidadade, enfrentou guerras, doenças, falta de grana, mesmo com todos esses problemas, manteve sua carreira brilhante. Ela é um exemplo para todas as mulheres de coragem, inteligência e de admiração.
Letras de alguns Lieder  (tradução livre feita por mim, se alguém conhece alguma tradução oficial ou viu algum erro, favor, avise-me): 

Er ist gekommen in Sturm und Regen (ele vem na tempestade e na chuva)

Ele vem na tempestade e na chuva
Meu ansioso coração bate por ele
Como eu saberia que seu caminho
Uniria-se ao meu?

Ele vem na tempestade e na chuva
Ele audaciosamente roubou meu coração.
Ele roubou o meu? Eu roubei o dele?
Ambos viemos juntos.

Ele vem na tempestade e na chuva
Agora vem com a benção da primavera
Meu amor salta para fora, eu observo com regozijo


Liebst du um Schönheit (amor pela beleza)
Se você me ama pela beleza,
não me ame
Ame o sol
que tem cabelos dourados

Se você me ama pela juventude,
não me ame
ame a primavera
que se renova todos os anos

Se você ama tesouros,
não me ame
Ame a sereia
ela tem muitas pérolas claras.

Se você me ama por amor
ah, sim, então me ame
ama-me sempre
Te amarei muito mais


Warum willst du and're fragen
(Por que vai questionar os outros?)

Por que vai questionar os outros
que não são fiéis à você?
Acredite apenas naquilo
que esses olhos dizem

Acredite, não em pessoas estranhas,
acredite, não em fantasias peculiares
mesmo minhas ações, você não poderia interpretar,
mas olhe nestes olhos

Silenciará seus lábios suas questões
ou se voltarão contra mim?
Mesmo que meus labios pudessem dizer,
olhe meus olhos: te amo!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ballerinas' thriller

Coincidentemente esta semana assisti a dois filmes sobre bailarinas, mas não era um filme de apresentação de lindos espetáculos, pelo contrário, os dois são thrillers mesmo. O "Black Swan" e o "Suspiria".

O "Black Swan" tem atores ótimos: Natalie Portman, Vicent Cassel e participação especial da Winona Ryder. Um grupo de ballet vai fazer uma montagem da ópera dramática "O Lago dos Cisnes", de Tchaicovsky. Thomas (Vicent Cassel) é o diretor e escolhe Nina (Natalie Portman) para ser a 1ª bailarina que vai representar o cisne branco e o cisne negro. Ela sente a pressão da responsabilidade, o cansaço físico e mental devido à horas intermináveis de ensaio, deixou-a com visões distorcidas da realidade, ela começa a ter umas paranoias. A Natalie Portman dedicou-se muito para o filme, emagreceu demais (está anorexa quase) e interpretou magnificamente uma pessoa com transtornos.
PS: Coloquei na foto acima, a tatuagem da atriz Mila Kunis, como sabem, adoro tattoos. Não sei se essa é de verdade ou é fake, mas ficou bem bonita.



O "Suspíria", do diretor italiano Dario Argento, é um terror e rola bruxaria e muito sangue. Uma bailarina sai dos EUA para estudar em uma escola de ballet na Alemanha, chegando lá ela percebe um clima meio tenso, acontece umas coisas esquisitas, ela começa a investigar o que está por trás de toda aquela loucura.

Eu gosto de filmes de horror e de bailarinas, portanto, super indico os dois!