sábado, 18 de junho de 2011

O voo sobre o oceano - Bertold Brecht

Escolhi mais uma peça de Brecht para o Desafio Literário, "Voo sobre o oceano" é uma peça radiofônica, baseada no voo de Lindbergh, um fascista que manteve estreitas relações com os nazistas e desempenhou um papel bastante ambíguo nos EUA. Brecht omitiu o nome de Lindbergh por: "Meu nome não interessa", pois ele queria mesmo mostrar o homem alcançando alturas, construindo máquinas potentes e esquecendo de olhar para o próximo que está rastejando.



IDEOLOGIA

Os aviadores

Muitos dizem que os tempos são velhos, mas eu sempre soube que vivemos num tempo novo. [...]
Corre a notícia: o imenso e temível oceano não passa de um pequeno lago.
Agora sou o primeiro a sobrevoar o Atlântico, mas estou convencido que amanhã mesmo vocês rirão do meu voo.

mas esta é uma batalha contra o que é primitivo e um esforço para melhorar o planeta, semelhante à economia dialética que transformará o mundo desde sua base. Portanto, lutemos contra a natureza até nos tornarmos naturais.

[...] Pois a humanidade se divide em duas: Exploração e Ignorância [...]

Mesmo nas cidades melhoradas ainda prevalece a desordem, que nasce da ignorância e se parece com Deus. Porém, as máquinas e os operários a combaterão. E vocês devem participar da luta contra o que é primitivo.

DURANTE O VOO OS JORNAIS AMERICANOS NÃO CESSAM DE FALAR SOBRE A SORTE DOS AVIADORES

Quando aquele que tem sorte sobrevoa o mar, as tempestades se retraem,
se as tempestades não se retraem, o motor aguenta,
se o motor não aguenta, o homem aguenta,
se o homem não aguenta, a sorte aguenta.
Por isso acreditamos que o homem de sorte chegará

Quem espera alguém?
E mesmo aquele que ninguém espera precisa chegar. A coragem não é nada, chegar é tudo.

RELATÓRIO SOBRE O QUE AINDA NÃO FOI ALCANÇADO

RÁDIO E AVIADORES - No tempo que a humanidade começava a se conhecer, nós construímos veículos com madeira, ferro e vidro, e atravessamos os ares voando. Por sinal, a uma velocidade superior em mais de um dobro de um furacão. E na verdade, os nossos motores eram mais fortes que cem cavalos, mas menores que cada um deles.
Durante mil anos, tudo caiu de cima para baixo, com exceção dos pássaros. Nem mesmo nas antigas pedras encontramos qualquer indício de algum homem tenha atravessado os ares voando, mas nós erguemos, próximo ao fim do 3º milênio de nossa era, ergue-se ingenuidade de aço, mostrando o que é possivel, sem nos deixar esquecer: O QUE AINDA NÃO FOI ALCANÇADO.  A isto dedico este relato.

PS: Depois do voo sobre o oceano, o homem já foi à lua, conquistou o universo, os voos estão mais longínquos e ainda estamos nos esquecemos do que precisa ser alcançado, a igualdade, a fraternidade, a tolerância, a igualdade social. A ciência evolui  a passos tão rápidos quanto a velocidade da luz, mas ainda o homem não entende o homem, o homem massacra o homem, o homem odeia o homem. Gasta-se milhões para descobrir o que há espaço sideral, milhões para financiar guerras, mas nunca tem dinheiro para matar a fome da criança, erradicar doenças curáveis, salvar o meio ambiente da destruição. Se o governo propõe ajuda financeira aos miseráveis, os pagadores de impostos não se conformam, quer mais que o miserável morra, investir em estradas, carros, trens, meios que transportam o homem mais rápido para onde ele nem sabe se quer ir, isso sim é levado em consideração.

3 comentários:

  1. Nossa, parece muito interessante!
    Sua resenha muito bem elaborada, aguçou a vontade de conhecer a obra!
    Parabéns!

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  2. É verdade, é o homem é o veneno do homem...um livro que enseja uma reflexão dessa, merece ser lido, sim!

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