quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O Anticristo, de Nietzsche

Continuando o curso de Pensamento Critico (recomendo para quem nao viu, consultar a parte 1 e parte 2 primeiro para nao pegar o bonde andando).

Na aula 1, descrevi o argumento de autoridade usado pela religiao e na aula 2 descrevi sobre os os dogmas e a laicidade. Hoje farei o resumo do primeiro livro que mostra o envolvimento religioso nos assuntos politicos e o dano que isto causa ao estado laico.

Em pleno ano de 2018, século 21, durante a campanha presidencial, ha candidato que usa o lema "Deus acima de tudo", evitando debates e tudo que é necessario para um estado democratico. Deus, assim como fada, unicornios e duendes, é algo subjetivo, cada um acredita se quiser, mas essa lorota ainda pega, porque a regra do dogma religioso é, ninguém questiona deus, logo nao vai questionar os que se auto-intitulam representantes dele na terra.


Quando alguém pretende representar, ele próprio, o “eleito de Deus” — ou “templo de Deus”, ou “juiz dos anjos” —, então qualquer outro critério de eleição, quer seja baseado na honestidade, no intelecto, na virilidade e no orgulho, ou na beleza e liberdade de coração, torna-se simplesmente “mundano” — o mal em si...
Como foi dito no resumo da aula 2: O exercicio do pensamento critico é incompativel com um estado teologico que é baseado numa autoridade dogmatica.
Estado laico: Caracteriza-se pela ausencia de religiao oficial e neutralidade absoluta, cada um pode se orientar como quiser. O estado laico nao privilegia e nem discrimina nenhum individuo por causa de suas crenças e trabalha em prol de todos. Garante a liberdade de consciência, diferente do estado teocratico.

O homem, no alto da sua arrogância, criou deus à sua imagem e semelhança para justificar suas atrocidades e mesquinhez.
O homem religioso pensa apenas em si mesmo.
Que não nos deixemos induzir em erro: eles dizem “não julgueis”mas condenam ao inferno tudo que fica em seu caminho. Ao deixarem Deus julgar, são eles próprios que julgam; ao glorificarem Deus, glorificam a si mesmos.

O cristianismo esta envolvido em todos os piores acontecimentos politicos e sociais desde o fim do Império Romano, passando pelas Cruzadas, Idade Média, colonizaçao, escravidao, nas Guerras, nos regimes totalitarios, etc. Sempre à caça de hereges, bruxas, mouros, comunistas, anarquistas, cientistas e por ai vai.

Tudo começa com a formaçao de rebanho (a.k.a massa de manobra) 
Paulo desejava o fim; logo, também desejava os meios. — Aquilo que ele próprio não acreditava foi prontamente engolido por suficientes idiotas entre os quais disseminou seu ensinamento. — Seu desejo era o poder; em Paulo o padre novamente quis chegar ao poder — só podia servir-se de conceitos, ensinamentos e símbolos que tiranizam as massas e formam rebanhos. Qual parte do cristianismo Maomé tomou emprestada mais tarde? A invenção de Paulo, sua técnica para estabelecer a tirania sacerdotal e organizar rebanhos: a crença na imortalidade da alma — isto é, a doutrina do “julgamento”. 
Nossa política está debilitada por essa falta de coragem!  São as valorações cristãs que convertem toda revolução em um carnaval de sangue e crime! O cristianismo é uma revolta de todas as criaturas rastejantes contra tudo que é elevado: o Evangelho dos “baixos” rebaixa...

E em seguida a servidao voluntaria, o orgulho de ser servo e domesticado
Existem pessoas sóbrias e eficientes, às quais a religião está pregada como uma orla de humanidade superior: estas fazem muito bem em permanecer religiosas, pois isso as embeleza. — Todos os homens que não entendem de um ofício qualquer das armas — a boca e a pena contam como armas — se tornam servis: para eles a religião cristã é útil, pois nela o servilismo toma o aspecto de uma virtude cristã e fica espantosamente embelezado. — Pessoas para quem a vida cotidiana é muito vazia e monótona se tornam facilmente religiosas: isto é compreensível e perdoável, mas elas não têm o direito de exigir religiosidade daquelas para quem a vida não transcorre cotidianamente vazia e monótona. (Humano, demasiado humano) 
O cristianismo visa dominar animais de rapina; sua estratégia consiste em torná-los doentes — enfraquecer é a receita cristã para domesticar, para “civilizar”. 

Medo, ameaça e ordem moral

Deus agora se torna meramente uma arma nas mãos de agitadores clericais, que interpretam toda felicidade como recompensa e toda desgraça como punição em termos de obediência ou desobediência a Deus, em termos de “pecado”: a mais fraudulenta das interpretações imagináveis, através da qual a “ordem moral do mundo” é estabelecida e os conceitos fundamentais, “causa” e “efeito”, são colocados de ponta cabeça.

A mentira sobre a “ordem moral do mundo” permeia toda a filosofia, mesmo a mais recente. 
O que significa uma “ordem moral do mundo”? Significa que existe uma coisa chamada vontade de Deus, a qual determina o que o homem deve ou não fazer; que a dignidade de um povo ou de um indivíduo deve ser medida pelo seu grau de obediência ou desobediência à vontade de Deus; que os destinos de um povo ou de um indivíduo são controlados por essa vontade de Deus, que recompensa ou pune de acordo com a obediência ou desobediência manifestadas. — Em lugar dessa deplorável mentira, a realidade teria isto a dizer: o padre, essa espécie parasitária que existe às custas da toda vida sã, usa o nome de Deus em vão: chama o estado da sociedade humana no qual ele próprio determina o valor de todas as coisas de “o reino de Deus”; chama os meios através dos quais esse estado é alcançado de “vontade de Deus”.

O Cristianismo contra a civilizaçao antiga e nas Cruzadas

O cristianismo nos fez perder todos os frutos da civilização antiga, e mais tarde nos fez perder os frutos da civilização islâmica. A maravilhosa cultura dos mouros na Espanha, que era fundamentalmente mais próxima aos nossos sentidos e gostos que Roma e Grécia, foi pisoteada (— não digo por que tipo de pés —). Por quê? Porque devia sua origem aos instintos nobres e viris — porque dizia sim à vida, e a com a rara e refinada luxuosidade da vida mourisca!... Mais tarde os cruzados combateram algo ante o qual seria mais apropriado que rastejassem — uma civilização que faria mesmo o nosso século XIX parecer muito pobre e “atrasado”. — O que queriam, obviamente, era saquear: o Oriente era rico... Coloquemos à parte os preconceitos! As cruzadas: pirataria em grande escala, nada mais!
A Igreja distancia-se até da limpeza (a primeira providência cristã após a expulsão dos mouros foi fechar os banhos públicos, dos quais havia 270 apenas em Córdoba). Também é cristã uma certa crueldade para consigo e para com os outros; o ódio aos incrédulos; o desejo de perseguir. Idéias sombrias e inquietantes ocupam o primeiro plano. É cristão todo o ódio contra o intelecto, o orgulho, a coragem, a liberdade, a libertinagem intelectual; o ódio aos sentidos, à alegria dos sentidos, à alegria em geral, é cristão... 
 Gênesis - Onde o odio à ciência e a misoginia começaram

Será que alguém já compreendeu claramente a célebre história que se encontra no início da Bíblia — a do pavor mortal de Deus ante a ciência? Ninguém, de fato, a compreendeu.Primeiro erro de Deus: para o homem esses animais não representavam diversão — ele buscava dominá-los; não queria ser um “animal”. — Então Deus criou a mulher. Com isso erradicou enfado — e muitas outras coisas também! A mulher foi o segundo erro de Deus. — “A mulher, por natureza, é uma serpente: Eva” — todo padre sabe disso; “da mulher vem todo o mal do mundo” — todo padre sabe disso também. Logo, igualmente cabe a ela a culpa pela ciência... Foi devido à mulher que o homem provou da árvore do conhecimento. — Que sucedeu? O velho Deus foi acometido por um pavor mortal. O próprio homem havia sido seu maior erro; criou para si um rival; a ciência torna os homens divinos — tudo se arruína para padres e deuses quando o homem torna-se científico! — Moral: a ciência é proibida per se; somente ela é proibida. A ciência é o primeiro dos pecados, o germe de todos os pecados, o pecado original. Toda a moral é apenas isto: “Tu não conhecerás” — o resto deduz-se disso. — O pavor de Deus, entretanto, não o impediu de ser astuto. Como se proteger contra a ciência? Por longo tempo esse foi o problema capital. Resposta: expulsando o homem do paraíso! A felicidade e a ociosidade evocam o pensar — e todos pensamentos são maus pensamentos! O homem não deve pensar. — Então o “padre” inventa a angústia, a morte, os perigos mortais do parto, toda a espécie de misérias, a decrepitude e, acima de tudo, a enfermidade — nada senão armas para alimentar a guerra contra a ciência! Os problemas não permitem que o homem pense...Apesar disso — que terrível! — o edifício do conhecimento começa a elevar-se, invadindo os céus, obscurecendo os Deuses — que fazer? — O velho Deus inventa a guerra; separa os povos; faz com que se destruam uns aos outros (— os padres sempre necessitaram de guerras...). Guerra — entre outras coisas, um grande estorvo à ciência! — Inacreditável! 
“Deus”,“espíritos”,“almas” —, como conseqüências “morais” , recompensas, punições, sinais, lições, então torna-se estéril todo o solo para o conhecimento — e com isso perpetrou-se o maior dos crimes contra a humanidade. — Repito que o pecado, essa autoprofanação par excellence, foi inventado para tornar impossível ao homem a ciência, a cultura, toda a elevação e todo o enobrecimento; o padre reina graças à invenção do pecado.
O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo e fracassado; forjou seu ideal a partir da oposição a todos os instintos de preservação da vida saudável; corrompeu até mesmo as faculdades daquelas naturezas intelectualmente mais vigorosas, ensinando que os valores intelectuais elevados são apenas pecados, descaminhos, tentações. O exemplo mais lamentável: o corrompimento de Pascal, o qual acreditava que seu intelecto havia sido destruído pelo pecado original, quando na verdade tinha sido destruído pelo cristianismo!
Todos os métodos, todos os princípios do espírito científico de hoje foram alvo, por milhares de anos, do mais profundo desprezo; caso um homem se interessasse por eles era excluído da sociedade das pessoas “decentes” — passava por “inimigo de Deus” , por zombador da verdade, por “possesso”. Enquanto homem da ciência, pertencia à Chandala (a casta mais baixa no sistema hindu.) ... Tivemos contra nós toda a patética estupidez da humanidade.
O idealista, assim como o eclesiástico, carrega todos os grandes conceitos em sua mão (— e não apenas em sua mão!); os lança com um benevolente desprezo contra o “entendimento”, os “sentidos”, a “honra”, o “bem viver”, a “ciência”; vê tais coisas abaixo de si, como forças perniciosas e sedutoras, sobre as quais “o espírito” plana como a coisa pura em si — como se a humildade, a castidade, a pobreza, em uma palavra, a santidade, não tivessem causado muito mais dano à vida que quaisquer outros horrores e vícios...

Religiao como fuga da realidade

No cristianismo, nem a moral nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias (“Deus”,“alma”,“eu”,“espírito”,“livre arbítrio” — ou mesmo o “não-livre”) e efeitos puramente imaginários (“pecado”,“salvação”,“graça”,“punição”,“remissão dos pecados”). Um intercurso entre seres imaginários (“Deus”,“espíritos”,“almas”); uma história naturalimaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do nervus sympathicus com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa — “arrependimento” , “peso na consciência”,“tentação do demônio”,“apresença de Deus”); uma teleologia imaginária (o “reino de Deus”,“o juízo final”, a “vida eterna”). — Esse mundo puramente fictício, com muita desvantagem, se distingue do mundo dos sonhos; o último ao menos reflete a realidade, enquanto aquele falsifica, desvaloriza e nega a realidade. Após o conceito de “natureza” ter sido usado como oposto ao conceito de “Deus”, a palavra “natural” forçosamente tomou o significado de “abominável” — todo esse mundo fictício tem sua origem no ódio contra o natural (— a realidade! —), é evidência de um profundo mal-estar com a efetividade... Isso explica tudo. Quem tem motivos para fugir da realidade? Quem sofre com ela. Mas sofrer com a realidade significa uma existência malograda... A preponderância do sofrimento sobre o prazer é a causa dessa moral e religião fictícias: mas tal preponderância, no entanto, também fornece a fórmula para a décadence...
No mundo de idéias do cristão não há qualquer coisa que sequer toque a realidade: ao contrário, reconhece-se um ódio instintivo contra a realidade como força motivadora, como único poder de motivação no fundo do cristianismo.
Uma religião como o cristianismo, que não possui um único ponto de contato com a realidade, que se esfacela no momento em que a realidade impõe seus direitos, inevitavelmente será a inimiga mortal da “sabedoria deste mundo”, ou seja, da ciência — nomeará bom tudo que serve para envenenar, caluniar e depreciar toda disciplina intelectual, toda lucidez e retidão em matéria de consciência intelectual, toda frieza nobre e liberdade de espírito.
A força e a liberdade que surgem do vigor e da plenitude intelectual se manifestam através do ceticismo.

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