sexta-feira, 29 de março de 2019

Poema: Adao e sua mulher, de Mississippi

Para fechar o mês das mulheres, traduzi o poema "Adao e sua mulher" da poeta valenciana, Marta Mississippi.


"Multiplicarei grandemente seu sofrimento na gravidez,
com dores pariras filhos. Seu desejo será para o seu marido e ele te dominará".
Malditas, arpias, traidoras!
Fomos expulsos do paraiso, onde éramos livres.
Vcs nos obrigaram a morder a maçã.
Abriram a caixa que continha os males do mundo,
e ainda assim, vocês tem a coragem de reclamar, malditas!

Gostavamos de vcs caladas pq estavam como ausentes.
Tao belas, delicadas, tao mortas!
Preferiam-nos gordas para ter onde pegar, 
até que decidiram que era melhor magras, 
vomitando no banheiro para caber no tamanho 36.

Venderam-nos a maridos para sermos propriedade deles
e se nao estavam satisfeitos, devolviam o corpo.
Assim, crescemos achando que falar era sinônimo de incomodar
e sentadinhas, com as pernas cruzadas, estavamos mais bonitas.

Convenceram-nos que as grandes decisoes 
vestiam ternos e gravatas.
Sem nenhum referencial de mulheres para apoiarmos
para além das paredes de nossa casa.
Queriam-nos nas sombras, na cozinha, e a vossos pés,
com a janta pronta, sem questionar e fazendo bebês.

Queriam-nos putas para fazer comercio e colocar dinheirinho
enquanto dançamos no pole do bar.
Nunca ao seu agrado, chefes de estado.
Tao pintadas que parecemos um quadro.
Maquia um pouquinho para cobrir as espinhas.

Apertaram tanto nossos corsets que estivemos a ponto de morrer asfixiadas.
Durante anos fomos maltratadas, menosprezadas, insultadas
mas revertemos suas palavras e estamos prontas.
Comeremos como porcas sem contar calorias,
ladraremos como cadelas defendendo a camada,
guardaremos o veneno como viboras diante de qqr ameaça

Gritaremos como histéricas denunciando injustiças.
Seremos mulheres públicas ocupando o Senado
e vamos caçar nossa própria comida como raposas

Porque sim, uma vez mais, escuta bem
mulheres tinhamos que ser.

Um comentário:

  1. Ana O. Parabéns pelo blog. A sua escrita, a sua organização do seu caos organiza outros caos. A escrita organiza caos, acalma almas inquietas. Só almas inquietas entendem outras almas inquietas. Quem tem alma não tem calma. F. Pessoa

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