quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Os livros adquiridos no kindle não são seus, esta é a última chance de salvá-los

Se você comprar um livro em uma loja física, nenhum livreiro que te vendeu vai bater na sua porta depois tentando pegá-lo de volta. Porém, se você compra no Kindle, ele não te pertence, você compra a licença e o Kindle tem o direito de apagá-lo da sua biblioteca virtual quando bem entender. 

Ao viajar para certos países, não pode utilizar o wi-fi, porque dependendo da região, o Kindle remove os livros comprados no seu país de origem. 

Antes era possivel fazer download dos seus livros para ler no computador ou em outros aparelhos, mas agora aparece uma mensagem que você terá até dia 26 de fevereiro de 2025 para fazer download, um por um, não dá para fazer download de todos ao mesmo tempo. Após o dia 26, não terá mais esta opção e seremos obrigado a ler apenas no aplicativo ou no e-reader da marca Kindle. Isto ainda não acontece com outros dispositivos como Kobo ou Boox.

Depois de fazer o download de todos os livros, é necessário baixar o programa Calibre, se você ainda não tem e o plug-in DeDRM para tirar o DRM (Digital rights management), é usado para controlar o acesso ao material protegido por direitos autorais. Esta booktuber ensina o passo-a passo.

Ao longo de mais de uma década, eu comprei 331 livros no Kindle, somando aproximadamente $3500 dólares canadenses, a maioria deles é de autores brasileiros ou italianos que gosto de ler no original. Para quem mora no exterior, era uma mão na roda comprar livros da Cia das Letras em apenas um clique.
A minha preferência por livros digitais é porque mudo bastante e ter uma biblioteca dentro do e-reader é mais prático do que carregar um monte de livros físicos, também é muito útil em viagens, ainda mais agora que a cada dia que passa as cias aéreas reduzem o peso da mala e livro pesa bastante. 
Ainda tenho muitos livros fisicos, principalmente os de artes, fotografias, HQs e livros didaticos que possuem cores e imagens.
Outra vantagem que vejo em livros digitais é que se um dia você virar um refugiado climático, é mais fácil salvar um e-reader do que uma biblioteca de livros físicos. Tenho uma amiga que perdeu tudo na enchente de Porto Alegre. Sigo o booktuber do canal Chris Library e seu namorado Benji que tem um canal sobre plantas e eles perderam os livros, as plantas, a casa inteira no incêndio de Los Angeles. É de cortar o coraçao!
Eu acho que pelo valor que paguei pelos livros me dá o direito de eles serem meus SIM e estou há três dias fazendo o download de cada um, guardando em um HD externo para protegê-los de todo mal, amém. 
Não tenho intenção de piratear ou enviar para outras pessoas, vou guardá-los só para mim, é apenas um back up, poderia ter pirateado em vez de comprá-los, se eu quisesse, mas preferi gastar uma grana considerável em respeito aos escritores que já ganham pouco e nao acho que eu devo sair prejudicada nesse jogo.

Ironicamente, tentei baixar o livro A origem da família, da propriedade privada e do estado, do Engels e apareceu uma mensagem dizendo que meu Kindle não é mais compatível com o formato do livro e  não me deixa fazer o download, é estranho... Justo este livro? É muita coincidência! Ainda bem que ja li e ele está em domínio público, é possível de baixa-lo em inglês e italiano no Project Gutemberg.


Alguns anos atrás, eles apagaram 1984 e A Revolução dos bichos, de George Orwell, porque alegaram que a editora publicou ilegalmente, infringindo alguns termos e por lei foram obrigados a remover do Kindle e devolver o dinheiro para os leitores. Leia na integra: Amazon Kindle users surprised by 'Big Brother' move.
Tem como piorar? Claro que sim. O Kindle e editoras resolveram tirar passagens racistas ou preconceituosas de livros para passar pano para os autores, muitos deles já mortos, logo sem o consentimentos dos mesmos. Veja mais neste artigo do NYT.
Para mim é importantíssimo manter a versão original para que possamos ver como os racistas se sentiam no direito de subjugar os outros sem nenhuma punição.

Muito coerente com uma passagem de 1984, Winston, o personagem, era arquivista, assim como eu sou e seu trabalho era fazer o revisionismo histórico e a redução da lingua:
“Esse processo de alteração contínua aplicava-se não apenas a jornais, como também a livros, publicações periódicas, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, bandas de som, caricaturas, fotografias - a toda espécie de literatura ou documentação que pudesse ter o menor significado político ou ideológico. Dia a dia e quase minuto a minuto o passado era atualizado. Desta forma, era possível demonstrar, com prova documental, a correção de todas as profecias do Partido; jamais continuava no arquivo uma notícia, artigo ou opinião que entrasse em conflito com as necessidades do momento. Toda a história era um palimpsesto, raspado e reescrito tantas vezes quantas fosse necessário.
Os livros também eram recolhidos e reescritos uma porção de vezes e invariavelmente entregues aos leitores sem admissão alguma da troca”.
Aqui no Canada é possivel comprar e-books direto do site da livraria, em formato EPUB que é aceito em todos dispositivos eletrônicos, exceto o Kindle. O sistema de bibliotecas também utiliza EPUB, logo nao fico sem acesso a livros em inglês e francês. Para livros em português, posso comprar no Kobo.

Exemplo de uma livraria virtual do Canada, clique na imagem para ampliar. Tem uma mensagem no quadrado cinza  informando que o livro é no formato EPUB e sem DRM.

Como mencionei em um post anterior, estou boicotando ao máximo os tech bros, esses bilionários que querem controlar tudo o que a gente consome, inclusive as nossas leituras. Não entendo como é legalmente aceito que este senhor obtenha o monopólio da literatura virtual, cria regras absurdas e não tem um juiz para barrar esse tipo de abuso. Colocar um tecnofascista como polícia do pensamento, responsável pela biblioteca virtual é o mesmo que deixar lobos cuidando de ovelhas. Concentrar todos os livros, em todos os idiomas, em uma biblioteca virtual e depois apagá-los aos poucos é mais fácil que botar fogo como faziam os fachos de antigamente, não é mesmo?
Para piorar, o Kindle está sendo invadido por livros criados por IA, por fanfics, hot lit, somando a isso o anti-intelectualismo e os livros que precisam fazer parte de aesthetics promovidas no Tik Tok.  Enquanto isso, livros de Toni Morrison, Margaret Atwood, autores LGBTQIA estão na lista de livros censurados. Isso me lembra outra passagem do livro 1984, de George Orwell:
“Havia toda uma série de departamentos autônomos que tratavam de literatura, música, teatro e divertimentos proletários em geral. Neles eram produzidos jornalecos ordinários que continham pouca coisa mais que notícias de esporte, polícia e astrologia, sensacionais noveletas de cinco centavos, filmes transbordando de sexo, e cançonetas sentimentais compostas inteiramente por meios mecânicos numa espécie de caleidoscópio especial denominado versificador”.

É isso que estamos vendo hoje nas redes de bibliotecas e streamings de filmes, eles disponibilizam o que lhes convém, editam os filmes para ter o tempo que eles acham melhor, disponibilizam os filmes ou livros de qualidade duvidosa que não levam ao pensamento crítico, porque o povo quer coisas para relaxar e não para pensar.

Deixo alguns videos para aprofundar a discussao:

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