sábado, 9 de abril de 2016

BEDA 9- Leitura: Declaraçao de direitos da mulher e da cidadã

Li o livro "Declaraçao de direitos da mulher e da cidadã", da Olympe de Gouges, escrito em 1791. É uma versao satirica e feminina dos "17 artigos da declaraçao de direitos do homem e do cidadao" em que a autora escreve e envia para rainha Maria Antonieta. Ainda declara que se a mulher podia ser colocada na guilhotina, também poderia ser colocada na tribuna. Ironicamente a autora foi guilhotinada.
Observei uma coisa interessante: quando tem uma mulher no poder, as outras sentem-se encorajadas a lutar pela causa feminina.

Olympe começa endereçando-se à rainha demonstrando sororidade:
"Enquanto todo o Império te acusava e dizia que eras responsavel pelas calamidades, eu sozinha, em um tempo de tribulaçao e tempestade, tive forças para te defender".

Depois cobra dela a participaçao da mulher na sociedade:
"Seria nobre de sua parte considerar a luta pelo direito das mulheres e acelerar o processo. Se você fosse menos instruida, eu poderia acreditar que seus interesses particulares nao sao também os mesmos do seu sexo. Apoie esta bela causa, defenda este sexo infeliz".

Ela começa a declaraçao perguntando aos homens: Quem deu a eles o direito soberano de oprimir o sexo feminino? Sua força? Seu talento?

Em seguida ela escreve os 17 artigos, sendo o primeiro:
"Toda mulher nasce livre e igual ao homem em direitos". 

Fala que a Revoluçao Francesa nao mudaria em nada a vida das mulheres. A "liberté, fraternité, égalité, vive la république" e todas aquelas ideias iluministas eram apenas para o deleite dos homens, as mulheres continuariam sob o dominio deles. Ela estava incorformada com a atitude passiva das mulheres que nao enxergavam sua propria realidade ou se enxergavam, nada faziam para muda-la:

"Mulher, acorda! O despertador da razao é ouvido em todo universo, reconheça seus direitos. O poderoso império da natureza nao é mais cercado por preconceito, fanantismo, superstiçao e mentiras.
Oh, mulheres! Quando vocês vao parar com esta cegueira? Quais foram as vantagens que tiramos desta revoluçao? Seu império foi destruido, o que te resta é a convicçao das injustiças do homem".

Fala sobre a falta de acesso à educaçao e ao trabalho, de nao poderem herdar os bens da familia. Pediu uma lei que pagasse uma pensao ou indenizaçao para as viuvas e as mulheres que foram enganadas/abandonadas. Defende os negros e todos os que eram vitimas da colonizaçao e da supremacia masculina branca, etc. 

Recomendo a leitura aos interessados em lutas pelos direitos das mulheres, foi escrito no séc. 18, mas a grande parte da para se aproveitar no séc. 21, afinal essas conquistas vêm em passos muito lentos. O feminismo nao é contra os homens, é a favor dos direitos das mulheres, sacou a diferença?

Esta declaraçao me fez repensar a Historia que é sempre contada do ponto de vista do homem branco conquistador. E o ponto de vista das mulheres e das minorias? Estas conquistas foram feitas às custas de massacres, dominaçao, colonizaçao e escravidao, silenciando de uma vez por todas o inimigo ou o conquistado. A Historia nao é justa, ou melhor, o mundo nao é justo e ela retrata isso, é apenas o reflexo da humanidade. Ela vai sempre vangloriar os poderosos com armas e que nem sempre têm razao, eles so têm poder.

No fim, a rainha e a autora foram guilhotinadas.

Par Eugène DelacroixThis page from this gallery., Domaine public, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=38989
"A liberdade guiando o povo", sempre achei essa pintura da Revoluçao linda, a liberdade representada por uma mulher com os peitos para fora #freethenipple. So ilusao! No final é isso da pichaçao abaixo, situaçao ou oposiçao, direita ou esquerda, monarquia ou republica, capitalismo ou socialismo, as mulheres sempre viveram nas sombras, sem participaçao politica, sem poder opinar. Todas essas cagadas do mundo politico/social/econômico nao foram executadas com o nosso consentimento.


BEDA (Blog everyday in April)

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