sábado, 1 de fevereiro de 2025

Resumo de janeiro

Neste mês, apaguei as redes antissociais, porque não sou obrigada a fazer parte do circo dos tech bros. Também estou boicotando o máximo que posso as empresas de um determinado país e consumindo local. Eu sei que ações individuais não salvam o mundo, na verdade parece ridículo nadar contra a maré, é como Don Quijote lutando contra os moinhos, mas pelo menos eu tenho a consciência tranquila que não colaboro, não me associo e não gasto nem um centavo com esses parasitas.
Peguei emprestado este trecho do diario da Patricia Highsmith: War is a psychological sickness of man. We should always have been interested in curing it, but only now (rather late) that the more destructive bombs have been invented, have we decided to become more worried, about this psychosis.

Para que esta publicação não seja só chorume, vou compartilhar também as minhas leituras e filmes que li e vi este mês.
L'artiste et son temps, de Albert Camus. Trecho da palestra proferida por Camus na Universidade de Uppsala em 14 de dezembro de 1957 e reproduzida no copilado de suas obras.
Gostei como ele diferencia os fabricantes de artes e artistas, os fabricantes adaptam sua obra para agradar os mecenas e o que a sociedade impoe como moda ou estética, enquanto os artistas sao mais incompreendidos. Sobre artistas que querem ser celebridades:
A maior fama atualmente consiste em ser admirado ou odiado sem ter sido lido. Qualquer artista que tente ser famoso em nossa sociedade deve saber que não será ele quem será famoso, mas outra pessoa com seu nome, que acabará escapando dele e, talvez, um dia, matando o verdadeiro artista que há nele.

Diaspora e Linguística general, dois livros de poemas da minha poeta uruguaia favorita, Cristina Peri Rossi.
Em homenagem póstuma à Adília Lopes, poeta portuguesa que infelizmente veio a falecer dia 30 de dezembro, li O poeta de Pondichéry.

24/7: Capitalismo tardio e os fins do sono, de Jonathan Crary. Esperava mais deste livro, mas até ai, o problema é meu e nao do autor. Pensei que ele fosse se aprofundar mais em exemplos concretos, mostrar o quotidiano de pessoas que trabalham de madrugada em galpoes da Amazon, em aeroportos, estudantes que perdem tempo com jogos e redes sociais, como isto influencia na saude fisica e mental das pessoas. Ele falou muito en passant sobre isso e deu muitos exemplos ficticios de livros e filmes de ficçao cientifica, afinal o autor é professor de artes e nao historiador, sociologo ou economista.

Infocracia: Digitalização e crise da democracia, de Byung-Chul Han. Este livro, leitura obrigatoria para entender o tempo em que estamos vivendo, é dividido em 5 capítulos:

1. Regime de informação 
É a forma de dominação na qual informações e seu processamento por algoritmos e inteligência artificial determinam decisivamente processos sociais, econômicos e políticos. Não é, então, a posse de meios de produção que é decisiva para o ganho de poder, mas o acesso a dados utilizados para vigilância, controle e prognóstico de comportamento psicopolíticos. O regime de informação está acoplado ao capitalismo da informação, que se desenvolve em capitalismo da vigilância e que degrada os seres humanos em gado, em animais de consumo e dados.

2.Infocracia 
Na infocracia, informações são utilizadas como armas. Infowars com fake news e teorias da conspiração indicam o estado da democracia atual, no qual verdade e veracidade não têm mais nenhum valor. A democracia afunda em uma selva de informações inescrutáveis.

3. O fim da ação comunicativa 
A democracia em tempo real sonhada nos inícios da digitalização como democracia do futuro, se mostra como uma ilusão completa. Enxames digitais não formam um coletivo responsável, que age politicamente. Os followers, na condição de novos súditos das mídias sociais, deixam-se adestrar em gado de consumo por smart influencers, influenciadores inteligentes. Ficam despolitizados. A comunicação dirigida pelos algoritmos nas mídias sociais não é nem livre, nem democrática.

4. Racionalidade digital 
A política será substituída pelo management impulsionado por dados do sistema. Decisões socialmente relevantes serão tomadas por meio do Big Data e da inteligência artificial. Mas vão se tornar secundárias. Não é um mais em discurso e comunicação, mas um mais em dados e algoritmos inteligentes o que a otimização do sistema social promete: a felicidade geral.

5. A crise da verdade 
A crise da verdade é sempre uma crise da sociedade. Sem verdade, a sociedade rui internamente. Mantém-se junta, então, apenas por relações exteriores, instrumentais, econômicas. As avaliações recíprocas, por exemplo, que hoje são praticadas em toda parte, destroem a relação humana ao submetê-las à comercialização total. Todos os valores humanos são hoje submetidos à lógica econômica e comercializados. A sociedade e a cultura se tornam elas mesmas formas de mercadoria. A mercadoria substitui a verdade.


Filmes:


Eraserhead, David Lynch, 1977, body horror, fantasia
La Jetée, Chris Marker, 1962, distopia pos-apocaliptica
Ele esta de volta, David Wnendt, 2014, comédia
Super recomendo os três! 

Musica do mês:

This is what you asked for, heavy is the crown
Fire in the sunrise, ashes rainin' down
Try to hold it in, but it keeps bleedin' out
This is what you asked for, heavy is the -
Heavy is the crown


Agora vamos ver o que fevereiro nos reserva. Um dia de cada vez, respira!