Dia 25 de janeiro é o niver de Sampa, minha cidade amada. Sou paulistana e são-paulina, graças a deus! Sampa não conquista logo de cara, pelo contrário, assusta. É uma cidade cinza, poluída, concretada, cheia de pontes, túneis, um vai-e-vem de carros, pessoas e helicópteros sobre nossas cabeças, motoboys entre os carros, o malabarista disputando espaço com o menino vendedor de balas que deve ser irmão do flanelinha e filho do vendedor de flores. É possível termos as 4 estações em um só dia: chove, faz frio, faz calor. Aqui é Babilônia, Sodoma e Gomorra ao mesmo tempo agora. Cabe de tudo: mansões, prédios, casas de vilas, favelas. É estar sozinho em meio a multidão. É nunca dizer bom dia, não saber puxar conversa e nem dar um abraço, é ser crítico e arrogante a maior parte do tempo. É ter tantas opções de cinemas, teatros, restaurantes, mas nunca sair de casa porque tem uma paranoia em relação à violência. É viver no constante stress e pressão, não confiar em ninguém. Poder ir à farmácia, supermercado de madrugada, sempre temos a opção "aberto 24 horas". É não ter ideia dos nomes de seus vizinhos do prédio, é pegar ônibus com as mesmas pessoas e jamais saber onde elas trabalham e quem são. Ficar no trabalho até mais tarde para esperar passar a hora do rush, ficar 3h no trânsito para chegar no trabalho, impossível a vida social porque ninguém tem tempo e ninguém chega na hora do combinado. Aqui o relógio é apressado, tudo acontece mais rápido, como se 24h fosse pouco para darmos conta de tudo. Parece loucura? É loucura. Todo paulistano é tão esquisito quanto São Paulo, como diz a letra de "Sampa", do Cetano Veloso: "É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi". Nem quem nasce aqui nada entende, imagina quem vem de fora e vê o tamanho disso tudo, a 3ªcidade do mundo.
Mas apesar dos pesares é o melhor lugar para estudar, fazer cursos e arrumar um trabalho qualificado. Toda vez que saio daqui quero voltar o mais rápido possível, não aguento a calmaria dos outros lugares. Estou adaptada à Paulicéia Desvairada. Porque és o avesso do avesso, do avesso, do avesso...
PS: Indico o filme "Bem-vindo a São Paulo", é no mesmo estilo de "Paris, je t'aime" e "I love NY", mas o de São Paulo foi o 1º dessa trilogia, juntaram alguns cineastas estrangeiros e nacionais, 18 no total, cada um mostrou sua percepção da cidade.
A partir do marco zero, na Praça da Sé, mostra a diversidade cultural de imigrantes e retirantes, as ruas do centros, o "minhocão", o "treme-treme", os catadores de papelão, os meninos de rua, o "Ceagesp", as feiras, o bairro da Liberdade, a Av. Paulista, São Paulo dos tempos do café, o crescimento acelerado, "make money", os travestis, as modelos, os sonhos e os pesadelos de quem mora aqui.
São, São Paulo meu amor
São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Caseados à prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
(São Paulo, meu amor - Tom Zé)