quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A biografia da Gertrude Stein

Li a biografia da Gertrude Stein, escrita por Nadine Satiat. Editora Flammarion, 1289 pags. Quero compartilhar com vocês alguns assuntos da vida dela, uma mulher avant-gardiste que revolucionou a literatura e influenciou toda uma geraçao de pintores e escritores. Nao era muito compreendida, mas todo mundo a respeitava.



Gertrude Stein nasceu nos EUA, em 1874, filha de um casal judeu que imigrou da Europa para os EUA. Retornaram para Europa, moraram em Viena e também na França, pois o pai achava que a educaçao na Europa era melhor para os filhos e que a educaçao nos EUA era muito provinciana. Os filhos tinham aulas particulares de francês, alemao, musica e equitaçao. Apos 5 anos, eles retornaram aos EUA.
O pai dela era autoritario e opressor. Sua mae adoeceu de cancer quando ela tinha 11 anos e seu pai nao tinha um pingo de piedade pela mulher mesmo ela estando doente, assediava sexualmente as empregadas da casa a ponto de ser repreendido pela comunidade judaica e ao mesmo tempo ensinava aos filhos que sexo era repugnante.

Estudos
Ela lia muito desde pequena, aos 9 anos ja tinha lido Shakespeare e varios outros autores ingleses dos sécs 18 e 19. Entrou em Harvard, na escola de estudos superiores para mulheres onde estudou Filosofia, Psicologia, Biologia e Literatura. Em seguida cursou Medicina na Universidade Johns Hopkins para se especializar em doenças nervosas femininas, mas desistiu no ultimo ano. Tudo isso em uma época em que o acesso das mulheres à universidade era super restrito, abriam vagas para casos excepcionais, mesmo assim ela conseguiu fazer varios cursos. Onde todo mundo via impecilhos, ela via oportunidades.

França
Gertrude e seu irmao Leo Stein eram muito apegados, gostavam de ler, de teatro, de opera, de viajar pelo mundo e de artes em geral. Em 1903, os dois se mudaram para Paris, na 27 rue de Fleurus e tornaram-se mecenas, compravam quadros de artistas como Cézanne, Matisse, Picasso, entre outros. Estes artistas eram mal vistos pelos criticos de artes que repudiavam a arte moderna, achavam de mau-gosto e grotesca. Porém, os Stein eram visionarios, os quadros adquiridos a um preço acessivel na época, passaram a valer milhoes mais para frente. 
O apartamento deles era frequentado por estudantes de artes, artistas, escritores, musicos e dançarinos. Depois de um tempo Leo Stein mudou para Italia e eles nunca mais se falaram.
Picasso foi um dos melhores amigos de Gertrude durante toda a vida. Inclusive eu também li as correspondências entre os dois, mas sera tema de um outro post.
Apos sua mudança para Europa, ela retornou aos EUA apenas uma vez, em 1934, para uma série de palestras e conferências em todo o pais, durante 6 meses. Nao saiu da França nem durante a Ocupaçao Nazista durante a Segunda Guerra, seus amigos estavam temerosos e pediram para que ela se exilasse em um pais mais seguro porque se ela ficasse la, correria o risco de ser enviada a um campo de concentraçao, mesmo assim ela nao arredou o pé.

Gertrude Stein por Pablo Picasso


Literatura 
Gertrude é conhecida como a mae do Modernismo e da literatura cubista, escreveu poemas, romances, livros infantis, peças teatrais, operas, biografias, ensaios, artigos, fez traduçoes, etc. É responsavel por introduzir na literatura universal elementos como: escrever sem pontuaçao, a repetiçao incessante e a falta de coesao. Ela estava interessada no jogo de palavras, na sonoridade e nao se aquilo fazia sentido ou nao. Inclusive ela questionava: Por quê tudo tem que fazer sentido para as pessoas? Como ela e Thornton Wilder disseram nos fragmentos abaixo, as pessoas nao entendem seus artistas e autores contemporâneos, eles sao mal vistos e mal compreendidos, os que abrem caminhos nao tem o mesmo prestigio que seus seguidores tiveram. Ela influenciou muitos escritores e abriu a porta para eles obterem sucesso, tais como: Sherwood Anderson, Ernest Hemingway, Francis Scott Fizgerald, entre outros.

The world can accept me now because there is coming out of your generation somebody they don’t like, and therefore they accept me because I am sufficiently past in having been contemporary so they don’t have to dislike me. So thirty years from now I shall be accepted. And the same thing will happen again: that is the reason why every generation has the same thing happen. It will always be the same story, because there is always the same situation presented. The contemporary thing in art and literature is the thing which doesn’t make enough difference to the people of that generation so that they can accept it or reject it.
When one is beginning to write he is always under the shadow of the thing that is just past. And that is the reason why the creative person always has the appearance of ugliness. There is this persistent drag of the habits that belong to you. And in struggling away from this thing there is always an ugliness. That is the other reason why the contemporary writer is always refused. It is the effort of escaping from the thing which is a drag upon you that is so strong that the result is an apparent ugliness: and the world always says of the new writer, “It is so ugly!” And they are right, because it is ugly. If you disagree with your parents, there is an ugliness in the relation. There is a double resistance that makes the essence of this thing ugly.You always have in your writing the resistance outside of you and inside of you, a shadow upon you, and the thing which you must express. In the beginning of your writing, this struggle is so tremendous that the result is ugly; and that is the reason why the followers are always accepted before the person who made the revolution. The person who has made the fight probably makes it seem ugly...

(How Writing Is Written (1935), Gertrude Stein)
 
There are certain of Miss Stein’s idiosyncrasies which by this time should not require discussion, for example, her punctuation and recourse to repetition. The majority of readers ask of literature the kind of pleasure they have always received; they want “more of the same”; they accept idiosyncrasy in author and periods only when it has been consecrated by long accumulated prestige, as in the cases of the earliest and the latest of Shakespeare’s styles, and in the poetry of [John] Donne, Gerard Manley Hopkins, or Emily Dickinson. They arrogate to themselves a superiority in condemning the novels of [Franz] Kafka or of the later [James] Joyce or the later Henry James, forgetting that they allow a no less astonishing individuality to Laurence Sterne and to [François] Rabelais.This work is for those who not only largely accord to others “another’s way,” but who rejoice in the diversity of minds and the tension of difference.It is perhaps not enough to say: “Be simple and you will understand these things”; but it is necessary to say: “Relax your predilections for the accustomed, the received, and be ready to accept an extreme example of idiosyncratic writing."
(Gertrude Stein Makes Sense (1947), Thornton Wilder)

Ausência de pontuaçao

No mundo moderno nao existe pausa, esta todo mundo apressado, a virgula ou um ponto é uma pausa que impedem o dialogo rapido. Alguns autores como E.E. Cummings e José Saramago utilizaram este recurso mais tarde.

Repetiçao

Todas nossas açoes sao repetitivas, todo dia a gente levanta, come, trabalha, dorme, puxa os mesmos assuntos no elevador. Com a modernidade veio a linha de produçao, produzindo em grande escala as mesmas coisas (vide o quadro da sopa Campbell do Andy Warhol que usou esse recurso mais tarde na arte). Ela questiona o porquê das pessoas estranharem a repetiçao em suas obras, se isso faz parte da vida contemporanea, ela apenas introduziu na literatura. 

No Brasil, por exemplo, Carlos Drummond de Andrade e todo o grupo modernista da Semana de Arte Moderna de 22 foram influenciados pelo circulo artistico e literario de Gertrude. Prova disso é o poema "No meio do caminho tinha uma pedra..." que repete a mesma coisa o tempo inteiro.
Um dos poemas de repetiçao mais famoso de Gertrude é:
A rose is a rose is a rose is a rose 
(Escrito em forma de um circulo, dando um movimento continuo e infinito à frase, publicado em seu livro infantil chamado The World Is Round, 1934)

Eis o fragmento de um texto bem repetitivo intitulado "Quando uma esposa tem uma vaca, uma historia de amor":

Nearly all of it to be as a wife has a cow, a love story. All of it to be as a wife has a cow, all of it to be as a wife has a cow, a love story.
 As to be all of it as to be a wife as a wife has a cow, a love story, all of it as to be all of it as a wife all of it as to be as a wife has a cow a love story, all of it as a wife has a cow as a wife has a cow a love story.
Has made, as it has made as it has made, has made has to be as a wife has a cow, a love story. Has made as to be as a wife has a cow a love story. As a wife has a cow, as a wife has a cow, a love story. Has to be as a wife has a cow a love story. Has made as to be as a wife has a cow a love story.
 When he can, and for that when he can, for that. When he can and for that when he can. For that. When he can. For that when he can. For that. And when he can and for that. Or that, and when he can. For that and when he can...

Agora o video dela lendo o retrato que ela fez de Picasso.

Para ser sincera, estou lendo tudo dela e estranhando tudo, essas repetiçoes que parecem gagueira ou delirio me deixa nervosa rsrs. Estou me acostumando aos poucos, de tanto ler isso, parece que estou falando igual lol. Leia em voz alta e no original (traduzido nao tem o mesmo efeito) que o barato é louco.

Questoes raciais

Gertrude introduziu na literatura americana uma personagem protagonista negra, a Melanctha, no livro "Three Lives", em 1909. O escritor negro Richard Wright, autor de Black Boy, declarou:
“the first long serious literary treatment of Negro life in the United States.”
"As I read it my ears were opened for the first time to the magic of the spoken word. I began to hear the speech of my grandmother, who spoke a deep, pure Negro dialect and with whom I had lived for many years. All of my life I had been only half hearing, but Miss Stein’s struggling words made the speech of the people around me vivid. From that moment on, in my attempts at writing, I was able to tap at will the vast pool of living words that swirled around me."

Além de Melanctha, ela escreveu a opera "Four Saints in Three Acts" e exigiu que o elenco fosse 100% negro em uma época que a segregaçao racial era forte nos EUA. Declarou que Richard Wright era o melhor escritor americano Pos-Guerra e leu todos os livros dele. Também recebia em sua casa musicos de jazz e dançarinos, entre eles a Josephine Baker.

Feminismo

Gertrude nunca se envolveu diretamente com causas feministas, raciais, LGBT ou politicas, mas em suas obras ela sempre deixou bem clara sua posiçao.
Patriarcado virou uma das palavras-chaves na segunda fase do feminismo graças à ela. Ela introduziu esta palavra em um texto intitulado Patriarchal Poetry, em que criticava a figura do pai judeu (religiao dos patriarcas). Tinha orgulho de ser judia de raça, mas renegou a religiao judaica.

Dizia que patriarcal era tudo o que era imposto aos outros como regra absoluta e sem questionamentos, um certo tipo de pensamento rigido, sistematico e tirânico que regia tudo: a familia, a politica, a guerra e até a forma de escrever poemas de amor. A autoridade patriarcal vai na frente de tudo, inclusive ela colocou até no cardapio semanal, o poema diz o seguinte (traduçao livre por mim):
Poesia patriarcal sem carne na segunda
Poesia patriarcal e carne na terça
Poesia patriarcal e carne de caça na quarta
Poesia patriarcal e peixe na sexta
Poesia patriarcal e aves no domingo
Poesia patriarcal e frango na terça
Poesia patriarcal e bife na quinta

Também escreveu de maneira repetitiva e sem virgulas sobre a necessidade da liberaçao da mulher (traduçao livre por):
Deixe-a tentar deixe-a ser  deixe-a ser deixe-a ser ser ser deixe-a ser deixe-a tentar. Ser timida. Deixe-a ser. Deixe-a tentar.
Jamais seja diz ele. Jamais seja diz ele. Deixá-la ser o quê diz ele. Nao a deixe ser o que quer que seja diz ele.
Nota-se o desprezo da voz masculina e a mulher ausente do processo de decisao concernante à ela onde tudo lhe é negado.

Falarei da Poesia Patriarcal em um post especifico.

Em seu livro "Everybody's Autobiography" ela escreve sobre politica sob a otica paternalista: 
"tem muito paternalismo no mundo e sem sombras de duvidas os pais sao deprimentes. Todo mundo hoje em dia é pai. Ha o pai Mussolini, o pai Hitler, o pai Roosevelt, o pai Stalin, o pai Blum, o pai Franco. A Inglaterra é atualmente o unico pais que nao é paternalista, por isso as pessoas sao mais felizes la do que em qualquer outro lugar. Os periodos mais sinistros da historia sao aqueles que vimos as silhuetas de pais onipresentes. Apesar de tudo, os pais aparecem e desaparecem. Quando ninguém tem pai, eles querem ter um e assim que todo mundo tem um, começam a arrepender-se de tê-lo. No séc. 18 estava todo mundo saturado de pai até que aos poucos o capitalistas e sindicalistas começaram a se tornar pais, também os comunistas e ditadores, agora todo mundo tem um pai. Espero que no séc. 21 seja um tempo agradavel em que todo mundo esqueça quem é e quem foi pai"

Sinto lhe informar Dona Gertrude, o séc. 21 esta cheio de pai, se a senhora visse pai Trump, pai Temer e pai Poutin teria um colapso nervoso. Vamos ser otimistas para o séc. 22 talvez? Bem, eu nao estarei la para testemunhar.


Homossexualidade feminina

Gertrude sabia desde cedo que nunca se casaria porque quando era pequena viu um homem bater na mulher com guarda-chuva e ninguém fez nada. Também nao queria ter a vida da sua mae que se submetia a todos os caprichos do marido autoritario. Viu uma parente que pediu o divorcio porque nao aguentava o marido, mas o juiz nao autorizou e ainda a proibiu de se afastar com os filhos dele.
Foi com quase 30 anos de idade que ela se deu conta que tinha atraçao por mulheres ao apaixonar perdidamente por May Bookstaver, filha de um juiz da Corte Suprema do Estado de NY e que militava ativamente na National Woman Suffrage Association pela igualdade de direitos e direito ao voto feminino.
Gertrude, devido à sua criaçao, tinha um horror quase puritano ao contato fisico, era inibida, insegura em relaçao ao seu corpo e nao sabia como reagir às demonstraçoes de afeto e carinho. Quando May deu um beijo nela, sentiu-se ofendida, achou aquilo nojento, nao sabia se essa reaçao era de ordem moral ou era o instinto puritano impregnado na educaçao americana que ela tinha recebido e que tinha interferido no seu comportamento natural. May era paciente, entendia que Gertrude precisava de um tempo para lidar com seus sentimentos e sua sexualidade. O relacionamento nao deu certo, mas em 1903 Gertrude escreveu a historia delas no livro Q.E.D. (abreviaçao de "Quod erat demonstrandum", termo latim usado na matematica no fim de uma demonstraçao), so foi publicado em 1950, apos a morte de Gertrude.
Em 1907, Alice B. Toklas chega em Paris e começa a trabalhar para Gertrude datilografando e revisando seus artigos e livros.
As duas se apaixonaram, Gertrude ja tinha superado a inibiçao que teve no primeiro relacionamento, agora se sentia mais à vontade.
Gertrude e Alice em Veneza, 1908

Alice mudou para casa de Gertrude em 1910, as duas passaram a viajar juntas pela Europa, tinham cachorrinhos fofos, recebiam amigos, foram voluntarias durante a Primeira Guerra, dirigiam o caminhao de suprimentos para os soldados feridos. Alice gostava de cozinhar, inclusive publicou livros de receitas. Foram companheiras durante 39 anos, até que a morte as separou.
Como eu disse no dossiê da Alejandra Pizarnik, se a historia da mulher nao é contada, da mulher homossexual é menos ainda, porém elas sempre foram muito ativas na sociedade. Citarei apenas algumas que foram mencionadas nesta biografia e que faziam parte do circulo literario, intelectual e editorial no começo do sec. 20, nos EUA, na Inglaterra e na França.
  • A americana Sylvia Beach, dona da livraria Shakespeare and Co. (primeira livraria especializada em literatura anglofona em Paris) e sua companheira francesa, também livreira da "Maison des amis des livres", Adrienne Monnier.
  • Kate Buss: jornalista, poetisa, pintora, escultora e feminista, publicou "Jevons block: a Book of Sex Enmit", em 1917.
  • Djuna Barnes: poetisa, critica literaria, analista da condiçao feminina e da exploraçao sexual de mulheres, era interessada pela arte circense e music-hall. Escreveu em 1913, aos 23 anos,"The Book of Repulsive Women", sobre a sexualidade feminina.
  • Jane Heap e sua companheira Margaret Anderson, eram editoras da revista literaria "Little Review".
  • Anna Howard Shaw (1847-1919), teve uma infância dificil em Michigan, tornou-se professora, estudou Teologia apos a Guerra de Secessao, foi a primeira mulher pastora da igreja Metodista, estudou Medicina, deixou o pastorado para se dedicar inteiramente ao sufragio feminino e à campanha antialcoolismo, tornou-se uma das principais lideres e conferencistas da National Woman Suffrage Association, fazendo campanhas durante 18 anos junto com Susan B. Anthony (um dos grandes nomes do feminismo americano). Anna vivia com sua "secretaria particular", Lucy Church.


É isso por enquanto! Continuarei a falar dela em outros posts, pois estou lendo outras coisas e o que nao falta é assunto quando se trata de dona Gertrude.

sábado, 15 de outubro de 2016

Sobre o Nobel para Bob Dylan e outras reflexoes


O Nobel foi polêmico este ano por alguns motivos:

  • Nenhuma mulher ganhou em nenhuma categoria
  • Todos os americanos que ganharam sao na verdade imigrantes
  • Bob Dylan ganhou o Nobel de Literatura

Estava torcendo para Lygia Fagundes Telles. Os fans do Philip Roth estavam todos raivosos nas redes sociais porque acreditavam que ele seria o ganhador e nao foi. Porém, se os nossos favoritos nao ganharam, isso nao da o direito de desmerecer a obra do Bob Dylan, nao é mesmo? Como eu amo esse homem, prefiro nao opinar se é justo ele ganhar ou nao. Apenas posso argumentar de uma maneira sucinta que ele tem cacife para ganhar SIM. 
Este prêmio foi importante para repensarmos a literatura. Segundo o dicionario:

li·te·ra·tu·ra
sf
Arte de compor escritos, em prosa ou em verso, de acordo com determinados princípios teóricos ou práticos
O conjunto das obras literárias de um país, um gênero, uma época etc. que, pela qualidade de seu estilo ou forma e pela expressão de ideias de interesse universal ou permanente, têm reconhecido seu alto valor estético
Qualquer dos usos estéticos da linguagem, mesmo quando não escrita

A arte de compor musicas pode ser considerada literatura? SIM.
Eu sei que essa ideia tira muita gente da zona de conforto, inclusive muita gente que lê e que escreve, mas tem a mente fechada e acha que so quem escreve romances de 800 paginas merece prêmios literarios.

O artigo e minha pilha de teatro para ler
Coincidentemente, algumas semanas atras, li um artigo na revista "Libraires" (é escrita por livreiros que discutem sobre livros e gêneros literarios. Esta revista tem discussoes de otima qualidade e é gratuita, distribuida na rede de bibliotecas de Québec e em varios outros lugares publicos). O artigo intitulado "Ler o teatro", fala da importância do teatro para literatura universal, faz uma linha do tempo desde o teatro antigo grego com Ésquilo, Sófocles e Eurípedes na tragédia, e Aristófanes na comédia, inclui também Shakespeare, Molière, Samuel Beckett, Brecht, Ibsen, Tennessee Williams, Arthur Miller, Racine, George Bernard Shaw, Eugene O'Neill, Sartre, Pirandello, Augusto Boal (É do Brasil!!!), entre outros dramaturgos.
A discussao era: mesmo tendo tantas obras teatrais de excelente qualidade literaria, o teatro ainda é considerado uma literatura marginal. Muitas pessoas nao se interessam em lê-lo.
Além do teatro, a poesia também nao é do tipo que agrada todo mundo e muita gente faz cara feia quando um poeta leva o prêmio no lugar de alguém que escreveu um calhamaço.
Resumo da opera: Se as pessoas nao querem reconhecer o teatro como literatura, sendo o teatro tao antigo quanto a propria humanidade, imagina esse povo tendo que engolir composiçao musical como literatura... OMG! Songwriter is a writer! Foi a premiaçao mais avant-gardiste de todos os tempos. Quebrou geral com o tradicionalismo, deixou todo mundo sem entender nada.

Estou sem tempo para fazer um post elaborado, vou direto ao ponto. Antes de criticar o Bob Dylan, sugiro algumas obras que podem transformar esse seu odio por ele em amor:

  • Leiam Tarantula, o livro de prosa poética dele, escrito na década de 60.
  • Escutem as musicas e leiam as letras.
  • Assistam ao filme No direction home, do Martin Scorsese




Eu tenho um livro otimo chamado "Bob Dylan, All the songs - The story behind every track", escrito por Philippe Margotin e Jean-Michel Guesdon. Como diz no titulo, conta a historia por tras de cada letra. Vou colocar em inglês mesmo porque estou sem tempo para traduzir, também nao sei se tem esse livro em português. Escolhi apenas 3 musicas dentre as quase quinhentas.
Por exemplo, Blowin' in the Wind foi escrita em 10 minutos, em um café, agora leia a importância dela em varios momentos historicos:
As surprising as it may seem, Dylan wrote “Blowin’ in the Wind” in just ten minutes on April 16, 1962. He was in a coffee shop, the Commons, opposite the Gaslight, the mythical center of the folk scene in the heart of Greenwich Village, where not only Dylan but also Richie Havens, Jose Feliciano, and Bruce Springsteen, among others, got their start. In 2004, when CBS newsman Ed Bradley asked Dylan about the speed with which he wrote, Dylan replied honestly: “It came from… that wellspring of creativity.” 
Listening to “Blowin’ in the Wind,” there is a profound spirituality—a philosophical spirituality, since with Dylan the power of the spirit will always be more important than material or religious spirituality. The songwriter seems to have been inspired by images in the book of Ezekiel to create this message: “How many times must a man look up before he can see the sky? Yes, n’how many ears must one man have before he can hear people cry?” Dylan explicitly refers to the Old Testament: “The word of the LORD came to me: Oh mortal, you dwell among the rebellious breed. They have eyes to see but see not; ears to hear, but hear not.”
The melody, as Dylan admitted, was musically based on “No More Auction Block,” a spiritual that he heard Delores Dixon sing every night with the New World Singers at Gerde’s Folk City. “I didn’t really know if that song was good or bad,” he told Scorsese. “It just felt right… I needed to sing it in that language, which is a language that I hadn’t heard before.”6 And the power of this language was such that he would shine in future protest events, such as on August 28, 1963, during the March on Washington, when “Blowin’ in the Wind” was sung by Peter, Paul and Mary on the steps of the Lincoln Memorial. Mary Travers recalls: “If you could imagine the March on Washington with Martin Luther King and singing that song in front of a quarter of a million people, black and white, who believed they could make America more generous and compassionate in a nonviolent way, you begin to know how incredible that belief was.” This song continues to carry his message of hope beyond the sixties. Thus, in 1985 at the end of the Live Aid festival, Dylan, along with Keith Richards and Ron Wood, performed it once again for the youth of the world, their words carried by the wind.
“But I didn’t really know that it had any kind of anthemic quality or anything,” said Dylan to Scorsese. Early in his career, he refused the label of a “prophet,” even though people wanted him to be one. 
Essa musica, It's Alright, Ma (I'm Only Bleeding) que fala de sociedade, consumo, politica, medo, desilusao, sexualidade, etc.
With “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding),” written in the summer of 1964, Bob Dylan came back to the protest songs of his early career. Accompanied only by his folk-blues guitar, the singer and poet severely criticizes the hypocrisy and commercialism of a society led by a “junk elite.” On the literary side, there is a connection to Allen Ginsberg’s poem “Howl,” a liberating cry, in which the writer of the Beat generation denounced the obscenity of modern civilization. “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)” is Dylan’s indictment of false prophets and manipulators. 
“It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)” contains the line “But even the president of the United States / Sometimes must have to stand naked.” This had a particular resonance when Bob Dylan performed it on his 1974 tour, months after Richard Nixon resigned as president of the United States as a result of the Watergate scandal. Two years later, Jimmy Carter, future president of the United States, mentioned a line taken from “It’s Alright, Ma” in his speech at the Democratic National Convention: “That he not busy being born is busy dying.” 

(...)
Disillusioned words like bullets bark
As human gods aim for their marks
Made everything from toy guns that sparks
To flesh-colored Christs that glow in the dark
It's easy to see without looking too far
That not much
Is really sacred.
While preachers preach of evil fates
Teachers teach that knowledge waits
Can lead to hundred-dollar plates
Goodness hides behind its gates
But even the President of the United States
Sometimes must have
To stand naked.
An' though the rules of the road have been lodged
It's only people's games that you got to dodge
And it's alright, Ma, I can make it.
Advertising signs that con you
Into thinking you're the one
That can do what's never been done
That can win what's never been won
Meantime life outside goes on
All around you.
You loose yourself, you reappear
You suddenly find you got nothing to fear
Alone you stand without nobody near
When a trembling distant voice, unclear
Startles your sleeping ears to hear
That somebody thinks
They really found you.
(...)
Although the masters make the rules
For the wise men and the fools
I got nothing, Ma, to live up to.
For them that must obey authority
That they do not respect in any degree
Who despite their jobs, their destinies
Speak jealously of them that are free
Cultivate their flowers to be
Nothing more than something
They invest in.
(...)
Old lady judges, watch people in pairs
Limited in sex, they dare
To push fake morals, insult and stare
While money doesn't talk, it swears
Obscenity, who really cares
Propaganda, all is phony.
While them that defend what they cannot see
With a killer's pride, security
It blows the minds most bitterly
For them that think death's honesty
Won't fall upon them naturally
Life sometimes
Must get lonely.

The Times They Are A Changin' 

Bob Dylan wrote “The Times They Are A-Changin’” in the fall of 1963, inspired by old Irish and British ballads. Contrary to “Masters of War” and “A Hard Rain’s A-Gonna Fall,” “The Times They Are A-Changin’” did not deal with any specific topic. The song instead expressed a feeling, a shared hope that the sixties would transform society.John F. Kennedy was assassinated in Dallas, and soon afterward, large numbers of GIs left for Vietnam. The very next day after this tragedy, Dylan reluctantly gave a concert in New York. “The Times They Are A-Changin’” was the first song he performed. “It became sort of an opening song and remained that way for a long time,” he explained in the Biograph booklet. In those circumstances, he feared the public would reject him. To his great surprise, the song received a standing ovation.



Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no telling who that it's naming
For the loser now will be later to win
Cause the times they are a-changing

Come senators, congressmen
Please heed the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's the battle outside raging
It'll soon shake your windows and rattle your walls
For the times they are a-changing

Come mothers and fathers
Throughout the land
And don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is rapidly aging
Please get out of the new one if you can't lend your hand
Cause the times they are a-changing

The line it is drawn
The curse it is cast
The slowest now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is rapidly fading
And the first one now will later be last
Cause the times they are a-changing

É isso! Ja podem vomitar arco-iris.... ♥♥♥

domingo, 9 de outubro de 2016

I'm still breathing, I'm alive...

Nao voltei ainda, infelizmente! Gosto daqui, por isso vim matar saudades. So passei para dizer que estou viva e me sentindo melhor que no post anterior.
O que aconteceu nos ultimos meses:

  • Trabalhei em dois empregos de domingo a domingo
  • Fiquei super doente duas vezes, ja  falei da garganta em outro post, continua persistindo. Emagreci porque me deu um troço no intestino, sentia enjoo, ânsia, azia a ponto de vomitar em todo lugar, inclusive no ônibus (a que ponto chegamos, né motorista?). Nada parava no estômago, até agua que bebia, voltava. Tudo doenças psicossomaticas... mas mesmo estando na pior, nao faltei nenhum dia no trabalho.
  • Arrumei treta no trabalho com um brasileiro (vou contar esta historia em um post mais pra frente)
  • Parei de procurar emprego na minha porque nao tinha tempo and guess what? Quando nao procuro, eu acho. Uma pessoa que trabalhei em outros carnavais me ligou e perguntou se eu estava interessada em uma vaga de arquivista. Disse que sim, larguei os dois empregos e agora estou como tercerizada num orgao governamental, horario sussa, de segunda à sexta, na minha area, era quase tudo que eu queria, pena que é um contrato temporario, mas pelo menos nao vou passar o inverno desempregada.
  • Achei que por causas das crises de ansiedade, a depressao viria em seguida, mas o efeito foi inverso, de repente estava me sentindo bem, fazia tempo que nao me sentia tao leve.
A vida é isso! Luta, persistência, resistência e resiliência. Sou fraca e fragil, mas continuo andando, tropeçando, rastejando, vomitando, chorando. Se vale a pena? Nao sei. Fernando Pessoa disse que tudo vale a pena... Talvez hoje eu nao entenda o sentido de passar por esses desertos, mas no futuro eu poderei entender porque tive que passar por tudo isso.

Coraline - Neil Gaiman (versao comics)


O titulo deste post saiu desta musica da Sia, sempre acho que ela canta tudo o que sinto. Falando em musica, estou mostrando minha coleçao de cds, dvs, vinis, k7 no Insta.

I was born in a thunderstorm
I grew up overnight
I played alone
I'm playing on my own
I survived

Hey
I wanted everything I never had
Like the love that comes with light
I wore envy and I hated that
But I survived

I had a one-way ticket to a place where all the demons go
Where the wind don't change
And nothing in the ground can ever grow
No hope, just lies
And you're taught to cry into your pillow
But I survived

I'm still breathing
I'm alive

I found solace in the strangest place
Way in the back of my mind
I saw my life in a stranger's face
And it was mine