Para maratona de leituras sobre o
assunto, escolhi 5 livros, eis aqui o balanço final:
1. Um livro que tenha a cor verde na capa: "O alienista" -
Machado de Assis
Machadao é muito sarcastico, adoro! Ele
tira muita onda com individuos das classes media e alta. Boa literatura é isso,
falar de politicos, juizes, médicos e de todo escalao sem cair na pieguice ou
no ridiculo.
Dr. Simão Bacamarte é um médico renomado, nao
so no Brasil, mas em Portugal e nas Espanhas. Estudou em Coimbra e aos
34 anos regressou ao Brasil, para cidade de Itaguaí onde abriu um hospicio
(Casa Verde) para pesquisar sobre os problemas de saude mental.
Fragmentos:
"Não há
remédio certo para as dores da alma."
— Nada tenho
que ver com a ciência; mas, se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos
por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?
"O terror
também é pai da loucura"
Uma figura
interessante, conhecido como Porfirio Caetano das Neves, arma um golpe para
acabar com o médico e o hospital, incita a revolta da populaçao (qualquer
semelhante com a realidade brasileira ainda hoje é mera coincidência)
—Não nos
dispersaremos. Se quereis os nossos cadáveres, podeis tomá-los; mas só os
cadáveres; não levareis a nossa honra, o nosso crédito, os nossos direitos, e
com eles a salvação de Itaguaí.
Ao tirar os politicos da câmara
(golpe), ele muda o discurso e tenta se aliar ao médico, o cara jogava com todo
mundo.
A generosa
revolução que ontem derrubou uma Câmara vilipendiada e corrupta, pediu em altos
brados o arrasamento da Casa Verde; mas pode entrar no ânimo do governo
eliminar a loucura? Não. E se o governo não a pode eliminar, está ao menos apto
para discriminá-la, reconhecê-la? Também não; é matéria de ciência. Logo, em
assunto tão melindroso, o governo não pode,não deve, não quer dispensar o
concurso de Vossa Senhoria. O que lhe pede é que de certa maneira demos alguma
satisfação ao povo. Unamo-nos, e o povo saberá obedecer. Um dos alvitres
aceitáveis, se Vossa Senhoria não indicar outro, seria fazer retirar da Casa
Verde aqueles enfermos que estiverem quase curados e bem assim os maníacos de
pouca monta, etc. Desse modo, sem grande perigo, mostraremos alguma tolerância
e benignidade.
2. Um livro que o/a protagonista tenha problema mental/ transtornos.
"The Bell Jar" - Sylvia Plath
Esther Greenwood é uma estudante
de Boston que vai fazer um estagio na revista feminina Ladies’Day, em NY. É super inteligente, passou 15 anos de sua vida
tirando nota A. Namorava com o playboy, estudante de medicina, filhinho da
mamae, Buddy Willard. De longe, parecia um bom partido, mas de perto parecia um
idiota.
« Era
sempre a mesma coisa: eu vislumbrava um homem sem defeitos à distância, mas
assim que ele se aproximava eu percebia que não era bem assim »
« Eu
acordaria às sete, faria ovos, bacon, torradas e café, vagaria pela casa de
camisola e bobes na cabeça depois que ele saísse para o trabalho, lavaria os
pratos, faria a cama, e quando ele voltasse depois de um dia fascinante e cheio
de emoções, a comida estaria na mesa e eu passaria a noite lavando ainda mais
pratos sujos até desabar na cama, completamente exausta.
Parecia uma
vida melancólica e desperdiçada para uma garota com quinze anos seguidos de
notas A, mas eu sabia que os casamentos eram assim, porque cozinhar, limpar e
lavar era tudo o que a mãe de Buddy Willard fazia, e olha que ela era casada
com um professor universitário e tinha dado aulas numa escola
particular ».
Isso me lembrou o filme « O
sorriso de Monalisa », as meninas estudavam, tiravam notas boas, mas
sabiam que era so para conseguir um bom casamento porque o diploma nao iria
servir para nada.
« Se ser
neurótico é querer ao mesmo tempo duas coisas mutuamente excludentes, então eu
sou uma baita de uma neurótica. Vou ficar correndo de uma coisa mutuamente
excludente pra outra pelo resto da minha vida ».
Esther, ao voltar para a casa dos
pais nas férias de verao, entrou em depressao, tentou suicidar-se e foi
internada em um algumas clinicas psiquiatricas onde era tratada com
eletrochoques.
Este sentimento que da titulo ao
livro é horrivel:
"porque
onde quer que eu estivesse — fosse o convés de um navio, um café parisiense ou
Bangcoc —, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida
em meu próprio ar viciado (...) O ar da redoma me comprimia, e eu não conseguia
me mover".
“Para a pessoa dentro da redoma de
vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim”.
3. Um livro de nao-ficçao sobre saude mental. "Depois a louca sou
eu" - Tati Bernardi
É um livro de memorias em que
Tati Bernardi narra de forma descontraida suas fobias e sindrome do pânico.
Fragmentos :
« O
pânico é essa interseção entre a certeza absoluta de que você não importa nada
para o mundo e a certeza absoluta de que todos estão comentando o fato de você
não importar nada para o mundo ».
« Como se
faz para ir a qualquer lugar sem achar isso gigantescamente insuportável? Sem
ficar cansada antes mesmo de ir? »
« Aeroporto
é um lugar péssimo porque soma as cinco coisas mais terríveis do mundo:
despedida, fila, ser humano, placa indicativa e esperança. »
« A fobia
pode ter cara de arrogância, de esperteza, de “falta de uns tabefes na
infância”, de nazismo comezinho. Num avião, eu tenho nojo de qualquer um que
tussa, tenho aflição de qualquer um que sente perto de mim. Vale mencionar que,
se essa pessoa for uma modelo sueca cravejada de diamantes, minha angústia será
a mesma, ou até pior. »
« Achei
que era amor e era Rivotril »
« A tarja preta viro o pretinho
basico »
Gostei da dica desse remédio, preciso!
Apresentar em francês ou fazer entrevista m’énerve
« descobri
que Propranolol era o queridinho dos que têm medo de falar em público. Aquela
coisa de gaguejar ou tremer segurando o papel com o discurso acabava dez
minutos depois que se tomasse um comprimido. Pois é, meu amigo, parecia
maturidade, mas era só remédio. A partir daquele dia nunca mais assisti a uma
palestra TED sem desconfiar que o orador estava drogado. A verdade é que nunca
na vida assisti a uma palestra TED. »
4. Um livro de um(a) autor(a) que tenha problemas mentais/transtornos.
"Diarios" - Alejandra Pizarnik
A Alejandra é um capitulo à
parte, pois foi uma pessoa muito complexa e seus diarios narram 18 anos de
criatividade e sofrimento. Estou fazendo varias publicaçoes sobre ela aqui no
blog, separei por temas. No
geral, ela foi diagnosticada com transtorno maniaco-depressivo (hoje conhecido
como transtorno bipolar) e esquizofrenia. Porém, acho que ela era
Borderline, pois apresentava todos os 5 sintomas descritos na DSM . Falarei
disso em outros posts sobre ela.
5. Um livro sobre um problema de saude mental que você quer saber mais
sobre: "Borderline" - Marie-Sissi Labrèche
A autora narra seu dia-a-dia
sendo uma Borderline. O que isso significa? Uma pessoa com transtorno de
personalidade borderline é extremamente sensitiva, sensivel, emotiva, tudo é em
excesso. Ama demais, chora demais, exagera demais. Nao tem limites. Se ela esta
feliz, entra em um estado de euforia incontrolavel, do tipo que tira a roupa na
festa e sobe na mesa no meio de todo mundo. Ama independente de gênero, seja
homem ou mulher, pouco importa. Sexo nao pode ser basico, a pessoa é
ninfomaniaca, pois tudo é exagerado pra ela. Se bebe, vai beber até perder a
consciência, se usa drogas, pode ter uma overdose. Ao comer, come até nao aguentar e depois
vomita, a maioria tem transtorno alimentar. Se é magoada, entra em
depressao ou até se suicida. Muitas vezes nao sabe discernir a fantasia da
realidade. É carente, tem sérios problemas de auto-estima, quer chamar a
atençao, etc. Nao existe um
tratamento especifico para Borderline, eles sao tratados com os mesmos remédios
para Transtorno Bipolar.
Definiçao do Transtorno de Personalidade
Borderline:
Individuals with Borderline Personality Disorder make frantic efforts to
avoid real or imagined abandonment. The perception of impending separation or
rejection, or the loss of external structure, can lead to profound changes in
self-images, affect, cognition, and behavior. (DSM-IV, Borderline Personality Disorder)
Marie-Sissie é Borderline, a mae dela tinha
depressao severa e suicidou-se, a avo era controladora, amendrontava ela e a
mae dela, odiava homens, achava que eles acabavam com a vida da mulher, eram abusadores
em potencial, ela tentava de todas as formas acabar com os relacionamentos da
filha e da neta.
Shippei muito a Sissie e a Saffie, elas se davam muito bem juntas,
a Sissie ficava até mais calma quando estava com a Saffie.
Tem o filme homonimo baseado no livro, dirigido
pela Lyne Charlebois. Ja assisti e esta nas minhas listas Mulheres na direçao e Diretores do Québec, no Filmow.
Fragmentos:
"Une
souffrance partagée est une demi-souffrance"
« Je ne
fais pas de différence entre l’extérieur et l’intérieur. C’est à cause de ma
peau qui est à l’envers. C’est à cause de mes nerfs qui sont à fleur de peau.
Tout le monde peut voir à l’intérieur de moi, j’ai l’impression. Je suis
transparente. D’ailleurs, je suis tellement transparente qu’il faut que je crie
pour qu’on me voie. Il faut que je fasse du raffut pour qu’on s’occupe de moi.
C’est ce qui fait que je ne sais jamais quand m’arrêter. »
Bandas / artistas que a autora
gosta (e eu também) que foram citados no livro :
Radiohead
(Creep)
Nine
Inch Nails (The Downward Spiral)
Smashing
Pumpkins
Peter
Gabriel (Here Comes The Flood)
Achei que as leituras foram muito proveitosas,
aprendi um pouco sobre saude mental e espero todo ano participar desta maratona
no mês de maio.
Short Film About Mental Health in the Music Industry
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