domingo, 12 de junho de 2016

Ultimas leituras: Victor Hugo, Fitzgerald, Arthur Miller e Annie Proulx

« Le dernier jour d’un condamné » (O ultimo dia de um condenado), de Victor Hugo.

« O bom juiz condena um crime sem ter odio do criminoso ». (Sêneca)


Gostei bastante, nao pela historia do condenado em si, mas pelo contexto historico da França nos sécs. XVIII e XIX, na era napoleônica.
Victor Hugo lutava contra as desigualdades sociais e contra a politica austera de Napoleao. Elegeu-se como deputado, fazia discursos inflamados denunciando a pobreza, as leis marciais, a escravidao e a pena de morte. Tenta convencer o povo a lutar contra a ditadura napoleônica. Com o golpe de estado, Victor Hugo foi expulso da França e ficou exilado na Bélgica durante 19 anos.
Três dias antes de morrer ele escreveu « Aimer, c’est agir » (amar é agir), ou seja, ele nao so escrevia sobre os problemas sociais e politicos, ele se engajava nos movimentos de resistência, entrou na politica, foi exilado.
Victor Hugo acreditava que a França, por ser o pais do Iluminismo e da Revoluçao, deveria servir de modelo às outras naçoes civilizadas e banir todo tipo de barbarie e crimes contra a humanidade.
Este livro é bem humanista, relata a historia de um homem que cometeu um crime e foi condenado à pena de morte. Sua mae e esposa estao doentes e ele tem uma filha pequena que vai tornar-se orfa dos pais. Mostra em grandes detalhes todo o sofrimento dele e tudo o que acontece ao seu redor, a imprensa, a massa de manobra gritando do lado de fora, a hipocrisia do padre que vai dar a bençao e fazer a ultima oraçao, a hipocrisia daquela gente da prisao que realiza os ultimos desejos dos condenados, sentimento de mea culpa, como se isso fizessem com que eles fossem mais humanos que carrascos.
O condenado foi levado à prisao no château de Bicêtre, construido no séc. XV pelo cardeal de Winchester (o mesmo que levou Joana D’Arc à fogueira), para em seguida ser guilhotinado.
Aprendi que guilhotina (fr. guillotine) vem do nome do seu inventor, Joseph-Ignace GUILLOTIN (1738-1814), médico, professor de Anatomia e deputado de Paris. Segundo ele e seu colaborador Antoine Louis, este instrumento é o mais rapido, seguro, digno  e menos barbaro para a execuçao de um condenado à morte. Porém, o condenado replica : « Eles têm certeza disso? Quem disse que nao ha sofrimento? Jamais um sem cabeça voltou para dizer : É verdade, nem doeu! Muito bem inventado! O mecanismo é muito bom.” (Esse humor noir francês… ahaha).
Aprendi também que a familia Samsom era a responsavel por fazer as cabeças rolarem, ou seja, a fazer o trabalho sujo. Eles guilhotinaram 2918 cabeças entre 1675 à 1847, entre elas, a de Maria Antonieta e seu marido Louis Capet, de Louis-Charles, de Danton, de Lavoisier e de Robespierre.

A morte do caixeiro viajante, de Arthur Miller

Fazia tempo que eu nao lia uma peça teatral, aproveitei e peguei essa que estava na minha wish list.
Arthur Miller foi um dramaturgo americano que esta entre os principais autores teatrais do séc. XX.
Off-topic : Eu sempre confundo o Arthur Miller com o Henry Miller, nao tem jeito, quando quero falar de um, falo do outro e vice-versa…
O caixeiro viajante é Willy Loman, um homem que trabalhou 36 anos na mesma empresa para conseguir comprar uma casa, educar os filhos e dar uma vida digna à esposa. Esta com 60 anos, cansado de tanto viajar e trabalhar, ao pedir ao patrao para trabalhar apenas na cidade, é despedido « para seu proprio bem », para poder descansar depois de tantos anos na labuta, seu trabalho na rende mais como deveria.
É triste ver a anulaçao e alienaçao do individuo por causa do trabalho, buscar um minino de reconhecimento depois de tantos anos de empresa e ser despedido sem receber nem um « obrigado », pelo contrario, percebe que nao passa de uma pedra de tropeço para aqueles que nao viam a hora de bota-lo pra fora na primeira oportunidade.
WILLY : Trabalhei a vida inteira para comprar uma casa e quando finalmente consegui, nao resta ninguém para morar nela. 
LINDA : A vida consiste em ir perdendo coisas, sempre foi assim…
O meu maior medo era ser Willy, ele parece com meu pai que também passou a vida trabalhando no mesmo lugar enquanto construia uma casa para morar, tipico da geraçao baby-boomers, ser capacho de patrao, ainda achar que era grande vantagem ter mil anos na mesma empresa e ter uma casa propria. Esse medo me fez  ser instavel e mudar de emprego constantemente, mas agora juro que quero um emprego estavel, cansei de ser vidaloka. Tenho medo também de ter uma casa propria, como se isso me obrigasse a ter que ficar no mesmo lugar para o resto da vida, sou sagitariana com alma cigana, preciso circular e mudar de ares.
Willy tem dois filhos que nao se esforçaram nos estudos, nao têm um emprego decente e ele se sente culpado pelo fracasso deles, estao na casa dos 30 anos, sao dois ingratos, irresponsaveis e parasitas, mas ao mesmo tempo entendi o porquê deles serem assim. Até concordo com Biff quando diz : « Padecemos 50 semanas do ano trabalhando, atendendo telefones, tendo sempre que superar os outros, para ter apenas duas semanas de férias, quando o que você realmente deseja é estar ao ar livre sem camisa. »
Ao pagar o seguro de vida Willy me solta essa : « é curioso, depois de tantos anos trabalhando nas estradas, a gente acaba valendo mais quando esta morto do que quando esta vivo. » Sinto o mesmo quando olho meu hollerith e meu seguro de vida.
Essa peça me deixou triste e reflexiva. De um lado o Willy se matando de trabalhar, sendo fiel à mesma empresa, tentando fazer tudo certinho e no fim so se ferrou. Os filhos se viravam como podiam, eram instaveis e losers, mas nao eram tao pior que o pai. Ser responsavel ou irresponsavel, se no fim acaba todo mundo ferrado? Nao tem escapatoria, sabe… Life sucks.
Este ano me programei para ler e reler ao menos 10 peças teatrais. 

A montanha Brokeback, de Annie Proulx

Li para para o meu projeto “Literatura na sétima arte” que consiste em ler o livro e ver o filme baseado no mesmo. Ja tinha visto o filme (2005), que é muito bom, dirigido por Ang Lee, so me faltava ler o livro.
É um conto sobre a historia de amor entre Ennio del Mar e Jack Twist, dois homens rusticos que trabalham nos ranchos com gados, ovelhas e cavalos. Em 1963, os dois nao tinham nem 20 anos, foram trabalhar durante o verao na montanha Brokeback cuidando dos rebanhos.
"Não sou bicha", e Jack respondeu com um "Nem eu". Isso é só uma vez ou outra.
Eles negam até o fim que nao sao gays, casam com mulheres para tentar provar o que nao precisa ser provado, mas sao cabeças-duras. Entendo que para eles naquela época, em um lugar cheio de testosterona, o trabalho braçal de roça, que homem tem que ser homem, era muito dificil sair do armario.
É uma historia lindissima e triste.

O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald


Li para o Clube dos Classicos Vivos, do Goodreads e para o meu projeto “Literatura na sétima arte”.
Fitzgerald denuncia a vida futil dos ricos americanos dos anos 20. Ele mesmo frequentava festas, viajava para Europa e ostentava como ninguém.
A historia é narrada por Nick Carraway, vizinho de Gatsby e primo da Daisy. Gatsby era um zé ninguém que de repente ficou milionario, dava festas em sua casa que so ia gente importante : atores de Hollywood, musicos, politicos, mafiosos, etc. Era tudo ostentaçao. Tem uma historia de amor tragica como pano de fundo que se a gente nao tiver cuidado, a gente acaba que nem o Nick, tendo dozinha do Gatsby, como se ele fosse um santo e tudo que fazia era por amor. Nesse mundo ha gente que transforma amor em maquiavelismo, acha que por amor pode tudo, os fins justificam os meios, inclusive ha até homicidio por amor (crime passional). WTF humanos!
Algumas pessoas nessa época ou eram herdeiras ou enriqueciam ilicitamente vendendo de bebidas alcoolicas que eram proibidas, na corrupçao que rolava solta, na troca de favores, etc. E a ingênuos que acreditam que é trabalhando em escritorio que se vence na vida. Sabe de nada, inocente! Milionario nao precisa disso, so precisa saber fazer lobby com governo, empregar mao-de-obra barata ou escrava no terceiro mundo, explorar tudo (meio-ambiente inclusive) e todos, investir na bolsa de valores, ser corrupto e voilà la recette du succès.
Aquele Tom Buchanam, marido da Daisy, um rico, branco, conservador, defensor da familia e dos bons costumes, racista e machista (mas tinha amantes e andava em lugares nao condizentes com sua crença porque essa gente que mais fala é a que mais apronta).
Era muito comum nessa época, inclusive entre o meio acadêmico e cientifico, a crença em uma raça superior, isso nao era coisa so de Hitler nao, ele so se apropriou de uma ideia que eram bem difundida na época e Tom era um dos defensores dessa crença.
- A civilização está caindo aos pedaços – interrompeu Tom. – Eu me transformei em um terrível pessimista a respeito de tudo. Você leu A ascensão dos impérios de cor, desse tal de Goddard?
  – Não, não li – respondi, muito surpreso com seu tom de voz.  – Bem, é um ótimo livro e todo mundo deveria lê-lo. A ideia geral é a de que, se não tivermos cuidado, a raça branca vai ser... ora, vai ser totalmente subjugada. Tudo isso é uma questão científica, foi tudo provado.  – Bem, esses livros são todos científicos – insistiu Tom, lançando-lhe um olhar impaciente. – Este camarada estudou o tema a fundo. A responsabilidade é nossa, porque somos nós que pertencemos à raça dominante. Temos de ficar de olhos bem abertos e ter cuidado com todas essas outras raças, caso contrário eles vão assumir o controle das coisas. Sei muito bem que as pessoas hoje em dia estão fazendo troça da vida em família e das instituições familiares. A próxima coisa que vão fazer é jogar tudo para o alto e permitir o casamento de negros com brancos.
Tom sendo machista :
Meu Deus, posso ter ideias um tanto conservadoras, mas realmente as mulheres têm excesso de liberdade hoje em dia. Liberdade demais para o meu gosto. Elas ficam conhecendo um monte de gente maluca.
Bateu na amante :
"Com um único movimento, rápido e ágil, Tom Buchanan quebrou-lhe o nariz com a mão aberta. Então surgiram toalhas ensanguentadas no chão do banheiro, vozes de mulheres fazendo recriminações e, bem alto, acima de toda a confusão, longos e entrecortados gemidos de dor.”
Conselho do pai do Nick :
“Sempre que tiver vontade de criticar alguém – recomendou-me –, lembre primeiro que nem todas as pessoas do mundo tiveram as vantagens que você teve"
Esse conselho foi meio castrador e isso impedia Nick de criticar o estilo de vida de seu vizinho, pois achava que por Gatsby ter tido uma vida dificil na infância, explica o que ele tinha se tornado na idade adulta.

Filme


Apos ter lido o livro, passei na biblioteca e peguei o filme  « The Great Gatsby », dirigido por Baz Luhrmann (o mesmo que dirigiu Moulin Rouge e Romeo + Juliet), com Leozinho DiCaprio, a fofa da Carey Mulligan e o Tobey Maguire nos papeis principais. Figurino e cenario dos anos 20 que sao a coisa “marlinda”. A trilha sonora é magnifica, mistura musica dos anos 20 com hip hop e pop atual, tem “Young and Beautiful” da Lana Del Rey, “Crazy in Love”, da Beyoncé, “Back to Black”, da Amy Winehouse, "Kill and run", da Sia, entre outras. A fotografia também é lindissima. Resumindo: É um deslumbre! Perfeito! Fiz uns gifs.

Gatsby e Daisy ♥
Festas da ostentaçao
Esse maldito carro amarelo....

Esses olhos que tudo vê...
Trouble....
Quero um telefone vintage desse....
Algumas musicas da trilha estao disponiveis no Spotify

Nenhum comentário:

Postar um comentário