Para o Desafio Literário do mês de agosto, li "The strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde", em português traduzido como "O médico e o monstro", de Robert Louis Stevenson, é um conto de terror, assim como o "Olalla" que falei anteriormente.
Dr. Jekyll é um médico que, ao contrário do que muita gente pensa, ele não sofre de Transtorno de dupla personalidade ou como também é chamado, Transtorno dissociativo de identidade, mas sofre de Transtorno psicótico induzido por substância. Com o uso contínuo da droga, assume um outro comportamento, assim como todos os usuários de substâncias psicotrópicas, alucinóginas, entre outras. Ele torna-se dependente químico e quando a droga não faz mais o efeito desejado, aumenta a dose.
Era um homem na casa dos 50 anos, grande, forte, todos os traços revelavam sua capacidade e bondade. Embora fosse considerado um 'cidadão de bem', com uma boa profissão e reputação, ele sentia um vazio existencial, sua condição era boa para agradar a sociedade e não para agradar a si próprio, com o uso da droga toda a repressão e pressão que ele sofria eram dissipadas, ele encontrava a liberdade e o prazer, mas, como sabemos, os efeitos colaterais são muitas vezes devastadores. No caso dele, tranformava-o em uma pessoa violenta e hostil, uma criatura deformada, com uma palidez mórbida, uma voz assustadora, etc.
Curiosidade: A primeira vez que a Scotland Yard, policia metropolitana de Londres, foi citada na literatura, foi neste conto.
Vamos ao resumo:
Um advogado londrino, Dr. Utterson, investiga o que ocorre na casa de seu amigo Dr. Henry Jekyll e procura saber quem é Edward Hyde a quem Dr. Jekyll dedicou seus bens em seu testamento.
Hyde é um joguinho com a palavra "hide"= escondido, o lado negro da força do Dr. Jekyll.
"Deus que me perdoe, mas esse homem nem parece humano! Diria que se parece antes com um troglodita. Oh, meu pobre e velho amigo Jekyll! Se alguma vez vi num rosto a marca de satanás foi com certeza no do teu amigo."Dr. Jekyll explicando sua crise existencial, como se sentia quando estava sob o efeito e quando estava "limpo".
Eu era o mesmo quando, abandonando toda a moderação, atirava-me para os braços da desonra ou quando trabalhando à luz do dia, promovia a ciência para aliviar a dor e o sofrimento.
No fim o homem será reconhecido como um ser habitado por seres múltiplos, incongruentes e autônomos.
Aprendi a reconhecer a primitiva dualidade do homem na minha própria pessoa. As duas naturezas que lutavam na minha consciência eram minhas porque eu era em essência ambas.
A droga não tinha capacidade discriminatória, não era nem diabólica, nem divina, apenas abria as portas do cárcere do meu âmago.
Não quero ser moralista, nem demonstrar juizo de valor algum, é um assunto muito delicado, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Nem tudo o que faz bem para alma, faz bem ao corpo. Essa é a válvula de escape de muitos, para outros é a bebida, a compulsão por sexo, os jogos de azar, a religião, etc. É difícil para o usuário, para família, para os profissionais da área de saúde mental. Cada um reconhece seus monstros, uns sabem domá-los e mantê-los adormecidos, outros são vencidos por eles, isso pode acontecer com qualquer um, independe de classe social. Sabemos o quão dificil é ser "humano", termos que lidar com outros humanos tão problemáticos quanto, adaptarmos ao meio da forma mais confortável possível, nem todos dão conta e não podemos ser intolerantes com eles.
Livro: O médico e o monstro; Olalla; O tesouro de Franchard. 207 págs. Ed. Amadora Ediclube. Tradução: Jorge Pinheiro
Para quem gosta de refletir sobre este assunto, já falei do livro com o tema "O Asilo Arkham: A psicopatologia dos vilões de Gotham City".
Outros livros lidos para o Desafio do mês de agosto:
Olalla,de Robert Louis Stevenson
O corvo, de Edgar Allan Poe
É isso!