quarta-feira, 10 de junho de 2015

Quando o francês era uma ameaça ao português

A Biblioteca Brasiliana, da Universidade de Sao Paulo, tem um rico acervo de obras digitalizadas e que podem ser consultadas on-line. Entre estas obras, achei o livro "Gallicismos, palavras e phrases da lingua franceza introduzidas por descuido, ignorancia ou necessidade na lingua portugueza : estudos e reflexões", de Joaquim Norberto de Souza e Silva, publicado em 1877 (consulte-o aqui). O intuito deste livro era de denunciar os excessos do francês na lingua portuguesa. Como vocês sabem, os letrados, estudiosos da lingua nao poupam no vocabulario, muitas vezes sao prepotentes e preconceituosos ao demonstrarem o descontentamento em relaçao à intrusao de neologismos e os "idiotismos" na nossa lingua. Lendo este livro, percebi que a ideia preconceituosa que "francês é coisa de viado (maricas)" vem dessa época ai. Seguem alguns trechos:


 Ler os classicos era um privilégio para poucos, os que nao tinham acesso aos bons livros, nao poderiam zombar (escarnecer) dos que tinham e estudavam a fundo o português:



Este livro, apesar dos pesares, ainda é muito interessante, pude reter o que é bom, na terceira parte tem um glossario de palavras que vieram do francês para o português, ha algumas explicaçoes sobre as origens das palavras, entre outras curiosidades. O unico defeito é que esses homens eram muito esnobes, querem te fazer sentir um lixo por nao fazer o bom uso da propria lingua-mae.

O francês tinha uma grande influência nas artes, literatura, diplomacia, nas guerras, na enfermagem. Era o idioma facilitador entre as naçoes, assim como o inglês é hoje.
O português escrito mudou bastante em 138 anos, nao escrevemos mais assim como eles escreviam, ou seja, a lingua é mutavel e flexivel, tanto na escrita quanto na fala, ela sofre influência de varios outros idiomas, dos neologismos, das girias, das expressoes, etc.

"Eu nao sou nada, eu sei, mas eu formo o meu nada com um pedacinho de tudo"

De um lado, entendo a preocupaçao dos linguistas em defender o idioma, em criar regras gramaticais, mas também entendo as pessoas, afinal sou uma delas, que acabam deturpando a lingua, ora por ignorancia, ora por facilidade. Infelizmente nao tive o privilégio de ler os classicos, nao estudei latim, nem grego, tenho prefêrencia por linguas modernas, falo e escrevo porcamente algumas delas.
Em um mundo globalizado, prefiro falar mais ou menos varias linguas do que ser obcecada em falar perfeitamente o português. Para mim, é uma questao de sobrevivência saber comunicar-me com o mundo atual. Confesso que nao me esforço o suficiente para defender o português.
Se antes ja era dificil controlar os estrangeirismos, imagine hoje com a internet, com a tecnologia que cria novos vocabularios técnicos tao rapidos que nao da nem tempo de fazer a traduçao.
Por ironia do destino, hoje sao os francofonos que tentam se defender do anglicismo, vejam esta campanha: (aff, cara chato, mas às vezes me pego falando como ele).





PS: Faltam alguns acentos no meu teclado (que é francês! rsrs), Peço desculpas antecipadas aos que se sentiram ofendidos ao me ver escrever em português sem acentuar algumas palavras, reconheço o despautério. 

Um comentário:

  1. Legal o post. Confesso que eu sou um pouco conservador quando se trata de idiomas. Faz bastante tempo que aprendi Inglês e Francês e nunca gostei de falar como o sujeito de primeiro vídeo. Respeito (e consigo entender) quem fala assim, mas acho completamente desnecessário utilizar uma palavra ou expressão que já existe em nossa língua. Até um tempo atrás eu trabalhava em uma empresa que praticamente todos no escritório falavam Inglês fluentemente e este hábito de misturar Português com Inglês era comum e me irritava bastante. Afinal, nossa língua é tão bela! Por que não tentar usá-la corretamente?

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