sábado, 20 de janeiro de 2018

O diario da Anna Dostoievskaia

No fim do ano, passei na biblioteca e vi este diario da Anna Dostoievkaia e resolvi pega-lo por curiosidade. 
Anna, aos 19 anos, foi trabalhar para Dostoievski como taquigrafa do livro "O Jogador" e apos 4 meses que se conheceram, casaram. Ele era viuvo e tinha 45 anos, idade de ser pai dela, mas agia como se fosse filho.
Este diario é apenas do ano de 1867, primeiro ano do casamento, estavam morando na Suiça. Ela narra o dia-a-dia de esposa, dona de casa que vai às compras, ao correio, à biblioteca, sai para um passeio, costura e aguenta calada o marido.
A vida de Dostoievski sempre foi atormentada, nem vou entrar em detalhes, so vou mostrar o ponto de vista descrito no diario pela esposa.

Na minha cabeça tem aquele conflito, eu uma mulher do séc. XXI querendo entender uma mulher do séc XIX, porque sinceramente, nao sei se tenho do ou raiva desta criatura que da a impressao que mulher veio nesta vida para ser martir e aguentar todos os pitis do marido.

Ela achou uma carta no bolso dele, arrancou com tudo, acabou rasgando e nao deu para saber quem era a remetente. Entao começou o ciumes, o medo de ser traida como foi a primeira esposa, Maria Dmitrievna. (Leia o conto "O Eterno Marido", talvez la ele explica melhor).

Era viciado em jogatina e perdia tudo sempre, por isso fugiu da Russia, eles tinham que penhorar alianças, roupas e pedir dinheiro emprestado para familia, principalmente para a coitada da mae da Anna. Viviam na miséria e ela ainda estava gravida. (Leiam O Jogador)

Ele sofria de epilepsia e tinha crises varias vezes por semana.

O que mais me chocou foi o relacionamento abusivo, ele fazia de tudo para reduzi-la a nada. Varias vezes ela escreveu: Que homem estranho!

"Ele me ofendeu dizendo que antes me considerava uma das primeiras, mas que eu nao passava da ultima das mulheres. Nem vou insistir, é bem conhecido que nenhum marido acha sua mulher inteligente, boa, cultivada. A noite eu chorava, estava triste porque o homem que eu amava nao me compreendia"

Olha que traste! Estavam na miséria e ele reclamando que ela andava mal vestida:

"Ele repetiu varias vezes que eu andava mal vestida como uma doméstica, enquanto as mulheres na rua estao todas bem arrumadas. O que eu posso fazer? Se ele me desse 20 francos por mês para comprar roupas, eu me vestiria melhor, mas depois que viemos para o estrangeiro, eu nao comprei nenhum vestido. Ele, em vez de ficar bravo, tinha era que me agradecer por nao gastar dinheiro com roupas".
"Ele me disse que eu era uma boa esposa, por mais boa que eu fosse, ainda merecia umas chicotadas de vez em quando" 
"Segundo ele, uma mulher é incapaz de fazer alguma coisa direito, nao sabem trabalhar corretamente, nem ganhar o pao, elas estragam tudo. Elas tem que se casar para evitar isso. Se ele é considerado entre os melhores pensa assim, imagine os menos instruidos. Quando ele terminou de falar, eu tive uma sensaçao extremamente desagradavel, como se eu tivesse cometido uma injustiça, foi uma humilhaçao nao merecida".

Falando em russos, Virginia Woolf escreveu em seu diario: "Pessoas que detestam as mulheres me deprimem e Tolstoi detesta". Como so li Anna Karenina e A morte de Ivan Ilitch, fiquei com um ponto de interrogaçao na cabeça por alguns anos. Entao me deparei com esta "17 regras de vida", duas das regras: Visitar o bordel apenas duas vezes por mês, manter distância de mulheres. 
Queria saber o que Virginia leu que a deixou deprimida, nao menciona, mas ela chegou a traduzir algumas obras dele.

Essas eram as vidinhas machistas dos nossos amados russos, né mores? Concordo com a Woolf, é deprimente... 

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