segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Circunstância


cir.cuns.tân.cia
sf (lat circumstantia) 1 Acidente de lugar, modo, tempo etc. que acompanha um fato. 2 Dir Motivo ou fato que, acompanhando, seguindo ou precedendo um crime ou delito, o agrava ou atenua. 3 Condição, requisito. 4 Causa, motivo. 5 Estado das coisas, em determinado momento. 6 Relação, situação. 7 Importância ou destaque social. Estar em más circunstâncias: estar em perigo ou má situação financeira.
[definição do Dicionário Michaelis]

No fim de semana, assisti ao filme iraniano "Circumstance", dirigido pela Maryam Keshavarz. O filme narra a história de duas garotas que se apaixonam, além da trama homossexual, mostra também como os jovens são reprimidos o tempo inteiro e quão terrível é um país fundamentalista em que não se distingue a política da religião. As personagens principais são a Atafeh e Shirren. Atafeh tem um irmão que de uma hora para outra vira um fanático religioso e começa a controlar a família espalhando câmeras pela casa e denunciando para polícia da moralidade tudo o que ele acha que é inconveniente. WTF polícia da moralidade? Fiquei passada em saber que isso existe.
A gente nunca valoriza a liberdade que temos, não é? O estado laico é um privilégio, embora haja muitos religiosos candidatando-se para brecar os direitos que algumas minorias lutam para conquistar. Caraca, nunca parei para pensar que se eu quisesse namorar uma pessoa do mesmo sexo, eu posso, sou livre para isso, hoje posso até casar se fosse o caso, o estado me daria cobertura.
Eu posso escolher marido, não sou forçada a um casamento arranjado pela família. Se o casamento não dá certo, eu posso divorciar.
Atafeh e Shirren

Eu poderia ir a uma balada se eu gostasse. Lá rola uma baladas clandestinas que os jovens fazem para fumar, beber, usar roupas do ocidente, ouvir música do ocidente e dar umas pegadas. A gente pode fazer tudo isso, sem ter a polícia da moralidade por perto.
Cinema americano, só consegue cópia pirata no mercado negro. Poucas coisas aproveito do besteirol do cinema americano, hip hop, funk e um monte de música não faz o meu estilo, posso escolher não ouvir, mas quem gosta, pode ouvir livremente. É melhor ter Michel Teló e Restart a ser obrigado a ouvir só música religiosa.
praia
Eu posso ir à praia de biquíni, apesar de não curtir praia, gosto só depois das 18h e raramente entro na água, mas eu posso, saca? Olha nesta foto, as mulheres vestidas até o pé e enrolada de lenço na cabeça enquanto os homens desfilam de sunguinha para todo lado.
O mundo é mesmo injusto, eu não aproveito nada da liberdade que me é concedida, mas fico feliz em saber que quando quiser aproveitar não terei nenhum empecilho. Se eu pudesse doar as coisas que não aproveito para quem aproveitaria melhor, eu doaria minha cota de balada, de direitos homossexuais, de praia, de filmes e de alguns estilos de música, se não gosto ou não aproveito deve haver quem goste.
O filme é excelente, super indico. Aprendi a valorizar bem mais as coisas que tenho direito e sei que apesar do lixo e do excesso de informação que vem junto com a liberdade, eu posso escolher o que posso aproveitar ou não, tem gente que nem isso pode. Queria falar de muitas coisas do filme, mas aí seria spoiler, para não estragar, indico que assistam!
Vamos lutar sempre pelo estado laico e evitar ao máximo o escravismo religioso.

Para acabar em samba:
Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz


Um comentário:

  1. Outro filme bom para mostrar isso é o Persépolis. Na verdade é uma animação, que foi baseada na história em quadrinhos (que também é ótima) auto biográfica da iraniana Marjapi Satrapi, radicada na França.

    Gostei muito principalmente porque a autora nos dá uma idéia de como a civilização persa tournou-se isso que é hoje, o Iran fundamentalista.
    Também fiquei um pouco chocada com a minha própria liberdade depois de ler a história dela. Me parece tão distante esse negócio de não poder fazer coisas simples como ter amigos do sexo masculino, andar com a roupa que eu quiser oi tomar um banho de mar...

    Beijos,
    Lídia.

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