terça-feira, 26 de abril de 2016

Leitura: As cartas mais bonitas de mulheres


Terminei a leitura do livro "Les plus belles lettres de femmes" (traduçao livre: As cartas mais bonitas de mulheres), dos autores Laurie Adler e Stefan Bollmann, os mesmos de "As mulheres que leem sao perigosas".
O livro narra a historia da literatura epistolar feminina e é dividido em: cartas de amor, cartas de amizade, cartas de amor maternal e filial, cartas de mulheres de influência e cartas de mulheres viajantes.
Vou comentar sobre algumas cartas, infelizmente nao da pra falar de todas:

Cartas de amor

Elizabeth Barret e Robert Browning eram poetas, trocara 537 cartas, apaixonaram-se. Quando criança, ela sofreu um acidente ao cair do cavalo, ficou paralisada na cama e sem contato com o mundo externo.
Ela tinha medo de casar-se, primeiro por sua condiçao fisica, segundo porque tinha um pai tirânico e ela tinha medo que o marido fosse igual e por fim, achava-se velha, ja tinha 39 anos. Porém, Robert foi insistente e ela cedeu, a familia achou um absurdo, o pai deserdou-a, tirou-a do seu testamento e nunca respondeu nenhuma carta dela.
Casaram-se, passaram 6 meses em lua de mel na Italia, seu estado de saude melhorou e aos 43 anos tornou-se mae.
A historia deles virou filme, "The Barretts of Wimpole Street", de 1934, dirigido Sidney Franklin


Napoleao Bonaparte e Josephine. Pensa em um homem apaixonado? Era esse general nanico. Infelizmente tiveram que desfazer o casamento por razoes de interesse do Império.
"Recebe milhoes de beijos, mas nao me dê nenhum porque eles queimam o meu sangue.
Minha alma esta triste, meu coraçao é escravo, minha imaginaçao me assusta. Adeus mulher, tormento, alegria, esperança e alma da minha vida que amo, que temo e que me inspira sentimentos ternos".

George Sand (pseudônimo masculino adotado pela Aure Dupin para ser aceita no meio literario) foi uma mulher muito excêntrica no séc. XIX, costumava vestir-se com trajes masculinos, divorciou em 1836 (época em que divorcios eram raros), escreveu sobre erotismo e sexualidade, teve varios amantes e Alfred de Musset foi um deles, ela o traiu com o médico dele e conta em seu livro "Ela e ele" o que realmente aconteceu entre os dois.

Juliette Drouet e o escritor francês Victor Hugo trocaram 23.650 correspondências durante meio século.

Katherine Mansfield e seu marido John Middleton Murry eram vizinhos do J.H. Lawrence e da Frieda. Katherine contava ao seu amigo, por cartas, as brigas de J.H. que espancava a mulher até deixa-la desacordada e toda machucada. Esse cara caiu e muito no meu conceito.



Virginia era casada com Leonardo Woolf, Vita era lésbica casada com um diplomata gay e era mae. Naquela época era impensavel assumir a sexualidade, entao era comum casamento entre homossexuais para manter as aparências. As duas tiveram um caso. Em uma das cartas, Vita pergunta se Virginia nao quer ir com ela para Espanha e ficar no meio dos ciganos, mas Virginia era muito discreta, portanto recusou o convite, termina a relaçao, mas escreve o livro Orlando e pede autorizaçao para Vita se podia publica-lo, pois o livro é um biografia sobre ela. 

Frida Kahlo era apaixonada pelo fotografo hungaro, Nickolas Muray: 


"Mi niño, 
Eu te adoro, meu amor, como nunca antes amei ninguém, creia-me".

Anais Nin escreve para Henry Miller:

Anais Nin
"Te amo, te amo, te amo. Eu me tornei uma idiota. Veja so o efeito do amor sobre as mulheres inteligentes, elas nao sabem mais escrever cartas".

Simone de Beauvoir para Nelson Algren:
"Meu bem amado marido sem casamento, eu preciso de você assim como você precisa de mim. A vida é fria e curta, por isso é dificil desprezar um sentimento como o nosso, quente e intenso. Se as circunstâncias nao me impedissem, eu teria ficado ao seu lado. Significou muito para mim um amor como esse".

Cartas de amizade

Katherine Mansfield e Virginia Woolf competiam na literatura, uma queria escrever melhor que a outra, uma apontava os "erros" da outra, inclusive Katherine detestou o livro "Dia e noite" da Virginia e esta nao gostou do livro "Felicidade (Bliss)", da Katherine, achou muito sentimental e sexual. Porque amiga nao é so pra elogiar nao, as duas cresceram na literatura de tanto que uma criticava a outra.



Hannah Arendt e Mary McCarthy eram as inteligentonas, queria umas amigas assim, falavam das filosofias de Platao, Kent, Kierkegaard, Nietzsche, Socrates, citavam Brecht.


Elizabeth Charlotte, princesa palatina de Rhein, casou-se com o Duque Philippe, irmao do Rei Louis XIV, enviava cartas para seus parentes na Alemanha:
"Aquilo que a gente se cala na vida, a gente fala nas cartas.  
Melhor ser um conde do império e ter liberdade do que ter um filho, somos apenas escravas coroadas".

Cartas de amor filial e maternal

Calamity Jane
Calamity Jane vivia no Velho Oeste americano, para sobreviver vestia-se com roupas masculinas e atirava como ninguém, apos a morte do companheiro, ela nao podia ser mae solteira, entregou a filha para um casal, escrevia para ela sempre, mas nunca enviou, as cartas foram entregues à ela apos seu falecimento. É de cortar o coraçao!

Marina Tsevetaieva à sua filha Alia que estava em um campo de trabalhos forçados: "Seja forte e corajosa!". Esta mulher e sua familia tiveram uma vida de cao.

Camille Claudel
Camille Claudel enviava cartas para sua mae, esta jamais visitou a filha que estava internada em uma instituiçao psiquiatrica. Camille foi muito injustiçada na vida e estava muito sozinha, nao podia contar com ninguém.

Cartas de mulheres de influência

A rainha Vitoria, da Inglaterra, era contra a igualdade entre homens e mulheres, achava um absurdo as mulheres almejarem as mesmas posiçoes profissionais que os homens, dizia que o movimento das mulheres era perigoso, anticristao e antinatural. Conservadorismo, monarquia e religiao fodem com o mundo!

Edith Stein era judia convertida ao catolicismo, virou freira, era teologa e filosofa alema. Escreveu ao Papa para interceder pelos judeus durante o Nazismo. Ela foi morta na câmara de gas em Auschwitz. Claro que a Igreja nao se opôs a Hitler e como a hipocrisia é grande, canonizaram Edith so para se livrar da mea-culpa, assim como fizeram com a Joana D'Arc, mataram-na depois transformaram-na em santa.
Simone Weill
Simone Weill era filosofa e militante politica, lutava contra o facismo e nazismo na Europa, escrevia aos aliados contando os absurdos e pedindo ajuda.



Lise Meitner era especialista em Fisica Atômica e professora de Fisica na Universidade de Berlim, como era de origem judaica, teve que imigrar por causa do Nazismo, ela trabalhou quase 30 anos com Otto Hahn, pesquisavam sobre radiaçao e fusao nuclear. Apos sua partida, ele ganhou o prêmio Nobel de fisica e levou todos os louros sozinho. Ela enviou cartas demonstrando seu descontentamento.

Cartas de mulheres viajantes

Isabelle Eberhardt, filha de imigrantes russos, converteu-se ao islamismo e aos 20 anos tornou-se nômade, veste-se com roupas masculinas e vai para os paises do Maghreb, visita lugares santos, bares e bordeis, vive entre os beduinos. Morreu em 1904, aos 26 anos, no deserto do Sahara.

Gertrude Bell foi a primeira mulher a ter um diploma de historia na Universidade de Oxford, foi para o Teera, aprendeu arabe, persa e turco.

Alexandra David-Neel estudou filosofia em Londres e era cantora de opera, casa-se e em seguida parte para Asia deixando o marido para tras, uma viagem que duraria 18 meses, durou 14 anos. Conheceu o Tibet, o Himalaia, a China e foi a primeira mulher ocidental a entrar em Llasa.

Karen Blixen era de uma familia rica na Dinamarca. Ao se casar, vai morar no Quênia onde seu marido é colonizador e planta café. Um dos passatempos dela era caçar leoes e tinha mania de falar "meus negros", como se eles fossem propriedade dela. Olha, sororidade tem limites! Assim nao tem como te defender, dona Karen, colonizadora, caçadora... Tô fora!

Que judiaçao essas leoas abatidas!

É um livro muito interessante, muitas mulheres sofreram injustiças, muitas eram corajosas, aventureiras, conquistaram espaços predominantemente masculinos, escreviam de forma brilhante, filosofavam, nao se calavam diante dos absurdos. Claro que tem outras que nao posso concordar com certas coisas, mas às vezes temos que separar a obra do artista/escritor, é muito dificil para mim, mas é o jeito porque senao a gente acaba odiando todo mundo.
Depois de ler Orlando, passei a perceber que para ser uma mulher livre nos séc. 18 e 19, elas tinham que se vestir de homem, adotar igualmente um nome masculino e isso nem sempre tinha a ver com a sexualidade delas, era apenas uma maneira de serem respeitadas. C'est la vie des femmes dans un monde macho!

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