Voltei da Tailândia com uma barata viva na mala. Sim, a bicha viajou sem passaporte, atravessou continentes, fez conexao em Dubai e nao foi detectada na segurança.
A segurança dos aeroportos costuma ser chata no quesito de impedir a entrada de plantas, sementes, insetos, animais, etc. Porém, ela passou ilesa por todos os raios-x e todas as burocracias. Como sou regida pela lei de Murphy, se eu tivesse a intenção de trazê-la, eu seria pega, mas como não tive, não fui. Até porque na ida eu fui barrada por muito menos, mas isso é caso pra outro post.
Cheguei em casa cansada após quase 30 h de viagem, não abri a mala nem no primeiro e nem no segundo dia e quando decidi abrir, ela estava lá há vários dias sem comer, querendo sair e conhecer o novo país. Eu desacreditada, peguei um Raid e comecei a sprayar como se não houvesse amanhã. A bicha saiu tonta da mala e eu tive que pensar rapido, pisei nela.
Foi a primeira vez que matei uma barata na vida, alguém tinha que fazer o trabalho sujo. Como eu dependo apenas de mim mesma, fui lá e fiz e após tê-lo feito, comecei a refletir mais que GH de 'O evangelho segundo GH'. Pensei em todo percurso que ela fez enquanto estava viva, o quanto era aventureira, o quanto parecia comigo, ela veio comigo, eu fui no país dela, tivemos uma conexão, também teve uma repulsa da minha parte e julguei que ela deveria morrer, pois não poderia conviver comigo em casa.
Não como carne, mas sou de certa forma especista. Para garantir nossa sobrevivência temos que nos distanciar de mosquitos (eles são o que mais matam humanos), ratos, baratas, etc. Não é saudável a convivência, são pragas para nós, assim como nós somos pragas para eles e para todo o ecossistema.
Entretanto não os considero inferiores por serem menores, a barata sobrevive a uma explosão nuclear, os ratos se adaptam em esgotos, nos subterrâneos, procuram comida no escuro e a rata pode ter até 6 gestações por ano, com 5 a 10 filhotes por ninhada. Ja os mosquitos causam, dengue, zika, chikungunya, febre oropouche, febre amarela, malária, elefantíase, leishmaniose, febre do nilo ocidental (encefalite japonesa), etc. Eles podem acabar com a gente fácil, nunca duvidei do potencial deles, por isso tento evitá-los a todo custo.
Não queria ser culpada por uma infestação de baratas estrangeiras nestas terras, tive que nocauteá-la. Se fosse um escorpião, talvez eu queimaria a mala, ligaria para os bombeiros, sei que poderia ser pior, mas não foi. Há bichos que não posso nem ver quem dirá matar, tipo: rato, cobra e escorpião. Espero nunca ter que enfrentá-los, porque a morta seria euzinha.
Após o triste fim da barata que nadou todo um oceano para morrer na praia, joguei todas as minhas roupas na água fervente dentro da banheira para matar ovos, microbios e outras coisinhas invisiveis que a gente pode trazer. Sempre guardo as roupas dentro de plásticos a vácuo, então acho que ela não entrou em contato, mas por via das dúvidas, joguei tudo na água escaldante com produtos, inclusive a mala que já estava cheia de veneno.
Assim termino o curriculum vitae e o mortis da barata viajante que poderia morrer no esquecimento, mas eu, a assassina, resolvi deixar registrado a aventura dela neste blog que ninguém lê.