sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pequenas felicidades de março e abril

Ai, amigues, peço desculpas por demorar tanto para participar, já participo pouco, uma vez por mês, agora acumulei dois meses, shame on me!
Vamos ao que interessa: Março foi um mês ótimo porque teve show do Chico Buarque e eu sou super fã, a ponto de saber de cór todas as músicas que ele cantou, veja as fotos aqui.
Também foi o mês das minhas férias, tirei 20 dias e fomos para o Peru, veja as fotos aqui.
Chegando em casa tinha um envelope pardo do Consulado do Canadá, depois de 16 meses esperando, eles mandaram o pedido de exames médicos e do passaporte, imediatamente passei no médico, fiz os exames, paguei a taxa e levei os passaportes no Consulado, estou aguardando o visto. Agora estou na loucura da mudança, se já dá trabalho mudar de casa, imagine de país. Tenho que encerrar contas bancárias, contas de água, luz, telefone, vender tudo, pedir demissão, é uma correria.
Para o desafio Literário li três livros: O nome da Rosa - Umberto Eco; Minha querida Sputnik -  Haruki Murakami e A dançarina de Izu - Yasunari Kawabata. E para minha alegria, também comprei os livros de Borges, Lorca e Llosa da coleção ibero-americana.
Eu achando que dou conta de tudo, ainda inventei de participar do Desafio das 31 unhas: já pintei de vermelho, laranja e amarelo.
Por enquanto é isso, embora a vida esteja um caos, eu reservo um tempinho para todas as coisas citadas acima que me dão um pouco de alegria.
Até a próxima!

Pequenas Felicidades é uma blogagem coletiva proposta pela Rita do Botõezinhos

terça-feira, 24 de abril de 2012

Desafio Literário: A dançarina de Izu

Para o Desafio Literário, cujo o tema para o mês de abril é escritor oriental, li o 2º livro, "A dançarina de Izu", de Yasunari Kawabata, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1968. 101 págs. Editora Estação Liberdade.



Com toques autobiográficos, foi baseado em suas anotações intituladas Yugashima no omoide (Recordações de Yugashima), obra que nunca chegou a ser publicada, o autor narra as viagens de juventude às termas da península de Izu. O personagem, um jovem, em sua viagem, encontra um grupo de artistas ambulantes e encanta-se por Kaoru, a dançarina, de 13 anos, ela é uma espécie de Alice para Lewis Carroll ou uma Lolita mais sutil, a virgem inatingível e o jovem só é voyeur da beleza, mas contido na sua timidez. O amor impossível, a sexualidade velada e a solidão são temas recorrentes na obra de Kawabata.
A literatura oriental não tem aquela obrigação de ter um início e um fim marcante, sempre acaba como se tivesse faltando alguma coisa, não tem um ápice, uma catarse, é tudo meio zen para quem lê, como consta escrito na contra-capa do livro, "contrasta o ritmo harmônico da natureza e o turbilhão da avalanche sensorial, é a fragilização do ser humano, numa composição com tons levemente surreais de elementos da cultura e filosofia orientais, personagens acuados e cenários inóspitos."
É isso!

Literatura japonesa que já li anteriormente:
Sonhos de 10 noites- Natsume Soseki
A casa das belas adormecidas - Yasunari Kawabata
Contos da palma da mão - Yasunari Kawabata
Minha querida Sputnik -  Haruki Murakami

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Desafio Literário de abril: Minha querida Sputnik

O escritor oriental que escolhi para ler no desafio foi o Haruki Murakami. Título: Minha querida Sputnik. 229 págs. Editora Objetiva.
O 1º parágrafo do livro já é um resumo do que se trata (clique na imagem para aumentar)
As coisas inúteis também não têm um  lugar neste mundo longe de ser perfeito? Retire tudo o que é fútil de uma vida imperfeita e ela perderá, até mesmo, sua imperfeição. [trecho do livro - pág.8]

Personagens:
Sumire (significa Violeta em japonês), 22 anos, abandona a faculdade de artes liberais no 3º ano porque quer ser escritora. Vive de mesada dos pais, era romântica incurável, um pouco inocente, se começava a falar não parava mais, mas se estava com alguém que não gostava, ou seja, a maioria das pessoas no mundo, mal abria a boca. Fumava demais, era louca por Kerouac, fã de literatura e de música clássica, sabia espanhol, era tão esquecida que esquecia até de comer, andava com as mãos enfiadas no bolso do casaco e cabelo despenteado.
Miu era de nacionalidade coreana, mas foi criada no Japão, 17 anos mais velha que Sumire, estudou em uma academia de música na França, era fluente em inglês, francês e japonês, estava sempre bem vestida de modo refinado.
O narrador, melhor amigo de Sumire, era apaixonado por ela, passavam horas conversando, gostava de ler, era professor.
O livro fala sobre esse triângulo amoroso, amores difíceis. Na literatura contemporânea, a gente acaba se identificando com os personagens porque eles são da nossa época, escutam as mesmas músicas e leem os mesmos livros dos dias de hoje. O por quê do título do livro também é bem interessante, um mal entendido que traz uma dose de humor para a história.
Sou suspeita para falar de literatura japonesa porque sou fã, eu gostei do livro, em uma escala de 0 a 5, daria 3,5.
Termino com a musica citada no livro, de Astrud Gilberto, "Leva-me para Aruanda"





Literatura japonesa que já li anteriormente:
Sonhos de 10 noites- Natsume Soseki
A casa das belas adormecidas - Yasunari Kawabata
Contos da palma da mão - Yasunari Kawabata

Próximo livro para este desafio:
A dançarina de Izu - Yasunari Kawabata

Até a próxima!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Desafio Literário Março: O nome da rosa

O tema do "Desafio Literário" para o mês de março é "mortes em série", eu tinha escolhido um outro livro para ler, mas, às vezes a gente não escolhe o livro, ele nos escolhe, vi  "O Nome da Rosa" guardadinho entre os outros livros, como a trama tem tudo a ver com o tema, resolvi lê-lo. Por quê demorei tanto? É um livro tão gostoso! Embora seja um pouco difícil para quem não tem familiaridade com o latim, afinal a gente tem que reservar um tempo para as traduções, recorri ao Google tradutor (que é bem ruinzinho ainda!) e ao dicionário. O livro é muito bacana para quem gosta de latim, de mortes inexplicáveis, de idade média, de teologia, vida monástica, de investigação, de biblioteca e de livros (afinal, os que frequentam a biblioteca ou são interessados por livros são os principais suspeitos).
Alguns dos personagens representados no filme "O nome da rosa". 1986. Direção:
    Jean-Jacques Annaud. Atores na foto: Sean Connery (Guilherme), Christian Slater (Adso), Feodor Chaliapin Jr. (Jorge de Burgos), Ron Perlman (Salvatore)
Resumo: Em 1937, Guilherme de Baskerville (ou William de Baskerville - versão inglesa), um frade franciscano inglês chega a um mosteiro italiano que contém a maior biblioteca do mundo cristão. É acompanhado pelo jovem Adso de Melk, uma espécie de discípulo/ aprendiz/ noviço, e acima de tudo, o narrador da história. Guilherme tem como missão fazer a mediação entre os dominicanos e os franciscanos, estes últimos, eram acusados de heresia pelo papa por fazerem votos de pobreza. Ali, em meio a intensos debates religiosos, o frade franciscano inglês Guilherme de Baskerville e seu jovem auxiliar, Adso, envolvem-se na investigação das insólitas mortes de sete monges, em sete dias e sete noites.
Coleção Biblioteca da Folha - 479 págs
 O livro apresenta fatos históricos da Europa Medieval. O narrador, Adso, um jovem bem motivado, curioso e cheio de boas intenções, como um estagiário hoje em dia, tem vontade e capacidade de aprender, mas tem a ingenuidade que o impede de entender os processos burocráticos, a política do lugar, o lado obscuro e até corrupto da organização. No desenrolar da trama, é nítido como Adso vai perdendo a ingenuidade e adquirindo a malícia e percebendo o ambiente sombrio ao seu redor, a corrupção, as mentiras. Ele começa a ter vontades anti-celibatárias e a refletir sobre o amor, a mulher, se isso é realmente prejudicial ao homem que escolhe servir a Deus.
Outro personagem que me encantou foi o Salvatore, parecia mais bicho do que gente e falava todas as línguas ao mesmo tempo, criando seu próprio idioma.
Durante a leitura deste livro, fiz uma viagem ao Peru, visitei em 12 dias tantas igrejas, talvez mais do que tenha visitado a minha vida inteira, essa experiência religiosa me enojou muito, a história da colonização foi tão cruel quanto na Idade Média descrita no livro, visitei o Museo de la Inquisición, a Inquisição Peruana é parecida com a espanhola que é um pouco diferente da medieval, mas tinha o mesmo intuito, torturar e matar quem não estava de acordo com a igreja. As próprias igrejas foram construídas com pouca iluminação, órgãos com aqueles sons assustadores, uns santos com caras de sofrimento para meter terror mesmo, usaram a psicologia do medo para conquistar os nativos, uma espécie de evangelização terrorista. O mais estúpido foi a forma que destruíram a civilização inca, tão rica, cheia de conhecimentos arquitetônicos, de astronomia e de respeito pela natureza. Os que deveriam trazer a paz em nome da religião, trazem guerras, intolerância e discórdia entre os povos, isso até os dias de hoje, infelizmente.
Uma das bibliotecas mais antigas da América dentro de uma igreja do Peru
Voltando ao livro, vamos aos fragmentos:
"A biblioteca é testemunho da verdade e do erro". (Jorge de Burgos)
"A conquista do saber passa pelo conhecimento das línguas". (Guilherme citando Bacon)
"Como assim? Para saber o que diz um livro deveis ler outros"? "Às vezes pode-se proceder assim. Frequentemente os livros falam de outros livros. Frequentemente um livro inócuo é como uma semente que florescerá em um livro perigoso, ou, ao contrário, é o fruto doce de uma raiz amarga". (conversa entre Guilherme e Adso)
O medo que a igreja tinha de quem lia ou buscava adquirir conhecimento (clique nas imagens para ler melhor)
Opinião da igreja sobre a mulher:
"A fêmea é a embarcação do demônio". (Ubertino conversando com Adso)
"É através da mulher que o diabo penetra no coração dos homens!" (Ubertino conversando com Adso)
 "Da mulher, diz o Eclesiastes que sua conversa é como fogo ardente, e os Provérbios dizem que ela se apodera da alma preciosa do homem e que os mais fortes foram arruinados por ela. E disse mais o Eclesiastes: descobre que mais amarga que a morte é a mulher, e que é como um laço dos caçadores, o seu coração é como uma rede, as suas mãos como cordas. E outros disseram que ela é a barca do demônio. Visto isso, caro Adso, eu não consigo convencer-me que Deus tenha querido introduzir na criação um ser tão imundo sem dotá-lo de alguma virtude". (Guilherme)
mais de meia página em latim (clique na imagem para aumentar)

Vou colocar aqui algumas traduções do latim que achei interessante. Queria colocar todas, mas já estou atrasada com esta postagem, também estou sem tempo, mas quem for ler o livro e tiver alguma dúvida, coloque nos comentários a frase que eu posso ajudar.

[pág 19] videmus nunc per speculum et in aenigmate: Porque agora vemos por espelho em enigma. (Baseado no versículo bíblico de 1 Coríntios 13:12: Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido).
Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face.
1 Coríntios 13:12
Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face.
1 Coríntios 13:12
Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face.
1 Coríntios 13:12

[pág. 31] Alan das Ilhas dizia que:
omnis mundi creatura
quasi liber et pictura
nobis est in speculum
Toda criação do mundo, como um livro ou uma pintura, é como um espelho para nós.

[pág. 42] Monasterium sine libres est sicut civitas sine opibus, castrum sine numeris, coquina sine supellectili, mensa sinecibis, hortus sine herbis, pratum sine floribus, arbor sine foliis. Um monastério sem livros é como uma cidade sem riquezas, um castelo sem soldados, uma cozinha sem utensílios, uma mesa sem manjares, uma horta sem ervas, prados sem flores, árvores sem folhas.

[pág. 70] mors est quies viatoris - finis est omnis laboris: A morte é o descanso da vida - o fim de todo o trabalho.

[pág. 83] verba vana aut risui apta non loqui: não pronuncieis palavras vãs, aptas a provocar o riso. (baseado no livro de Efésios, capítulo 5) 

[pág. 272] Actus appetiti sensitivi in quantum habent transmutationem corporalem annexam, passiones dicuntur, non autem actus voluntatis. Os atos do apetite sensitivo causam transmutações corpóreas, isso é paixão, não um ato voluntário. (Suma Teológica de São Tomás de Aquino)
facit quod ipsae res quae amantur, amanti aliquo modo uniantur et amor est magis congnitivus quam congnitio. O amor nos faz amar as mesmas coisas, os amantes estão unidos de alguma forma, o amor é mais cognitivo que o conhecimento.