segunda-feira, 20 de julho de 2009

Fala de filme: A paixão de Anna - Ingmar Bergman


Eva conversando com Andreas:

É duro perceber um dia que se foi insignificante. Que ninguém precisa de você, apesar de você querer se entregar a alguém.
Acho que é tudo culpa minha, mas está tudo paralisando. Queria muito complementar tudo. Fiz um mundo de planos.
Então falo para Elis e ele diz:"Não, não faça isso, faça aquilo."

Andreas conversando com Anna:
(Andreas)- Sei quão estranho parece.
(Anna)- Sim, é estranho.
Quero ser caloroso, delicado e vivo. Quero fazer um movimento.
Mas você sabe quão receoso...
É como em um sonho. Quer se mover mas não pode!
Os seus braços e pernas estão pesados como chumbo.Tenta falar e não consegue.
Estou receoso pela humilhação. É uma interminável miséria. Fui aceitando as humilhações e as deixei penetrarem em mim.
(Andreas)- Pode entender?
(Anna)- Sim, eu entendo!
(Andreas) É absurdamente terrível ser um fracasso. As pessoas pensam que têm o direito de lhe dizer o que fazer. O desprezo das boas intenções delas.
Aquele breve desejo de atropelar alguma coisa viva.
(Anna)- Não precisa...
(Andreas)- Estou morrendo. Não, isso é injusto! Melodramático. Não estou morrendo de jeito algum, mas vivo sem o auto respeito.
Eu sei, isso soa ridículo, pretensioso! A maioria das pessoas vive sem um senso de auto-estima. Humilhadas de coração, asfixiadas e maltratadas. Elas estão vivas e isso é tudo o que sabem. Sabem que não têm outra alternativa. Mesmo que tenham jamais estenderão a mão para isso.
Pode-se adoecer de humilhação? Ou ela é a doença que todos temos que pegar?
Falamos muito de liberdade. Não será a liberdade um veneno para qualquer um que é humilhado? Ou essa palavra é uma droga, que o humilhado usa até ser capaz de incorporá-la?
Eu tenho vivido com isso. Eu desisti. Não posso suportá-la mais. Os dias se arrastam. Estou sufocado pela comida, pela merda que expulso, pelas palavras que digo!
A luz do dia que toda manhã me grita para levantar.
O sono que é só de sonhos de perseguição ou a escuridão que farfalha com ruídos de fantasmas e memórias.
Já lhe ocorreu que quanto pior estão as pessoas,menos elas reclamam. No final elas estão totalmente caladas. São criaturas vivas, com nervos, olhos e mãos, grandes exércitos de vítimas do carrasco.
A luz que aumenta e cai pesadamente,o frio que chega, a escuridão, o calor, o cheiro. Estão todos silentes!
Não podemos jamais deixar daqui. Não acredito no movimento. É muito tarde. Muito tarde para tudo!
Como vejo, Elis Vergerus acha hipocrisia se horrorizar com a estupidez humana, que é um desperdício de sentimentos clamar por decência e justiça.
Para ele está decidido que o sofrimento de outras pessoas não o acordará à noite. Ele se vê por completo indiferente aos seus próprios olhos e aos dos demais.
Essas são as condições sob as quais ele vive. Ele não sabe funcionar de outro modo.

3 comentários:

  1. "É duro percebeu um dia que se foi insignificante".. Portanto, faça sempre a diferença, amiga!
    Um beijo! ;*

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  2. Bergman, sempre extraordinário! Vc já assistiu outros filmes dele? Obrigado por postar esta fala! Visite o meu blog! Abs. José Luiz

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  3. Esse filme e belíssimo. Gostei. Parabéns pela postagem...

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