Li "O vendedor de passados", do escritor angolano, José Eduardo Agualusa. E a primeira vez que tenho contato com a escrita dele e fiquei bem contente em descobri-la.
A historia é narrada por uma lagartixa (osga), chamada Eulalio que vive na casa de Félix Ventura, um negro albino, falso genealogista que tem por missao criar um passado ficticio e interessante para pessoas que hoje sao influentes na Angola, mas que vieram do nada, nao têm um passado decente.
Tanto o livro quanto o filme joga com a realidade, a fantasia, a verdade, a mentira, o sonho, é como as redes sociais, a aparência, o marketing pessoal, a gana de se promover conta mais que a vida real sem graça.
Cai na pegadinha da musica da cantora brasileira Dora, a cigarra, achei que fosse verdade, foi tao convincente o que ele disse que fui caçar a mulher na internet e nao achei nada sobre ela e nem sobre a musica.
Tanto o livro quanto o filme joga com a realidade, a fantasia, a verdade, a mentira, o sonho, é como as redes sociais, a aparência, o marketing pessoal, a gana de se promover conta mais que a vida real sem graça.
Cai na pegadinha da musica da cantora brasileira Dora, a cigarra, achei que fosse verdade, foi tao convincente o que ele disse que fui caçar a mulher na internet e nao achei nada sobre ela e nem sobre a musica.
Escolheu um disco de vinil e colocou-o no prato do velho gira-discos. “Acalanto para um Rio”, de Dora, a Cigarra, cantora brasileira que, suponho, conheceu alguma notoriedade nos anos setenta. Suponho isto a julgar pela capa do disco. É o desenho de uma mulher em biquíni, negra, bonita, com umas largas asas de borboleta presas às costas. “Dora, a Cigarra – Acalanto para um Rio – O Grande Sucesso do Momento”. A voz dela arde no ar. Nas últimas semanas tem sido esta a banda sonora do crepúsculo. Sei a letra de cor.
Nada passa, nada expira
O passado é
um rio que dorme
e a memória uma mentira
multiforme.
Dormem do rio as águas
e em meu regaço dormem os dias
dormem
dormem as mágoas
as agonias,
dormem.
Nada passa, nada expira
O passado é
um rio adormecido
parece morto, mal respira
acorda-o e saltará
num alarido.
Fragmentos grifados:
(na minha primeira morte eu não morri)
Um dia, na minha anterior forma humana, decidi matar-me. Queria morrer completamente. Tinha esperança de que a vida eterna, o paraíso e o inferno, Deus e o Diabo, a reencarnação, tudo isso, fossem apenas superstições urdidas demoradamente, ao longo de séculos e séculos, pelo vasto terror dos homens. Comprei um revólver numa armaria, apenas a dois passos da minha casa, mas onde nunca tinha entrado antes, e cujo proprietário não me conhecia. Depois comprei um livro policial e uma garrafa de genebra. Fui para um hotel na praia, bebi a genebra com desgosto, em largos goles (o álcool sempre me repugnou), e estendi-me na cama a ler o livro. Achava que a genebra, somada ao tédio de um enredo ingênuo, me daria a coragem necessária para encostar o revólver à nuca e apertar o gatilho. O livro, porém, não era mau – e eu li-o até ao fim. Quando cheguei à última página começou a chover. Era como se chovesse noite.
Explico melhor: era como se do céu caíssem grossos fragmentos desse oceano escuro e sonolento no qual navegam as estrelas. Fiquei à espera de as ver cair, quebrando-se depois, com grande brilho e clamor, de encontro às vidraças. Não caíram. Apaguei o candeeiro. Encostei o revólver à nuca, e adormeci.
"A coragem não é contagiosa; o medo, sim".
"Já reparou que tudo o que é inanimado descolora ao sol – mas o que é vivo ganha cor?"
"Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros".
"Chorei, aliás, lágrimas mais autênticas pela morte de alguns personagens literários do que pelo desaparecimento de muitos amigos e parentes".
"Dê-me licença para citar Montaigne – nada parece verdadeiro que não possa parecer falso. Existem dezenas de profissões nas quais saber mentir é uma virtude.
Indique-me agora uma profissão, uma única, que não se socorra nunca da mentira, e na qual um homem que apenas diga a verdade seja efectivamente apreciado?"
"Existem pessoas que revelam, desde muito cedo, um enorme talento para a desventura. A infelicidade atinge-os como uma pedrada, dia sim, dia não, e eles recebem-na com um suspiro conformado".
"Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre"
O filme
O filme homônimo é dirigido pelo Lula Buarque de Hollanda e a historia é um pouco diferente, o genealogista nao é um albino angolano, é um jovem negro carioca, além de limpar o nome da pessoa e dar um passado digno, também da um passado criminoso para sua cliente, a pedido da mesma.
A personagem Clara do filme é a Ângela Lúcia do livro.
- spoiler- se vc quer ler o livro, pule essa parte
O livro é dividido por capitulos, alguns deles sao intitulados como "sonho" e enumerados de 1 a 6. Isso induz o leitor a pensar que trata-se realmente de sonhos, mas Félix escreve em seu diario:
"Vem-me à memória a imagem a preto e branco de Martin Luther King discursando à multidão: eu tive um sonho. Ele deveria ter dito antes: eu fiz um sonho. Há alguma diferença, pensando bem, entre ter um sonho ou fazer um sonho.Eu fiz um sonho".Os sonhos eram uma invençao da cabeça dele, nada é o que parece ser. Para mim, ficou bem claro no filme essa jogada de imaginaçao x realidade, talvez porque li o livro antes e ja sabia que isso iria acontecer, mas vi que quem so assistiu ao filme ficou meio perdido e nao soube entender isso muito bem.
- fim do spoiler -
A nota do filme no Filmow esta bem baixa e os comentarios sao bem negativos, porém eu gostei, nao é nenhuma obra prima do cinema, nao é melhor que o livro, mas é um filme bem feito.
Fazia tempo que nao via um filme brasileiro e nem lia um autor africano.
O livro e o filme fazem parte do projeto "Literatura na sétima arte"
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