quarta-feira, 23 de junho de 2010

José Saramago e o Ensaio sobre a cegueira

Quero registrar aqui uma homenagem póstuma ao 1º escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, ateu, comunista, blogueiro, defendia suas verdades.

Fragmentos do livro:

“Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”

“Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, Isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, Se tu pudesses ver o que eu sou obrigada a ver, quererias estar cego, Acredito, mas não preciso, cego já estou, Perdoa-me, meu querido, se tu soubesses, Sei, sei, levei a minha vida a olhar para dentro dos olhos das pessoas, é o único lugar do corpo onde talvez ainda exista uma alma, e se eles se perderam”

domingo, 20 de junho de 2010

Dança comigo?


 "No Japão, a dança de salão é vista com muita suspeita, em um país onde os casais não andam abraçados e muito menos dizem "eu te amo" em voz alta, a compreensão através da intuição é tudo. A idéia que marido e mulher deveriam se abraçar e dançar na frente de outros, está além do embaraçoso. Entretanto, sair para dançar com outra pessoa poderia ser mal interpretado e se provar ainda mais vergonhoso. Apesar disso, mesmo para os japoneses, há uma curiosidade secreta acerca dos prazeres que a dança pode trazer".


Essa é introdução do filme, narra a história de um homem que trabalha na contabilidade de uma empresa, a vida dele resume-se ao trabalho e sua vidinha com a mulher e filha, essa mesmice deixou-o introvertido e até depressivo. Voltando do trabalho de trem, em uma das estações, ele via a escola de dança pela janela, ficava olhando a professora e os alunos dançando, um dia ele resolveu descer do trem e conhecer a escola. Tentou aprender a dança todo desajeitado, com toda aquela timidez japa e com a cabeça cheia dos preconceitos citados acima.
A dança tornou-o mais motivado, mais alegre, mais disposto. O coração deu uma cambaleanda pela teacher. Ele acabou indo para concursos de dança e a experiência foi bem bacana para sua vida pessoal.


A versão americana


A versão americana desse filme é bonitinha também, mas convenhamos, na América não tem preconceito com quem faz dança de salão, Richard Gere é muito simpático, não é como o japonês que é tímido, sem charme nenhum e retraído, ou seja, as partes mais interessantes e comoventes não fizeram tanto sentido, ficou mais parecido com um espetáculo da Broadway. No filme japonês mostra claramente a intenção do aluno x professora, já na versão americana ele faz a dança, mesmo a professora sendo a Jeniffer Lopez, ele a trata apenas como professora e gosta mesmo é de sua mulher, representada pela Susan Sarandon.

Eu que gosto de dança indico os dois, podem ver meninas, super fofo! Como assim, japoneses não abraçam e não dizem eu te amo? Tadinho deles...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A paixão segundo G.H.



 Desafio literário do mês de junho: Ler um livro de uma escritora brasileira, escolhi Clarice Lispector
Aposto que se meu pai tivesse lido iria dizer: "Todo esse drama por causa de uma barata?" Porque minha mãe tem paúra de baratas, ela vê uma e grita desesperadamente, feito louca. Eu herdei esse medo, tenho medo até de barata morta.
O livro gira em torno de uma mulher, G.H. e uma barata, é um monólogo, uma reflexão existencialista, é tudo tão jeito Clarice de escrever.

O jornalista e escritor José Castello disse o seguinte desse livro: "Considerado por muitos o grande livro de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H. tem um enredo banal. Depois de despedir a empregada, uma mulher vai fazer uma faxina no quarto de serviço. Mal começa a limpeza, depara com uma barata. Tomada pelo nojo, ela esmaga o inseto contra a porta de um armário. Depois, numa espécie bárbara de ascese, decide provar da barata morta".
Ao esmagar a barata, e depois degustar seu interior branco, operou-se em G.H. uma revelação. O inseto a apanhou em meio a sua rotina “civilizada”, entre os filhos, afazeres domésticos e contas a pagar, e a lançou para fora do humano, deixando-a na borda do coração selvagem da vida. Esse desejo de encontrar o que resta do homem quando a linguagem se esgota move, desde o início, a literatura de Clarice.


Fragmentos do livro:

Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.

Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema.

e se a realidade é mesmo que nada existiu?!

Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Muitas vezes antes de adormecer - nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo maior - muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho.
Ir para o sono se parece tanto com o modo como agora tenho de ir para a minha liberdade. Entregar-me ao que não entendo será pôr-me à beira do nada.

Por enquanto o primeiro prazer tímido que estou tendo é o de constatar que perdi o medo do feio. E essa perda é de uma tal bondade. É uma doçura.

Meu erro, no entanto, devia ser o caminho de uma verdade: pois só quando erro é que saio do que conheço e do que entendo.

O perigo de meditar é o de sem querer começar a pensar, e pensar já não é meditar, pensar guia para um objetivo, O menos perigoso é, na meditação, “ver”, o que prescinde de palavras de pensamento.

Ah, as pessoas põem a idéia de pecado em sexo. Mas como é inocente e infantil esse pecado. O inferno mesmo é o do amor. Amor é a experiência de um perigo de pecado maior - é a experiência da lama e da degradação e da alegria pior. Sexo é o susto de uma criança.

A esperança é um filho ainda não nascido, só prometido, e isso machuca.

O leite da vaca, nós o bebemos. E se a vaca não deixa, usamos de violência. (Na vida e na morte tudo é lícito, viver é sempre questão de vida-e-morte.) Com Deus a gente também pode abrir caminho pela violência. Ele mesmo, quando precisa mais especialmente de um de nós, Ele nos escolhe e nos violenta.

Eu  amo Clarice, não me sinto digna de usar minhas próprias palavras para defender a obra dela que para mim é perfeita e não precisa da minha aprovação porque ela se aprova por si só.
Esse livro tem 122 páginas, de fácil compreensão.
Já falei aqui do livro Felicidade Clandestina e de Clarice em artistas de sagitário.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Glória ao cineasta

É mais um filme do cineasta japonês que curto demais, o Takeshi Kitano, ele fez o meu 4º filme favorito, o Dolls. No "Glória ao cineasta" ele mostra todos os filmes que ele deveria ter feito e não fez, para quem não sabe, ele é especialista em filmes sobre a máfia Yakuza, muito violentos por sinal. Mas o mais interessante que no meio da violência tem poesia, tem justificativas que vc acaba não vendo só o lado mau e violento, acho que o ser humano por mais ruim que seja, tem um pouquinho de bondade dentro de si.
O filme começa com ele e um boneco feito à sua imagem e semelhança sofrendo com crise de criatividade. A impressão é que ele tenta denunciar a pressão que os cineastas sofrem para fazer filmes que rende bilheteria em vez de fazer o que realmente gostam. O filme é dividido em vários quadros simulando filmes de diversos gêneros:
Romântico: um homem que acaba de se aposentar e não sabe o que vai fazer, conhece uma pessoa interessante.
Terror japonês: é o máximo, ele coloca o cara com uma máscara de teatro Nô, levando uma cabeça na mão e as japinhas com roupas de colegiais gritando de medo (clássico!).
Aventura: Sobre ninjas, a cena é meio "O Tigre e o Dragão" que eles saem correndo em cima das árvores, um cara derrota mil com uma espada.
Efeito Matrix, como se livrar de balas com efeitos especiais.
Sci-fi: Professor maluco que cria engenhocas e teorias para uma sociedade perfeita.
 um meteoro vai cair na terra o que os cientistas podem fazer para impedir.
Ele tira uma onda do Yasujiro Ozu que só fazia filmes representando problemas familiares e viviam a maior parte do tempo tomando chá e sake.
Drama: Crianças nos anos 50 que eram fãs de boxe e a pobreza que existia no Japão naquela época. O brucutus que brigam na lanchonete.
Mãe e filha que tentam dar o golpe em todo mundo e só se lascam.
Cena do Robô gigante, parecido com os desenhos japoneses do anos 80. Eu achei o máximo!
Outros filmes de Takeshi comentados por aqui foram: Hana-bi, Áquiles e a Tartaruga e Kikujiro.O Dolls está com link lá em cima.