sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Desafio literário: Feliz ano velho


O tema do Desafio deste mês é ler uma história de superaçao. Escolhi o livro "Feliz ano velho", do Marcelo Rubens Paiva. É uma autobiografia que narra o acidente que ele sofreu ao dar um mergulho e ficar tetraplégico aos 20 anos de idade. Mas nao é só isso, alguns anos antes ele perdeu seu pai durante a Ditadura militar, os militares invadiram sua casa, levaram seu pai, depois sua mae e uma irma de 15 anos. A irma e a mae foram soltas, mas o pai desapareceu, ninguém soube de seu paradeiro. Ficou a mae com 5 filhos para criar, nao sabendo se era viúva e se os filhos eram órfaos, até hoje nao se sabe qual foi o fim "oficial" que o seu pai teve. A ditadura na América Latina, financiada pela CIA para proteger os países contra o "avanço comunista", da mesma forma que fazem hoje para defender o mundo do "terrorismo-islâmico" (qdo na verdade é para alimentar a indústria bélica e mostrar o poderio militar para o mundo e garantir o "comigo ninguém mexe"). Essa ditadura matava e fazia desaparecer os corpos, as famílias nao tinham a oportunidade de despedir de seus entes queridos e nem mesmo de fazer um funeral digno.
O triste é saber que até hoje acontece isso, muitas pessoas ainda "desaparecem" na mao da polícia, no campo (agricultures sem-terra, ambientalistas, indios) e nas grandes periferias, como vemos no caso do pedreiro carioca, Amarildo. Saiba mais aqui.


Infelizmente o Amarildo foi torturado e asfixiado em um container, sofria de epilepsia e morreu por causa dos choques elétricos, essa é a policia que age no Rio de Janeiro, usando as mesmas táticas da ditadura até hoje para arrancar informaçao das pessoas, saiba mais aqui.

A Profa Vera Paiva, irma dele, emprestou para gente um outro livro muito comovente que fala sobre desaparecimentos na ditadura, já falei dele aqui no desafio do ano passado: "K.", de B. Kucinski.

O Marcelo era um jovem cheio de sonhos, estudava engenharia em Campinas, morava em um república com outros estudantes, gostava de futebol, de tocar, compor e cantar, de namorar e de várias aventuras como qualquer jovem na idade dele. De repente, sua vida se resumiu a um quarto de hospital. Nós, leitores, sentimos na pele dele, através da leitura, a afliçao de estar em um quarto sem poder se mexer, sem poder coçar a própria cabeça, fiquei até claustrofóbica, saía para dar uma volta e aproveitar a liberdade de movimentos que tenho. A sorte dele é que tinha muitos amigos, uma família unida e com grana para bancar todo o tratamento. Infelizmente no Brasil, os acidentados, como os motoboys, nao têm condiçoes e nem acesso a um tratamento adequado para amenizar o sofrimento.

O livro tem uma linguagem descolada, ótimo para presentear adolescentes e introduzi-los nos assuntos de ditadura, nos perigos de acidentes e nas consequencias. Também mostra como "superar" as adversidades na hora da perda. Embora ele declare:
Nao quero que as pessoas me encarem como um rapaz que apesar de tudo transmite muita força. Nao sou modelo para nada. Nao sou herói, sou apenas vítima do destino, dentre milhoes de destinos que nao escolhemos. Aconteceu comigo. Injustamente, mas aconteceu.
Para ser sincera nao acredito nesse tipo de superaçao, acho que as pessoas que passaram por situaçoes difíceis contam suas histórias para que elas nao sejam repetidas, para trazer um pouco de humanidade em meio a tanta barbaridade, porque nao é fácil superar, vc pode até lidar com a situaçao, mas é uma cicatriz muito grande para ser apagada.
Desculpe-me a amargura, falei tanto "entre aspas" neste texto..... e com muita raiva também, fiquei chocada e indignada com a morte do Amarildo, muita injustiça! Pior que calhou com um dos temas do livro, nao teve como nao envolver tanto.


PS: aos estudantes e vestibulandos que vêm aqui para dar CTRL+C, CTRL+V, vou logo avisando que isso nao é uma resenha e nem um resumo da obra. Estou apenas descrevendo o livro que li para o Desafio. Leia o livro e siga as instruçoes do seu professor. Um país com boa educaçao, é um país com alunos que tenham suas próprias ideias e se esforçam. Antes de criticar a qualidade do ensino, veja se vc nao está sendo corrupto.

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