Primeiramente uma salva de palmas para esta mulher porque ela merece, nao so palmas, mas o Tocantins inteiro. Bicha destruidora mesmo! Ela consegue falar de assuntos dificeis (que convenhamos, nem deveriam ser dificeis assim em 2016!!) de maneira simples, honesta e tocante e na minha humilde opiniao, so uma mulher mesmo para conseguir esta proeza, porque precisa de altas doses de sensibilidade, de empatia e de tolerância.
Assisti aos 3 filmes dela: Garotas (Bande de filles / Girlhood), Tomboy e Lirios d'agua (Naissance de pieuvre/ Water Lilies)
"Garotas" é sobre Marieme, ela tem 16 anos e tenta sobreviver no mundo caotico, vai mal na escola, vive naqueles conjuntos habitacionais de Paris que sao super perigosos (vi em uma reportagem que quem mora nesse tipo de apartamento nem poe no curriculo porque ninguem contrata), vive na pobreza, tem um irmao mais velho e machista que bate nela e uma mae que trabalha de faxineira o dia inteiro. Sem perspectiva nenhuma de vida, ela entra numa gangue de meninas, muda seu nome para Vic e para sobreviver tem que saber bater, ela é apaixonada por um carinha, mas nao quer casar e ter filhos antes dos 18 anos como acontece muito ao redor dela, ela também entra na gangue de rapazes, enfaixa os seios, usa calças largas para nao sofrer assédio, mas quem disse que nao sofre, nao é?
Tem uma cena linda das meninas em um quarto de hotel cantando Diamonds, da Rihanna. (Veja a diretora falando dessa cena aqui (em francês)).
E ha quem acredita em meritocracia. Nao sabe de nada, inocente!
O outro filme lindo de morrer é o Tomboy, a gente consegue se colocar na pele dx Laure/ Michael. É um filme sobre transgênero, a menina nao se sente confortavel sendo menina, ela gosta de se vestir e agir como menino. E esse elenco infanto-juvenil, minha gente? Deu um show de atuaçao, melhor que muita gente grande. A atriz Zoé Héran foi brilhante, dificil imagina-la nao sendo menino. Isso é graças à diretora que soube conduzir o elenco da maneira mais justa possivel.
Tomboy é o termo utilizado para definir meninas que agem como meninos.
Por ultimo, mas nao menos importante, o filme Lirios d'agua. Narra a historia de 3 meninas, Anne, Floriane e Marie, de 15 anos que fazem parte da equipe de nado sincronizado e estao descobrindo a sexualidade: aquela historia de fulando que ama sicrano que ama beltrano. Sabe aquelas primeiras dores de amor que a gente tem na vida? A gente se apaixona de um tanto a ponto de achar que vai morrer daquilo? A pobre Marie estava apaixonada e ficava atras do seu amor que nem cachorrinho sem dono, fazendo todas as vontades da amada, era obcecada. Da até do da bichinha...
A Floriane gostava de um garoto popular, mas ela era gordinha e sem-graça e ele so abusava dela e maltrava-a. Ja a Anne, todo mundo a amava, mas ela nao amava ninguém, jogava com todo mundo.
Os filmes da Céline falam de uma fase dificil das nossas vidas: a adolescência. As descobertas, a sexualidade e as dificuldades em lidar com tudo isso. Sao filmes sem aqueles dramalhoes hollywodianos, sem sentimentalismos baratos (franceses nao gostam disso), sao historias acontecendo como se estivessemos na janela de casa vendo as coisas acontecendo do lado de fora, mas ao mesmo tempo somos tocados pelas situaçoes, porque sao coisas cotidianas que vemos na vizinhança, na escola e na familia. Filmografia recomendadissima!
Veja também:
Mulheres na direçao: Nancy Meyers (EUA)
Mulheres na direçao: Alice Guy-Blaché (França)
Mulheres na direçao: Malgorzata Szumowska (Polônia)
Escritora e diretora: Virginie Despentes (França)
Escritora e diretora: Virginie Despentes (França)