quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Leitura: Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie (parte 2)

Dando continuidade ao post anterior, vou falar de outros topicos abordados no livro.

Fica pianinho, sua opiniao pode complicar as coisas


No post anterior, a personagem estranhou a submissao do imigrante que age como uma ovelha obediente. Muitas vezes, se o expatriado reclama de alguma coisa ou tem uma visao critica de uma situaçao, ele pode ser mal interpretado e ainda escutar, nao so das pessoas locais, mas do proprios conterraneos: Volta para sua terra se nao esta gostando! Para evitar esse tipo de comentario, melhor ficar calado e fingir que esta tudo bem ou crie um blog, como fez a personagem e um monte de expatriados, ou ainda, vai ser rapper como algumas meninas que estou postando no Hip Hop Girls, curiosamente a maioria delas é imigrante ou filha de imigrantes.
Se você é negro(a) nos EUA, a situaçao é mais bizarra ainda: 
Se você for mulher, por favor, não fale o que pensa como está acostumada a fazer em seu país. Porque, nos Estados Unidos, mulheres negras de personalidade forte dão medo. E, se você for homem, seja supertranquilo, nunca se irrite demais, ou alguém vai achar que está prestes a sacar uma arma.

Doenças de primeiro mundo: Depressao e suicidio

Foi um assunto discutido no livro em dois momentos, pois a personagem achava que era "doença de branco" e que imigrantes como ela nunca seriam antigidos por esses problemas.

Nao sei se era a depressao sazonal, a pressao, a ansiedade ou tudo junto, ano passado e retrasado estava péssima, nao tinha forças para levantar da cama, até para tomar banho era dificil, nem me olhava no espelho, chorava por tudo, sentia-me uma inutil, entrei numa crise bem bad vibe que estou me recuperando até hoje, evitei até vir aqui blogar. Isso nao começou no Canada, tenho desde a infância, aos 8 anos de idade eu queria morrer, nao é normal uma criança desta idade ter esse tipo de pensamento. Na adolescência foi pior, nao conseguia me enturmar na escola, nao tenho quase nenhuma foto desta época, minha mae tem até algumas, mas nem olho porque foi meio traumatico. Todas minhas crises vieram apos alguns acontecimentos externos e eu nao sabia como lidar com eles, eu sempre fui muito sensitiva. Entre 20-30 anos a vida foi mais serena, so tive uma crise e foi a pior de todas, eu nao conseguia nem comer, parecia que a comida inchava na minha boca e nao conseguia engolir. Foi a primeira vez que meu olho direito tremeu involuntariamente. E ano passado aconteceu a mesma coisa, eu estava tensa, ansiosa e meu olho começou a tremer, ai eu ja sabia que a merda tinha recomeçado.
Minhas crises vêm depois que eu faço mais do que eu dou conta, quando me sobrecarrego demais, quando quero ser Super Woman. Nao quero que meu filho me veja triste, tenho que chorar escondida no banheiro, quando ele nao esta em casa, tenho que fingir que esta tudo bem o tempo todo, tenho que me submeter a coisas que nao queria submeter-me, estar no meio de pessoas que nao me sinto à vontade. Nao tenho money para terapia. É foda! A unica inveja que eu tenho é de gente que vive de boas, da conta de tudo e nao reclama de nada, sente-se bem em qualquer ambiente. Para quem eu tenho que vender a alma para conseguir isso? Juro que vendo.
Como eu me sinto quando quero me encaixar na turma: Chris Martin no Super bowl entre a Beyoncé e o Bruno Mars.

Como a familia e os amigos pensam sobre o pais que o imigrante esta morando

Seu pai emitiu um som de respeito admirado. “Os Estados Unidos são um lugar organizado e as oportunidades de emprego são abundantes aí.”
Isso me lembrou o texto da Laura Peruchi, "Coisas que escuto quando digo que moro em NY"

Ele sabia das muitas histórias de amigos e parentes que, à luz crua da vida no exterior, se tornavam versões não confiáveis e até hostis de si mesmos. Mas o que acontece com a teimosia da esperança, com a necessidade de acreditar que somos excepcionais, que essas coisas acontecem com outras pessoas, cujos amigos não são como os seus?

A famosa consultoria de emprego da faculdade ahahahaha, no Canada é igual, até hoje nao entendi para quê serve isso.

Quais são suas perspectivas de emprego?”, perguntou o pai. Sua formatura estava se aproximando e seu visto de estudante ia vencer.
“Eles designaram uma consultora de carreira para mim e vou me encontrar com ela na semana que vem”, disse Ifemelu.
“Todos os alunos que vão se formar têm um consultor designado?”
Têm. Eles conseguiram bons empregos para muitos alunos”, disse Ifemelu. Não era verdade, mas era o que seu pai esperava ouvir. A sala de consultoria de carreira, um espaço abafado com pilhas desoladas de arquivos sobre as mesas, era conhecida por ser repleta de consultores que liam currículos, pediam que você mudasse a fonte ou a formatação e lhe davam contatos antigos que nunca ligavam de volta.
Zoando os gringos que nao sabem nada da sua cultura

Depois, Ginika disse: “Você podia ter dito que Ngozi é seu nome tribal e Ifemelu é seu nome da selva, e ainda ter inventado mais um nome e dito que era seu nome espiritual. Eles acreditam em qualquer merda sobre a África”

Mano, sério. Cada coisa que meus ouvidos ouviram que nao sabia se ria ou se chorava. Tem uns que pensam que Brasil é apenas o Rio, com praias e mulheres bonitas. Outros pensam que o Brasil é a floresta Amazônica e a gente veio da selva. Aqueles que te olham surpresos e perguntam: Onde você aprendeu a falar francês? Como se no Brasil nao tivesse escola de idiomas, faculdades, etc.
Lembrei de um francês que foi ao Brasil e me falou: "Nossa no Brasil tem McDonalds, Subway, Carrefour, tem até Toblerone!". Procevê meu querido, a civilizaçao esta até prafrentex no Brasil, nao é mesmo? A Nilian me contou que quando falou que era espirita para mulher, ela perguntou se isso era magia negra. Porque né? Nao basta vir de um pais "exotico", tem que ter uma religiao trevosa.
Grupo de brasileiras em um ritual de magia negra no Québec kkkkk
A prova que nao estou mentindo
Sem falar do meu vizinho que pensa que latino-americano é tudo traficante de drogas, para ele Colômbia, México e Brasil sao a mesma coisa, espanhol e português idem. Toda vez que encontra a gente, ele fala de cocaina e de Pablo Escobar. Para fechar com chave de ouro, ele nos presenteou com um CD de marimba, do México, escuta aqui para saber do que se trata. WTF!
Olha minha gente, eu nao sei se esse cara esta de zoeira ou se ele é ignorante a esse nivel, nao sei quando termina a ignorância e começa o preconceito. Um dos problemas em uma nova cultura, é que fica dificil de captar as sutilezas, as piadas, os duplos sentidos, a gente nunca sabe se é uma brincadeira ou se a pessoa esta falando sério.

 “Ser uma filha do Terceiro Mundo é ter consciência de diversas instâncias e de como a honestidade e a verdade sempre vão depender do contexto.”

As pessoas do Terceiro Mundo e a ostentaçao que falamos na parte 1 e o amor por coisas novas.

“Quando comecei a trabalhar no setor imobiliário, pensei na hipótese de reformar casas velhas em vez de demoli-las, mas não fazia sentido. Os nigerianos não compram casas porque elas são antigas. Como um celeiro de moinho reformado de duzentos anos, sabe, o tipo de coisa da qual os europeus gostam. Isso não funciona aqui de jeito nenhum. Mas é claro que isso faz sentido, porque somos do Terceiro Mundo, e pessoas do Terceiro Mundo olham para a frente, nós gostamos que as coisas sejam novas, porque o que temos de melhor ainda está por vir, enquanto no Ocidente o melhor já passou, então eles têm de transformar esse passado num fetiche.”
Namorar gente de outra cultura

“O problema de namorar uma pessoa de outra cultura é que você passa muito tempo se explicando. Meu ex-namorado e eu passávamos muito tempo nos explicando. Eu às vezes me perguntava se teríamos alguma coisa para dizer um ao outro se fôssemos do mesmo lugar”.
Ela também fala sobre namorar com um africano, um afro-americano e um americano branco e quais sao as diferenças e similaridades entre eles.

Essas foram minhas anotaçoes com comentarios pessoais sobre o livro. Recomendadissimo!

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