Mostrando postagens com marcador leituras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador leituras. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Literatura BRICS: I Ching, o livro das mutações

Como mencionei no post anterior, a partir deste ano, vou ler mais livros provenientes dos países que fazem parte do BRICS. Li o I Ching ano passado, mas como tinha meu resumo nos arquivos, resolvi transferir para cá.

I Ching é um texto clássico, considerado um dos mais antigos e importantes livros de filosofia chinesa. Mostra natureza em constante mudança, enfatizando a interação entre yin e yang, duas forças complementares que sustentam todas as coisas. 

O livro é frequentemente referido como um dos Cinco Clássicos, juntamente com o Livro dos Documentos (Shujing), os Anais da Primavera e do Outono (Chunqiu), o Livro dos Ritos (Liji) e o Livro das Odes (Shijing). Acredita-se que esses Clássicos tenham sido compilados por Kong Fuzi, mais conhecido no Ocidente como Confúcio (datas tradicionais de 551 a 479 a.C.). A filosofia moral e política de Kong Fuzi foi adotada como ideologia oficial da China durante o século III a.C.

Muito mais tarde, por volta do século XII, escritos mais curtos, atribuídos a Confúcio ou supostamente inspirados por seus ensinamentos – foram agrupados nos Quatro Livros do Confucionismo.

 

Um hexagrama, neste contexto, é uma figura composta por seis linhas horizontais empilhadas (爻 yáo). Tem a linha Yang=9 (uma linha contínua ou sólida) e a linha Yin=6 (uma linha quebrada, uma linha aberta com uma lacuna no centro). 
Yin refere-se literalmente ao lado escuro da encosta da montanha, e yang, ao lado sul e ensolarado da encosta. Disto, os termos passam a significar "escuro" e "brilhante", respectivamente.
No I Ching, Yang está aliado ao Céu, sendo visto como catalisador e progenitor; gerador e frequentemente assustador, nunca é autodestrutivo. O Yin, que está aliado à Terra e é igualmente sagrado, é caracterizado como fecundo (como campos férteis ou água vivificante), repleto de potencial latente, sustentador e autodestrutivo. De acordo com a teoria yin/yang, toda mudança na existência fenomenal é produzida pelas operações dessas duas fases chamadas yin e yang, que são modos relacionais e não entidades fixas.

As linhas do hexagrama são tradicionalmente contadas de baixo para cima, de modo que a linha mais baixa é considerada a linha um, enquanto a linha superior é a linha seis. Os hexagramas são formados pela combinação dos oito trigramas originais em diferentes combinações.
Os 8 trigramas representam o céu, o trovão, a água, a montanha, a terra, o vento, o fogo e o lago.

Cada hexagrama é acompanhado por uma descrição, muitas vezes enigmática, semelhante a parábolas. Cada linha em cada hexagrama também recebe uma descrição semelhante.

Como ler este hexagrama: de baixo para cima, o primeiro trigrama é formado pela primeira linha (yang) = linha contínua e pelas segunda e terceira linhas (yin) = linhas quebradas, formando o trigrama trovão. O segundo trigrama é formado por duas linhas yin e uma yang, formando o trigrama lago. Dois trigramas formam um hexagrama. Os trigramas trovão + lago formam o hexagrama 17, chamado de 隨 (suí), "Seguidor", "Perseguidor", "Caçador". Representando a imagem do trovão dentro do lago. O som do trovão ressoa dentro do lago, fazendo com que o lago trema e siga o som. Isso simboliza o ato de seguir. Uma pessoa nobre deve agir de acordo com o tempo adequado, seguir o conselho de um sábio, seguir uma liderança forte.
Cada linha, cada trigrama e cada hexagrama tem um significado.

A palavra chinesa para trigrama e hexagrama é 卦 "guà". Abaixo vemos que a combinação dos trigramas: céu + céu = força, lago + céu = deslocamento e assim por diante.

Os 64 hexagramas, combinação dos trigramas 8x8, são:

Imagem Wikipedia

• Os 384, chamados textos em linha (6x64), cada 6 linhas dos 64 hexagramas. Tipicamente, um texto em linha consiste em uma única imagem acoplada à sua própria fórmula de predição (por exemplo, "benéfico usar para ter uma audiência com o rei").

O hexagrama 1 (trigrama céu + trigrama céu) é chamado de 乾 (qián) tchian, "Força". Outras variações incluem "o criativo", "ação forte", "a chave" e "deus". Seu trigrama interno (inferior) é ☰ (乾 qián) força = (天) céu, e seu trigrama externo (superior) é idêntico.

Significados de cada linha do primeiro hexagrama qián, todas as seis linhas são yang, mas a posição de cada uma no hexagrama muda a interpretação:

A Imagem (hexagrama) afirma: O caminho do céu é girar infinitamente sem cessar, e ninguém pode pará-lo. Uma pessoa nobre deve imitar o caminho do céu, ser autossuficiente e esforçar-se continuamente para avançar. 

Primeira linha: O dragão ainda está escondido na água, preservando sua energia e potencial, temporariamente incapaz de exercer sua influência. A imagem afirma: O dragão simboliza o yang. "O dragão ainda está escondido na água, preservando sua energia e potencial, temporariamente incapaz de exercer sua influência" é porque esta linha está na posição mais baixa, e a energia yang não pode ser manifestada. 

Segunda linha: O dragão apareceu no chão, favorável para o surgimento de uma pessoa com alta virtude e uma posição próspera. A imagem afirma: "O dragão apareceu no chão" é como o sol brilhando, trazendo bênçãos para todas as pessoas. 

Terceira linha: A pessoa nobre esforça-se incansavelmente durante todo o dia e não se atreve a afrouxar mesmo à noite. Deste modo, mesmo diante do perigo, transformarão a calamidade em bênção. A imagem afirma: "Esforçar-se incansavelmente ao longo do dia" é evitar flutuações e não ser descuidado. 

Quarta linha: O dragão pode voar e subir, ou pode retirar-se para o abismo, mas não causará danos. A Imagem afirma: "O dragão pode voar e subir, ou pode retirar-se para o abismo, mas não causará dano" porque pode discernir o momento e a situação, podendo assim avançar ou recuar livremente sem causar dano. 

Quinta linha: O dragão voa alto no céu, favorável para o surgimento de uma pessoa com alta virtude e uma posição próspera. A imagem afirma: "O dragão voa alto no céu" simboliza que uma pessoa com alta virtude e uma posição próspera definitivamente realizará algo. 

Sexta linha: O dragão voa para um lugar excessivamente alto e certamente vai se arrepender. A imagem afirma: "O dragão voa para um lugar excessivamente alto e certamente vai se arrepender" porque os extremos levarão a uma reação negativa. Quando as coisas se desenvolvem até aos seus limites, irão inevitavelmente caminhar para o seu oposto. Quando há muitos dragões, nenhum deles quer ser o líder. Este fenómeno é muito auspicioso. A Imagem afirma: O simbolismo da sexta linha em "use os nove" indica que, embora o céu dê origem a todas as coisas, ele não reivindica o primeiro lugar ou toma crédito por isso.

Esses significados foram extraídos do "Livro das mutações, clássico chinês do pensamento", em português, disponível na loja do Kindle (já tinha comprado antes de pegar ranço do dono). É um livro bem simplificado, tradução bem questionável, sem imagens, apenas os significados de cada linha do hexagrama. Para quem nao teve nenhum contato preliminar com o I Ching, vai ficar perdido, pois não saberá do que se trata as linhas e as imagens retratadas no texto. Porém, se você entendeu minha explicação até aqui, vai ficar mais fácil.

Que fique claro que em hipotése alguma recomendo este livro, usei-o como exemplo apenas para demonstrar como se lê as linhas dos hexagramas com um texto em português e este foi o unico que encontrei.

O livro mais completo que encontrei e recomendo, com imagens, explicações e comentários de Confucio e do rei Wen foi o "The complete I ching : the definitive translation from the Taoist Master Alfred Huang", publicado em 1998, pela editora Inner Traditions International. Foi o melhor que encontrei, mas não posso afimar que é o melhor que existe. Tenho certeza que a melhor edição está em mandarim, idioma que infelizmente não sei nada.

Quem quiser aprofundar mais e saber como funciona o método de oráculo ou adivinhação I Ching, os cálculos matemáticos utilizados para tirar a sorte, leia este livro: The I Ching Handbook: A Practical Guide to Personal and Logical Perspectives, de Edward A. Hacker (em inglês). 

Além de não capire niente de mandarim, muito menos ainda entendo de matemática, logo não sou capaz de tirar a minha sorte. Há coisas que prefiro não saber. Porém, a filosofia por trás é bem interessante e guia os chineses até hoje.


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Patti Smith lendo mulheres

Minha coleçao de livros e cds da Patti

Em Setembro, comecei o curso Quartas com Patti, com Aline Aimée,  vamos discutir quatro obras dela. O livro Just Kids foi também leitura do Book Club da Dua Lipa, inclusive ela deixou no site uma lista de livros recomendados: Patti Smith’s Recommended Reading List. Nesta lista consta oito livros escritos por mulheres. Além desta lista, tem uma outra no final do livro A Book of Days que contém 18 livros escritos por mulheres e mais os livros que ela já publicou no Instagram. Resolvi juntar todas essas listas aqui.
Lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days, pags 385 e 386. Clique na imagem para ampliar

Eu, arquivista de profissão, tenho uma esquisitice, tiro print de todos os livros que a Patti posta no Instagram e arquivo em uma pasta do meu computador. Artistas são de lua, vai que uma dia ela apaga a conta ou o Instagram desaparece, como já aconteceu com outras redes sociais, é melhor deixar salvo. 
Não arquivo só os livros da conta dela, mas de outros escritores também, talvez um dia, aos poucos, vou divulgando aqui ou nao, porque também sou de lua.
No prefácio dos "Diários", de Lúcio Cardoso, escrito por Ésio Macedo, tem uma frase de Antônio Carlos Secchin que diz: "Todo documento que provém de um grande artista não deixa de ser manancial de informação - se não estética, ao menos histórica". Isso está muito claro na cabeça dos arquivistas, o valor histórico e cultural de tudo o que um artista produz, mesmo nas redes sociais.
Para começar, resolvi divulgar aqui os livros escritos por mulheres que ela colocou no perfil. Nada mais justo que começar com os livros dela mesma. Apenas os que apareceram em suas postagens, pois ela tem uma bibliografia maior. São eles: Woolgathering (1992), The Coral Sea (1996), Auguries of Innocence (2005), Just Kids (2010), M Train (2015), Patti Smith Collected Lyrics, 1970-2015 (2018), Devotion (2017), The New Jerusalem (2018),Year of the Monkey (2019) , em inglês e em vários outros idiomas e A Book of Days (2022).


Albertine Sarrazin (1937 Argélia-1967 França). Seus livros contam sua experiência na protistituição e na prisão. Morreu aos 29 anos. Sarrazin é considerada a female Genet. Jean Genet, foi um escritor francês que passou grande parte da sua vida na prisão e um dos escritores preferidos da Patti, ela chama de "literatura de prisão", em seu livro Linha M.

Na foto do Instagram, aparecem os seguintes livros (títulos originais do francês e em inglês):

  • La Cavale/ The Runaway (1965) foi adaptado para o cinema por Michel Mitrani, em 1971.
  • L'Astragale /Astragall (1965) foi adaptado para o cinema por Guy Casaril em 1969 e por Brigitte Sy, em 2015. Patti também escreveu a introdução da publicação em inglês deste livro.
Eles constam na lista de livros recomendados do site da Dua Lipa, na lista do livro A Book of Days e na foto da pag 368, de 18 de dezembro do mesmo livro. 


Anna Akhmatova (1889-1966 Rússia) Poeta e tradutora durante o período soviético. É o primeiro livro recomendado da lista do livro A Book of Days, "Requiem, Poem Without a Hero" foi traduzido por D. M. Thomas e publicado pela editora Swallow Press, em 2018. São poemas autobiográficos.  
Na pag. 149, de 23 de maio, do livro A Book of Days também tem esta foto da esquerda.

Anna Kavan (1901 França-1968 Reino Unido). Escritora, pintora e viajante.
Livros das fotos: Asylum Piece (1940), I Am Lazarus (1945), The Horse's Tale (1949), A Scarcity of Love (1956). A Stranger on Earth: The Life and Work of Anna Kavan, biografia escrita por Jeremy Reed.
A foto do livro I am Lazarus também está na página 121, de 26 de abril, do livro A Book of Days (2022) e o livro Who are You? está em uma pilha, na pag. 131. Na lista de recomendaçao de leitura do mesmo livro, consta o Julia and the Bazooka.

Anne Waldman (1945 - EUA) poeta. O livro "Gossamurmur", foi publicado pela Penguin Poets, em 2013, consta na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days. Para saber mais sobre a autora, consulte o seu site .

Charlotte Brontë (1816-1855 Reino Unido)

Na publicação da Patti no Instagram: A Book of Ryhmes é um livro em miniatura com 10 poemas que foi escrito quando Charlotte tinha 13 anos. O livro faz parte da coleção do ‘Brontë Parsonage Museum' em Haworth, West Yorkshire.

Vilette consta na lista de livros recomendados pela Patti no site da Dua Lipa.





Clarice Lispector (1920 Ucrânia-1977 Brasil). Escritora e tradutora
Na foto, The Passion According to GH, foi publicado pela editora New Directions, em 2012, traduzido por Idra Novey. 

Isabelle Rimbaud (1860-1917 França) era escritora, a irmã mais nova do poeta Arthur Rimbaud e herdeira de suas obras.

Na mesma foto, Patti mostra o livro Mon frère Arthur (1920), 61 pags. O livro já está em domínio público e pode ser lido no original, em francês, na plataforma Gallica, da Bibliothèque nationale de France.


Diane Arbus (1923-1971 EUA) Fotógrafa que frequentava o Chelsea Hotel. Revelations é um livro que contém fotografias, em torno de 500 fotos e imagens, ensaios escritos pelos curadores de suas obras, também é composto principalmente por trechos de cartas, cadernos e outros escritos da artista, constituindo uma espécie de autobiografia. Foi publicado pela editora Aperture, em 2022. Consta na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days e em uma publicação da Patti no Instagram.
 A foto da Diane à esquerda está na pag.76, de 14 de março, dlivro A Book of Days.

E. G. Walker (Esther G. Walker) - EUA. Escritora de livros infantis. Chronicles of Lucy e Stinky Puppets constam na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days. São publicações independentes.

Elena Ferrante (1943- Itália) é o pseudônimo da romancista, contista, ensaísta e tradutora italiana que prefere viver no anonimato. Nas fotos, Patti fotografou o primeiro e o segundo volumes da Tetralogia Napolitana: My Brilliant Friend (2012) e The Story of a New Name (2013), ambos traduzidos para o inglês pela Ann Goldstein e publicados pela Europa Editions.

Emily Brontë (1818-1848 Reino Unido). Wuthering Heights (1847), quando publicou o livro pela primeira vez, ela usou o pseudônimo masculino Ellis Bell, seu nome real só apareceu na reedição de 1850. O livro da Patti foi publicado pela Courage Books, em 1991, faz parte da coleção Courage Classics. Esta foto também está na página 220, de 30 de julho, do livro A Book of Days Wuthering Heights na lista de leituras sugeridas do mesmo livro.

Etel Adnan (1925 Libano-2021 França). Foi escritora, poeta e pintora. Escrevia em inglês, francês e árabe. Para saber mais sobre sua carreira e suas obras, consulte este site, em inglês. 
Na foto à esquerda, na pilha tem dois livros da Etel, Sea and Fog, publicado pela editora Nightboat Books, em 2012 e Sitt Marie Rose: A Novel (1978), publicado pela The Post-Apollo Press e traduzido do francês por Georgina Kleege.
Na foto à direita, tem o livro que foi escrito em francês, Tolérance, publicado pela editora L'Échoppe, em 2018.

Emily Berry (Reino Unido).
 É escritora, poeta e editora. Na pilha de livros da foto acima também tem seu livro de poemas Stranger, Baby, publicado em 2017 pela Faber & Faber.






Emily Dickinson (1830-1886 EUA), poeta. Na foto, entre outros livros, tem o Envelope Poems, publicado em 2017, pela editora New Directions. Tem também o livro Colossus, da Sylvia Plath que mencionarei mais abaixo. 
Um dos poemas envelope está na página 360, de 10 de dezembro, do livro A Book of Days e na lista de leituras sugeridas do mesmo livro, Patti sugere The Complete Poems.

Françoise Sagan (1935-2004 França), escreveu Bonjour tristesse (1954) quando tinha 18 anos. O titulo deste livro faz referência ao poema À peine défigurée, de Paul Éluard. Na foto da Patti, vemos a publicação em francês, de 2009, da editora Pocket.

Hayden Herrera (1940- EUA). Frida: A biography of Frida Kahlo, foi publicado pela editora Harper & Row, em 1983. Está na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days.

Hiroko Oyamada (1983 Japão), escritora.
No Instagram, Patti publicou Ana (The Hole), o livro em japonês foi publicado pela editora Shinchosha, em 2014. Em inglês, foi  traduzido por David Boyd e publicado pela editora New Directions, em 2020.

Isabelle Eberhardt (1877 Suíça-1904 Argélia), escritora, jornalista, viajante, seus pais eram de origem russa. Viveu entre os anarquistas de Genebra, teve uma educação erudita, aprendeu russo, árabe, francês, alemão, grego e latim. Vestia-se com trajes masculinos e usava pseudônimos também masculinos para frequentar alguns lugares e viajar. Apaixona-se pela literatura argelina, pelo islã e se converte a esta religião. Casa-se com um muçulmano de origem francesa e vai morar na Argélia. Morreu aos 27 anos em uma inundação do rio, em Aïn Sefra. The Oblivion Seekers consta na lista de livros recomendados pela Patti no site da Dua Lipa, é uma seleção de textos, diários, trechos de uma obra inacabada sobre sua vida na África que a sua biógrafa Cecily Mackworth chamou de "um dos documentos mais estranhos que uma mulher deu ao mundo". Esta foto dela está na página 307, de 21 de outubro, do livro A Book of Days.
Não me importo se me visto como operário, mas usar roupas femininas mal ajustadas, baratas e ridículas, não, nunca...’
Jackie Wang é uma poeta e performer americana, estuda sobre economia, política das prisões e vigilância, faz doutorado na Universidade de Harvard.
Carceral Capitalism é um livro de ensaios sobre a politica de encarceramento nos EUA. Foi publicado em 2018 pela editora Semiotext(e).
Na mesma foto tem outro livro interessante, não foi escrito por mulher, mas vale a pena mencionar, Capital City: Gentrification and the Real Estate State, de Samuel Stein. É sobre planejamento urbano e as políticas de gentrificação, explica o papel dos planejadores no setor imobiliário. Foi publicado em 2009, pela editora Verso.

Janet Hamill (1945, EUA). Poeta e viajante.  A Map of the Heavens: Selected Poems 1975-2017, foi publicado pela editora Spuyten Duyvil, em 2020, com o posfácio da Patti. Este livro está na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days. As fotos abaixo são do Instagram da Patti.

Joan Didion (1934-2021 EUA). Foi escritora, jornalista, ensaísta e roteirista. O livro Play It as It Lays, foi publicado pela editora Farrar, Straus and Giroux e está na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days. No mesmo livro, ela publicou a foto da Didion (a última à direita na imagem abaixo) feita pelo fotógrafo Robert Birnbaum, na pag 355, de 5 de dezembro, com a descrição: "Joan Didion. A pure writer". No instagram, ela publicou um convite para celebrar a vida da Didion e a foto embaixo, à esquerda.

Karen Olsson (1972 - EUA). Escritora e matemática. Patti publicou no Instagram o livro The Weil Conjectures: On Math and the Pursuit of the Unknown, foi publicado pela editora Farrar, Straus and Giroux, em 2019. É um livro de memórias e biografia dos irmãos Simone Weil, uma filósofa, mística e ativista social (será mencionada com mais detalhes mais embaixo) e André Weil, um matemático influente.

Kay Ryan (1945 - EUA). Educadora e poeta, ganhou o prêmio Pulitzer em 2011. Patti publicou em seu Instagram o livro Synthesizing Gravity, Selected Prose, publicado pela editora Grove Press, em 2020.

Maggie O'Farrell (1972-Irlanda). Escritora e jornalista. Patti publicou em seu Instagram o livro Hamnet, publicado pela editora Tinder Press, em 2020. Ganhou o Women's Prize no mesmo ano. É um relato fictício do filho de William Shakespeare, Hamnet, que morreu aos onze anos em 1596.

Marguerite Duras (1914 Vietnam - 1996 França). Foi escritora, dramaturga, roteirista, ensaísta e cineasta experimental da Nouvelle Vague francesa.
No Instagram, Patti publicou uma foto do apartamento onde Duras morou em Paris, de 1942 à 1996. Na segunda foto, tem o livro The Lover, Wartime Notebooks, Practicalities, publicado pela Everyman's Library, em 2017. 
Na terceira foto, tem o livro Moderato Cantabile, traduzido por Richard Seaver e publicado pela editora Calder And Boyars, em 1966.
Na quarta foto, o livro The Lover, publicado em 1984, pela Pantheon Books e traduzido por Barbara Bray.
Na última foto, Patti segura o livro Me & Other Writing, publicado em 2019, pela editora Dorothy, traduzido por Olivia Baes.
Writing, publicado em 2011, pela University of Minnesota Press e traduzido por Mark Polizzotti, está na lista de livros recomendados pela Patti no site da Dua Lipa e na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days, junto comThe Lover.

Maria Popova (1984 Bulgária), naturalizada americana, é escritora, poeta, ensaísta, blogueirabodybuilding. Patti publicou em seu Instagram e na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days, o livro de não-ficção Figuring, publicado pela editora Pantheon, em 2019.

Mariana Enriquez (1973- Argentina) é escritora, jornalista e docente. Patti publicou em seu Instagram o livro Things We Lost in the Fire: Stories (em espanhol: Las cosas que perdimos en el fuego, 2016) foi publicado em inglês em 2017, pela editora Hogarth e traduzido pela Megan McDowell.


Marian Anderson (1897-1993 EUA), cantora contralto. No meio dos livros da foto do Instagram, Patti mostra a autobiografia My Lord, What a Morning, publicada em 2002, pela University of Illinois Press. Na mesma foto, tem a biografia Isabelle: The Life of Isabelle Eberhardt, escrita por Annette Kobak, publicado em 1989, pela editora Knopf.

Marlen Haushofer (1920-1970 Austria). Foi escritora de ficção científica feminista. Patti publicou em seu Instagram o livro The Loft, foi publicado em 2011, pela editora Quartet Books e traduzido pela Amanda Prantera. O livro também consta na lista de livros recomendados pela Patti no site da Dua Lipa. Na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days, consta o livro The Wallfoi publicado em 1999, pela editora Cleis Press, traduzido por Shaun Whiteside.  Na pagina 336, de 17 de novembro, do livro A Book of Days, tem uma foto da Marlen con seu gato.

Mary Shelley (1797-1851 Reino Unido), escritora, dramaturga, ensaísta, biógrafa e viajante. Era filha do filósofo William Godwin e da escritora, filósofa, defensora dos direitos da mulher inglesa, Mary Wollstonecraft que escreveu Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher (1792).
Frankenstein foi publicado em 1818 e se enquadra nos gêneros: romance gótico, literatura de horror e ficção científica. Consta na lista de livros recomendados pela Patti no site da Dua Lipa e na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days. Na pag 252, de 30 de agosto, deste último livro, tem esta primeira imagem abaixo, a pintura de Mary Shelley, feita por Samuel John Stump, cerca de 1820.
No Instagram, ela publicou um fac símile do manuscrito de Frankenstein, uma cena da atriz mirim Ana Torrentes, assistindo ao filme Frankenstein, no filme El Espíritu la Colmena, filme de terror espanhol na era Franco, de 1973, dirigido por Víctor Erice e também uma cena do filme Frankenstein, de 1931, dirigido por James Whale, com o monstro e a atriz mirim, Marilyn Harris, no papel de Little Maria.


Nona Fernández (Chile -1971) atriz chilena, co-fundadora da companhia de teatro La Fusa, roteirista de séries televisivas, também é feminista, escritora, dramaturga, autora de contos e romances.
No instagram, Patti publicou fotos de dois livros: The Twilight Zone: A Novel (2021) e Space Invaders: A Novel (2019), ambos foram publicados pela editora Graywolf Press e traduzidos por Natasha Wimmer.

Remedios Varo (1908 Espanha-1963 México), pintora surrealista.
Na foto, o livro Letters, Dreams, and Other Writings, publicado em 2018, pela editora Artbook e traduzido por Margaret Carson.

Simone Weil (1909 França-1943 Inglaterra) filósofa humanista francesa. Patti publicou no Instagram uma foto dela, a foto do túmulo que está no cemitério de Bybrook, na Inglaterra. Esta foto também está na pág. 246, de 24 de agosto, do livro A Book of Days.
Na pilha de livros da foto abaixo, tem o livro Simone Weil: A Fellowship in Love, de Jacques Cabaud, publicado pela Harvill Press, em 1964. É um estudo sobre a vida e o trabalho dela.
No livro ao lado, tem o Simone Weil, biografia por Francine du Plessix Gray, publicado em 2001, pela editora Viking Adult. 

Susan Sontag (1933-2004 EUA), ensaísta, romancista e ativista. A foto do túmulo, no cemitério Montparnasse, na França, foi publicada no Instagram e na pág. 202, de 12 de julho, do livro A Book of Days. No mesmo livro, na lista de leituras recomendadas, ela sugere o livro The Volcano Lover, um romance histórico, publicado em 1992, pela Penguin Books. É ambientado principalmente em Nápoles, no séc. 18.

Sylvia Plath (1932 EUA-1963 Reino Unido) é uma escritora e poeta, autora de poemas, romance, contos, livros infantis e ensaios. 
Na foto publicada no Instagram, Patti está ao lado do túmulo, no St Thomas A Beckett churchyard, em Heptonstall.
Na segunda foto, Ariel no post do Instagram e no livro  A Book of Days, g 8, de 8 de janeiro, consta na lista de livros recomendados pela Patti no site da Dua Lipa e na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days, junto com The Colossus.
Na terceira foto, Patti publicou no Instagram o poema Poppies in October.

Tove Ditlevsen (1917-1976 Dinamarca), escritora e poeta. Childhood, foi publicado em 2019, pela editora Gardners VI Books e traduzido por Tiina Nunnally. Faz parte de uma trilogia autobiográfica, a Trilogia de Copenhagen, com os títulos em inglês: Childhood, Youth e Dependency

Virginia Woolf (1882-1941 Reino Unido), ensaísta, romancista, biógrafa, feminista e defensora dos direitos da mulher inglesa.  
Moments Of Being foi publicado em 1985, pela Mariner Books. Consta na lista de livros recomendados pela Patti no site da Dua Lipa.
Na lista de leituras recomendadas do livro A Book of Days, ela sugere dois livrosThe Waves e The Collect Essays of Virginia Woolf.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

O Calibã e a Bruxa, de Silvia Federici


Este livro é uma pesquisa sobre a condiçao das mulheres na "transiçao" do feudalismo para o capitalismo. Repensa a analise da acumulaçao primitiva de "O Capital", vol.1, de Karl Marx e também "A Teoria do Corpo", de Michel Foucault, sob o ponto de vista feminino.
O titulo vem de dois personagens da peça shakesperiana "A Tempestade": O Calibã representa o rebelde anticolonial, simbolo do proletariado, especificamente o corpo do proletariado como terreno e instrumento de resistência da logica capitalista.
In The Tempest the conspiracy ends ignominiously, with the European proletarians demonstrating to be nothing better than petty thieves and drunkards, and with Caliban begging forgiveness from his colonial master.
A Bruxa (Sycorax, mae de Calibã) é a concretizaçao de um mundo de assuntos femininos que o capitalismo tinha que destruir: a herética, a curandeira, a esposa desobediente, as mulheres que queriam morar sozinhas, etc.

"Whereas Marx examines primitive accumulation from the viewpoint of the waged male proletariat and the development of commodity production, I examine it from the viewpoint of the changes it introduced in the social position of women and the production of labor-power. Thus, my description of primitive accumulation includes a set of historical phenomena that are absent in Marx, and yet have been extremely important for capitalist accumulation. They include  the development of a new sexual division of labor subjugating women's labor and women's reproductive function to the reproduction of the work-force; the construction of a new patriarchal order, based upon the exclusion of women from waged work and their subordination to men; the mechanization of the proletarian body and its transformation, in the case of women, into a machine for the production of new workers. Most important, I have placed at the center of my analysis of primitive accumulation the witch-hunts of the 16th and 17th centuries, arguing that the persecution of the witches, in Europe as in the New World, was as important as colonization and the expropriation of the European peasantry from its land were for the development of capitalism".
I should add that Marx could never have presumed that capitalism paves the way to human liberation had he looked at its history from the viewpoint of women. For this history shows that, even when men achieved a certain degree of formal freedom, women were always treated as socially inferior beings and were exploited in ways similar to slavery. “Women," then, in the context of this volume, signifies not just a hidden history that needs to be made visible; but a particular form of exploitation and, therefore, a unique perspective from which to reconsider the history of capitalist relations.
A caça às bruxas, sob um regime patriarcal opressor, foi uma guerra contra as mulheres para denegri-las, demoniza-las, domestica-las e destruir seu poder social, visava também destruir o controle que as mulheres exerciam sobre seu corpo, sua sexualidade e sua funçao reprodutiva. A mulher foi confinada no lar, sem direito a um salario. Mesmo as que trabalhavam, o salario ia para os maridos. Elas perderam toda autonomia, principalmente financeira, foram retiradas dos espaços publicos, proibidas de terem acesso à educaçao, à vida politica e religiosa, foram confinadas apenas para a reproduçao, as ricas para gerarem herdeiros e as pobres para gerarem mao-de-obra barata. Elas ficaram dependentes do homem para tudo
The separation of production from reproduction created a class of proletarian women who were as dispossessed as men but, unlike their male relatives, in a society that was becoming increasingly monetarized, had almost no access to wages, thus being forced into a condition of chronic poverty, economic dependence, and invisibility as workers.
O poder da Igreja no argumento de autoridade, como ja citei aqui, que em nome de deus cometeu muitas atrocidades, combatendo todo tipo de cultura e religiao que eram diferentes do "cristianismo". As mulheres que nao se adequavam ao modelo imposto eram acusadas de bruxas, assim como os movimentos hereticos e do milenarismo (resistência anti-feudal do XII e XIII sécs).
A igreja através da santa inquisiçao que se auto-intitulou como a justiça de deus na terra, cometeu o maior feminicidio da historia da humanidade, participou ativamente da colonizaçao e converteu à força, por meios da violência, tortura e mortes, indios e escravos. Além do feminicidio, foi conivente também com o massacre de 2/3 dos nativos da América e a escravidao dos africanos e nativos.
Para o avanço capitalista, toda forma de comunalismo tinha que ser destruida, como os anabatistas que seguiam os passos dos primeiros cristaos de dividirem tudo entre eles em partes iguais, ou os indigenas ou tribos africanas que faziam o mesmo. O comunalismo deu lugar ao individualismo.
A igreja também politiza a sexualidade e regula o comportamento sexual:
The Church attempted to impose a true sexual catechism, minutely prescribing the positions permitted during intercourse (actually only one was allowed), the days on which sex could be practiced, with whom it was permissible, and with whom forbidden.
O casamento torna-se um sacramento no séc. XII, nenhum poder na terra pode dissolver o matrimonio. A igreja intensifica o ataque à sodomia.
No catolicismo as mulheres nao eram ninguém, enquanto nas seitas heréticas elas administravam sacramentos, pregavam, batizavam e dividiam o teto com um homem sem casar.
As beguines, era um grupo de mulheres que moravam juntas, longe do controle dos homens e das regras monasticas, um exemplo de mulheres livres que existiu.
Nos séculos XIV e XV o estupro é descriminalizado, se uma mulher é solteira, viuva, doméstica ou esta sozinha  na rua, o homem se vê no direito de estupra-la e nada acontece judicialmente, pois ela que esta errada em nao ter um homem ou de ter que andar sozinha. Uma vez estuprada, perde a dignidade, nao vai arrumar um casamento e so resta a prostituiçao. Começa entao o culto à virgindade, à castidade, à pureza, etc. Dai surge o argumento de mulher para casar e mulher para se divertir.
Durante a colonizaçao, a primeira geraçao de mestiços nascida na América foi concebida através do estupro de mullheres nativas e escravas africanas.
Ha a institucionalizaçao da prostituiçao, abertura de bordeis municipais com o aval da igreja que justifica que estes lugares sao necessarios para evitar a sodomia e a orgia dos hereges. Veja a diferença que a sexualidade do homem nao sofre nenhuma alteraçao, ele tem permissao para estuprar, visitar prostitutas e casar com uma mulher casta, enquanto as mulheres sao proibidas de qualquer forma de prazer, a esposa faz sexo pra procriaçao e a prostituta como meio de sobrevivência, ambas sob o dominio do patriarcado que decidem o que fazer com o corpo delas.
Foi proibido o uso de plantas contraceptivas, a parteira foi substituida pelo médico homem, a gestaçao e o nascimento passam a ser controlados pelo estado.

Cartesianismo: O corpo como maquina ou a disciplina do corpo

Descartes e Hobbes. Filosofia mecânica, o corpo é comparado a uma maquina com intuito de maximizar sua utilidade no trabalho, a maquina tornou-se modelo do novo comportamento social.
Descartes and Hobbes express two different projects with respect to corporeal reality. In Descartes, the reduction of the body to mechanical matter allows for the development of mechanisms of self-management that make the body the subject of the will.
In Hobbes, by contrast, the mechanization of the body justifies the total submission of the individual to the power of the state. In both, however, the outcome is a redefinition of bodily attributes that makes the body, ideally, at least, suited for the regularity and automatism demanded by the capitalist work-discipline.
Foucault demonstrou que a mecanizaçao do corpo envolve a repressao dos desejos, emoçoes ou outras formas de comportamentos que deveriam ser erradicadas. O produto desta alienaçao do corpo é o desenvolvimento da identidade individual, o conflito da mente e do corpo (alter ego) representa o nascimento do individual na sociedade capitalista, moldado pela disciplina laboral.