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terça-feira, 9 de outubro de 2018

O Calibã e a Bruxa, de Silvia Federici


Este livro é uma pesquisa sobre a condiçao das mulheres na "transiçao" do feudalismo para o capitalismo. Repensa a analise da acumulaçao primitiva de "O Capital", vol.1, de Karl Marx e também "A Teoria do Corpo", de Michel Foucault, sob o ponto de vista feminino.
O titulo vem de dois personagens da peça shakesperiana "A Tempestade": O Calibã representa o rebelde anticolonial, simbolo do proletariado, especificamente o corpo do proletariado como terreno e instrumento de resistência da logica capitalista.
In The Tempest the conspiracy ends ignominiously, with the European proletarians demonstrating to be nothing better than petty thieves and drunkards, and with Caliban begging forgiveness from his colonial master.
A Bruxa (Sycorax, mae de Calibã) é a concretizaçao de um mundo de assuntos femininos que o capitalismo tinha que destruir: a herética, a curandeira, a esposa desobediente, as mulheres que queriam morar sozinhas, etc.

"Whereas Marx examines primitive accumulation from the viewpoint of the waged male proletariat and the development of commodity production, I examine it from the viewpoint of the changes it introduced in the social position of women and the production of labor-power. Thus, my description of primitive accumulation includes a set of historical phenomena that are absent in Marx, and yet have been extremely important for capitalist accumulation. They include  the development of a new sexual division of labor subjugating women's labor and women's reproductive function to the reproduction of the work-force; the construction of a new patriarchal order, based upon the exclusion of women from waged work and their subordination to men; the mechanization of the proletarian body and its transformation, in the case of women, into a machine for the production of new workers. Most important, I have placed at the center of my analysis of primitive accumulation the witch-hunts of the 16th and 17th centuries, arguing that the persecution of the witches, in Europe as in the New World, was as important as colonization and the expropriation of the European peasantry from its land were for the development of capitalism".
I should add that Marx could never have presumed that capitalism paves the way to human liberation had he looked at its history from the viewpoint of women. For this history shows that, even when men achieved a certain degree of formal freedom, women were always treated as socially inferior beings and were exploited in ways similar to slavery. “Women," then, in the context of this volume, signifies not just a hidden history that needs to be made visible; but a particular form of exploitation and, therefore, a unique perspective from which to reconsider the history of capitalist relations.
A caça às bruxas, sob um regime patriarcal opressor, foi uma guerra contra as mulheres para denegri-las, demoniza-las, domestica-las e destruir seu poder social, visava também destruir o controle que as mulheres exerciam sobre seu corpo, sua sexualidade e sua funçao reprodutiva. A mulher foi confinada no lar, sem direito a um salario. Mesmo as que trabalhavam, o salario ia para os maridos. Elas perderam toda autonomia, principalmente financeira, foram retiradas dos espaços publicos, proibidas de terem acesso à educaçao, à vida politica e religiosa, foram confinadas apenas para a reproduçao, as ricas para gerarem herdeiros e as pobres para gerarem mao-de-obra barata. Elas ficaram dependentes do homem para tudo
The separation of production from reproduction created a class of proletarian women who were as dispossessed as men but, unlike their male relatives, in a society that was becoming increasingly monetarized, had almost no access to wages, thus being forced into a condition of chronic poverty, economic dependence, and invisibility as workers.
O poder da Igreja no argumento de autoridade, como ja citei aqui, que em nome de deus cometeu muitas atrocidades, combatendo todo tipo de cultura e religiao que eram diferentes do "cristianismo". As mulheres que nao se adequavam ao modelo imposto eram acusadas de bruxas, assim como os movimentos hereticos e do milenarismo (resistência anti-feudal do XII e XIII sécs).
A igreja através da santa inquisiçao que se auto-intitulou como a justiça de deus na terra, cometeu o maior feminicidio da historia da humanidade, participou ativamente da colonizaçao e converteu à força, por meios da violência, tortura e mortes, indios e escravos. Além do feminicidio, foi conivente também com o massacre de 2/3 dos nativos da América e a escravidao dos africanos e nativos.
Para o avanço capitalista, toda forma de comunalismo tinha que ser destruida, como os anabatistas que seguiam os passos dos primeiros cristaos de dividirem tudo entre eles em partes iguais, ou os indigenas ou tribos africanas que faziam o mesmo. O comunalismo deu lugar ao individualismo.
A igreja também politiza a sexualidade e regula o comportamento sexual:
The Church attempted to impose a true sexual catechism, minutely prescribing the positions permitted during intercourse (actually only one was allowed), the days on which sex could be practiced, with whom it was permissible, and with whom forbidden.
O casamento torna-se um sacramento no séc. XII, nenhum poder na terra pode dissolver o matrimonio. A igreja intensifica o ataque à sodomia.
No catolicismo as mulheres nao eram ninguém, enquanto nas seitas heréticas elas administravam sacramentos, pregavam, batizavam e dividiam o teto com um homem sem casar.
As beguines, era um grupo de mulheres que moravam juntas, longe do controle dos homens e das regras monasticas, um exemplo de mulheres livres que existiu.
Nos séculos XIV e XV o estupro é descriminalizado, se uma mulher é solteira, viuva, doméstica ou esta sozinha  na rua, o homem se vê no direito de estupra-la e nada acontece judicialmente, pois ela que esta errada em nao ter um homem ou de ter que andar sozinha. Uma vez estuprada, perde a dignidade, nao vai arrumar um casamento e so resta a prostituiçao. Começa entao o culto à virgindade, à castidade, à pureza, etc. Dai surge o argumento de mulher para casar e mulher para se divertir.
Durante a colonizaçao, a primeira geraçao de mestiços nascida na América foi concebida através do estupro de mullheres nativas e escravas africanas.
Ha a institucionalizaçao da prostituiçao, abertura de bordeis municipais com o aval da igreja que justifica que estes lugares sao necessarios para evitar a sodomia e a orgia dos hereges. Veja a diferença que a sexualidade do homem nao sofre nenhuma alteraçao, ele tem permissao para estuprar, visitar prostitutas e casar com uma mulher casta, enquanto as mulheres sao proibidas de qualquer forma de prazer, a esposa faz sexo pra procriaçao e a prostituta como meio de sobrevivência, ambas sob o dominio do patriarcado que decidem o que fazer com o corpo delas.
Foi proibido o uso de plantas contraceptivas, a parteira foi substituida pelo médico homem, a gestaçao e o nascimento passam a ser controlados pelo estado.

Cartesianismo: O corpo como maquina ou a disciplina do corpo

Descartes e Hobbes. Filosofia mecânica, o corpo é comparado a uma maquina com intuito de maximizar sua utilidade no trabalho, a maquina tornou-se modelo do novo comportamento social.
Descartes and Hobbes express two different projects with respect to corporeal reality. In Descartes, the reduction of the body to mechanical matter allows for the development of mechanisms of self-management that make the body the subject of the will.
In Hobbes, by contrast, the mechanization of the body justifies the total submission of the individual to the power of the state. In both, however, the outcome is a redefinition of bodily attributes that makes the body, ideally, at least, suited for the regularity and automatism demanded by the capitalist work-discipline.
Foucault demonstrou que a mecanizaçao do corpo envolve a repressao dos desejos, emoçoes ou outras formas de comportamentos que deveriam ser erradicadas. O produto desta alienaçao do corpo é o desenvolvimento da identidade individual, o conflito da mente e do corpo (alter ego) representa o nascimento do individual na sociedade capitalista, moldado pela disciplina laboral.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Poeta maldita: Renée Vivien


Renée Vivien (1877-1909), nasceu na Inglaterra, mas Viveu na França e sua obra foi escrita em francês, era conhecida como "Sapho 1900", pois assim como Safo, era poeta e lésbica. Era campeã, junto com Paul Verlaine dos versos hendecassílabos. Traduziu Safo para o francês e fazia parte do circulo Paris-Lesbos, formado por artistas e escritoras.

Também era uma "poeta maldita" (Poètes maudits é a definição de Verlaine aos poetas incompreendidos que rejeitam os valores da sociedade, conduz uma vida provocante, perigosa, autodestrutiva e morre antes de ter sua obra reconhecida). Renée sofria de depressao severa, de anorexia, tentou suicidar-se algumas vezes, tinha problemas com alcool e drogas, morreu aos 32 anos, de pneumonia e inanição, pesando apenas 30 kg.

A obra dela tem aquela energia do fim do século, contos cruéis, sobrenaturais, macabros e muita influência biblica, do gótico e dos classicos gregos. As personagens femininas sao inteligentes, sabem se defender e nao aceitam serem domadas. 

Fiz a traduçao (amadora) de um conto e meio (do segundo apenas um fragmento) e de dois poemas em prosa, espero que gostem.

A AMIZADE FEMININA

De toda estupidez que os filisteus letrados encheram seus leitores, veja a mais formidavel: "As mulheres sao incapazes de fazer amizades. Jamais houve Davi e Jonatas* entre as mulheres.
Sera que eu posso insinuar que o afeto de Davi por Jonatas parece mais passional que fraternal? Tenho por prova a oraçao funebre do jovem conquistador:

Como estou triste por você, Jônatas, meu irmão!Como eu lhe queria bem!Sua amizade era, para mim, mais preciosa que o amor das mulheres!

Eu nao creio que essas lagrimas sejam por causa de um fim doloroso de amizade. Considero mais lagrimas de sangue de um ardor de viuvo.

Quantas amizades sao mais desinteressadas que a magnifica ternura de Rute, a moabita, por Noemi! Nenhuma languidez carnal poderia insinuar-se na amizade das duas mulheres. Noemi nao era mais jovem, ela mesma disse: Eu sou velha para casar de novo.

Noemi disse a Rute: "Veja, sua cunhada está voltando para o seu povo e para o seu deus. Volte com ela!"Rute, porém, respondeu:"Não insistas comigo que te deixe e que não mais te acompanhe.Aonde fores, irei, onde ficares ficarei!O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus!Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada.Que o Senhor me castigue com todo o rigor se outra coisa que não a morte me separar de ti!" 

Como a mais bela musica, essas palavras deixam-nos sem voz e sem fôlego diante do infinito.
À oferta resignada de Noemi, que o Senhor a trouxe de volta de mãos vazias ao seu pais natal, Rute, a moabita responde com essa frase de uma humildade implorante: Nao me apressa em te deixar, em ficar longe de ti, que prepara, como um preludio murmurante, a amplitude do orgao da estrofe incomparavel: Aonde fores, irei...
Nunca algum soluço de amor sera igual a este fervor e esta abnegaçao. O poema de amizade ultrapassa o poema de amor. É a maior devoçao, a paixao alva. E esta ternura se estende até o tumulo: Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada.
Noemi significa beleza, doçura, seja honrada pela amizade que tu inspiraste e que sejam celebradas também entre as virgens de Israel: "Sua nora que te ama, prefere a ti à sete filhos..."
Na verdade, o livro de Rute é a apoteose da amizade magnânima. A amizade, fusao casta das almas, neve derretida na neve... A amizade, soluço de citaras e perfume de violetas.
Creiam-me, Rutes e Noemis do futuro, o que ha de melhor e mais doce no amor, é a amizade.

*Leia na biblia em II Samuel, cap. 1

FRAGMENTOS DE "O VÉU DE VASTI1"

"Inocente como o Cristo que morreu pelos homens,
ela devotou-se pelas mulheres".
Flaubert, La tentation de Saint Antoine
Uma velha escrava judia conta a lenda de Iblis2 e a de Lilith que foi criada antes de Eva, sendo entao a primeira mulher.
«… E Lilith, desdenhosa do amor do homem, preferiu ser enlaçada pela serpente. É por isso que ela foi castigada por séculos. Alguns a viram nos claroes da lua, chorar pelas serpentes mortas. Ela aparece nos sonhos sobrenaturais dos solitarios. Ela atormenta com sonhos a candura do sono. Ela é a Febre, ela é o Desejo, ela é a Perversidade. Na verdade, Lilith foi castigada por séculos, porque ninguém jamais conseguiu satisfazer sua fome do Absoluto.
-         Eu seria Lilith, pensou alto a rainha Vasti.
-       Iblis, como sua companheira mortal, é maldito, oh, soberana… Iblis é uma estrela caida que sombreia nas trevas, pois queria ser igual a deus.
-        Eu seria Iblis, pensou alto mais uma vez a rainha Vasti.
-        Ele é o primeiro dos vencidos, oh, soberana… Pois Iblis quis o impossivel.
-        Eu amo os vencidos, murmurou Vasti. Eu amo todos os que amam o impossivel. »
Vasti se levantou e, com um gesto humano, tirou de sua cabeça a coroa real, as pérolas de seu pescoço, as safiras dos seus dedos palidos, as esmeraldas de sua cintura e se vestiu com a tunica rasgada da velha judia.
Onde vais, rainha? Soluçou a velha judia inconformada
-          Eu vou para o deserto onde os seres humanos sao livres como os leoes.
-          Nenhum homem jamais retornou do deserto e nunca uma mulher se aventurou.
-       Eu perecerei talvez de fome, talvez entre os dentes de uma besta selvagem, talvez de solidao, mas depois da rebeliao de Lilith, eu serei a primeira mulher livre. Minha açao chegara ao conhecimento de todas as mulheres e de todas aquelas que sao escravas no lar de seus maridos ou de seus pais me invejarao em segredo. Sonhando com uma rebeliao vitoriosa, elas dirao : « Vasti menosprezou ser rainha para ser livre »

E Vasti foi rumo ao deserto, onde as serpentes mortas revivem sob os raios da lua.
________________________________________
1Leia na biblia, no livro de Ester, cap. 1
2 Iblis é o principal demônio da mitologia islâmica


O CISNE NEGRO

Sobre os fiordes, passavam como uma nuvem, os cisnes brancos.
Um dia eles perceberam no bando, um cisne negro com o bico vermelho de sangue.
Os cisnes todos brancos estavam aterrorizados ao ver no meio da trupe este companheiro singular.
Tranquilizados enfim, eles passaram do terror ao odio.
Entao eles atacaram o cisne negro com tanto odio que este veio a perecer.
O cisne negro pensou:
Eu nao suporto a crueldade dos meus semelhantes que nao sao parecidos comigo
Eu fugirei para sempre no fundo da minha solidao.
Vou alçar o voo e irei rumo ao mar.
Conhecerei o sabor das brisas maritimas. Escutarei os grandes gritos da tempestade.
As ondas tumultuosas embalarao meu sono, descansarei com as trovoadas.
O relampago sera meu irmao e o trovao sera meu irmao bem-amado.
Tendo ouvido de longe o barulho das ondas, o cisne alçou o voo rumo ao mar.
Porém, o furacao o surpreendeu, o abateu e quebrou suas asas...

O cisne negro acreditou que iria morrer sem ver o mar.
Entretanto, ele sentia no ar o bom odor das algas.
As asas quebradas se levantaram num ultimo esforço...
E o vento levou o cisne morto até o mar.

A MENDIGA

A mais bela das garotas da Noruega era uma mendiga que mendigava nas grandes rotas.
Ela se vendia para todos que passavam na rua.
Celebraremos diante do rei a beleza desta mulher
E o rei pediu-lhe que se aproximasse,
mas a mulher nao obedeceu à ordem real,
Pois ela amava o vento e a poeira dos grandes caminhos
O rei levou-a à força
Ela foi, mas chorando,
pois ela amava o vento e a poeira dos grandes caminhos
O rei colocou sobre os cabelos da mendiga a coroa real.
A mendiga e prostituta de antes sentou-se ao lado do rei no trono
- Um dia a  rainha disse às suas servas:
"Eu deixo vocês colocarem o peso de uma coroa.
Antes, os ventos dos grandes caminhos sopravam na minha cabeleira.
Eu dormia entre o capim seco, vivia segundo o tempo e a hora
e amava o que queria."
Ao cair da noite, ela saiu do leito real
Procuraram-na por muito tempo
Alguém a encontrou mais tarde, morta em meio ao capim seco
Ela parecia dormir com o rosto virado pro céu.
Deixaram-na no meio do capim cortado
O vento levantou e fazia barulho entre as arvores e o trigal
E a morte dormia no capim cortado
O vento das grandes rotas soprava em seus cabelos.

sábado, 2 de dezembro de 2017

#leiamulheres: Hunger, da Roxane Gay

A leitura dos meses de setembro e outubro do "Our Shared Shelf Group", foi o livro de memorias "Hunger, a Memoir of my Body" (Fome), da Roxane Gay.

Ja fiz um post falando de "Escritoras e transtornos alimentares" e este é mais um livro para endossar essa discussao. É uma leitura muito dolorida, haja estrutura psicologica para aguentar este assunto tao espinhoso, porém necessario.

Segundo a autora, nao é uma historia de sucesso, de emagrecimento, nao tem nenhuma foto dela na versao magra, nao é um livro de motivaçao, ao contrario, é uma luta diaria, uma historia real.

Ela sofre de obesidade morbida e nos conta como passou a comer sem limites. Aos 12 anos de idade, apaixonou-se por um garoto e vai com ele e sua gangue de meninos pro meio do mato onde é estuprada por ele e pelos outros garotos também.

Ela nao conseguiu contar para ninguém, por medo e vergonha. O silêncio transformou em transtorno alimentar. Entao ela comia, pois comendo o corpo dela ficaria repulsivo para os homens e eles nao se aproximariam dela. A comida também era um conforto, é o unico prazer que ela tem na vida.

Este trauma colocou-a em relacionamentos abusivos, pois ela achava que nao valia nada e nao merecia ser amada. Ela tem pavor de estar em um ambiente sozinha com um homem, pois pensa que todos que se aproximam é para fazer-lhe mal. Também tem pavor de toque, afeto, gente que se aproxima, abraça, etc.

A familia preocupada com o bem estar dela, levava-a para clinicas de emagrecimento, ela perdia peso, mas ao sair, voltava a engordar, porque o real problema nao era tratado. A obesidade era a consequencia de um problema bem mais sério que ela nao tinha dito para ninguém.

Ela fala da dificuldade em encontrar roupas, dos comentarios maldosos, dos memes que fazem dela por ser feminista, gorda e negra com o titulo "tipica feminista". 
Se ela vai no hospital por causa de uma gripe, os médicos nem escutam o que ela tem a dizer e ja vao medindo a pressao, achando que é algum problema relacionado à obesidade.

Fala da midia que vende dieta e comida saudavel como sinonimo de felicidade e aceitaçao. Programas de TV como The Biggest Loser, Fit to Fat to Fit, mostram que o gordo deve ser erradicado da sociedade. Nao so reality shows, mas comerciais, revistas que so publicam sobre celebridades que engordaram e emagreceram. Tem todo um monitoramento do corpo da mulher para que ela se sinta ou amada ou envergonhada. Mesmo apos um parto ela é forçada a entrar em forma o quanto antes.

Apesar de todas as dificuldades, a autora sempre foi inteligente, nao teve problemas em entrar nas melhores universidades, fez mestrado, doutorado, virou professora universitaria e escritora.

Recomendo muitissimo a leitura deste livro. Deixo-vos com algumas musicas que falam da relaçao com o corpo e auto-acitaçao

You can buy your hair if it won't grow
You can fix your nose if he says so
You can buy all the make-up
That M.A.C. can make, but if
You can't look inside you
Find out who am I to
Be in the position that make me feel
So damn unpretty
I'll make you feel unpretty too

Never insecure until I met you
Now I'm bein' stupid
I used to be so cute to me
Just a little bit skinny
Why do I look to all these things
To keep you happy
Maybe get rid of you
And then I'll get back to me

Mistreated, misplaced, misunderstood
Miss No-Way-It's-All-Good,
It didn't slow me down.
Mistaken, always second guessing
Underestimated, look, I'm still around

Pretty, pretty, please, don't you ever, ever feel
Like you're less than fucking perfect
Pretty, pretty, please, if you ever, ever feel
Like you're nothing. You're fucking perfect to me

You're so mean, so mean when you talk, when you talk
About yourself. You were wrong.
Change the voices, change the voices in your head, in your head
Make them like you instead.

So complicated,
Look how we all make it.
Filled with so much hatred
Such a tired game
It's enough, I've done all I could think of
Chased down all my demons
I've seen you do the same

The whole world's scared, so I swallow the fear
The only thing I should be drinking is an ice-cold beer
So cool in lying and we try, try, try but we try too hard
And it's a waste of my time.
Done looking for the critics, 'cause they're everywhere
They don't like my jeans, they don't get my hair
Exchange ourselves and we do it all the time
Why do we do that, why do I do that, why do I do that?

Quoi faire avec mon corps. 
le couché tôt, le levé tard. 
lui faire faire le sport. 

quoi faire avec mon corps. 
l'exciter, l'exhiber ou encore lui donner tord.

quoi faire avec mon corps.
l'intoxiquer, le purifier ou le peindre en noir.

quoi faire avec mon corps.
le faire courir ou méditer le coeœur des vivants, 
ou lui donner la mort.

je vieillirai avec, 
que ca me plaise ou non.
il ira ou j'irai.
À quoi bon de laisser flamber.
je vieillirai avec, 
que ca me plaise ou non.
il ira ou j'irai.
À quoi bon de se laisser tomber.

quoi faire avec mon corps.
le trafiquer pour parvenir à trahir son âge.

quoi faire avec mon corps.
lui visser des 'vuitton' aux talons pour le confort.

quoi faire avec mon corps.
le vendre, le donner ou jouer avec son genre.

quoi faire avec mon corps.
le guérir, le blesser ou le gaver d'animaux morts.

sábado, 27 de maio de 2017

Lendo mulher japonesa: Fumiko Enchi

Este é o meu primeiro contato com um livro escrito por uma mulher japonesa. Já li alguns homens: Murakami, KawabataTakuboku e Soseki.
Gosto bastante do cinema japonês, ja assisti à vários filmes do Akira Kurosawa, Hirokazu Kore-eda, Kenji Misoguchi, Yasujiro Ozu, Takeshi Kitano, Hayao Miyazaki, entre outros.
Assisti a filmes dirigidos por mulheres japonesas também, mas ainda nao coloquei aqui no "Mulheres na Direçao". No inverno volto a postar sobre filmes, agora que é primavera-verao e eu preciso sair um pouco.
Titulo: Masque de Femme (Máscara de Mulher)
Autora: Fumiko Enchi
Ano de lançamento: 1958
145 paginas.

O titulo "Máscara de mulher" refere-se às máscaras femininas do Teatro . Como meu conhecimento é bem pobre em cultura japonesa e oriental, tive que pesquisar um pouco sobre esse tipo de teatro, pois o que tinha visto até entao, foi uma cena no filme "Dolls", do Takeshi Kitano (filme lindo!). Vamos ao resumo do básico:
  • significa talento/ habilidade
  • O teatro tradicional japonês foi reconhecido pela UNESCO como patrimônio cultural imaterial.
  • Envolve musica, dança e dramatizaçao.
  • Todos atores sao homens. O que diferencia os personagens masculinos dos femininos sao as mascaras. Elas sao divididas em 5 categorias: homens, mulheres, idosos (dos dois sexos), demônios e espiritos. Dentre estas categorias ha as subcategorias, por exemplo: homem jovem, mulher madura, mulher louca, etc. Somando aproximadamente 250 máscaras.
  • A máscara de espirito vingador feminino tem chifre, o masculino nao.
Par Vassil — Travail personnel, Domaine public


A Profa de Artes Cênicas da USP, Darci Kusano, escreveu este artigo sobre o Teatro tradicional japonês e ela cita um escritor que definiu o teatro Nô da seguinte forma:

"O escritor Yukio Mishima radicaliza e considera o nô uma arte necrófila, um teatro ímpar no mundo, pois começa quando tudo já terminou. Na primeira parte da peça, disfarçado de pessoa comum, o espírito retorna à terra e aparece diante de um ser humano. Já na segunda parte, revela sua verdadeira identidade, geralmente através de uma dança, reencenando o sentimento que mais o marcou em vida: a derrota na batalha, o ódio, o ciúme, o amor não correspondido, a dor de um filho morto e assim, purgar as suas emoções mundanas e alcançar a iluminação."
Esta definição me chamou a atenção, pois o livro segue a mesma lógica do teatro. Começa com este assunto de possessão de espiritos e em seguida todos os outros assuntos que sublinhei.

O livro é dividido em três capítulos, cada um deles representa um nome de uma máscara feminina, sao elas: 

  • Ryō no Onna (A possuida), é  o rosto de uma mulher angustiada e que espera em vao o marido que nunca retornará.
  • Masugami (A dos cabelos longos), representa a princesa louca, errante, no qual seu irmão é vitima do destino. Ter o cabelo longo e bangunçado na poesia japonesa, significa ter o espirito perturbado.
  • Fukai (A poço profundo), é a mascara para o papel de mãe. Seus olhos sao profundos dando a impressao de uma mulher perdida em seus pensamentos.

As principais personagens femininas do livro que fazem um paralelo com as três máscaras citadas sao:

  • Mieko Toganoo, viúva, poeta renomada, diretora de uma revista literária, tem interesse em possessao e espiritismo na literatura classica japonesa, em particular no romance de Genji. Seu filho Akio morreu numa avalanche, ao tentar escalar o Monte Fuji.
  • Yasuko é nora de Mieko e viúva de Akio, ela tem um relacionamento ambíguo com a sogra (tanto intelectual quanto sexual).
  • Harume é irma gêmea de Akio, logo é filha de Mieko. É linda, mas tem problemas mentais.
Os dois personagens masculinos, Mikame e Ibuki, estao apaixonados por Yasuko e ela vai aproveitar disso para um proposito bem inusitado (para nao dizer assustador, horripilante).

Outro fato que me chamou a atençao, foi a forma que a autora descreve a misoginia presente no Budismo, isso é bem claro nas religiões monoteistas, mas nunca tinha prestado atenção a este detalhe nas religiões orientais.
Por exemplo, tem uma parte que fala de um personagem feminino, a Dama da Sexta Avenida, do romance de Genji. Ela é ciumenta e obsessiva, mas as pessoas a viam pelo ponto de vista budista, o "arquétipo do karma feminino nefasto".
Tem outra parte que fala de possessão e poderes xamânicos femininos que foram reprimidos e quase extintos por afrontarem os homens. Entao é citado um termo budista "o karma feminino é uma distraçao, uma loucura passageira, portanto o mal".
Tem uma outra passagem interessante e bem feminista sobre isso:
"Pela questão da paternidade, por exemplo: para ter certeza que o filho  é seu, o homem, durante séculos, acumulou esforços admiraveis, instituindo o crime passional, inventando o cinto de castidade... Mas eles nunca conseguiram desmantelar um segredo de uma mulher. Se Jesus e Buda odiavam as mulheres a ponto de sadismo, era para obrigar a rendição de um adversário contra quem o combate ja estava perdido antecipadamente."
Além do teatro , tem também comparações com a maior obra literária japonesa do século XI, considerada também como o primeiro romance psicológico, Genji monogatari. A autora que traduziu esta obra para o japonês moderno.

Gostei bastante da leitura, super indico. É meio perturbador, porque máscaras ao mesmo tempo que atrai a atenção, também causa um certo desconforto. Tive que fazer pesquisas antes de avançar na leitura, mas valeu a pena. Aprendi um pouco mais sobre uma cultura.

Vou deixar alguns links sobre o teatro , caso alguém tenha interesse (em inglês e francês).

sábado, 30 de julho de 2016

Mulheres na direçao: Haifaa Al-Mansour (Arabia Saudita)

Haifaa Al-Mansour, primeira mulher cineasta da Arabia Saudita
Assisti ao filme O Sonho de Wadjda (2012), dirigido pela  cineasta Haifaa Al Mansour. Trata-se de uma menina de 10 anos que luta contra o patriarcado fundamentalista na Arabia Saudita. Nem vou escrever muito para nao deixar a emoçao falar no lugar da razao, porque o mundo esta longe de ser um lugar seguro as mulheres e isso me deprime.


O sonho de Wadjda era ter uma bicicleta, ela vai tentar juntar dinheiro para compra-la. Passa a vender pulserinhas na escola, mas a diretora confisca-as. Depois participa de um concurso de leitura do corao para ganhar o prêmio em dinheiro. O problema é que la mulher nao pode dirigir, muito menos andar de bicicleta, dizem que elas correm o risco de perder a virgindade ou de serem estéreis.
É muita opressao e pressao, mulher nao pode rir, o homem nao pode ouvir a voz de uma mulher, a mulher tem que se esconder quando vê um homem, tem que usar burka preta. Existe uma policia religiosa que fica de olho no que as pessoas vestem e como se comportam na rua, etc.
O pai dela deixa a mae porque ela tinha problemas para engravidar e quando conseguiu, nasceu uma menina, ou seja, nasceu a Wadjda. Entao ele casa com outra para poder ter filhos homens, pois so eles que herdam bens e fazem parte da genealogia da familia. Tem uma hora que a Wadjda escreve o nome dela na arvore genealogica do patriarcado. Yes, sista!
A mae dela faz de tudo pela familia, nao corta o cabelo porque o marido nao quer, fica fazendo chapinha porque ele gosta de cabelo liso, cozinha, se arruma para ele, mas para variar, ele é um babaca.
Wadjda gosta de tênis all star surrado, de correr com os meninos, de escutar musica, odeia portar o veu, odeia as oraçoes, odeia a obediência cega.
Recomendadissimo! Lembre-se: Nunca vote em politicos religiosos porque ninguém é obrigado a seguir uma religiao imposta. Estado laico sempre!

Minha lista "Mulheres na direçao" no Filmow ja tem 1747 filmes cadastrados e 178 assistidos até o momento.

Veja também:

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Leitura: The Argonauts, de Maggie Nelson


Este livro foi o escolhido do mês de maio para o grupo Our Shared Shelf, comprei o e-book na Kobo Store por $11,00 dolares. O bom de participar de grupos, é que eu saio da minha zona de conforto e leio coisas que nunca descobriria sozinha. Infelizmente a maioria dos livros deste grupo nao tem traduçao para o português nem para o francês, como ja mencionei em posts anteriores, se ja é dificil para uma mulher publicar, ser traduzida é mais dificil ainda. Cabe a nos estudarmos outros idiomas para nao ficarmos de fora de toda riqueza literaria. Ultimamente ando lendo as obras no idioma original porque além de ser interessante, evita uma traduçao mal feita.

"The Argonauts" (Os Argonautas), é um livro de memorias nao-convencional, escrito de maneira nao-convencional. A autora narra em forma de pequenas anotaçoes, como se estivesse escrevendo em um blog ou diario. Porém, essas anotaçoes sao feitas com muitos questionamentos e posicionamentos. Parece uma leitura facil, mas nao é, tive que parar algumas vezes para refletir e também para pesquisar. Ela, por ser professora universitaria, às vezes tem esses insights de escrita acadêmica, cita muitos filosofos, professores, escritores, artistas e poetas que eu desconhecia e tive que googlear para nao me perder. Na hora que ela falou dos argonautas da mitologia grega + Roland Barthes + Sedgwick tudo junto e misturado ao mesmo tempo, fiz uma pausa para me inteirar do assunto e em seguida, retomar a leitura.
A grosso modo, ela narra sua experiência em ser esposa de Harry Dodger, um transgender man (mulher que fez a transiçao para tornar-se masculina, por isso vou utilizar o pronome pessoal "ele").  Também optou por ser mae via inseminaçao artificial e era madastra, ja que seu companheiro tinha um filho do casamento anterior. É uma redefiniçao do termo familia.
Apesar dos insights filosoficos, o texto tem suas partes simples, narrando seu dia-a-dia sendo mae (gravidez, parto, amamentaçao), esposa (vida sexual), madrasta e profissional, que deveria nao ser muito diferente do resto das mulheres do mundo. Porém, o mundo nao esta preparado para isso, é cada coisa desnecessaria que ela tem que passar que olha....
Fala também de corpo, as mudanças fisicas com o passar do tempo, o corpo da mae, seu proprio corpo, o corpo do Harry em transformaçao, o corpo do bebê.
Fala de gênero, sexualidade, homossexualidade. Como é ser lesbica, feminista e feminina ao mesmo tempo.
É um otimo livro para entender que o mundo nao é binario, que entre o branco e preto tem toda uma escala de cinza no meio que deve ser considerada. Nao adianta querer colocar as pessoas em caixinhas como se todas fossem iguais.
O proprio titulo me fez pensar no Argos (barco) em que estamos, para onde estamos indo, por quê estamos indo, quem esta indo junto, onde aportaremos. Às vezes a gente leva nossa vidinha no nosso barquinho e esquecemos que ha outros barcos, com outras pessoas, com outros propositos.

Eis alguns fragmentos (nao traduzo, pois é apenas para meu arquivo pessoal):

How does one get across the fact that the best way to find out how people feel about their gender or their sexuality—or anything else, really—is to listen to what they tell you, and to try to treat them accordingly, without shellacking over their version of reality with yours?
The presumptuousness of it all. On the one hand, the Aristotelian, perhaps evolutionary need to put everything into categories—predator, twilight, edible—on the other, the need to pay homage to the transitive, the flight, the great soup of being in which we actually live. Becoming, Deleuze and Guattari called this flight: becoming-animal, becoming-woman, becoming-molecular. A becoming in which one never becomes, a becoming whose rule is neither evolution nor asymptote but a certain turning, a certain turning inward, turning into my own / turning on in / to my own self / at last / turning out of the / white cage, turning out of the / lady cage / turning at last.

Nuptials are the opposite of a couple. There are no longer binary machines: question-answer, masculine-feminine, man-animal, etc. This could be what a conversation is—simply the outline of a becoming. —Gilles Deleuze/Claire Parnet

Sobre ser madrasta
When you are a stepparent, no matter how wonderful you are, no matter how much love you have to give, no matter how mature or wise or successful or smart or responsible you are, you are structurally vulnerable to being hated or resented, and there is precious little you can do about it, save endure, and commit to planting seeds of sanity and good spirit in the face of whatever shitstorms may come your way. And don’t expect to get any kudos from the culture, either: parents are Hallmark-sacrosanct, but stepparents are interlopers, self-servers, poachers, pollutants, and child molesters. 
Identifiquei-me com isso

I didn’t have a baby then, nor did I have any designs on having one. Nor have I ever been what you might call a baby person (nor an animal person, nor a garden person, not even a house-plant person; even urgings toward “self-care” often irritate or mystify me). But I was enough of a feminist to refuse any knee-jerk quarantining of the feminine or the maternal from the realm of intellectual profundity. 
 E com isso:

Shame-spot: being someone who spoke freely, copiously, and passionately in high school, then arriving in college and realizing I was in danger of becoming one of those people who makes everyone else roll their eyes: there she goes again. It took some time and trouble, but eventually I learned to stop talking, to be (impersonate, really) an observer. This impersonation led me to write an enormous amount in the margins of my notebooks— marginalia I would later mine to make poems.
Sobre ser mae lésbica nos EUA
[Single or lesbian motherhood] can be seen as [one] of the most violent forms taken by the rejection of the symbolic … as well as one of the most fervent divinizations of maternal power—all of which cannot help but trouble an entire legal and moral order without, however, proposing an alternative to it.
Given that one-third of American families are currently headed by single mothers (the census doesn’t even ask about two mothers or any other forms of kinship—if there is anyone in the house called mother and no father, then your household counts as single mother), you’d think the symbolic order would be showing a few more dents by now. 

domingo, 24 de abril de 2016

Mulheres na direçao: Catherine Corsini (França)

Catherine Corsini tem 56 anos, é atriz, produtora e diretora francesa, seus filmes variam entre drama e comédia, eu particularmente prefiro os dramas. Eis os que assisti até o momento:

La belle saison (A Bela Estaçao), 2015 - Drama

Este filme é o meu preferido desta diretora, é lindo, triste e outros turbilhoes de emoçoes ao mesmo tempo. O trailer e o cartaz dao a entender que é um filme de amor entre meninas bem bonitinho, mas esta longe disso. A historia se passa nos anos 70 onde acontecia a segunda onda do feminismo, as mulheres se reuniam para lutar por seus direitos. As protagonistas sao: Delphine, uma camponesa que vai para Paris trabalhar, é lésbica, mas sua familia é tradicional e ela tem que "viver no armario", sacrificar seus amores, guardar as dores para si mesma para ser aceita em casa. Ao ir às reunioes feministas, percebe como sua vida e a vida de sua mae era injusta no campo, pois trabalhavam dia e noite sem receber nenhum salario, todo dinheiro do roçado ia apenas para o pai, so os homens participavam das reunioes da cooperativa, etc. A outra é Carole, uma estudante parisiense engajada nos movimentos sociais, até entao hetero, convida Delphine para se engajar na causa feminista e acabam se apaixonando. 
Outro assunto abordado foi sobre o tratamento dado aos homossexuais que eram internados em clinicas psiquiatricas, medicados a ponto de ficarem vegetando na cama e babando.
Uma das cenas mais lindas, as mulheres cantando o hino do MLF (Movimento de Liberaçao das Mulheres, criado pela Simone de Beauvoir). Chorei! A letra é muito poderosa.


Nous, qui sommes sans passé les femmes,
nous qui n'avons pas d'histoire,
depuis la nuit des temps, les femmes,
nous sommes le continent noir.
refrain :
Levons nous, femmes esclaves
Et brisons nos entraves,
Debout! Debout !
Asservies, humiliées, les femmes
Achetées, vendues, violées ;
Dans toutes les maisons, les femmes,
Hors du monde reléguées
(refrain)
Seules dans notre malheur, les femmes
L'une de l'autre ignorée,
Ils nous ont divisées, les femmes,
Et de nos sœurs séparées.
(refrain)
Reconnaissons-nous, les femmes,
Parlons-nous, regardons-nous,
Ensemble on nous opprime, les femmes,
Ensemble révoltons-nous.
(refrain)
Le temps de la colère, les femmes
Notre temps est arrivé
Connaissons notre force, les femmes
Découvrons-nous des milliers
Trois mondes (Três mundos), 2012 - Drama

Al foi promovido a gerente da concessionaria do seu futuro sogro, saiu para comemorar com os colegas, atropela um homem e foge sem prestar socorro. Juliette esta gravida, vê o acidente pela janela de seu apartamento e passa a ser a ponte entre o Al e a esposa do atropelado, uma imigrante ilegal vinda da Moldavia.
Juliette tem empatia, coloca-se no lugar do outro, talvez porque esteja gravida e tenha que aprender a lidar com um ser humano, apesar dos pesares. Ela se compadece da situaçao do Al, pois vê que ele nao é uma pessoa má, nao é um monstro, foi uma fatalidade. Também fica tocada com a viuva que vive ilegal, nao tem dinheiro e é controlada pelos homens conterrâneos que querem tirar vantagem da situaçao.

Partir, 2009 - Drama

Suzanne, depois de abdicar sua vida pelo casamento e maternidade, cansada de ser bela, recatada e do lar, retoma sua carreira de fisioterapeuta e passa a ter um caso com um peao de obras, um cara nada confiavel, que ja tinha sido preso, mas mesmo assim a sede era tanta que ela se aventurou.

Les ambitieux, 2006 - Comédia

Judith é editora de livros e Julien é um escritor que quer ser publicado e vai fazer de tudo para amansar a fera e conquista-la. É muito engraçado!

La nouvelle Eve, 1999 - Comédia


Camille, uma professora de nataçao, na casa dos trinta anos, solteira, espera o grande amor de sua vida, enquanto isso aventura-se com alguns parceiros ocasionais. Encontra acidentalmente Alexis, um homem casado, médico, pai de duas filhas e responsavel local do Partido Socialista. Ela tenta de tudo para tê-lo como amante, entra como militante no partido, passa a frequentar a casa dele, entre outras artimanhas. Tipico da comédia francesa nada "politicamente correta".

Minha lista "Mulheres na direçao" no Filmow (1738 filmes cadastrados e 170 assistidos até o momento).

Veja também:

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Livro + filme: Orlando, de Virginia Woolf

Para meu projeto "Literatura na sétima arte", li o livro "Orlando, uma biografia" escrito por Virginia Woolf, em 1928.
Orlando é um personagem androgino e vive a mais de 300 anos na terra. Nasceu homem e depois tornou-se mulher.
Este livro é uma declaraçao de amor à Vita Sackville-West, uma mulher que Virginia se apaixou aos 40 anos, Vita tinha 30, era mae de duas crianças e se vestia com trajes masculinos de vez em quando. Orlando é Vita. Virginia soube tratar de forma brilhante varios assuntos que infelizmente sao meio tabus até hoje.
É uma obra interessante do ponto de vista historico, pois narra o que acontecia na Inglaterra nos periodos da colonizaçao até a industrializaçao, fala também da condiçao feminina, discute sobre gênero e sexualidade, sobre aventurar-se em outros paises e fala da condiçao de ser escritor(a) em um mundo frio que preza pelo progresso e nao pelas as letras. Eis as partes que grifei e comentei:

Orlando era amante da leitura e da escrita:

"Lia frequentemente seis horas noite adentro; e, quando vinham pedir ordens para matar o gado ou colher o trigo, afastava o livro e olhava como se não compreendesse o que estavam lhe dizendo".
"Que deixasse os livros para os paralíticos e os moribundos. Mas o pior estava por vir. Pois, uma vez que a doença da leitura se instale no organismo, enfraquece-o, tornando-o presa fácil desse outro flagelo que habita no tinteiro e apodrece na pena. O infeliz dedica-se a escrever. E, se isto é ruim para um pobre homem cuja única propriedade é uma cadeira, uma mesa, sob a goteira de um telhado — que não tem, afinal, muito a perder —, a situação de um homem rico que possui casas e gado, empregados, mulas e linhos e ainda assim escreve livros é extremamente lamentável". 

Ao tornar-se mulher, lembrou de como pensava sobre elas enquanto homem:
"Lembrava agora como, quando rapaz, insistira em que as mulheres deviam ser obedientes, castas, perfumadas e caprichosamente enfeitadas. “Agora tenho que pagar pessoalmente por esses desejos”, refletiu; “pois as mulheres não são (julgando pela minha própria curta experiência do sexo) obedientes, castas, perfumadas e caprichosamente enfeitadas por natureza. Elas só podem conseguir esses encantos — sem os quais não desfrutam de nenhum dos prazeres da vida — por meio da mais tediosa disciplina." (mulher real x mulher idealizada)

Quando ela sentiu pela primeira vez o machismo relacionado à vestimenta feminina, nunca tinha percebido que poderia ser assediada por mostrar o tornozelo sem querer:
"Aqui, sacudiu o pé impacientemente e mostrou uma ou duas polegadas da perna. Um marinheiro que estava no mastro, e que olhou por acaso para baixo naquele momento, sobressaltou-se tão violentamente que perdeu o equilíbrio e só se salvou por um triz. “Se a visão dos meus tornozelos significa a morte para um homem honesto que sem dúvida tem mulher e família para sustentar, devo, por humanidade, mantê-los cobertos”, pensou Orlando. No entanto, suas pernas estavam entre seus maiores encantos, e ela começou a pensar a que estranha situação chegamos quando toda a beleza de uma mulher tem que ser mantida coberta para que um marinheiro não caia do mastro principal. “Que se danem!”, disse ela, compreendendo pela primeira vez o que em outras circunstâncias lhe teriam ensinado quando criança, ou seja, as sagradas responsabilidades de ser mulher."
“É melhor”, pensou, “estar vestida de pobreza e ignorância, que são as vestimentas escuras do sexo feminino; é melhor deixar o governo e a disciplina do mundo para os outros; é melhor abandonar a ambição marcial, o amor ao poder e todos os outros desejos masculinos, para que se possa apreciar completamente os mais sublimes arrebatamentos do espírito humano, que são”, disse em voz alta, como de hábito quando estava profundamente comovida, “contemplação, solidão, amor.”
"A mudança de roupas, diriam alguns filósofos, tinha muito a ver com isso. Futilidades vãs, como parecem, as roupas têm — dizem eles — funções mais importantes do que simplesmente nos aquecer. Elas mudam nossa visão do mundo e a visão do mundo sobre nós".
"Se usassem as mesmas roupas, é possível que sua maneira de olhar viesse a ser a mesma. Esta é a opinião de alguns filósofos e sábios, mas nós nos inclinamos por outra. Felizmente, a diferença entre os sexos é de grande profundidade. As roupas são apenas símbolos de algo extremamente oculto. Foi a transformação do próprio Orlando que determinou sua escolha pelas roupas de mulher e pelo sexo feminino".

A liberdade e a independência de ser homem x a passividade da mulher:
"Não serei capaz de quebrar a cabeça de um homem, nem dizer-lhe que mente até os dentes, nem desembainhar minha espada e traspassá-lo, nem sentar entre meus pares, nem usar uma coroa, nem andar em procissão, nem condenar um homem à morte, nem comandar um exército, nem exibir-me num corcel pelo Whitehall, nem usar 72 diferentes medalhas no peito. Tudo o que posso fazer quando pisar no solo inglês é servir chá e perguntar aos meus senhores como eles o preferem. Com açúcar? Com creme?"
"negar instrução à mulher para que ela não ria dele; ser escravo da mais reles sirigaita de saias e seguir como se fosse o Senhor da criação. — Céus!”, pensou, “como nos fazem de bobas — que bobas somos nós!” E aqui parecia haver alguma ambiguidade em seus termos, pois estava censurando ambos os sexos igualmente, como se não pertencesse a nenhum; e na verdade, até aquele momento, parecia vacilar; era homem; era mulher; conhecia os segredos e partilhava as fraquezas de cada um."
 "Orlando sentiu que por mais que o desembarque ali significasse conforto, significasse opulência, significasse importância e poder (pois ela sem dúvida caçaria algum príncipe nobre e reinaria como sua consorte sobre metade de Yorkshire), ainda assim significava convencionalismo, significava escravidão, significava fraude, significava negar o seu amor, acorrentar o corpo, franzir os lábios e conter a língua — então teve vontade de voltar com o navio e regressar para os ciganos".
Por ser mulher, nao poderia ter bens e nem receber herança:
As principais acusações contra ela eram: (1) que estava morta e portanto não podia ter propriedade alguma; (2) que era mulher, o que significa a mesma coisa (...) Todos os seus bens foram embargados, seus títulos suspensos, enquanto os processos estavam em curso. Assim, foi numa condição extremamente ambígua — sem saber se estava morta ou viva, se era homem ou mulher, duque ou ninguém — que partiu para sua casa no campo, onde, à espera do julgamento legal, tinha permissão da corte para residir, incógnito ou incógnita, conforme fosse o caso.
Os animais nao têm preconceito com seus donos:
"Ninguém manifestou a menor suspeita de que Orlando não fosse o Orlando que tinham conhecido. Se houvesse alguma dúvida na mente humana, a atitude dos veados e dos cachorros seria suficiente para dissipá-la, pois, como se sabe, os animais são melhores juízes de identidade e caráter do que nós". 
Orlando e os perrengues de ser mulher:
"ela não tinha a formalidade de um homem nem o amor masculino pelo poder. Ela possuía um coração excessivamente terno. Não suportava ver um burro ser espancado nem um gatinho ser afogado. Contudo, novamente observavam que detestava assuntos domésticos, levantava-se de madrugada e saía pelos campos no verão antes do nascer do sol. Nenhum fazendeiro conhecia melhor as colheitas do que ela. Podia beber com os mais fortes e gostava de jogos de azar."
"esquecera que as damas não devem passear sozinhas em lugares públicos — se um cavalheiro alto não se adiantasse e lhe oferecesse a proteção de seu braço. 
"Era então impossível sair para um passeio sem ficar meio sufocada, sem ser presenteada com um sapo de esmeraldas e pedida em casamento por um arquiduque?" (assédio na rua)
"As mulheres não têm desejos, diz esse cavalheiro entrando na sala de Nell; apenas fingimento. Sem desejos (ela o serviu e ele foi embora) a sua conversa não pode ter o menor interesse para ninguém. “É bem sabido”, diz o sr. S.W., “que, quando lhes falta estímulo do outro sexo, as mulheres não acham nada para dizer uma a outra. Quando estão sozinhas não conversam, arranham-se.” E, uma vez que não podem conversar quando estão juntas e quo arranhar não pode continuar indefinidamente, e como é bem sabido (como provou o sr. T.R.) “que as mulheres são incapazes de qualquer sentimento de afeição pelo seu próprio sexo e que se detestam mutuamente”, o que podemos supor que façam as mulheres quando se reúnem em sociedade?
Como esta não é pergunta que possa interessar a qualquer homem sensato, vamos nós aproveitar a imunidade de todos os biógrafos e historiadores de não pertencer a nenhum sexo para passar ao largo e meramente constatar que Orlando gostava imensamente da companhia das pessoas de seu próprio sexo, e deixemos para os cavalheiros o encargo de provarem, como adoram fazer, que isto é impossível." (homens querendo provar que mulheres sao inimigas umas das outras)
"A vida de uma mulher normal era uma sucessão de partos. Ela se casava aos 19 anos, e tinha 15 ou 18 filhos quando chegava aos trinta, pois os gêmeos abundavam. Assim nasceu o Império Britânico." (mulheres apenas para fins de procriaçao)
"Certamente, uma vez que ela é uma mulher, uma bela mulher, uma mulher na flor da idade, logo abandonará esse fingimento de escrever e meditar e começará, pelo menos, a pensar num guarda-caça (e, contanto que pense num homem, ninguém se opõe a que uma mulher pense). E então ela lhe escreverá um pequeno bilhete (contanto que escreva bilhetes ninguém se opõe a que uma mulher escreva)." (mulher bonita que so pensa em homem e escreve apenas bilhetes nao incomoda ninguém)
Sobre ser poeta:
"O ofício do poeta é, então, o mais elevado de todos — continuou. Suas palavras alcançam onde os outros falham. Uma simples canção de Shakespeare tem feito mais pelos pobres e pelos desgraçados do que todos os pregadores e filantropos do mundo"
Filme

O filme homônimo, dirigido pela Sally Potter (1992) é fiel ao livro, exceto o final. Tem uma fotografia linda, uma otima trilha sonora e atores maravilhosos. Tilda Swinton com seu look androgino arrasou no papel de Orlando. 
Curiosidade: a Rainha Elizabeth foi representada pelo ator Quentin Crisp
Orlando homem + Sasha 

Orlando mulher + Shelmerdine
vestidos malditos que limitam seus passos e pesam no seu corpo.

Este filme esta tb no meu projeto Mulheres na direçao

Musica

Seja o que você quer ser porque a gente so tem essa vida pra isso.


BEDA 14 (Blog everyday in April)