sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Leitura: Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie (parte 1)

Terminei a leitura do livro "Americanah", da escritora nigeriana, Chimamanda Ngozi Adichie. (Para um resumo mais pratico, leia no site da editora porque vou comentar alguns topicos).
Antes de tudo, se você lê em inglês, leia no original, fiz a besteira de comprar o e-book em português e me arrependi, eu acho que perde a graça porque ela compara o inglês americano com o nigeriano ou com o da Inglaterra e lendo em português, a gente perde o que eles estao realmente falando, o jogo de palavras nao faz sentido. Quero relê-lo em inglês mais para frente.
É um livro com uma leitura super fluida, li-o em 4 dias e tem quase 500 pags.
Eu recomendo nao so para quem é interessado por literatura africana, estudos sobre racismo, mas também para quem é imigrante e é sobre isso que eu vou focar, porque como imigrante, eu concordava com um monte de coisas que ela dizia, o famoso choque cultural, tanto que uma frase deste livro virou um post aqui.
Ela fala de dois tipos de imigraçao: a da personagem Ifemelu que foi legal para os Estados Unidos estudar e a ilegal do Obinze, seu namorado, para Londres. Vemos o contraste e as dificuldades que os dois enfrentam em lugares diferentes e condiçoes diferentes.
Outro assunto abordado é sobre a diferença entre um africano que mora nos EUA e os afro-americanos. 
Ela também fala da condiçao feminina na Nigéria e nos EUA, como é ser mulher nos dois paises, sobre tradiçoes, conservadorismo, religiao, sexualidade, etc.
A mãe dele pediu-lhe que entrasse no quarto e sentasse na cama.“Se acontecer alguma coisa entre você e Obinze, vocês dois serão responsáveis. Mas a natureza é injusta com as mulheres. Um ato é cometido por duas pessoas, mas, se há consequências, apenas uma sofre. Está me entendendo?“Sei que você é uma menina esperta. As mulheres são mais sensatas que os homens, e você terá que ser a mais sensata dos dois. Convença-o. Vocês dois devem concordar em esperar, para que não haja pressão.”
É Nigéria, mas poderia ser Brasil e até Canada, porquoi pas? Puxa-saquismo é universal e quem nao sabe puxar-saco, so se ferra (meu caso):
"Vivemos numa economia de puxa-saquismo, sabia? O maior problema deste país não é a corrupção. O problema é que há muitas pessoas qualificadas que não estão onde deveriam estar porque não puxam o saco de ninguém, ou porque não sabem que saco puxar ou porque nem sabem como puxar um saco". 
No trecho abaixo, é sobre a tia de Efemelu, uma médica que foi para os EUA antes dela e quando se reencontraram, ela nao estava reconhecendo a tia Uju, na Angola era uma mulher orgulhosa, cheia de opinioes e nos EUA era submissa, aceitava tudo que impunham a ela, era desleixada com a aparência. 
A América a deixara submissa. Obinze dizia que era a gratidão exagerada que vinha com a insegurança do imigrante.
Vi isto também em um filme franco-português, chamdo "A gaiola dourada", o casal portugues imigrou para França, o homem trabalha na construçao civil, é um otimo funcionario, sempre prestativo e o patrao abusa da bondade dele. Como diz a outra: Trop bon, trop con! (muito bom, muito besta!). A mulher trabalha de zeladora em um prédio, limpava as escadarias, os apartamentos, trabalha no jardim e ainda escuta desaforos das velhas do prédio. Sera que em nossa terra natal a gente aguentaria certos desaforos? A gente se submeteria a umas coisas que sao contra a nossa essência? Ficamos irreconheciveis? Os filhos deles que tinham nascido na França e estavam super integrados, tinham até vergonha dos pais.


Choque cultural: maneiras de se vestir. 
As roupas dos estudantes daquela festa eram de tecidos esfiapados e golas largas, parecendo gastas de propósito. (Anos mais tarde, ela escreveria um post para o blog dizendo que, quando a questão é se vestir bem, a cultura americana é tão satisfeita consigo mesma que não apenas tem uma falta de atenção com a cortesia de uma boa aparência como transformou essa falta de atenção numa virtude. “Somos superiores/ocupados/malandros/relaxados demais para nos importarmos com nosso aspecto aos olhos dos outros, por isso podemos usar pijamas para ir à escola e roupa de baixo para ir ao shopping.”)
Essa da roupa desleixada é a que eu mais amo, adotei para mim, posso usar crocs na rua, a camiseta que nao serve mais para o meu filho, se o cabelo esta zuado, meto um boné ou uma toca, fico parecendo uma gangster latina, mas aqui ninguém liga para visual e eu tenho mais o que fazer do que ficar me emperiquitando para os outros. Também acho que pessoas de paises pobres, nao gostam de ter aparência de pobre, de estar mal-vestido. É so ver na faculdade, os africanos e os latinos sao os mais arrumados, enquanto a galera local ta nem ai. Pelo livro, da para perceber que africano gosta de ostentaçao e pela minha experiência, no Brasil também, eita povo que adora ostentar marcas!

Outro topico, negar a propria cultura: achar musicas, filmes, eventos culturais, sociais do pais de origem uma merda e idolatrar as gringas, como se fossem melhores.

Continua em outro post, porque refletir sobre imigraçao da muito pano pra manga...

Um comentário:

  1. Adorei os comentários sobre os imigrantes, especialmente o último sobre as roupas ,ainda mais que convivo com e africanos aqui parametro.Gostaria muito de morar aí só pra não ter essa pressão sobre a minha aparência.

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