quinta-feira, 30 de junho de 2011

DL: Quando as máquinas param - Plínio Marcos

Mais uma peça brasileira para fechar com chave de ouro o desafio literário do mês. Desta vez li "Quando as máquinas param" do dramaturgo Plínio Marcos, conhecido também como autor maldito, por inserir  personagens de 'gente diferenciada' nas peças, pobres, ladrões, prostitutas, além de usar muitos palavrões. Ele era um tipo como o Lula, não tinha muito estudo, mas era phoda, a escola foi a vida. Além da peça "Quando as máquinas param", assisti no teatro "Navalha na carne", "Dois perdidos numa noite suja" e "O abajur Lilás".

Na peça "Quando as máquinas param", tem dois personagens: O Zé e a Nina, são casados, o Zé foi demitido e passa o dia procurando emprego e jogando bola com a meninada na rua, é um corintiano sofredor, vai para o boteco ver os jogos. Já Nina é uma costureira, às vezes as clientes demoram para pagar, ela gosta de ouvir rádio-novelas, chora de emoção, queria que o Zè falasse palavras bonitas para ela igual o galã da novela fala, mas o único jeito que ele demonstra carinho é dizendo: "Nina, nessa vida só torço para você e pro Corinthians!", ô coitada! rsr. Ela gosta de assistir concurso de miss, não gosta quando o Zé fica falando palavrão ou jogando bola na rua. Os dois vivem endividados, devendo no armazém, o aluguel e o locatário quer despejá-los. Apesar das dificuldades da vida, eles tem um ao outro:
[Zé] Poxa, Nina, você é tão bacana. Se você não fosse tão positiva, eu tinha me entregado. Palavra que você me dá um puta embalo.
Você é firmeza. Eu gostaria de te dar uma boa vida. Você merece. Mas pegamos um mar de azar que eu vou te contar! Se não fosse você ser quem você é, eu me entortava, mas a gente se apruma um dia, pode botar fé.
[Nina] Eu acredito. Tudo tem que melhorar. Deus há de ajudar a gente. Nunca fizemos mal a ninguém.

Nina era super para cima, aguentava poucas e boas, dava a maior força, como desgraça pouca é bobagem, ela descobre que está grávida, Zé até gosta no começo, depois pede para ela tirar o filho.
[Zé]  Por isso eu não quero que esse aí nasça. Nascer para quê? Pra viver na merda? Sempre por baixo? Sempre esparro? Sempre no arroxo? Aqui! Eu sei bem como é essa vida. Quem puder mais chora menos. E nós não podemos nada. Nem ter filhos. Eu quero livrar a cara dele de nascer pobre. Eu não quero que amanhã seja que nem eu, que só pego o pior.
Aí Zé perde a cabeça com a Nina e parte para a agressão. É tão triste saber que essa é a realidade de tantas famílias brasileiras, as pessoas tem vontade, determinação e motivação para trabalhar, mas as máquinas estão paradas, as portas fechadas, isso endoidece o peão, animaliza o homem, ele perde a razão, não por ser uma pessoa má, mas porque a vida sempre foi muito difícil para ele, está sem perspectiva, sem esperança, não tem nada a perder. Se as máquinas param o homem pára, se o homem pára, o consumo pára, se o consumo pára a economia quebra, se o economia quebra o país fica endividado e vira capacho. Enquanto o sistema capitalista for o único sistema para a sobrevivência, este círculo vicioso vai continuar, vide Grécia, Espanha, Portugal, etc. A casa está caindo.

Um comentário:

  1. Esse círculo vicioso do capitalismo é asfixiante...como essa peça deve ser. E mais uma vez vem a Ana arrasando.

    Beijocas

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