sexta-feira, 26 de agosto de 2011

os sonhos na versão dos japoneses

Li um livrinho de 70 páginas, do escritor japonês Natsume Soseki, "Sonhos de dez noites". Dividido en 10 capítulos, cada um representando um sonho por noite.
A vida do escritor foi difícil, foi rejeitado na infância, não se adequava aos lares adotivos, interessou-se pelos idiomas chinês e inglês, também fazia poesia haicai. O sobrenome Soseki é artístico, em chinês significa "Incômodo". Desde o nascimento, ele era um incômodo para a família e toda esta carga de negatividade e rejeição refletiu em suas obras. Na apresentação do livro diz:
Ler "Sonhos de dez noites" é constatar a solidão do homem que contempla e se assusta com sua condição de solitário. Nessa tentativa de narrar seu próprio sofrimento através de sonhos, Soseki recorre não apenas ao seu talento literário, mas também ao conhecimento da psicologia freudiana.
Assim, o sonho passa a ser a saída, a fuga possível. Nessa linha de raciocínio, às vezes delirante, o autor passa acreditar que no sonho, no distanciamento da realidade é onde residem as raízes da verdadeira literatura.
 Aprendi neste livro uma palavra interessante: "Amanojaku". Ente maligno que se contrapõe à vontade das pessoas, é o "do contra".

Toda essa literatura onírica, fez-me recordar do filme "Sonhos", do Akira Kurosawa, um dos filmes mais belos do mundo, é dividido em oito sonhos, alguns destes são pesadelos terríveis, pois denuncia a consequência de uma guerra (O túnel) , o mal que o homem causa à natureza e a ele mesmo (A tempestade, Monte Fuji em vermelho e O demônio que chora), sonhos lendários e fantásticos (Um raio de sol através da chuva, O jardim das pessegueiras, O Corvo) e o último sonho, traz uma esperança de que a vida pode ser linda e os homens podem conciliar-se com a natureza, uma lição de sustentabilidade e reflexão ecológica (O vilarejo dos moinhos).
Quando aconteceu o desastre no Japão, especificamente com a usina nuclear, logo veio na minha mente o sonho "Monte Fuji em vermelho", parecia algo profético, uma sensação de dejà vu, Kurosawa viu antes de todo mundo aquele momento de terror e agonia.
Ainda falo que se o homem não mudar a consciência, vamos viver o pesadelo "O dêmonio que chora", seres mutantes agonizando.

Tem uma frase do diretor iraniano Abbas Kiarostami que diz o seguinte:
O sonho sem realidade não tem valor nenhum. Nós vivemos na realidade, mas para aguentar o peso da vida, é preciso sonhar.

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