quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Meme Literário de 1 mês: 20º dia


Florbela Espanca
A 20ª pergunta é: Você gosta de poesias? Qual o seu poeta ou poema favorito?
Adoro poesias! Já postei várias aqui no blog de diversos autores. Agora tenho um carinho muito grande pela portuguesa Florbela Espanca, ela nasceu no mesmo dia que eu (óbvio que em anos diferentes! rsrs), parece que eu compreendo toda a ânsia e a decepção que ela tinha na vida. Eu já fiz um post explicando sobre quem nasce no mesmo dia que eu, são todos pertubados e incompreendidos, leia lá.
Mas voltando cá, Florbela tem fama de transgressora, casou-se três vezes (em uma época que ninguém se divorciava), frequentava a boemia, fumando e bebendo (mulher 'de família' não fazia isso!), entrou na Faculdade de Direito que era majoritariamente espaço masculino, amava em demasia, acho que ela amava mais o amor do que a pessoa amada, mas nunca cedia demais, tinha temperamento forte, só fazia o que lhe agradava. Ela se cobrava demais, é difícil conquistar além do que o mundo tem para nos oferecer, ainda mais em uma época que só homens tinham direitos. Nem imagino como era difícil nascer em uma época sem Prozac ou outro remedinho para acalmar a ansiedade ou a depressão.

Vou deixar 4 poemas, dois sobre mulher, um sobre saudade e outro sobre ódio.


A MULHER I  
Um ente de paixão e sacrifício,
De sofrimento cheio, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do meu peito,
E nem te doas coração, sequer!

Sê forte, corajoso, não fraquejes
Na luta; sê em Vênus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e infame e os homens
Se te sentem gemer hão de pisar-te!

Se às vezes tu fraquejas, pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho
Eles deixam pra sempre maculada;
E gritam então os vis: “Olhem, vejam
É aquela a infame! ” e apedrejam
A pobrezita, a triste, a desgraçada!  
A MULHER II  
Ó mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosas duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!   
SAUDADES  
Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!   
ÓDIO  
Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!

Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...  


Já postei algumas poesias dela aqui e aqui, mas se quiser e-books é só ir lá no Domínio Público que tem gratuitamente.


Para saber mais do Meme Literário de Um Mês, clique aqui. 
Até amanhã!

Um comentário:

  1. Belíssimas poesias! Eu nunca li Florbela, apesar de conhecer inúmeras pessoas que gostam dela. Também nunca li Agatha Christie, como a galera do Meme.

    Ah, e sobre gente que nasceu no mesmo dia... no meu caso faço aniversário do mesmo dia do Reynaldo Gianecchinni e do Mário Gomes, outro ator global. O Leonardo di Caprio nasceu na véspera, e mesmo com este vizinho a natureza não foi boa para mim... acho que as semelhanças são outras mas ainda não descobri.

    Abração!

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