sábado, 11 de fevereiro de 2012

Prenda-me, se for capaz!


Vou contar o 'causo' da calopsita: Estava eu no ônibus, lendo meu livro, até ser interrompida pela conversa entre o motorista e o cobrador. O motorista estava todo satisfeito por ter comprado uma calopsita, disse que ela já tinha crescido, estava linda e ele já tinha mandado cortar as asinhas para ela não fugir e já estava engaiolada para os gatos não a pegarem. Depois não consegui pensar em mais nada, a não ser na vida da pobre calopsita que pelo egoísmo de seu dono, foi destinada a viver enjaulada, mutilada e sem liberdade, só para ele ter o prazer de apreciá-la em sua beleza. Parece que a mente do motorista estava programada para pensar: "Já que você me pertence, faço contigo o que quero, tiro-a do seu habitat e te coloco aqui, canta para mim, obedeça as minhas ordens e terás seus alpistes de cada dia".
Enquanto eu tentava imaginar a vida ingrata da calopsita, lembrei de uma filme muito parecido, o nome em francês é "La captive" (A cativa), do diretor Chantal Akerman, é uma adaptação para o cinema de "A prisioneira", de Marcel Proust.

La Captive

Para entender melhor, peguei a resenha aqui:
Ariane vive em casa de Simon, num grande apartamento parisiense, sob vigilância. Ele quer saber tudo sobre ela, acompanha-a onde quer que ela vá, procura surpreendê-la e submete-a a incessantes perguntas. Mas apesar disso, Ariane consegue arranjar para si um espaço de liberdade física e mental. Enquanto isso Simon sofre e, até nos momentos em que pensa possuí-la completamente, ela escapa-lhe cada vez mais.O fato de saber que Ariane sente uma grande atração por mulheres, leva-o a imaginar que ela tem uma vida dupla, e só serve para aumentar o seu sofrimento e o seu desejo por ela, mas não é apenas a atração de Ariane por mulheres, nem as diferenças entre sexos que tornam os seus pedidos impossíveis – pedidos de fusão total, de osmose, de um desejo obsessivo de penetrar completamente a subjectividade do outro. É também o fato de que o outro é um outro, irredutivelmente outro. O outro é um estranho e Ariane permanecerá sempre impenetrável para ele. É uma história de dois amantes. E por isso mesmo uma história trágica.

Este filme não é aquele que você assiste como forma de entretenimento, um pouco existencialista, é como ler Sartre, o assunto é interessante, porém chato e só é chato porque fala da existência do ser humano. Eu não via a hora do filme acabar porque entrei na mesma claustrofobia da personagem Ariane, você sente a opressão e o tédio da vida deles, sim porque a vida insegura de Simon também incomoda.
Observo que uma relação opressora, o opressor quer tirar tudo o que há de bonito e de interessante do oprimido, quer afastá-lo do convívio social, quer proibí-lo de fazer as coisas que gosta. Por exemplo, conheço pessoas que não estão em redes sociais porque o companheiro não deixa, mas o próprio está em todas. Uma vez uma menina me disse que não usava esmaltes muito coloridos porque o marido não gostava, isso me subiu o sangue e respondi até de forma rude, eu disse, se um homem me perguntar: o esmalte ou eu? Eu fico com esmalte. A menina ficou sem graça, não disse nada, deve ter achado que um esmalte vale mais que um ser humano, mas o esmalte representa a minha liberdade enquanto o homem representa o terror psicológico. As pessoas oprimidas também na sua insegurança, acham que não são dignas de achar alguém que respeita o seu individualismo e muitas vezes nem enxergam que são manipuladas pensam que são amadas, que o opressor está fazendo isso para o bem delas. Mulheres são obrigadas a alisarem o cabelo, virarem loiras (já falei da preguiça de gente que se mete com cabelos alheios aqui) , fazerem plásticas, só para agradar o opressor, claro que este nunca tem que mudar em nada. O oprimido se anula completamente, pois quando o opressor termina a relação, o oprimido já não sabe mais do que gosta, não tem mais amigos, não tem mais a mesma aparência, é mais inseguro e se sente um inútil.
Kathy Bates em Misery, brilhante atuação
Isso me lembrou de outro filme, o Misery (Louca Obsessão). Após sofrer um acidente em uma região isolada, um escritor é salvo por uma ex-enfermeira que é grande fã de seus livros. Entretanto, após saber que ele matou sua personagem mais famosa em seu próximo livro, ela passa a torturá-lo na intenção de fazer com que ele desista da decisão. Ela queima o livro anterior e o faz recomeçar outro. Logo, ele descobre o passado obscuro de Annie e passa a não confiar mais nela.

Já imaginou, após um acidente, você paralisado em uma cama e a enfermeira que deveria te ajudar começa a te aterrorizar? E você tem que fazer tudo o que a louca quer só para salvar a própria vida?
Bem, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, tem gente que não se importa em viver em uma  relação sado-masoquista e ainda vira inimigo se você tenta aconselhar. Antes de amar qualquer pessoa, amo a mim mesma e sei que tem pessoas que vai me valorizar como sou, que antes de apontar meus defeitos, elogiam minhas virtudes, sem precisar me anular ou perder meus pequenos prazeres, porque nasci sob o signo de sagitário que preza a liberdade e a criatividade, nem o céu é o limite. Escolhi ser calopsita com asas.
Para terminar, um vídeo que uma amiga enviou sobre os cachorrinhos beagles que viveram a vida inteira em um laboratório de pesquisa e foram resgatados por uma Ong, mesmo quando abriram as gaiolas, eles demoram a sair porque eles nunca tinham sido livres.

2 comentários:

  1. interessante seu comentário,odeio gaiolas e jaulas,ah não ser como lar temporário para adaptação, pro-criação pra evitar extinção ou como hospital. Esses dias tava na facul e comentei com a minha colega que na outra tinha sala de ginastica, já que meu período é integral bem que podia ter uma sala lá, ai ela falou que onde ela fazia era obrigado, opa!!!imposição não! sou contra. quando eu era, jovem e arrumava um namorado e el vinha dizendo como eu me vestir, já terminava na hora,tem gente que pensa que isso é prova de amor...bobinhas isso é querer ter posse, se observassem os sinais talvez as estatisticas de violência contra mulher diminuissem..boa semana

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  2. Como toda vegetariana eu acho a exploração animal uma das coisas mais cruéis que a humanidade tem por hábito. Mas mesmo antes de abandonar o consumo de carne eu já achava MUITO triste vida de passarinho dentro de gaiola. Não sei de onde surgiu essa idéia idiota de prender os bichinhos e apreciar o canto de tristeza deles...

    Quando ao filme, já vai pra minha lista. Aliás, você está super me influenciando no quesito filmes! Quero assistir todos! Só não tenho tanto domínio sobre isso porque sou um desastre para baixar filmes e fico dependendo da boa vontade do Rafael, além de não ter nenhuma locadora perdo da minha casa...

    Beijos,
    Lídia.

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