quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Geraçao X em crise existencial


Assisti ao filme de comédia dramatica "Le mirage", do diretor italo-québécois, Ricardo Trogi. Patrick é um homem casado, pai de duas crianças, sua esposa sofre de burn out e esta entrando na menopausa, esta seca nas partes baixas e com pouco interesse em fazer sexo. Ele é dono de uma franquia de artigos esportivos e os negocios estao indo de mal a pior. Mesmo com dividas, perdendo a casa hipotecada, com os cartoes de crédito bloqueados, ainda assim precisa ter a melhor casa, com piscina, com cozinha bem equipada de artigos que eles nunca usam, precisa comer nos melhores restaurantes, passar a imagem de bon vivant feliz apenas para posar de bem-sucedidos para sociedade.

Como ele lida com tudo isso? Qual seu ponto de fuga e distraçao? O sexo. Ele passa o tempo vendo pornô e se masturbando, olha o facebook da amiga de sua esposa que colocou silicone e fica imaginando coisas, sai com a funcionaria da loja, entre outros babados.

Esse filme mostra muito da minha geraçao, a mulher ter que ser super profissional, tem que estar sempre bonita, ter marido, filhos e dar conta de tudo de salto alto e sorriso no rosto. So que a longo prazo, as consequencias sao essas que estamos presenciando hoje, burn-out, sindrome do pânico, depressao, suicidio, sentimento de derrota, insatisfaçao crônica, disturbios mentais, alimentares e sexuais, vicio em alcool , drogas, academia, estética.

Tudo bem nao querer casar, tudo bem nao ter uma carreira bem sucedida, tudo bem nao querer ter filhos, tudo bem nao ter uma casa so para ostentar, tudo bem nao querer por silicone ou ser linda e magra. As vezes a gente faz tanto sacrificio para ser bem aceito na sociedade, mas nunca é o suficiente, é exigido sempre mais, a cada mês as regras mudam e nao estamos preparados, por isso vivemos frustrados com tudo.

Homem, tudo bem nao ser o super-heroi, nao ser o provedor e o protetor da dame en détresse, tudo bem nao ser um garanhao, ter que ficar dando em cima de mulheres so para provar que é macho, achar que precisa ter um desempenho de ator pornô, tudo bem nao ter um carro poderoso.
Nossa geraçao foi condicionada a agir assim, a ser lider, a ter sucesso custe o que custar. Isso mina nossas forças, pois nao somos super herois ou heroinas.

Eu achava que nessa altura da minha vida eu teria uma vida equilibrada, casa propria, emprego estavel, seria a esposa e a mae perfeita, mas aqui estou com L de loser bem grande na testa, mais perdida que cachorro em dia de mudança, nao sei nem como sera minha vida daqui a um mês, ou seja, apertei o Ctrl+Foda-se e vou fazer o que esta ao meu alcance porque nao quero pirar.

Nao foi por falta de esforço nao, tentei de tudo, tenho pastas com diplomas e certificados, tenho experiência de trabalho, viajei para alguns lugares, conheci novas culturas. Pra quê tudo isso? Para ser uma desiquilibrada paranoica. Tudo isso me causou estresse, ansiedade, noites mal dormidas, insônias, preocupaçoes, vicios em nicotina e cafeina, talvez se tivesse escolhido vender artesanato na praia, seria mais tranquila.

Até porque, ter a vidinha de comercial de margarida nao é sinônimo de felicidade, consumir feito louco também nao é, ser lider so da dor de cabeça. So o basiquinho ja ta bom.

Geraçao X, nao somos obrigados a nada, tudo bem? Chega de auto-cobrança e vamos dar um grande foda-se para palestras de liderança e motivaçao, que se dane o marketing pessoal, a propaganda e marketing em geral, dane-se o consumismo/capitalismo, a industria de cosméticos, de cirurgia plastica e fitness, dane-se a industria do sexo e da erotizaçao e vamos fazer do nosso jeito, do jeito que respeita os nossos limites, o jeito que nao nos coloque em dividas e em duvidas, o jeito que nos permite errar e a sermos imperfeitos, que nos permite ser nos mesmos, que tal? Menos aparência e mais essência.

Ah, a trilha sonora é otima, tem até Radiohead.

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