segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Desculpando-me com Virginia Woolf +Um quarto so seu

Querido diario muro das lamentaçoes virtual,

Enquanto estou no ônibus, rumo ao trabalho ou voltando dele à meia-noite, costumo ler, primeiro porque ja conheço a paisagem para ficar olhando pela janela, segundo porque os bancos sao um de frente para o outro e eu seria obrigada a ficar olhando para pessoa à minha frente e eu odeio fazer contato visual com desconhecidos.
Resolvi ler no trajeto o ensaio "Um quarto so seu", da Virginia Woolf, publicado em 1929, baseado em uma série de conferências que ela foi convidada para falar sobre mulheres e romance, na Universidade de Cambridge. Este ensaio consiste em apontar as dificuldades que as mulheres tinham e ainda têm que enfrentar para se tornarem escritoras, pois elas nao têm um espaço so seu na casa que possam escrever em paz, sem serem incomodadas por terceiros e muito menos dinheiro para pagar suas contas no momento de criaçao da obra. Nao podiam nem ir pesquisar na biblioteca sem a autorizaçao do marido ou do professor.

Une photo publiée par Ana O. (@anaspbr) le




Fiz tanta marcaçao neste livro, se fosse compartilhar aqui, colocaria quase toda sua totalidade. É mais facil sugerir a leitura porque vale muito a pena.


O interessante foi ela demonstrar a opiniao de homens "cultos" sobre as mulheres, opinioes cheias de misoginia, odio e depreciaçao. Exemplos? Um disse que a mulher nao tem um minimo de carater, outro disse que a mulher é inferior fisicamente, moralmente e intelecualmente, outro disse que o pior aluno homem era melhor que a melhor aluna mulher, outro disse que a partir do momento em que as mulheres nao quiserem ter filhos, as mulheres deixarao de ser necessarias, outro disse que o papel da mulher é estar à disposiçao do homem.
Ela afirmou que para maioria das pessoas, a historia de oposiçao dos homens à emancipaçao da mulher é mais interessante que a propria emancipaçao. As pessoas preferem chamar as militantes de loucas, mal amadas, histéricas do que prestarem atençao ao que elas falam.
O tiozinho explicando que nem sabe o porquê ele é contra o feminismo, ele so quer que a mulher dele fique em casa cuidando das crianças.

Ela termina dedicando a palestra às mulheres que nao puderam estar presentes porque tinham que lavar a louça e colocar as crianças para dormir, às poetisas que nao escreveram nenhuma palavra e que esperam apenas uma ocasiao para aparecerem em carne e osso entre nos.


Desculpe-me, Virginia...


O comandante que queimava livros no Fahrenheit 456 ja dizia que ler nos deixa melancolicos, é melhor ver reality show na tv.
 Você pergunta o porquê de muitas coisas e, se insistir, acaba se tornando realmente muito infeliz. Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum.
Agora imagine eu, lendo Virginia no trajeto e chego no trabalho para vender o que? Um monte de bugiganga sexista para turista. Um trabalho em um sex shop seria mil vezes mais digno, pelo menos estaria ajudando as pessoas a terem uma vida sexual melhor. Vamos aos modelos de camisetas.
Camiseta dizendo porque cerveja é melhor que mulher
Mulher é um problema desde o mito Adao e Eva, a culpada de tudo
O falocentrismo nao poderia faltar

Ainda tem a caneca em formato de peitos com a bandeirinha do Canada. Agora quer saber quantas camisetas ou bugigangas têm depreciando a imagem do homem? Nenhuma. Nao tem caneca em formato de piroca canadense, nao tem a camiseta de pussy power contra o falocentrismo. Até porque um homem usando essas camisetas é engraçado, mas se é uma mulher usando uma versao feminina da situaçao, seria uma "feminazi", né?
Isso porque estamos falando de um pais considerado feminista, da terceira cidade mais segura do Canada para mulheres e qual é a imagem vendida para turista? A do machismo nosso de cada dia.
Doi-me na alma esse trampo, pior pesadelo para mim, pois é um conflito muito forte de valores. Espero sair disso logo. Antes eu fosse a pessoa que ouvisse o conselho do comandante que queimava livros, antes fosse a pessoa que trabalha sem refletir, antes fosse uma pessoa nao melancolica por causa dos livros.
Peço desculpas, Virginia, por me sentir um lixo, por me prostituir (literalmente!) vendendo isso em troca de salario, por trair o movimento. Depois de tantos anos do seu discurso, a imagem das mulheres ainda é essa, tudo o que vc e a Beauvoir disse ainda continua sendo uma utopia, infelizmente, mas acho que as pessoas estao mais conscientes, isso ja é um pequeno avanço.

Um comentário:

  1. Entendo seu asco, eu também me sentiria infeliz vendendo objetos que depreciam a mulher... Aliás, vender coisas, contribuir para o capitalismo já é ruim pra cacete, né?

    Mas tente ver pelo lado bom: primeiro, é temporário. Segundo, pelo menos são turistas comprando. Garanto que a maioria dos canadenses acha esse tipo de coisa bem ridícula...

    Força aí, mulher! VAI melhorar!
    Beijos

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