terça-feira, 2 de março de 2010

Solaris- Andrei Tarkovski


Pago mó pau para esse cineasta russo, ele fala sobre temas difíceis tais como: guerra, violência, tecnologia e humanidade, mas com toques poéticos. Esse filme lembra um pouco Lost ou Lost lembra esse filme,o  que é  mais provável, claro que o filme tem bem mais conteúdo intelectual.
Tudo gira em torno do oceano solaris, acontece um monte de coisas incomuns, mas os cientistas não querem divulgar esses eventos. Um dos pilotos tenta contar tudo o que aconteceu por lá, mas disseram a ele que estava sob pressão, impressionado e isso acarretou em imaginações e visões distorcidas da realidade ou alucinações.
Kelvin, um psicólogo é mandado para Solarys para ver a situação de três cientistas que vivem lá, ao chegar, ele estranha o comportamento dos cientistas, um acaba se suicidando após um período de depressão e os outros dois tentam fingir que coisas esquisitas não acontecem.

Se ver alguma coisa estranha, alguém que não eu ou Sartorius, tente não perder a cabeça.
- Se eu ver o quê?
- Isso depende do senhor.
- Alucinações?
- Não... mas não se esqueça que...
- Esquecer o que?
- Que não estamos na Terra.

O psicólogo começa a ver "os convidados", ou seja, gente estranha ao recinto, até que encontra sua mulher, que morreu há uns anos e que ele amava muito.
Eles vão à biblioteca para comemorar o aniversário de outro que já está descrente com a ciência:

Ciência? Tolice!
Na nossa situação, o gênio e a mediocridade seriam por igual impotentes. Dizemos que pretendemos conquistar o Cosmos. Na realidade, só queremos aproximar a Terra das fronteiras dele. Não nos importam outros mundos. Queremos é um espelho. Procuramos afincadamente um contato, mas nunca o encontraremos. Estamos na situação idiota de quem aspira a um objetivo que teme e que não necessita. O homem precisa do homem!

O tempo vai passando e a mulher se torna cada vez mais humana, pois tem a capacidade de regeneração, então, um dos cientistas alerta o psicólogo:
Não convertas em história de amor um problema científico.

Outras falas legais do filme:
O amor é um sentimento que tem de ser vivido, mas não explicado. Só pode apenas explicar a idéia. E o homem ama o que pode perder, a ele próprio, à mulher, à Pátria... Até hoje, a Humanidade e a Terra estiveram fora do alcance do amor. Somos tão poucos! Talvez a razão porque estamos aqui, é ver a Humanidade, pela primeira vez como alvo do amor.

Quando um homem é feliz, o significado da vida e outros assuntos da eternidade, raramente o interessam.
Essas questões só deveriam ser perguntadas no fim da vida. Não sabemos quando nossa vida vai acabar, por isso vivemos tão apressadamente.
As pessoas mais felizes são aquelas que nunca se importaram com essas questões malditas.
Nós questionamos a vida, a procura de algum significado. Para preservar as simples verdades humanas, precisamos de mistérios. O mistério da felicidade, da morte, do amor. Até podes ter razão, mas procure não pensar nisso. Pensar nisso seria a mesma coisa que saber o dia da morte. Entretanto, o desconhecimento deste dia torna-nos, no fundo, imortais.

Já falei do filme Stalker que é do mesmo diretor aqui e aqui.
Outros filmes que confronta o tema humanidade e ciência é o Alphavile, de Godard que também já falei aqui e o Le diable probablement, de Robert Bresson, sobre um estudante que tira notas altas, ajuda seus companheiros, mas não vê sentido na vida ou no trabalho, postei a fala dele com psiquiatra aqui.

Os cineastas, escritores, poetas e profetas não veem a ciência com bons olhos porque acham os cientistas são sempre frios e calculistas que aspiram grandeza, querem conquistar o universo, calcular a distância daqui ao sol, mas não tem sensibilidade de curtir o que está bem pertinho, de sentir o gosto de uma fruta suculenta bem devagar, de brincar com uma criança, de amar uma mulher sem o interesse de fazê-la mais um número em sua vida, mas porque ela faz com que ele tenha mariposas no estômago e por aí vai. Nós precisamos de humanidade...

Um comentário:

  1. Adorei seu blog, me identifiquei demais com a forma como você 'mistura' os assuntos. Nunca consigo manter um, já que é meio onda ter 'blogs temáticos' e eu não consigo ter um tema só. =) Muito bom. (E eu gosto muito do Tarkovski.)Parabéns pela maneira clara com que você escreve. =)

    ResponderExcluir