segunda-feira, 11 de julho de 2011

La tête en friche

Assisti ao filme "La tête en friche" (cabeça ociosa), foi traduzido para o português como "Minhas tardes com Margueritte. Tem o 'ursão' no filme, apelido carinhoso que dei ao Gerard Dépardieu, porque a cada ano que passa, mais urso ele se parece. :)

É uma comédia sobre um homem simples, Germain, rústico, faz trabalhos pesados, filho de mãe solteira, acha  que a mãe não gosta dele, até que encontra a Margueritte, uma senhora de 95 anos que fica observando os pombos e lendo livros na praça, super atenciosa e sábia. Ela apresenta o universo literário, começa a ler em voz alta o livro "Peste", de Albert Camus e o 'cabeça oca' começa a refletir, de repente cita trechos do livro nas conversas com os colegas tão broncos quanto ele, depois passa a procurar palavras no dicionário e a ter um vocabulário mais rebuscado, ao ler "La promesse de l'aube" (A promessa da aurora), de Romain Gary, um romance autobiográfico sobre a relação mãe e filho, Germain se identifica com o texto e cita a frase para Margueritte.
"Sempre se retorna ao túmulo da mãe para uivar como um cão abandonado"
Ele ficava matutando, lembrava da mãe dele, de uma certa forma, foi 'curado' desta mania de achar que sua mãe não tivesse instinto materno.
Eu, mãe de um menino, fiquei preocupada, parece que quando o filho não tem um bom relacionamento com a mãe, não consegue ter com mulher nenhuma. Há estudos na área da psicologia que tenta decifrar este fenômeno, mas nem vou entrar neste campo porque definitivamente não é da minha alçada. Acho que meu filho não tem esse problema, ele se sente super à vontade no meio da mãe, das tias, das avós, das minhas amigas, não detectei nenhum tipo de misoginia ou desconforto em relação ao sexo oposto (a louca!).
Eu, leitora compulsiva, sempre falo por aqui de filmes que mencionam de livros (franceses adoram isso, principalmente Jean-Luc Godard, tem sempre um ou mais personagens lendo trechos ou falando sobre escritores), sempre propago que a literatura liberta, esclarece, preenche o oco da cabeça. A tradução do filme para o português acabou tirando a essência, porque as tardes com Margueritte é o que move o filme, mas o nome no original dá mais atenção aquilo que o diretor vê como importante: a mudança de pensamento do personagem, o universo que se abriu para uma pessoa que a sociedade não dá e nem espera nada.
A amizade de uma senhora, que fica claro que foi abandonada pela família e 'adotada' pelo Germain, é uma relação muito interessante, duas pessoas que a sociedade rejeita, uma senhora e um brucutu. Porque hoje em dia está difícil, se você não é jovem, linda, alta, rica e loira, ninguém quer nem saber se você é inteligente ou tem boas ideias ou intenções, você é julgado pela aparência.
Tem uma frase do Pequeno Príncipe que ele fala para raposa:
se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
Foi isso que aconteceu com Margueritte e Germain, um precisava do outro, acrescentava algo de novo na vida do outro e é o que a gente precisa, cativar e ser cativado.
Super recomendo o filme, é leve, cômico, mas cheio de verdades e ideias iluministas (como grande parte dos livros e filmes franceses).
Um dos filmes que já falei aqui e que fala sobre literatura é "O Leitor". Lindo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário