terça-feira, 1 de setembro de 2009

Assim falou Zaratustra - Nietzsche

Terminei finalmente a leitura desse livro, já tinha começado a lê-lo umas três vezes e nunca terminava, dessa vez terminei.
Vou começar com uma frase do livro que combina com o título do meu blog:

Eu vo-lo digo: é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.
Eu vo-lo digo: tendes ainda um caos dentro de vós outros.
Eu quero organizar o caos e ele diz que é preciso ter caos dentro de si, ai, ai... Assim eu entro em crise existencial.

Mas vamos aos fragmentos do livro:

O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
O grande do homem é ele ser uma ponte, e não uma meta; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento.

Dez vezes ao dia deves saber vencer-te a ti mesmo; isto cria uma fadiga considerável, e esta é a dormideira da alma.

O que anda em redor da chama dos ciúmes, acaba qual escorpião, por voltar contra si mesmo o aguilhão envenenado.

Uma coisa, porém, é o pensamento, outra a ação, outra a imagem da ação. A roda da causalidade não gira entre elas.

“Se eu quisesse sacudir esta árvore com as minhas mãos não poderia; mas o vento, que não vemos,açoita-a e dobra-a como lhe apraz. Também a nós outros, mãos invisíveis nos açoitam e dobram rudemente.”

“A vida não é mais do que sofrimento”, dizem outros, e não mentem.

E vós outros também, vós que levais uma vida de inquietação e de trabalho furioso, não estais cansadíssimos da vida? Não estais bastante sazonados para a pregação da morte?
Vós todos que amais o trabalho furioso e tudo o que é rápido, novo, singular, suportai-vos mal a vós mesmos: a vossa atividade é fuga e desejo de vos esquecerdes de vós mesmos.
Se tivésseis mais fé na vida, não vos entregaríeis tanto ao momento corrente; mas não tendes fundo suficiente para esperar nem tão pouco para a preguiça.

A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo.

O Estado mente em todas as línguas do bem e do mal, e em tudo quanto diz mente, tudo quanto tem roubou-o.Tudo nele é falso; morde com dentes roubados. Até as suas entranhas são falsas.

Vêm ao mundo homens demais, para os supérfluos inventou-se o Estado!

Não vale mais cair nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher ardente?

Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade; apenas conhece o amor.

Nunca um vizinho compreendeu o outro; sempre a sua alma se assombrou da loucura e da maldade do vizinho.

Não vos suportais a vós mesmos e não vos quereis bastante; desejaríeis seduzir o próximo por vosso amor e dourar-vos com a sua ilusão.

O pior inimigo, todavia, que podes encontrar, és tu mesmo; lança-te a ti próprio nas cavernas e nos bosques.
Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E o teu caminho passa por diante de ti e dos teus sete demônios.

A mulher compreende melhor do que o homem as crianças: mas o homem é mais infantil que a mulher.

A felicidade do homem é: eu quero; a felicidade da mulher é: ele quer.

Inventai-me a justiça que absolve todos, exceto aquele que julga!

O homem que reflexiona não só deve amar os seus inimigos, mas também odiar os seus amigos.
Com estes pregadores da igualdade é que eu não quero ser misturado nem confundido. Porque a justiça me fala assim: “Os homens não são iguais”.

Mandar é mais difícil do que obedecer; porque aquele que manda suporta o peso de todos os que obedecem, e essa carga facilmente o derruba.
Mandar parece-me um perigo e um risco. E quando manda, o vivo sempre se arrisca.
E quando se manda a si próprio também tem que expiar a sua autoridade, tem que ser juiz, vingador e vítima das suas próprias leis.

Todos os meus sentimentos sofrem em mim e estão aprisionados; mas o meu querer chega sempre como libertador e mensageiro de alegria.
“Querer, libertar”: é essa a verdadeira doutrina da vontade e da liberdade; tal é a que ensina Zaratustra.
Não querer mais, não estimar mais e não criar mais! Ó! fique sempre longe de mim, esse grande desfalecimento.

É preciso conter o coração: porque, se o deixamos livre, depressa perdemos a cabeça!

“A ordem moral das coisas repousa no direito e no castigo. Ai! Como livrarmo-nos da corrente das coisas e do castigo da ‘existência’? Assim se proclamou a loucura.

“Não é a altura que aterroriza; o que aterroriza é o declive!
O declive donde o olhar se precipita para o fundo, e a mão se estende para o cume. É aqui que se apodera do coração a vertigem da sua dupla vontade.

Os homens bons nunca dizem a verdade: ser bom de tal maneira é uma enfermidade para o
espírito.

Eis o que me disse uma mulher: “É verdade que quebrei os laços do matrimônio, mas os laços do matrimônio tinham-me quebrado a mim”.
Pois de que nos queremos nós livrar senão dos “bons costumes” da nossa “boa sociedade?”

Tem gente que diz que não, mas claro que essas frases abaixo são anti-semitas, inclusive Hitler gostava de Nietzsche, da ideia da superioridade e a irmã dele apoiou o Nazismo.

Não roubarás! Não matarás!” Estas palavras chamavam-se santas noutro tempo; perante elas dobrava agente os joelhos e a cabeça, e descalçava-se.Quebrai-me as antigas tábuas.

Nem tampouco em que um espírito a que chamam santo conduziu os vossos ascendentes a terras
prometidas, que eu não elogio; porque no país onde brotou a pior das árvores – a cruz – nada há a elogiar!

Deveis ser expulsos de todas as pátrias e de todos os países dos vossos ascendentes.
Os bons ensinaram-vos coisas enganadoras e falsas seguranças: tínheis nascido entre as mentiras dos bons e havíeis-vos refugiado nelas.

É isso, ainda vou escolher o próximo livro para ler.

5 comentários:

  1. Sobre as frases "anti-semitas", respondo com uma frase do próprio: "Tudo o que é reto mente. Toda verdade é sinuosa. O próprio tempo é um círculo."
    Ele inclusive cortou relações com Richard Wagner, que era seu amigo e esse pensamento foi uma das coisas que levou a esse afastamento.
    E essa ideia de superioridade não é aplicada a uma etnia especifica, mas sim a toda humanidade. E a religião acaba por "conter" o homem, por isso o trecho da cruz...
    Mas cabe a cada um interpretar da forma que quiser, assim como a irmã dele que ele tinha uma relação de ódio por tais pensamentos limitados, ficando com ela somente nos seus últimos momentos de vida quando estava doente e louco.

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    1. Exatamente Void. Quando li este livro, na parte que falava sobre o autor, dizia que a irmã do Nietzsche, nos seus últimos meses de vida, havia escrito uma série de textos anti-semitas e que nada tinha a ver com os pensamentos do irmão. Inclusive, Hitler depois virou o seu admirador.

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  2. em relação à parte vencei-vos 10 dez pareceu me que ele está a ser irônico , pois parece me discordar dos profetas do sono na minha opinião, como mostra a última frase "estão a dormir=não acção"

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  3. Como o amigo Void expôs, Nietzsche fazia forte crítica às religiões e ao ser humano, sobretudo, sobre a religião cristã. Ao final da vida, quando estava doente e louco, a irmã, utilizou de sua insanidade para escrever uma série de textos anti-semitas, este livro "O Anticristo", quando li, na parte que falava sobre o autor, isso foi exposto.

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