Trabalhar no domingo, o dia inteiro de pé é foda. Cuspi na cruz em vidas passadas pra merecer isso!
"Andava outra vez preocupada com as pernas. Dantes, quando era criada na província, ficava assustada quando via como as pernas das colegas estavam cobertas de varizes. Todas as moças que trabalhavam de pé, que passavam a vida a andar e a correr carregadas com pesos ficavam assim".
Vi isso no livro do Milan Kundera que estou lendo no momento. A Teresa trabalhava no bar em pé e via as varizes das colegas, coincidentemente vi as pernas da mulher que trabalha comigo na mesma situaçao, agora fiquei com medo de adquiri-las também, nao tenho mais vinte anos para nao ser imune aos estragos e às marcas que o tempo traz ao corpo. Às vezes me sinto como um maracuja murchando.
Pior é adquirir marcas fazendo o que nao gosta, nem estou falando de estética ou varizes mais, estou falando de passar o dia matutando qual é o sentido daquele trabalho, além de pagar parcialmente minhas contas. Eu e mais meia duzia de estrangeiros, todos com formaçao universitaria, vendendo souvenirs made in China para turistas. Eu penso nos chineses que fabricaram aquelas porcarias em condiçoes muitas vezes desumanas. Eu penso que necessidade aquelas porcarias têm para a humanidade? Tanta matéria prima e tanto esforço humano para suprir uma carência capitalista do turista.
Maldito proletariado de humanas que quer refletir sobre as condiçoes de trabalho! Como disse a a minha primeira chefe que tive na vida: "Você esta sendo paga para executar o serviço e nao para pensar". Logo no primeiro emprego eu ja queria questionar, queria entender como as coisas funcionavam, afinal eu nao era um robô, precisava entender o que eu estava fazendo. Santa ingenuidade...
Por que nao escolhi a pilula azul da Matrix? A vida seria tao mais facil! Tem gente que aceita tao de boa as migalhas que recebe da vida...Eu poderia ser assim também.
Ha quem diga que eu deveria ser agradecida por ter esse emprego. Apenas quero beber da agua que vocês bebem para que eu possa acreditar nisso com o mesmo entusiasmo. Quem vem com esse discurso, geralmente é aquele que trabalha sentado, perto de um ar-condicionado e nunca aos domingos.
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