domingo, 26 de dezembro de 2010

A casa das belas adormecidas

Aproveitei meus dias de "dolce far niente" e estou mergulhando em filmes e livros. Hoje li mais uma obra do Yasunari Kawabata, ganhou prêmio Nobel de Literatura, já tinha falado do livro "Contos da palma da mão", agora terminei "A casa das belas adormecidas". Todos sabem meu fetiche por tudo que vem do oriente, de preferência da terra do sol nascente. O autor, como muitos outros artistas de sua terra, tão sensíveis à realidade e inconformados, procuraram, por meio do suicídio, terminar sua passagem pela vida.
Este livro incentivou Gabriel Garcia Marquez escrever Memórias de minhas putas tristes.
Narra a história do Sr. Eguchi, ele descobriu uma casa onde as meninas eram sedadas e ficavam como mortas ao lado dos velhos que não eram mais viris, conforme as seguintes descrições:
Veja você, inventaram mulheres que passam a noite adormecidas e não acordam.

O fato de poder deitar-se ao lado de uma garota como aquela, equivalia, sem dúvida, à felicidade de se encontrar no paraíso. Já que a menina não acordava, o cliente idoso não precisava envergonhar-se do complexo de senilidade, e ganhava permissão de perseguir livremente suas fantasias a respeito das mulheres e mergulhar em recordações. Talvez por isso não hesitassem em pagar mais caro pela garota adormecida do que por uma mulher acordada.

O Sr. Eguchi passou a ser cliente assíduo da casa, ao lado da meninas adormecidas ele recordava de todas as mulheres que fizeram parte de sua vida: sua mãe doente, sua esposa, seu primeiro amor, as prostitutas, suas três filhas, também tentava decifrar a vida daquelas meninas deitadas imóveis ao seu lado. Todas as obras do autor é sempre no intuito de revelar o universo feminino, a sexualidade e a morte. A forma que ele narra o corpo e a alma da mulher é muito sensível. Um exemplo:
[..] o velho divagava, refletindo como era possível que, dentre todos os animais, somente a forma dos seios da mulher tenha adquirido, após longa evolução, um formato tão belo.
A leitura é bem envolvente e fácil, li em 1 dia. 124 pág. Editora: Estação Liberdade.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Paulo Leminski - Parte I

O Paulo Leminski, suas obras levarei na minha bagagem, ele é o pedaço do Brasil que adoro, que exalto, que me deixa orgulhosa de ser brasileira. Escreveu haikais que leio e releio, decoro, colo nas paredes, quero tatuar, blogar.



Sua autodefinição:

O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique

Um pouco de sua obra:

Objeto
de meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja
___________________________

"Entre a dívida externa
e a dúvida interna
meu coração
comercial
alterna. "
__________________________

coração
PRA CIMA
escrito embaixo
FRÁGIL
__________________________

en la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas
__________________________ 
Confira
tudo que
respira
conspira
___________________________
 sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
__________________________
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido
__________________________

ano novo
anos buscando
um ânimo novo
__________________________ 
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além 
__________________________
Era uma vez
o sol nascente
me fecha os olhos
até eu virar japonês



E como diz o título de uma de suas obras: Distraídos venceremos

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Desafio literário: Perto do coração selvagem - Clarice Lispector

 Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais (...) Perco a consciência, mas não importa, encontro a maior serenidade na alucinação. É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.”

Último livro do desafio 2010. O primeiro romance publicado de Clarice, ela tinha entre 19 e 20 anos, de caráter existencialista, narra a história de Joana desde sua infância até o fim de seu casamento, sua relação com o pai, o professor, o marido, a amante do marido e seu amante. Joana é introspectiva, reflete muito, mas não consegue falar ou relacionar e quando fala os ouvintes ignoram, não entendem, na verdade nem ela compreende a si mesma.
Eu fico muito perturbada quando leio Clarice, pego as dores dos personagens para mim, acho que toda mulher de alguma forma se identifica com alguns hábitos e pensamentos dessas personagens, aquela sensação que só o sexo feminino entende. Ela tem todos os sentimentos, sonha em realizá-los, mas está sempre só, tem muitos questionamentos, mas não encontra as respostas. Ela de alguma forma perde todo mundo que ela tem uma ligação por diversos motivos, morte, doença, incompreensão, etc.

Fragmentos:

"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.”

"A tragédia moderna é a procura vã de adaptação do homem ao estado de coisas que ele criou."
"Por isso é que vemos multiplicarem-se os remédios destinados a unir o homem às idéias e instituições existentes — a educação, por exemplo, tão difícil — e vemo-lo continuar sempre fora do mundo que ele construiu. O homem levanta casas para olhar e não para nelas morar".

"(...) eu nunca sei o que fazer das pessoas ou das coisas de que eu gosto, elas chegam a me pesar, desde pequena. Talvez se eu gostasse realmente  com  o corpo... Talvez me  ligasse mais... — São confidencias, Deus meu".

"É que tudo o que eu tenho não se pode dar. Nem tomar. Eu mesma posso morrer de sede diante de mim. A solidão está misturada à minha essência..."

“Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro!”
 Sou suspeita em dar nota para Clarice, para mim ela é a melhor escritora que o Brasil já teve e quiçá uma das melhores do mundo.
 Agora "vamo-que vamo" para o desafio de 2011. Estou orgulhosa de mim mesma, li todos os livros, não falhei em nenhum mês.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desafio literário novembro: Caim, de José Saramago

Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor do que o de Caim. Por causa da sua fé, Deus considerou-o seu amigo e aceitou com agrado as suas ofertas. E é pela fé que Abel, embora tenha morrido, ainda fala.
(Hebreus, 11,4) LIVRO DOS DISPARATES

Quando estava fazendo a lista dos livros do desafio 2010, não imaginava que perderíamos neste ano, um dos maires escritores de língua portuguesa, José Saramago. Li Caim, mais um livro anti-bíblico do autor. Começa narrando sobre a criação do homem e a mulher, Adão e Eva. O castigo de Deus, após o casal terem comido do fruto proibido, a expulsão do paraíso e a maldição rogada aos dois:
agora acabou-se-lhes a boa vida, tu, eva, não só sofrerás todos os incómodos da gravidez, incluindo os enjoos, como parirás com dores, e não obstante sentirás atracção pelo teu homem, e ele mandará em ti [...]
só à custa de muitas bagas de suor conseguirás arranjar o necessário para comer, até que um dia te venhas a transformar de novo em terra, pois dela foste formado, na verdade, mísero adão, tu és pó e ao pó um dia tornarás.
Os filhos de Eva foram Caim, Abel e Set, Caim trabalhava na agricultura e Abel na pecuária, na hora do sacrifício de seus trabalhos ao senhor, este preferiu o incenso das oferendas de Abel:
Estava claro, o senhor desdenhava caim. Foi então que o verdadeiro carácter de abel veio ao de cima. Em lugar de se compadecer do desgosto do irmão e consolá-lo, escarneceu dele, e, como se isto ainda fosse pouco, desatou a enaltecer a sua própria pessoa, proclamando-se, perante o atónito e desconcertado caim, como um favorito do senhor, como um eleito de deus.
Caim, cansando da soberba do irmão, mata-o. Deus vem tirar satisfação e amaldiçoa Caim:
não absolve a tua, terás o teu castigo, Qual, Andarás errante e perdido pelo mundo, Sendo assim, qualquer pessoa me poderá matar, Não, porque porei um sinal na tua testa, ninguém te fará mal
 Torna-se errante pelo mundo e chega na terra de Nod, como sempre foi lavrador, mas lá não tinha plantação, aceitou o serviço de amassador de barro, mas chamou a atenção de Lilith ( No folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira esposa de Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, chegando depois a ser descrita como um demônio.De acordo com certas interpretações da criação humana em Gênesis, no Antigo Testamento, reconhecendo que havia sido criada por Deus com a mesma matéria prima, Lilith rebelou-se, recusando-se a ficar sempre em baixo durante as suas relações sexuais. Na modernidade, isso levou a popularização da noção de que Lilith foi a primeira mulher a rebelar-se contra o sistema patriarcal. Ref. Wikipédia).
Caim e Lilith tiveram um romance tórrido e geraram um filho, Caim, como era errante, foi embora de Nod, assistiu a tentativa de sacrifício de Aarão contra seu único filho amado, Isaque:
o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede
 Depois vê a construção e a destruição da torre de Babel:
decidimos construir uma cidade com uma grande torre, essa que aí está, uma torre que chegasse ao céu, Para ficarmos famosos, E que aconteceu, por que está a construção parada, Porque o senhor veio vê-la e não gostou, Chegar ao céu é o desejo de todo o homem justo, o senhor até deveria dar uma ajuda à obra, por isso confundiu-nos as línguas e a partir daí, como vês, deixámos de entender-nos, destruí-la, e o que o senhor diz, faz, O ciúme é o seu grande defeito, em vez de ficar orgulhoso dos filhos que tem, preferiu dar voz à inveja, está claro que o senhor não suporta ver uma pessoa feliz, Tanto trabalho, tanto suor, para nada.
 A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.
 Depois presenciou a destruição de Sodoma e Gomorra, achou injusto a morte da mulher de Lot:
Quanto à mulher de lot, essa olhou para trás desobedecendo à ordem recebida e ficou transformada numa estátua de sal. Até hoje ainda ninguém conseguiu compreender por que foi ela castigada desta maneira, quando tão natural é querermos saber o que se passa nas nossas costas. É possível que o senhor tivesse querido punir a curiosidade como se se tratasse de um pecado mortal.
 Viu Moisés a andar com o povo no deserto, o incesto das filhas de Lot ao engravidarem do próprio pai e ficava mais cabreiro com Deus e com as atitudes de seus escolhidos.
Lúcifer sabia bem o que fazia quando se rebelou contra deus, há quem diga que o fez por inveja e não é certo, o que ele conhecia era a maligna natureza do sujeito.
Presenciou guerras dos hebreus com outros povos, saqueavam, queimavam cidades, matavam seus habitantes, estupravam as mulheres. Viu o sofrimento de Jó e sua fé inabalável:
job não pode saber que foi alvo de um acordo de jogadores, entre deus e o diabo, A mim não me arece limpo da parte do senhor.
O senhor não ouve, o senhor é surdo, por toda parte se lhe levantam súplicas, são pobres, infelizes, desgraçados, todos a implorar o remédio que o mundo lhes negou.
o mais certo é que satã não seja mais que um instrumento do senhor, o encarregado de levar cabo aos trabalhos sujos que não pôde assinar em seu nome.
 E por último, participou da construção da arca de Noé.
Resumindo: Caim viveu para presenciar todos os genocídios e injustiças cometidas por um deus vingativo, que coloca à prova as pessoas que o amam, ele mesmo foi vítima de rejeição por parte de deus ao escolher seu irmão e causar discórida, separação e morte na família. Gosto da forma peculiar que Saramago escreve, como podem ler nos fragmentos acima, ele não costuma colocar letra maiúscula em nomes próprios, nem interrogação em questões, é tudo separado por vírgulas, de vez em quando aparece um ponto final.
Li em dois dias, leria em um se não tivesse mais o que fazer, prende muito a atenção. 142 págs. Editora: Companhia das Letras. Nota 10

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Meu amor pelo "O Pequeno Príncipe"


Alguns anos atrás, uma Miss Brasil declarou que estava lendo "O Pequeno Príncipe", isso foi motivo de chacota, como uma adulta pode declarar que está lendo um livro de criança?  Não sei se é porque sou sempre do contra ou porque sou kidult, eu gostei de saber que ela estava lendo, para mim, se ela captou a mensagem, ela seria uma pessoa solidária, amável e agradável.
Já li livros de 900 páginas, muitos escritores famosos de diversas nacionalidades, dos clássicos aos contemporâneos, mas se me pedirem para fazer um top 5 de livros, eu incluiria "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, valorizo acima de tudo a mensagem que um livro quer passar, e esse, com uma linguagem ingênua, simples e com poucas páginas, você se emociona com a profundidade da mensagem. Ler em várias fases da vida é importante para entender uma obra, quando eu li aos 10, achei bonitinho, encantei pela viagem aos planetas, pela flor solitária, mas não entendi a mensagem sobre o essencial, aos 20 eu era muito prepotente e egoísta para valorizar os sentimentos, aos 30, quando você já apanhou mais da vida,você está tão sozinho quanto o príncipezinho quando chegou no deserto, você entende o que é cativar e ser cativado, entende o que é essencial.

Dedicatória:

eu dedico então esse livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças (mas poucas se lembram disso).

O bloqueio e a frustração logo na infância impostos pelos pais, parentes próximos e professores:

As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.

Quando o ter é mais importante que o ser:

As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que ele coleciona borboletas? "Mas perguntam:
"Qual é sua idade? Quantos irmãos tem ele? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo.
Se dizemos às pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado. . . " elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa de seiscentos contos". Então elas exclamam: "Que beleza!"

Quando a seriedade sobrepõe aos sentimentos:

- Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: "Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!

Cuidar de flor é igual cuidar de gente:

"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava ... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar."

Conselho do rei solitário:

Tu julgarás a ti mesmo, respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.

Sobre O homem vaidoso:

Os vaidosos só ouvem os elogios

Encontro com a raposa no planeta Terra:

Príncipe: Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços".
Raposa: Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros.
Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste. Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos, Se tu queres um amigo,cativa-me!
Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

Conselho do guarda-chaves:

- Só as crianças sabem o que procuram, disse o principezinho. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante, e choram quando a gente a toma ...
- Elas são felizes ... disse o guarda-chaves.

PS: As frases em rosa eu vou tatuá-las na versão original em francês para nunca esquecer.

Não é fofo? Eu adoro!

sábado, 18 de setembro de 2010

Desafio Literário: Romance histórico - Lolita

Filme Lolita - Stanley Kubrick

É um assunto tão delicado, a sociedade e muito menos eu, na condição de mulher, temos alguma opinião e uma solução concreta e justa para esse assunto: pedofilia.
Para o Desafio Literário - mês de setembro, escolhi "Lolita", do russo Vladimir Nobokov. No prefácio tem a seguinte descrição:
Como caso clínico, Lolita por certo será visto como um clássico nos meios psiquiátricos. Como obra de arte, transcende seu aspecto expiatório. Todavia mais importante do que sua relevância científica ou valor literário é o impacto ético que o livro deve exercer sobre o leitor sério, pois nessa dolorosa trajetória pessoal transparece uma lição de cunho genérico: a criança desobediente, a mãe egoísta, o maníaco ofegante não são apenas vívidos personagens de um drama excepcional. Eles nos advertem sobre tendências perigosas, apontam para gravíssimos males.

Descrição de ninfetas, segundo o personagem:
Entre os limites de idade de nove e catorze anos, virgens há que revelam a certos viajores enfeitiçados, bastante mais velhos do que elas, sua verdadeira natureza - que não é humana, mas nínfica (isto é, diabólica). A essas singulares proponho dar o nome de ninfetas.

Será que todas as meninas entre esses limites de idade são ninfetas? Claro que não.
Tampouco a beleza serve como critério; e a vulgaridade, ou pelo menos aquilo que determinados grupos sociais entendem como tal, não é necessariamente incompatível com certas características misteriosas, a graça preternatural, o charme imponderável, volúvel, insidioso e perturbador que distingue a ninfeta das meninas de sua idade.

Descrição do criminoso:
[...] precisa haver um intervalo de muitos anos - a meu juízo nunca menos de dez, geralmente quarenta ou cinquenta, chegando a noventa em alguns poucos casos que se tem registro - entre a menina e o homem para que este caia sob o feitiço da ninfeta.
[...] quase todos os pervertidos sexuais que anseiam por uma latejante relação com alguma menininha são seres inofensivos, inadequados, passivos e tímidos, que apenas pedem à comunidade que lhes permitam entregar ao seu comportamento supostamente aberrante, mas praticamente inócuo, que lhe deixam executar seus pequenos, úmidos e sombrios atos  de desvio sexual sem que a polícia e a sociedade os persigam. Não somos tarados! Não cometemos estupros, como fazem muitos bravos guerreiros! Somos seres infelizes, meigos, de olhar canino, suficiente bem integrados para saber controlar os nossos impulsos na presença de adultos, mas prontos a trocar anos e anos de vida pela oportunidade de acariciar uma ninfeta

Descrição do futuro da ninfeta:
A propósito: frequentemente me pergunto o que acontece depois com essas ninfetas, será que o oculto espasmo que delas furtei não lhes teria afetado o futuro? Afinal de contas, eu as possuíra - embora, verdade seja dita, elas não houvessem desconfiado de nada.

Humbert é um homem que sai da Europa, vai para os EUA, conhece Lolita e se torna obcecado a ponto de casar com sua mãe para ficar próximo dela. Ele tem problemas psiquiátricos já tinha sido internado algumas vezes. Para conquistá-la, realiza todos caprichos e vontades da guria, compra doces, roupas, revistas de artistas de cinema, etc.
O livro é simples de ler, exceto as partes que os escritores russos tem mania de manter em francês e nunca são traduzidas, quem não tem conhecimento nenhum no idioma pode ter essa dificuldade, como disse o personagem: "Esses clichês em francês são sintomáticos", é um tic nerveux. Veja a quantidade de frases em meia folha do livro, quando me perguntam porque faço francês, falo que é para ler os russos e as pessoas não entendem a relação, também faço porque adoro a sonoridade, a literatura, os pensadores, cineastas, etc.
Esse assunto é bem pesado para mim, considero um tabu, mas é uma obra literária muito boa, 319 págs. O meu é o da Coleção Folha. Não vou dar nota, quem sou eu para ratear um autor clássico...
Aprendi que: Sempre dizem para as crianças não pegarem doces ou caronas com estranhos, mas na verdade quem comete a maioria desses crimes nem sempre é um estranho, é gente que frequenta a casa: o amigo da família, o pai, o tio, o padre, etc. Bizarro!

Filmes sobre o assunto:
Lolita (1962)- Stanley Kubrick
Lolita  (1997) -  Adrian Lyne
O Lenhador (2004) - Nicole Kassell

Para visualizar leituras anteriores clique aqui

Meme de um mês: Dia 18 – Um poema

Os ombros suportam o mundo
(Carlos Drummond de Andrade)

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

domingo, 1 de agosto de 2010

Eu, ela e minha alma

 "A alma localiza-se em uma pequena glândula no centro do cérebro".
[René Descartes - Paixões da alma, 1649]

"A alma é a sua própria fonte de descobertas". [Heráclito]

Eu, ela e minha alma (Tráfico de almas) ou o nome original, Cold Souls é um filme americano de ficção científica, sobre um ator, Paul Giamatti (é o nome do personagem e o nome real do ator que interpreta)  está ensaiando a peça Tio Vânia, do Tchecov, tio Vânia é um homem muito perturbado, na casa dos 40, mas que não suporta a vida. O ator começa a sentir as mesmas aflições do personagem a ponto de não conseguir lidar com isso. Seu agente avisa-o sobre uma clínica que você pode depositar sua alma por algum tempo.
O ator deposita sua alma no cofre, sua alma materializada parece um grão-de-bico, ele perde seus sentimentos, o ensaio da peça ficou algo bem mecânico, até porque atores não podem deixar de ser sensíveis. Ele vai a um jantar com a esposa e alguns amigos, uma colega menciona que alguém da família está doente, ligado aos aparelhos e ele, insensível, falou: Por quê não desligam os aparelhos? Todos ficaram pasmos. Ele estava sentindo um vazio e voltou à clínica para reaver sua alma, mas existe uma máfia russa que faz tráfico de almas e uma "mula", mulher responsável por trazer a alma da Rússia para os EUA, rouba a alma do ator para emprestar a mulher do mafioso que é uma loura-burra, aspirante à atriz, mas sem nenhum talento. Como ele ficou sem alma, ele pede emprestado a alma de um poeta russo (que na verdade é de uma poetisa, mas os russos doam as almas anonimamente, elas são identificadas pelas profissões que a pessoa exercia, não por gênero). Engraçado foi durante uma conversa da máfica russa que eles estavam pensando em traficar almas do EUA para Rússia e um deles fala: Mas quem na Rússia quer alma de americano? Eu ri.
O filme é muito bom, às vezes dramático, com umas pitadas de humor, misturados com a peça de Tchecov.
 Refletindo sobre alma: Dizem que a alma é eterna, onde habita a vida, os sentidos, é o nosso lado não palpável, do latim anima, do grego psiquê, há explicações psicológicas, religiosas, mas nada que explica muito bem como lidar com ela.
Ah, se eu pudesse depositar minha alma durante uns dias em algum lugar (desde que nenhum traficante roubasse!), tem dias que a gente precisa ser frio e calculista para resolver algum pepino, ser forte quando alguém da família está doente, fingir que está tudo bem quando termina um relacionamento, se nessas situações perdêssemos a alma, não ia doer tanto. Como diz Carlos Drummond de Andrade:
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo

Fernando Pessoa também diz:
Não sou nada
Não serei nada
Não posso querer ser nada
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo


Também tenho todos sentimentos do mundo: amor, piedade, fraternidade, desejos, sonhos, ódio, egoísmo, impaciência, culpa, mágoa, desejos de vingança ou de perdão.  Alguns sentimentos são bons, outros são doloridos, às vezes os bons quando acabam se tornam maus, é nessa hora que eu quero perder a alma ou não, se acaso aparecer um colo quientinho, uma mão que me afague e um lábio bom que me beije, talvez eu me aquiete e perceba que vale a pena manter a alma em seu lugar.
O mal do século são as doenças da alma: o medo, a solidão, a depressão, síndrome do pânico. Queremos gritar S.O.S (save our souls), mas ninguém escuta, eles só buscam a cura do corpo, mas a dor da alma é infinitamente mais intensa, não há remedio que cure, não há ferida que cicatrize.

Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? [Salmos 42:5]

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Anna Karenina - Leon Tolstoi

"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira".

Nº de páginas: 654 (algumas publicações tem mais de 900 págs)
Para quem acha que é mais um romance de mulher adúltera, pode estar enganado. Esse livro conta toda a situação política da Rússia no século XIX. Anna só aparece lá pela página 60 e some bem antes do témino do livro.
A 1ª vez que tive contato com Tolstoi foi quando eu fiz um curso de Teologia e li "O reino de Deus está em vós", ele prega o cristianismo pacífico, é tipo de uma anarquia, já que recusa o governo dos homens, o poder da igreja e principalmente a estupidez da guerra. No livro "Anna Karenina" é fácil identificar as ideias descritas no "O reino de Deus está em vós", atráves do personagem Liêvnin, que é o próprio Tolstói, seu alter-ego.
Era leitura do desafio literário do mês de março, mas, pelo menos para mim, literatura russa não dá para ler direto em um mês sem ao menos fazer uma pesquisa sobre a situação naquela época, se for para eu ler e não entender, prefiro não ler. Foi por isso que eu fiz Teologia, inventei de ler a Bíblia e não entendi nada, fiz o curso, além de depois conseguir ler a Bíblia, tive uma das maiores experiências da minha vida.Teologia significa estudos sobre Deus, não quer dizer que é sobre religião, embora esteja totalmente ligada uma coisa com a outra, é a busca do homem por algo superior. Tanto que a palavra religião vem do latim religare, ou seja ligar o homem a Deus, o tal do elo perdido. Ironicamente eu sou cética que é diferente de ser ateu, ser cético é não ter certeza se Deus existe porque não tem como provar, já ateu significa negação de Deus, ele não acredita de jeito nenhum.
Voltando ao "Anna": É um livro que precisei pesquisar um pouco, portanto não é uma leitura fácil. Tolstói é extremamente detalhista na descrição física e psicológíca dos personagens, também a descrição do ambiente: a casa, os móveis, os empregados, a cidade, os amigos, a política, os ricos, os camponeses, é possível criar um filme na sua cabeça com todas as informações que ele passa sobre tudo.
Anna era uma mulher influente na sociedade, tinha sua vida normal com seu marido e filho, tudo transcorria muito bem, era bem tratada pelo marido (isso me lembrou muito "Casa de bonecas") e até que algo a tirou de sua vidinha rotineira, algo despertou dentro dela e viu que as coisas não estavam tão bem como ela imaginava, de repente ela percebeu que era capaz de amar outra pessoa além do marido e que para ter esse amor ela deveria abdicar sua vida confortável, estar à margem da sociedade, ao invés de ser influente, agora seria motivo de escândalo. Mas até que ponto somos capazes de suportar insultos, rejeição por defender o nosso amor ou nossas crenças? O quanto se suporta por amar mais o outro que si próprio? Tudo isso traz a própria anulação, humilhação, todas as nossas verdades são confrontadas. Ela tinha ido salvar o casamento do irmão e destruiu o seu próprio. Ela era linda, perfeita, simpática, até dar um basta e mostrar que não sabia o que era capaz de fazer até perceber que vivia uma ilusão, obedecia regras pré-estabelecidas pela sociedade, fazia o que era para o bem geral e não o bem para ela mesma, mas infelizmente Anna não conseguiu ser forte o suficiente para suportar tudo. Anna representa a Rússia. Seu marido representa os nobres que prezam a aparência, a boa vida e a hipocrisia, seu amante representa o militarismo, a guerra. Os costumes da época são um tanto curiosos, por exemplo: a família para ser chic, falavam em francês entre si, para ser cult falavam em alemão, era como uma negação da própria cultura, é achar que o estrangeiro é mais evoluído. Anna quebrou paradigmas, a Rússia também deveria sair da zona de conforto e romper com o conformismo e lutar com amor, o amor que Anna demonstrou quebrando todas as barreiras sociais, não com armas, mas com ações. O nome Anna significa, em hebraico, cheia de graça. Graça significa "favor não merecido", amar sem esperar nada em troca porque o outro nem merece tanto. É o amor doador. Por exemplo: Graças a Deus! quer dizer: mesmo não merecendo esse amor de Deus, foi-me concedido!
Ai que vontade de falar muito e de mais personagens e de todas as ideias que passam na minha cabeça, mas cada dia falamos menos, tudo está se resumindo a 144 caracteres (twitter), ninguém tem mais paciência para grandes reflexões.
Agora estou pronta para ler Guerra e Paz, dizem que é o melhor livro dele.

O FILME


Embora haja 3 ou 4 filmes, vi o mais recente com  Sophie Morceau, Sean Bean e Alfred Molina, enfoca mais a história da Anna, é  fiel ao livro, atores, figurino, cenário e trilha sonora, perfeitos. Muito bom!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

José Saramago e o Ensaio sobre a cegueira

Quero registrar aqui uma homenagem póstuma ao 1º escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, ateu, comunista, blogueiro, defendia suas verdades.

Fragmentos do livro:

“Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”

“Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, Isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, Se tu pudesses ver o que eu sou obrigada a ver, quererias estar cego, Acredito, mas não preciso, cego já estou, Perdoa-me, meu querido, se tu soubesses, Sei, sei, levei a minha vida a olhar para dentro dos olhos das pessoas, é o único lugar do corpo onde talvez ainda exista uma alma, e se eles se perderam”

domingo, 20 de junho de 2010

Dança comigo?


 "No Japão, a dança de salão é vista com muita suspeita, em um país onde os casais não andam abraçados e muito menos dizem "eu te amo" em voz alta, a compreensão através da intuição é tudo. A idéia que marido e mulher deveriam se abraçar e dançar na frente de outros, está além do embaraçoso. Entretanto, sair para dançar com outra pessoa poderia ser mal interpretado e se provar ainda mais vergonhoso. Apesar disso, mesmo para os japoneses, há uma curiosidade secreta acerca dos prazeres que a dança pode trazer".


Essa é introdução do filme, narra a história de um homem que trabalha na contabilidade de uma empresa, a vida dele resume-se ao trabalho e sua vidinha com a mulher e filha, essa mesmice deixou-o introvertido e até depressivo. Voltando do trabalho de trem, em uma das estações, ele via a escola de dança pela janela, ficava olhando a professora e os alunos dançando, um dia ele resolveu descer do trem e conhecer a escola. Tentou aprender a dança todo desajeitado, com toda aquela timidez japa e com a cabeça cheia dos preconceitos citados acima.
A dança tornou-o mais motivado, mais alegre, mais disposto. O coração deu uma cambaleanda pela teacher. Ele acabou indo para concursos de dança e a experiência foi bem bacana para sua vida pessoal.


A versão americana


A versão americana desse filme é bonitinha também, mas convenhamos, na América não tem preconceito com quem faz dança de salão, Richard Gere é muito simpático, não é como o japonês que é tímido, sem charme nenhum e retraído, ou seja, as partes mais interessantes e comoventes não fizeram tanto sentido, ficou mais parecido com um espetáculo da Broadway. No filme japonês mostra claramente a intenção do aluno x professora, já na versão americana ele faz a dança, mesmo a professora sendo a Jeniffer Lopez, ele a trata apenas como professora e gosta mesmo é de sua mulher, representada pela Susan Sarandon.

Eu que gosto de dança indico os dois, podem ver meninas, super fofo! Como assim, japoneses não abraçam e não dizem eu te amo? Tadinho deles...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A paixão segundo G.H.



 Desafio literário do mês de junho: Ler um livro de uma escritora brasileira, escolhi Clarice Lispector
Aposto que se meu pai tivesse lido iria dizer: "Todo esse drama por causa de uma barata?" Porque minha mãe tem paúra de baratas, ela vê uma e grita desesperadamente, feito louca. Eu herdei esse medo, tenho medo até de barata morta.
O livro gira em torno de uma mulher, G.H. e uma barata, é um monólogo, uma reflexão existencialista, é tudo tão jeito Clarice de escrever.

O jornalista e escritor José Castello disse o seguinte desse livro: "Considerado por muitos o grande livro de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H. tem um enredo banal. Depois de despedir a empregada, uma mulher vai fazer uma faxina no quarto de serviço. Mal começa a limpeza, depara com uma barata. Tomada pelo nojo, ela esmaga o inseto contra a porta de um armário. Depois, numa espécie bárbara de ascese, decide provar da barata morta".
Ao esmagar a barata, e depois degustar seu interior branco, operou-se em G.H. uma revelação. O inseto a apanhou em meio a sua rotina “civilizada”, entre os filhos, afazeres domésticos e contas a pagar, e a lançou para fora do humano, deixando-a na borda do coração selvagem da vida. Esse desejo de encontrar o que resta do homem quando a linguagem se esgota move, desde o início, a literatura de Clarice.


Fragmentos do livro:

Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.

Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema.

e se a realidade é mesmo que nada existiu?!

Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Muitas vezes antes de adormecer - nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo maior - muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho.
Ir para o sono se parece tanto com o modo como agora tenho de ir para a minha liberdade. Entregar-me ao que não entendo será pôr-me à beira do nada.

Por enquanto o primeiro prazer tímido que estou tendo é o de constatar que perdi o medo do feio. E essa perda é de uma tal bondade. É uma doçura.

Meu erro, no entanto, devia ser o caminho de uma verdade: pois só quando erro é que saio do que conheço e do que entendo.

O perigo de meditar é o de sem querer começar a pensar, e pensar já não é meditar, pensar guia para um objetivo, O menos perigoso é, na meditação, “ver”, o que prescinde de palavras de pensamento.

Ah, as pessoas põem a idéia de pecado em sexo. Mas como é inocente e infantil esse pecado. O inferno mesmo é o do amor. Amor é a experiência de um perigo de pecado maior - é a experiência da lama e da degradação e da alegria pior. Sexo é o susto de uma criança.

A esperança é um filho ainda não nascido, só prometido, e isso machuca.

O leite da vaca, nós o bebemos. E se a vaca não deixa, usamos de violência. (Na vida e na morte tudo é lícito, viver é sempre questão de vida-e-morte.) Com Deus a gente também pode abrir caminho pela violência. Ele mesmo, quando precisa mais especialmente de um de nós, Ele nos escolhe e nos violenta.

Eu  amo Clarice, não me sinto digna de usar minhas próprias palavras para defender a obra dela que para mim é perfeita e não precisa da minha aprovação porque ela se aprova por si só.
Esse livro tem 122 páginas, de fácil compreensão.
Já falei aqui do livro Felicidade Clandestina e de Clarice em artistas de sagitário.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Glória ao cineasta

É mais um filme do cineasta japonês que curto demais, o Takeshi Kitano, ele fez o meu 4º filme favorito, o Dolls. No "Glória ao cineasta" ele mostra todos os filmes que ele deveria ter feito e não fez, para quem não sabe, ele é especialista em filmes sobre a máfia Yakuza, muito violentos por sinal. Mas o mais interessante que no meio da violência tem poesia, tem justificativas que vc acaba não vendo só o lado mau e violento, acho que o ser humano por mais ruim que seja, tem um pouquinho de bondade dentro de si.
O filme começa com ele e um boneco feito à sua imagem e semelhança sofrendo com crise de criatividade. A impressão é que ele tenta denunciar a pressão que os cineastas sofrem para fazer filmes que rende bilheteria em vez de fazer o que realmente gostam. O filme é dividido em vários quadros simulando filmes de diversos gêneros:
Romântico: um homem que acaba de se aposentar e não sabe o que vai fazer, conhece uma pessoa interessante.
Terror japonês: é o máximo, ele coloca o cara com uma máscara de teatro Nô, levando uma cabeça na mão e as japinhas com roupas de colegiais gritando de medo (clássico!).
Aventura: Sobre ninjas, a cena é meio "O Tigre e o Dragão" que eles saem correndo em cima das árvores, um cara derrota mil com uma espada.
Efeito Matrix, como se livrar de balas com efeitos especiais.
Sci-fi: Professor maluco que cria engenhocas e teorias para uma sociedade perfeita.
 um meteoro vai cair na terra o que os cientistas podem fazer para impedir.
Ele tira uma onda do Yasujiro Ozu que só fazia filmes representando problemas familiares e viviam a maior parte do tempo tomando chá e sake.
Drama: Crianças nos anos 50 que eram fãs de boxe e a pobreza que existia no Japão naquela época. O brucutus que brigam na lanchonete.
Mãe e filha que tentam dar o golpe em todo mundo e só se lascam.
Cena do Robô gigante, parecido com os desenhos japoneses do anos 80. Eu achei o máximo!
Outros filmes de Takeshi comentados por aqui foram: Hana-bi, Áquiles e a Tartaruga e Kikujiro.O Dolls está com link lá em cima.

sábado, 8 de maio de 2010

Budapeste - Chico Buarque

Ano passado o pessoal do grupo de cinema foi ver o filme "Budapeste" que é baseado no livro do Chico Buarque, eu não pude ir porque tinha algum compromisso, mas as opiniões foram tão opostas que até estranhei, uns amaram o filme de paixão e os outros odiaram, para eu ter minha própria opinião, coloquei o livro na minha lista do desafio literário.

Quanto ao livro: tem 176 págs e é bem facinho de ler, mas prefiro o Chico compositor e cantor, deve ser o costume (Que heresia!). Não que na literatura ele seja ruim, longe disso, a leitura é deliciosa, mas ele é perfeito na música. Ainda continuo chicólatra e o que ele fizer tera meu apoio.
"Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira". 
"húngaro, única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita". 

José Costa, um ghost writer, divido entre o Rio e Budapeste, entre Vanda e Kriska, entre o português e o húngaro. No Rio tem as praias, as mulheres morenas e lindas, como Vanda, morena dos cabelos enrolados, mãe de seu filho gordo, com problema de fala. Em Budapeste, a branquíssima Kriska, sua profa de húngaro que tem um filho também.
A grande questão é: Quem é Costa? O cara escondido atrás do alemão Kaspar Kraabe que se apaixonou por Teresa, a morena que eles escrevia seu livro na pele dela, até ela abandoná-lo por um cozinheiro suiço? Ou seria Kocsis Ferenc, o poeta húngaro? Em português ele nunca escreveu um verso, mas em húngaro, escreveu poesia. Era o Costa, trabalhando em um escritório no Rio, sendo capacho de Álvaro? Ou seria o Zsoze Kósta? Era tantos e não era ninguém, apenas um fantasma com crise de identidade.

O filme
O filme é 10, tive preconceito porque no trailer vi muita carne feminina, achei que fosse apelação, mas o livro também é bem sensual,cheio de latinidade, tem a musa, as prostitutas, as mulheres de Costa. No livro ele fala que Budapeste é amarela, no filme quando mostra Budapeste, é meio amarelada mesmo. O filme foi super fiel ao livro, a atuação do ator Leonardo Medeiros está maravilhosa, a Giovana Antonelli é descrição de Vanda no livro, só a Kriska que não era tão branca como descrita, a direção é impecável. Quem não gosta do filme, não vai gostar do livro e vice-versa.

Sensação de dejà vu (eu já vi): 
Outro filme que mostra mudança de comportamento em outro país é o "Double vie de Veronique", do Kieslowski, que a personagem se divide entre Polônia e França.
Um filme, que também foi baseado em um livro e que mostra essa ideia de escrever o livro no corpo do amado é o "Livro de Cabeceira", de Peter Greenway
Filme sobre ghost writer, "Roman de gare", do francês Claude Lelouch

Chico, ne me quitte pas seule, me liga!!!!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um signo, uma mulher - Vinícius de Moraes


Trata-se da edição em livro, datada de setembro de 1975, composta e impressa em Buenos Aires, de doze pequenos poemas, cada um deles intitulado e escrito a partir de um dos signos do zodíaco, com as características amorosas da mulher de cada signo, à maneira de horóscopo. Os poemas haviam sido originalmente publicados, sob encomenda, no primeiro número da Revista Manchete de 1971, como presente de Ano Novo aos leitores.
Vou postar o que Vinícius disse sobre meu signo:

As mulheres sagitarianas
São abnegadas e bacanas
Mas não lhe venham com grossuras
Nem injustiças ou censuras
Porque ela custa mas se esquenta
E pode ser muito violenta.
Aí, o homem que se cuide...
Também, quem gosta de censura!  

Se você quiser ver o seu signo, pode baixar o livro aqui, faz parte do acervo digital da Biblioteca Brasiliana da USP,  lá você encontra muitas obras digitalizadas, totalmente free.

sábado, 1 de maio de 2010

Tartarugas podem voar



Às vezes me pergunto, será que o inferno é aqui e a gente não sabe?

Na mostra "Fronteiras", do Cinusp, passou o filme "Tartarugas podem voar", sobre um campo de refugiados curdos, no Iraque, crianças que trabalham desativando minas e vendendo no mercado negro para sobreviver, a maioria delas já essão mutiladas por causa das minas, perderam suas famílias e estão à mercê do acaso.
A história dos curdos é muito triste, é um povo sem nação, a área que eles reinvidicam como terra, é muito rica, tem petróleo, como sabemos, será impossível de eles conquistarem, então eles vivem entre o Afeganistão, Irã e Iraque e sofrem todos os tipos de abusos, de todos os crimes contra a humanidade eles já foram vítimas.
A menina com aproximadamente 12 anos foi estuprada pelo exército de Sadam e teve um filho cego que ela odeia.
O menino cego deve ter uns dois anos, não teve uma vez que ele aparecia e eu não chorava que nem uma louca.
Tem também o menino sem braço, ele tem previsões, tanto que as pessoas acreditam mais nele do que na notícia que passa na TV, ele ajuda a menina cuidar do menino cego, todos na aldeia acham que os três são irmãos.
Outro menino é o "Satellite", uma criança que já é um líder, ele monta as parabólicas para as pessoas terem acesso à TV, troca mina por armas e é respeitado até pelos velhos, sabe umas palavras em inglês e as pessoas acham que ele pode comunicar com os soldados americanos.
É um filme muito triste, chorei rios e entrei em depressão, às vezes quando lembro do ceguinho eu choro sozinha. O pior é ver que ninguém faz nada por elas, são apenas crianças...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ninguém sabe dos gatos persas


"Ninguém sabe dos gatos persas" é um filme iraniano que passou na Mostra de cinema de São Paulo no ano passado, do diretor Bahman Ghobad. É uma situação muito complicada para quem vive no ocidente ver uma coisa que acontece nas bandas de lá, é um absurdo ver um músico ter que pedir permissão para exercer a profissão, o governo tem que aprovar as letras das músicas. A maioria dos músicos acabam sendo marginais, vivem sendo presos, ensaiam em lugares inusitados como porões, celeiros, etc. 
Mostram vários músicos dos mais variados estilos, o diretor faz uma espécie de clipes, tendo como fundo a vida do Irã. Adorei a banda de indie rock, mas tem heavy metal, rap, soul. Achei engraçado quando a mulher em seus trajes muçulmanos fala para outra que gosta do rapper 50 cent e da Madonna. 
Tem um cara que é o bombril, mil e uma utilidades, além de conhecer muitos músicos underground e coloca um em contato com outro, ele vende DVD pirata e é preso, tinha que pagar multa para ser solto e se livrou por pouco das chibatadas. Ele também conhecia o povo do mercado negro que emitia passaportes.
Tudo começa quando um casal tenta participar de um festival na Inglaterra e precisa de músicos, de permissão para sair do país, aí começa a saga.
Depois que vi esse filme nem ligo mais para as aulas de bateria que tem do lado da minha casa, moro na Teodoro Sampaio, a rua cheia de lojas de instrumentos e de aulas também, só de imaginar que tem gente no mundo que nem tem liberdade para isso, podem tocar a vontade. Meu cunhado é músico e muitos outros amigos e amigas que dão um duro na night, hoje sei que a dificuldade deles nem chega perto da dos iranianos.
Esse filme vale muito a pena, eu chorei, trazer para sua realidade a realidade do outro, sentir na pele é muito punk.

trailer
                                                                                      

segunda-feira, 29 de março de 2010

Desprender-se

Sabe esse senhor da foto? Parece um mendigo dentro do metrô, não sei ao certo o que é mito o que é verdade, uns dizem que ele é o cara mais inteligente do século, vive isolado, não tem emprego, mora em um cortiço, não toma banho, etc.
O nome dele é Grigori Perelman, matemático russo e bastante excêntrico, recusou a fazer teste de QI e declarou que isso é coisa de arrogante que carece de elogio, recusou a Medalha Fields (uma espécie de Nobel da matemática) e nem ao menos compareceu ao evento, e por último, recusou um prêmio de 1 milhão de dólares por ter resolvido  e consequentemente comprovado, a Conjectura de Poincaré (não me pergunte que raios venha a ser isso).
Ele conseguiu chamar a atenção da sociedade científica, mas também chamou das pessoas comuns que não entenderam o motivo de seu desprendimento pelo reconhecimento e pelo dinheiro, ele ama o que faz e não faz disso mercadoria. Isso me lembra uma corrente de filósofos gregos, os cínicos (não tem nada a ver c/ o significado que damos hoje a essa palavra). Os cínicos diziam que a verdadeira felicidade não depende de fatores externos como o luxo, o poder político e boa saúde. Para eles, a verdadeira felicidade em se libertar dessas coisas casuais e efêmeras.
O mais importante representante dessa corrente foi  Diógenes. Ele vivia dentro de um barril e possuía apenas sua túnica, um cajado e um embornal de pão. Conta-se que um dia Alexandre Magno parou em frente ao filósofo e ofereceu-lhe, como uma prova do respeito que nutria por ele, a realização de um desejo, qualquer que fosse, caso tivesse algum. Diógenes respondeu: "Desejo apenas que te afastes do meu Sol". Essa resposta ilustra bem o pensamento cínico: Diógenes não desejava nada a mais do que tinha e estava feliz assim.
E nós, pobres mortais que vendemos a nossa alma ao diabo todos os dias, por bem menos de 1 milhão, acabam com nossa força física, intelectual em troca de uns contos de réis.

domingo, 7 de março de 2010

Dia da mulher com Ladainha

Flowers, cá estou eu celebrando o Dia Internacional da Mulher, esse bicho que sangra todo mês, bichinho cheio de amor, de proteção, de sonhos. As guerreiras que tem jornadas duplas ou triplas de trabalho. Quem dera fosse que esse dia fosse todos os dias...



Ladainha

Composição: Alzira Espíndola, Estrela Ruiz Leminski e Alice Ruiz

Era uma vez uma mulher
Que via um futuro grandioso
Para cada homem que a tocava
Um dia
Ela se tocou...

Eu pensava que o amor
Me faria uma rainha
E quando você chegasse
Não seria mais sozinha

Você chega da gandaia
Só pensando numazinha
Seu amor é pouca palha
Para minha fogueirinha

O que você jogou fora
É para poucos
O meu mal foi jogar
Pérolas aos porcos

Eu não sou da sua laia
Não quero sua ladainha
Pra ser mal acompanhada
Prefiro ficar na minha

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Filmes sobre o fascismo de Franco e guerra civil espanhola

Na sessão pipoca desse ano marcamos de ver ou rever alguns filmes que falam sobre a ditatura de Franco ou a guerra civil espanhola, foram eles:
"O labirinto de Fauno", do cineasta Guilhermo del Touro
"A mulher do anarquista", dirigido por Marie Noëlle e Peter Sehr
"Terra e Liberdade", do Ken Loach
"Guernica", Alain Resnais (curta metragem sobre o famoso quadro de Picasso)
"Ana e os lobos" e "Cria Cuervos", de Carlos Saura
No vídeo abaixo, cena de Cria Cuervos, a personagem Ana escuta a música Porque te vas de Jeanette




Para quem tem interesse pelo assunto ou vai prestar vestibular, vale a pena vê-los.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O mundo de Sofia



É um livro do escritor norueguês Jostein Gaarder, para mim, é leitura obrigatória para todos que estão entrando na adolescência, eu li com 15 anos e já estou lendo com meu filho de 13 anos, também foi o livro que escolhi para reler no mês de janeiro, pelo Desafio Literário 2010. A proposta do Desafio para janeiro era um livrinho de banca, facinho de ler, mas eu, teimosa, li esse de 553 págs e com assuntos que requer muita atenção e pesquisa.
O mundo de Sofia é um jeito fácil e descomplicado para entender um pouco da história da filosofia. O livro começa com Sofia recebendo cartas anônimas, cheias de perguntas sobre a vida, como por exemplo: Quem é você? De onde vem o mundo? Vou postar alguns fragmentos:

O que é filosofia?
Qual é a coisa mais importante da vida? Se fazemos essa pergunta a uma pessoa de um país assolado pela fome a resposta será: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio a resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que está e isolado, certamente a resposta será: a companhia de outras pessoas.
Mas, satisfeitas todas as necessidades, será que ainda resta alguma coisa que o mundo precise? Os filósofos acham que sim. Eles acham que o ser humano não vive apenas de pão. É claro que todo mundo precisa comer. E precisa de amor e de cuidado. Mas ainda há uma coisa que precisamos. Nós temos a necessidade de descobrir quem somos e porque vivemos.

Mitos

Um mito é a história dos deuses e tem por objetivo explicar que a vida é assim como é

Filósofos da natureza
Os primeiros filósofos gregos são chamados de filósofos da natureza, porque interessavam sobretudo pela natureza e pelos processos naturais.

O destino
Você acredita no destino?
As doenças são castigo dos deuses?
Que forças governam o curso da história?

Oráculo de Delfos
No templo de Delfos havia uma famosa inscrição: Conhece-te a ti mesmo! E ela ficava ali para lembrar aos homens que passavam de meros mortais e que nenhum homem pode fugir do seu destino.

Sócrates e Jesus
Jesus e Sócrates eram considerados pessoas enigmáticas no tempo em que viveram. Nenhum dos dois deixou qualquer registro escrito de suas idéias. Assim não nos resta outra saída senão confiar na imagem deles que nos foi legada pelos seus discípulos. Além disso, ambos tinham autoconfiança no que diziam que podiam tanto arrebatar como irritar seus ouvintes. Para completar, ambos acreditavam falar em nome de uma coisa maior do que eles mesmos.
Não estou querendo colocar um sinal de igual entre os dois. Quero dizer que ambos tinham uma mensagem a transmitir e que esta mensagem estava indissoluvelmente associada à sua coragem pessoal.

Sócrates dizia que a única que sabia era que não sabia de nada.
Os que questionam são sempre os mais perigosos. Responder não é perigoso. Uma única pergunta pode ser mais explosiva que mil respostas.

Aristóteles
Aristóteles acreditava em três formas de felicidade:
1)    Vida de prazeres e satisfações
2)    Ser cidadão livre e responsável
3)    Vida como pesquisador e filósofo.

Os cínicos [corrente de filósofos, não o significado que conhecemos hoje]
Diziam que a verdadeira felicidade não dependem de fatores externos como o luxo, o poder político e boa saúde. Para eles, a verdadeira felicidade em se libertar dessas coisas casuais e efêmeras.

Misticismo
Significa sentir-se só com Deus ou com a “alma do universo”.

Dramaturgia
O mundo é um palco e homens e mulheres não são mais que meros atores. Entram e saem de cena e durante a sua vida não fazem mais do que desempenhar alguns papéis. (Shakespeare)

O que é a vida? Fúria. O que é a vida? Espuma oca! Um poema, uma sombra quase! E a sorte não pode dar senão pouco: pois a vida é sonho e os sonhos, sonho... (Calderón de La Barca)

Descartes
Cogito, ergo sum (Penso, logo existo)

Agnóstico
È uma pessoa que não sabe se Deus existe.

Arquimedes
"Dê-me um ponto fixo e eu faço a Terra mover-se".

Marx
“O trabalhador se aliena em relação ao seu trabalho, e ao mesmo tempo, em relação a si mesmo. Ele perde sua dignidade humana”.

Scrooge
“Só existe justiça entre iguais”.

Darwin
“A seleção natural é responsável pela sobrevivência dos mais fortes, ou dos que melhor se adaptam ao seu meio”.

Freud
A expressão inconsciente significa para Freud, é tudo que reprimimos.
Ato falho é algo que dizemos ou fazemos espontaneamente e que um dia tínhamos reprimido.
Nossos sonhos não são meros acasos. Por meio dos sonhos, nossos pensamentos inconscientes tentam se comunicar com nosso consciente

Criatividade
A razão sufoca a imaginação; e isto é ruim, pois sem imaginação não é possível produzir nada de novo.

Sartre
O sentimento do homem de ser um estranho no mundo leva a uma sensação de desespero, tédio, náusea e absurdidade.

Simone de Beauvoir
Na nossa cultura, a mulher tinha se tornado em um “segundo sexo”. Só o homem aparecia como sujeito dessa cultura. A mulher, ao contrário, fora transformada em objeto do homem.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa - Parte 2

Postei a parte 1 aqui e agora a parte 2, com fragmentos dos poemas de Fernando Pessoa:

Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje não faço anos
Duro
Somam-se-me dias.
(Aniversário)

Podemos imaginar tudo do que nada sabemos.
Estou parado física e moralmente: não quero imaginar nada.
(Realidade)


Esse vou publicar completo:

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
(Poema em linha reta)


Odes de Ricardo Reis

Quer pouco: terás tudo
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.

Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eu do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente de todos

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Onde fica a casa do meu amigo?


Filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami, relata a história de um menino que pegou por engano o caderno do colega de classe, pois as capas eram idênticas. O professor já tinha chamado a atenção de seu amigo por esquecer o caderno outras vezes e prometeu castigá-lo se esquecesse de novo. Sabendo disso, o menino tenta entregar o caderno a qualquer custo para o colega que mora bem longe, na verdade ele nem sabe onde fica, ele tem que desafiar sua própria família para achar a casa, pergunta para as pessoas na rua, vai à caça mesmo. O final é lindo, mostra a preocupação pelo o outro. É tão legal quando você tem com quem contar, ter alguém que não te deixa na mão no momento que você mais precisa e mesmo pequeno, ele tem esse coração solidário. Amei muito!

Não tenha medo de mim



É um filme dinamarquês, com temática psiquiátrica, relata a história de um homem que tirou licença médica do trabalho porque estava sobrecarregado. Fica em casa o tempo inteiro, seu cunhado fala de um experimento que está fazendo com antidepressivos e usa cobaias. Ele quer entrar no programa e fazer parte do experimento, começa anotar tudo o que ele sente de mudanças após a ingestão do remédio, ele acha que
ficou mais relaxado, mais alegre e tem um pouco mais de liberdade para fazer o que quer, começa agir de forma exagerada e usa como desculpa o uso do medicamento.
Muitas vezes as pessoas bebem ou usam alguma droga e acham que isso explica suas "más" atitudes, mas será mesmo?
Esse filme mostra um lado interesante que quando sua mente acha que está você está dopado, você realmente fica nessa condição.
Recomendo para quem gosta da temática.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa Parte 1

Viajei um pouco entre natal e ano novo, levei 4 livros para ler e reler, entre eles um de poesia do Fernando Pessoa, então transcrevi apenas fragmentos das poesias e vou dividir este post em duas partes. Coloquei no final o nome do poema que foi extraído porque, como sabem, há muitas frases na internet que dizem ser determinado autor e não é, para facilitar a busca na bibliografia do Fernando Pessoa, coloquei o nome para provar a autenticidade.

Parte 1:

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce
(O infante)

Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena
(Mar português)

Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já sr, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.
[...]
Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.
(Marinha)

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada
Estudar é nada
O sol doira
Sem literatura.
[...]
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse uma biblioteca...
(Liberdade)


E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas
E basta de comédias na minh'alma
(Opiário)

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
(Lisbon revisited)

Não sou nada
Não serei nada
Não posso querer ser nada
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo
[...]
Que sei do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
[...]
Não, não creio em mim
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu que não tenho tanta certeza sou mais certo ou menos certo?
[...]
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo,
ainda que tenha razão
(Tabacaria)